Ouve lá ó Mister – Moreirense


Amigo Vítor,

Começa a ficar apertado aqui no burgo, pá. Isto de andarmos de atrelado a sermos puxados pela força da nossa alma enquanto vemos os outros imbecis ao longe não é coisa que me agrade e não agrada a nenhum portista. Estamos mal habituados, talvez, mas o hábito demora tempo a morrer e se não acreditas nisso, pergunta a um gajo que fume e ele diz-te. Olha para o Jesualdo, que esperas te possa vir a salvar o couro neste Domingo, se não lhe custou deixar de andar com o maço no banco e desatou a mamar chiclets como o Jesus. Foi uma tristeza e é a mesma tristeza que todos passamos quando vemos que, lo and behold, não estamos em primeiro. We’re not in Kansas anymore. Coiso.

Mas eu continuo a acreditar, Vitor. Continuo a ver os jogos, até em diferido como nas últimas semanas, como fiz com a final da Taça da Liga. E hoje, dia dos dias, hoje vou ver o estupor do jogo em directo, sentado no meu sofá depois do que promete ser um dia cheio de trabalho. E pelas 20h30 vou pegar numa cerveja e tirar-lhe a cápsula. Alapo a peidola no tal sofá, dou uma golada daquela ambrósia que os Deuses puseram na Terra e olho para a televisão. E o adversário é o Moreirense. Nem preciso de te dizer o que lhes vais gritar aos ouvidos: “ESTES SÃO O BOAVISTA MAS EM VERDE, CARALHO! E PERGUNTEM AQUI AO CAXINEIRO O QUE É QUE SE FAZ A UM BOAVISTA!!!”.

E estás direitinho para uma vitória tranquila. Por favor. Uma vitória. Já me chegava.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – FC Porto 3 vs 1 SC Braga

Foi um daqueles jogos longos que parecem nunca mais acabar, nem sempre pelos melhores motivos. E foi também uma real demonstração de como o futebol pode levar as pessoas da depressão à euforia numa questão de minutos, graças aos simples esforços de um homem. Perdão, um puto, que entrou aos setenta e seis minutos e teve a arte, a audácia e a sorte de dar a vitória a uma equipa que parecia deprimida e deprimia os que a viam há mais de uma hora. O Braga defendeu muito e bem, queimou tempo como uma miserável equipa de segundo nível que não é, mas acabou por morder a poeira que mereceu depois de tão fraco futebol ter mostrado. Cansado, saí do estádio a pensar no que o meu pai me tinha dito ao intervalo: “Mas estes gajos precisam de ser picados para jogarem à bola?!”. Parece que sim. Vamos a notas:

(+) Kelvin. Se fosse a ele guardava a camisola, as botas, a bola, dois nacos de relva e a embalagem de gel que pôs no cabelo, porque um jogo destes não se vai repetir durante muitos anos. Um dia, dizia-me o Dragão Crónico no final do jogo, quando o rapaz acabar de ser eleito melhor jogador da Suazilândia pelo sétimo ano consecutivo, ainda se vai lembrar desta partida como a coroa de glória da sua carreira de futebolista. Não sei o que o futuro lhe reserva, mas gostei da atitude, da garra, acima de tudo da vontade de mostrar e de marcar, com ou sem sorte. E pensar que para ele a noite tinha começado com uma tentativa de finta que resultou num desiquilíbrio…para ele próprio, que acabou por se estatelar redondo no chão. Levantou-se e marcou dois golos. Acho que chega.

(+) Fernando. Foi o melhor jogador da equipa pelo papel muito interventivo que teve na recuperação de bolas no centro do terreno. É um lugar comum, eu sei, e se googlarem esta frase acompanhada pelo nome dele, muito provavelmente verão umas dezenas de resultados em diferentes jogos. Mas fez-se sentir a forma como agiu sempre com a força que outros não tinham (Lucho, Danilo, James…) e a usou para tirar a bola a qualquer adversário que lhe aparecia pela frente, pelo lado ou pelo ar. De todas as intercepções, há dois cortes extraordinários, com a ponta da bota, que inviabilizam contra-ataques potencialmente perigosos para o Braga, que foram, merecidamente, aplaudidos de pé. Excelente jogo.

(+) Helton. Cada vez é mais Beckenbauer o nosso violeiro, jogando continuamente mais avançado à medida que a equipa tenta porfiar no ataque, e é exactamente essa a grande mais-valia que traz à equipa. Defendeu quase tudo (o remate de Alan no golo é muito bom, diria indefensável), incluindo um lance de João Pedro isolado depois de (mais) um AVC de Otamendi e vários remates de longe de Baiano ou Alan. Foi o que precisávamos que fosse, seguro, firme e a dar confiança.

