Baías e Baronis – Guimarães 2 vs 2 FC Porto

O minuto 85 é a imagem perfeita para alguém que queira perceber o que é o FC Porto 2013/2014. Incapazes de sair de uma zona de pressão por parte do adversário, a zona defensiva cometeu falhas atrás de falhas quando tentava movimentar a bola numa transição para o ataque que nunca saiu porque a bola não saía dali. Alex Sandro, Fernando e Maicon foram lentos a afastar a bola, fiando-se na sua capacidade de controlar o esférico, sem linhas de passe, sem movimentação ofensiva para receber a bola e começar uma fase de construção que se espera de uma equipa grande. Mais uma vez desperdiçámos uma vantagem de dois golos para perder mais dois pontos e acabar quase definitivamente com a esperança em vencer o tetra-campeonato. E não merecemos mais que isso, especialmente pela segunda parte que fizémos, digna de um clube pequeno, com mentalidade pequena. Quanto descemos, meu Deus. Notas abaixo:

(+) Ghilas (na primeira parte). Com características completamente diferentes de Jackson, é o avançado que precisamos neste momento pela força que mostra e pela movimentação agressiva que coloca ao dispôr da equipa enquanto está em jogo. Teve azar por não ter conseguido marcar na primeira parte (uma bola à trave e um cabeceamento a roçar no poste) mas conseguiu o remate que deu origem ao segundo golo e agiu sempre com determinação, raça, entusiasmo e vontade de jogar. Para primeiro jogo como titular na Liga não se podia pedir muito mais. Baixou de produção na segunda parte porque a equipa não agiu como tal e talvez porque não tenha ritmo para muito mais que 45 minutos…é o que acontece a um jogador que joga 4/5 minutos de cada vez…

(+) Danilo. Continua a ser dos poucos que se esforça para conseguir mais do que os miseráveis resultados e más exibições que os colegas têm protagonizado. Tem vindo a melhorar na primeira fase de construção dos lances ofensivos e está mais atento na defesa, só não tem culpa que a maior parte do sector defensivo esteja a dormir durante todos os jogos…

(-) Abdoulaye e Maicon. Um jogo completamente absurdo do senegalês, que nunca conseguiu assentar a cabeça de forma a poder ter uma atitude normal em jogo. Hesitações a mais, falhas na marcação a Maazou e um nível de agressividade quase sempre excessivo que fez com que nada lhe corresse bem porque nunca tentou jogar…normalmente. Tudo que fez foi em força e sem cabeça, desde o amarelo que levou às inúmeras desconcentrações que deixavam os jogadores do Guimarães sem problema a jogar contra uma defesa que nunca pôde confiar nos foras-de-jogo do adversário porque Abdoulaye lá estava sempre a facilitar, totalmente desenquadrado da equipa. Maicon, a seu lado, de quem espero sempre mais, foi o Maicon dos maus dias que têm sido bem mais que os bons nesta época. Distraído, displicente e sem velocidade suficiente que nem a inteligência posicional (que tem) lhe valeu. Um jogo muito mau de ambos.

(-) Herrera, Carlos Eduardo…e até Fernando. Foram incapazes, especialmente na segunda parte, de manter a bola controlada durante tempo suficiente para que a equipa se conseguisse organizar em condições. Fernando falhou muito na marcação à entrada da área e na cobertura dos espaços, mas Herrera e Carlos Eduardo foram inexcedíveis no desperdício e na incapacidade de impôr um jogo com consistência e acima de tudo força física e mental. Carlos Eduardo está num momento horrível e Herrera está um perfeito anti-Castro: joga sempre a um ritmo baixo demais para este nível e quando apanha Andrés ao quadrado e outros que tais, raramente consegue safar-se por cima. O nosso meio-campo é a principal razão, táctica e física, pelos maus resultados da equipa, cada vez tenho menos dúvidas disso.

(-) Quaresma. Lembro-me de uma frase que já se ouviu tantas vezes nas bancadas do Dragão: “Leva-a para casa, caralho!”. Exagerou nos lances individuais e apesar de raramente lhe apontar o dedo quando é dos poucos que tenta, a verdade é que há muitas alturas em que o jogo colectivo parece que lhe passa ao lado. Hoje foi uma delas, porque raramente passava a bola aos colegas em situações de perigo, optando por ser ele próprio a levar a equipa às costas. O Quaresma de 2007 talvez conseguisse. O de 2014 já não consegue e devia ter noção disso.

(-) Porque raio convocar Jackson?! Não consigo entender o porquê de convocar um jogador para depois o meter em campo quando se vê à distância que não está em condições, físicas e mentais, para disputar um jogo deste nível e com previsíveis dificuldades e para o qual era necessário um homem forte e capaz de lutar por um resultado essencial. Juro que não entendo.


Não baixo os braços, nunca o faço, mas começa a ser complicado mantê-los lá no alto“. Disse isto depois do jogo contra o Estoril. Não tenho nada a acrescentar.

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Ouve lá ó Mister – Guimarães

Mister Paulo,

Já passou a coisinha má que nos ias dando a todos na quinta-feira. Ainda por cima, para lá de toda a emoção do estupor do jogo, acreditas que estava um fulano com toda a autoridade do mundo a ouvir o relato do que estava a ver na televisão? Vá lá, não o ouvia com o volume no máximo, mas gritou pelo menos os nossos dois últimos golos…e calou-se quando o Alex Sandro se enfiou em mais um buraco enorme e o Eintracht reduziu? Se houve altura em que me apetecesse partir as trombas a outro portista, foi aí…mas acalmei-me e continuei a sofrer por ti e pelos teus. Por ti e por causa de ti, que aquela exibição defensiva não se admite a ninguém, Paulo.

Não estou optimista para hoje, mentir-te-ia se dissesse o contrário. Continuo a ver um frangalho de uma equipa em campo, recheada de falhas defensivas, má cobertura de espaços e ineficácia ofensiva. E o Guimarães pode-nos tramar a vida de uma maneira muito fácil: enchendo o meio-campo de caceteiros (Deus sabe que moram lá alguns…) e pressionando-nos até que não consigamos mostrar um lampejo de futebol organizado. E não estou à espera que o empate que soube a vitória na Alemanha tenha voltado a injectar moral e confiança nos jogadores, por muito que tenha visto o Danilo a gritar no final da partida com o doce sabor do trabalho bem feito. Não acredito, Paulo, e é até aqui que me trouxeste nesta viagem tão atribulada. Peço-te mais uma vez: convence-me do contrário. Está tudo nas tuas mãos.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Guimarães 0 vs 2 FC Porto

Há uma mudança grande de filosofia entre as competições a eliminar e as de progressão lenta durante um ano inteiro. Há uma determinação diferente das equipas, um espírito de luta e uma vontade de vencer que parece por vezes ultrapassar todas as lesões, indolências, inércias e más-disposições que possam obstruir o normal decorrer de um jogo. E depois há jogos como este, onde uma equipa vive de bolas para a frente, agressividade de escola visigótica (quantas pernas tem o 2xAndré e quantos braços tem Maazou?!) e a outra optou por um jogo calmo, ponderado e procurou meticulosamente descobrir o melhor caminho para a baliza contrária. Não foi extraordinário (a segunda-parte foi aborrecida e cheia de não-futebol) mas foi suficiente para seguir em frente num campo difícil. Vamos a notas:

(+) Fernando. Ouve lá, ó maluco, se tu me vieres dizer que fizeste de propósito para marcar aquele golo, meu menino, mando-te dar uma volta ao maior bilhar que encontrares! Mas lá que foi bonito e me fez dar um salto que acordou a minha filha que ia dormitando nos meus braços, lá isso não haja qualquer dúvida. E para lá do que fez nesse lance, foi o que fez em todo o resto do jogo que me continua a fazer crer que está a ser “O” jogador do FC Porto versão 2013/2014, pela luta, pelo posicionamento e pela inusitada inteligência a levar a bola para a frente. É curioso notar que tendo Herrera ou Josué ao lado, Fernando raramente se aventura por linhas avançadas, o que já não acontece quando é Defour que joga a seu lado no esquema de Paulo Fonseca que ainda não me convenceu. Mmm.

(+) Defour. Foi a imagem de marca tradicional de um médio de cobertura lutador e esforçado. Andou todo o jogo a tentar combater o grupo de lenhadores que apanhou pela frente e nunca dá a outra face à luta, optando quase sempre por tapar a defesa em vez de apoiar o ataque, mas serve como o melhor complemento para Fernando. Sim, ter dois médios defensivos é estranho e pode fazer com que nos sintamos permanentemente em inferioridade numérica no ataque, mas quando é preciso abafar pressões ofensivas…é ele o homem certo.

(+) Jackson, para lá do golo. Os centrais do Guimarães são compostos por 50% de brutalidade e 50% de elegância. Jackson deu cabo da cabeça e das pernas de ambos durante toda a primeira parte e só foi pena ter conseguido apenas um golo.