(-) A velocidade de construção e execução. Somos uma equipa lenta, não tenho dúvida. Mas ainda somos mais lentos do que pensar que a executar. Ou será ao contrário? Fica para pensarem, mas a verdade é que a equipa demora tempo demais a conseguir criar um lance de perigo, com rotação de bola em zonas pouco produtivas a ser feita com demasiada calma e excessiva complacência, para quando se consegue de facto obter um espaço para fazer alguma coisa de jeito como um cruzamento ou um remate…demora-se anos a colocar a bola na posição certa, com o vento adequado, o gomo correcto a fazer sombra e a humidade relativa nem 1% a mais do que devia. Perdem-se bolas atrás de enervantes bolas com este perfeccionismo (estou a evitar dizer “lentidão”) abusivo e se o remate de James deu golo foi porque finalmente se decidiu…pelo remate. Atsu, no estilo que só ele neste plantel pode ter, foi o único a ser prático. Entrou e a equipa mudou, começou a criar mais perigo. I fucking wonder why.

(-) Lucho. Está a pagar a factura da primeira volta que fez com bastantes juros. Lembram-se quando Lucho aqui há uns meses fazia noventa após noventa minutos a varrer o meio-campo e a pressionar o guarda-redes e todos ficávamos surpreendidos com a capacidade física do argentino? Alguns anormais com blogs de outras cores (verm*cof*elhos) chegaram até a levantar os braços aos céus como faz a carneirada nas igrejas evangélicas e a gritar doping como se fossem uma versão autista de Arquimedes no chuveiro. E agora…vejo Lucho a arrastar-se em campo, sem vigor, sem força, sem pernas para pouco mais que uma ou outra corridita. Vai ser um final de época tramado, especialmente com a falta de opções viáveis no plantel…

(-) A tremideira de Abdoulaye. Ai, home, que essas varas negras que chamas pernas tremiam-te tanto que nem imagino como estavam os teus intestinos. Primeira intervenção, uma rosca para o ar, canto. Segunda, um passe absurdo para Defour. Terceira, um domínio de bola trapalhão a ceder lançamento ao adversário…e por aí fora. Abdoulaye só atinou nos descontos e felizmente não houve chatices de maior para resolver. Andas a passar muito tempo com o Castro, rapaz.

(-) A passividade de Danilo no golo. Alan recebe a bola na linha, perto da área. Passa a bola para o colega na marca de penalty, que a devolve ao “Predator” para um remate estupendo levar a bola para dentro da baliza. E Danilo, o marcador de Alan, pelo menos dez anos mais novo que ele? Ficou-se. Ficou a ver o homem que devia marcar a entrar alegremente na área, chocando contra Moutinho como um camião-cisterna contra um dente-de-leão, sem que tivesse ninguém para lhe fazer frente. São ingenuidades a mais do nosso defesa direito, palavra de honra.


O nosso trabalho está feito, pelo menos nesta semana. Sim, já devia ter sido feito há muito mais semanas mas é o que temos e agora não adianta partir para análises fora de horas porque haverá tempo para isso quando a obesa cantarolar. O que interessa agora é o próximo jogo e a vitória que é essencial nesse mesmo jogo. Para lá da Taça da Liga, que francamente não me chateia muito. Sei que o Braga não vai a Coimbra jogar da mesma forma que fez aqui, por isso o jogo será bem diferente, mas este, meus amigos, já foi. Ah, e parabéns, Quim. Continuas a fazer amigos a qualquer lado onde pões os pés. Queimar tempo aos 15 minutos? Porra, homem, foi demais.

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Ouve lá ó Mister – Braga


Amigo Vítor,

Este é mais um, só mais um, e nem o facto de ser o Braga o torna mais ou menos especial. Até podias jogar contra o Cangalheiros Unidos, o que interessa é ganhar. Não há nada que possa fazer com que este tipo de jogos se tornem entusiasmantes, felizes, bem-dispostos, com a galhofa dos campeões e aquela barbela enorme de quem está à frente. Este é um jogo daqueles mais tramados dos jogos: é um jogo difícil que se tem de ganhar, porque se não o fizeres então, amigo Vitor, está tudo fodido.

Não que as coisas não estejam já parcialmente fodidas, porque estão. E digo “parcialmente” porque ainda há esperança, pá, e já sabes que nunca desisto a não ser que me provem para lá de qualquer tipo de dúvida razoável que o panorama está, de facto, copulado e bem copulado. E até esse momento FUBAR aparecer à beira da porta, não há que desanimar e é seguir com a carruagem em frente que a ponte está de pé e a estrada mais ou menos em condições.