(-) Falta de agressividade em zonas perigosas. Ricardo Gomes, Barrientos e Maazou foram os principais responsáveis por este Baroni. O jogo foi rijo, já se sabia que ia ser essa a forma de chegar à vitória e sabendo que o Guimarães é uma equipa que opta por bater primeiro e perguntar se foi falta alguns segundos mais tarde, a forma certa era a de tentar sair com a bola controlada “ma non troppo”, tentar defender a baliza com simplicidade e sentido prático mas acima de tudo nunca desistir de lutar pelas bolas perdidas. Acertámos em duas primeiras mas falhámos na terceira. Houve demasiados lances em que Alex Sandro ou Mangala se deixaram “comer” pelo desespero da malta de branco e várias destas oportunidades podiam ter resultado em lances perigosos para Fabiano. A atitude competitiva, tantas vezes pontapeada por vimaranenses que usavam os braços e o corpo sempre que podiam (e Jorge Sousa deixava), não pode ser tão relaxada. Nunca.

(-) Otamendi fez falta sobre Mangala na nossa área. A sério. Mais uma atrapalhação do argentino (no resto do jogo até nem esteve mal) que Jorge Sousa fez o favor de transformar no ridículo de uma falta a nosso favor mas que podia ter sido mais um lance para o compêndio de hilaridade que têm vindo a ser as exibições defensivas da nossa equipa este ano…


Para a próxima eliminatória, só um pedido: Não quero Benfica vs Porto. Não quero Benfica vs Porto. Não quero Benfica vs Porto. Não quero Benfica vs Porto. Não quero Benfica vs Porto. Não quero Benfica vs Porto. Não quero Benfica vs Porto. Não quero Benfica vs Porto. Não quero Benfica vs Porto. Não quero Benfica vs Porto. Não quero Benfica vs Porto. Não quero Benfica vs Porto. Não quero Benfica vs Porto. Não quero Benfica vs Porto. Não quero.

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Ouve lá ó Mister – Guimarães

Mister Paulo,

Não te posso dizer que esteja particularmente entusiasmado com o jogo de hoje. Estou a ser sincero, pá, como sou sempre. Talvez sejam ainda restos do jogo de quarta-feira que me deixou com a moral em baixo. Pode estar relacionado com o facto de ter levado uma bolada no focinho ontem de manhã que quase me punha um olho à Belenenses (pós-Mangala, imagina!), muito embora tenha reclamado incessantemente: “na cara não, caralho, que esse é o meu ganha-pão, ora fod…” e trau, lá foi a bola na tromba. Pode até ser pela chuva que vai caindo lá fora e que unta as estradas de um visco superficial que põe o povo doido.

Mas olha que o jogo de quarta-feira é capaz de ser o motivo mais importante dos três. E depois de beber três ou quatro finos e de sofrer durante todo o jogo à procura de uma vitória que nunca mais apareceu, fiquei desmoralizado. Triste, sabes, como se me tivessem feito um clister sem me avisarem. Por isso estou à espera de mais do mesmo neste jogo. Já vi que convocaste o Kelvin e apesar de não estar à espera que o puto seja titular, espero que o Ricardo seja. E espero que o Carlos Eduardo também seja. E o Josué. E o Maicon. Pronto, só esses, o resto deixo contigo.

Quero que saibas que para todos nós esta é uma prova secundária. Sempre foi, sempre será. Mas neste momento, Paulo, todos queremos vitórias. O FC Porto ganhou um jogo dos últimos quatro. Ouviste? Eu repito. Vencemos UM jogo dos últimos QUATRO. Se queres manter a malta do teu lado…não faças com que os 25% passem a 20%.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 0 Vitória Guimarães

Depois de sair do estádio, enquanto esperava que uma enorme carga de água cessasse de cair do céu da Invicta (bem-vinda, chuva tão nossa e tão ubíqua cá no burgo), ia ouvindo as conversas e havia três pontos de concordância geral entre o povo que discutia o jogo que tinha acabado de presenciar, que apresento aqui como citações mais ou menos precisas e com vernáculo corrigido: “Eu não vi penalty nenhum!”, “E aquele cabrão do avançado? Que trave!” e “Se jogarmos assim na terça-feira, estamos tramados…”. Concordo com todos e adiciono que a equipa parece perder clarividência, criatividade e organização à medida que os jogos vão avançando. Vencemos, é certo, mas foi caído do céu, como a chuva. Notas abaixo:

(+) Mangala e a luta com Maazou. Foi de longe o duelo mais interessante do jogo e só esse simples facto dá para perceber o quão aborrecido e pouco intenso foi o resto do jogo. Ainda assim, a forma como os dois “vinte-e-dois” se bateram, pelo ar ou pelo chão, foi o motivo de maior empolgamento dos adeptos, que viam ali uma fugaz escapatória ao deserto de ideias e às contínuas falhas técnicas e tácticas que a equipa exibiu. Mangala saiu quase sempre vitorioso, mas o canastrão que este ano chegou a Guimarães foi um dos adversários que lhe deu mais trabalho este ano (mais até que a luta contra Cardozo no jogo de Setúbal) e o francês superou o nigerino em quase todas as oportunidades.

(+) O espectáculo inicial das claques. Ninguém pode ficar indiferente ao ENORME pano que cobriu toda a Superior Norte e mais um pedaço da lateral, com nomes eternos da nossa história como faces num Mount Rushmore versão FC Porto. Nicolau de Almeida, Monteiro da Costa, Pedroto e Pinto da Costa foram elevados a heróis pelos adeptos, no tamanho que mereciam. Mais, só uma estátua. Parabéns, caríssimos co-adeptos.

(+) Josué. Marcou o penalty com calma. Ainda teve mais um remate perigoso…e não tivesse falhado setecentos passes durante o jogo e teria tido maior destaque. Como assim não foi…fico pelo elogio ao jogador que nos deu a vitória.

(-) Apatia, descoordenação táctica e falhas individuais em demasia. Parece ser contra a intuição natural de alguém que gosta de futebol, mas a verdade é que à medida que o tempo vai avançando e as ideias de Paulo Fonseca vão sendo naturalmente entendidas e adaptadas pelos jogadores, a equipa vai jogando pior. Falham-se muitos passes, democraticamente oscilando entre os curtos e longos, mas com uma percentagem de acerto abaixo do que seria uma exigência mínima. Há conceitos de base que insistem em ser atirados para canto pela maioria dos jogadores (Licá, protege o raio da bola em drible…Alex, olha para o lado a ver se vem alguém…Varela, tenta não tropeçar nos próprios pés quando recebes a bola…só para citar alguns) mas o que mais incomoda continua a ser a apatia. Há um alheamento da bola, uma tentativa de perceber em campo a melhor forma de agir enquanto o jogo decorre, sem que se consigam ver resultados práticos. Sim, Quintero tem uns pés que parece um Hagi moreno e com gel na trunfa, mas continua a ser jogador com mentalidade de vedeta em equipa pequena. Um bom elemento para um Fulham, um Hannover ou um…Pescara, onde tem mais alguns gajos que corram o que ele opta por não correr. Lucho está menos mal e vai tentando coordenar os movimentos dos colegas, mas nem ele parece entender o que é necessário para dinamizar a equipa. Fernando joga perto demais do centro da defesa, os laterais tardam a subir e fazem-no com pouco apoio, os extremos estão ineficazes, inexistentes e indolentes e Jackson parece amorfo, sem a capacidade de controlar a bola de costas e de rodar para uma ala onde, compreenda-se, raramente tem uma linha de passe. Juntemos a isto as trocas entre o médio mais avançado e um dos falsos extremos sem que haja progressão com bola, conquista de terreno ou qualquer perigo para a defesa contrária. O overlap dos primeiros jogos desapareceu, as linhas de passe não surgem porque não há magia no Mundo que as crie sem que os rapazes trabalhem para isso. Há gente a mais nalgumas zonas (meio-campo defensivo em ponto de construção) e a menos noutras (entrada e laterais da área). Há confusão, desorganização, desatenção, há tanta coisa mal que vou desesperando sempre que saímos em posse para o ataque. Há pouco tempo para construir uma equipa do início, mas temos de tentar corrigir alguns dos problemas para evitar males maiores.


Num jogo em que se celebrou o 120º aniversário do clube, os adeptos mereciam mais. E ninguém se chatearia muito se a segunda parte tivesse sido igual à primeira, com um ou outro golo a dourar o espectáculo e a dar a vitória à equipa. Para nos rirmos todos um bocadinhos e partilharmos com sonoras gargalhadas os pedaços de passado que vivemos em conjunto. It was not to be. Talvez no futuro possamos olhar para trás e rir destes momentos. Mas o presente, esse não dá para grandes sorrisos.

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