Já vi a convocatória e…é o que tem de ser, não é verdade? Marat, Mangalho e Mandrião estão de fora, por isso bora lá a enfiar alguma alegria na equipa! Atsu a titular! Maicon a titular! E é isso. Não tenho mais ideias, não consigo puxar por cartas que não conheço nem sequer sei se existem. Mas sei que vou lá estar na bancada, acabado de sair de um dia de trabalho. E acredita quando te digo que não me quero divertir nem lá vou para isso. Quero ganhar o jogo. Quero continuar na luta, Vitor, e quero que os teus rapazes continuem a acreditar nisso!!!

Bora lá, mais uma alegria, mais uma vitória, Porto, Porto, Porto e o resto da marcha que tu bem sabes como é. E um pontapé no Alan, se possível.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Académica 0 vs 3 FC Porto

Só vi o jogo depois de chegar a casa, com a recta alcoólica a descer abruptamente depois de um dia em que andou a flutuar por valores bastante mais altos que o expectável para o final de Março. Assisti ao jogo já sabendo o resultado, porque é impossível tentar esconder tudo de toda a gente e há sempre alguém que está pouco interessado no diferido mesmo que não possa ver o directo, por isso a forma como o vi foi mais relaxada, com muito menos stress que o normal e deu para perceber melhor o estado anímico da equipa e a forma como isso influencia o desenrolar de jogadas ofensivas, a concentração nas defensivas e, acima de todas estas teorias…é tão fácil perceber como anda a cabeça de Danilo quando o homem acaba de marcar um bom golo e não festeja. Vamos a notas:

(+) A facilidade da vitória. Foi tão simples, tão fácil, que me deixa sempre a questionar porque raio não se consegue fazer isto todas as semanas, ou pelo menos partir de uma base tão simples como esta. Jogo prático, sem inventar muito, com facilidade de troca de bola mesmo contra um adversário ultra-defensivo. É a imagem de marca de 80% do nosso campeonato e não conseguir contrariar este estilo só nos deixa na mão dos nossos oponentes directos, como aconteceu este ano, especialmente quando perdemos pontos frente a este tipo de equipas. Jogámos bem, sem brilho mas com eficácia, sentido prático e facilidades criadas por nós e não cedidas pelo adversário. Safámo-nos bem.

(+) Castro, pelo golo e pelo seu significado. É irresistível elogiar o rapaz pelo golo, mas acima de tudo pela celebração. Depois de Danilo, no segundo golo, ter mostrado que nem sempre um golo chega para arrebitar a moral de um jogador que sabe que pode fazer muito mais e não corresponde às expectativas dos adeptos, temos no outro extremo o golo de Castro. Foi o terceiro, o ponto final de um jogo banal, sem grandes motivos para excitações, com uma exibição à imagem da equipa. E mesmo esse terceiro golo aparecendo quase aos noventa minutos, em final de festa, foi celebrado por Castro como se fosse um game-winning goal na final da Taça de Portugal. Castro sorria e os adeptos sorriam com ele, porque representou o que tantos portistas estão a ver desaparecer jogo após jogo: o portismo dos jogadores, que para lá do profissionalismo, é um desejo de todos. Parabéns, puto. Podes não participar tanto quanto querias, mas sempre que o fazes a malta sorri.

(+) Moutinho. Há ali um passe na segunda parte em que Moutinho recebe a bola de Fernando ou Danilo, esqueço-me agora quem foi o remetente. João, com meio segundo de tempo disponível para olhar à sua volta e descobrir uma linha de passe antes que Wilson Eduardo (ou Edinho, mais uma vez não posso garantir…mas também não interessa muito à questão, acreditem) lhe caia em cima e lhe tire a bola dos pés, faz um passe de trinta metros direitinho para o caminho de Alex Sandro, que tem o corredor à sua mercê para atacar a área adversária pelo lado esquerdo. E o número oito faz isto repetidamente durante um jogo, de uma forma natural, como se nada o abanasse, com uma confiança que parece estar sempre em alta. Excelente.

(-) O ricochete do desânimo. Vou abordar este tema daqui a uns dias, mas parece-me evidente que nem o apoio das claques (até elas resistentes ao futebol que adormece tanta gente mas que os parece conseguir manter em força no apoio à equipa…e ainda bem!) pode esconder alguma desilusão dos jogadores para com a equipa. Parece fácil pensar que os rapazes vão entrar em campo com a confiança de Thor com o martelo nas mãos, mas a verdade é que se nota que há uma tristeza latente na forma de jogar, no passe, até no festejo dos golos e dos lances mais bem conseguidos. Os jogadores parecem unidos e se há alguma divisão no plantel, não creio que passe cá para fora. O que passa é uma espécie de infelicidade exteriorizada que consigo entender na perfeição, mas que mais uma vez não compreendo o porquê de se terem deixado chegar a este ponto. Danilo foi o expoente máximo dessa tristeza. No final de um excelente lance de ataque, onde Lucho aproveita a subida do lateral para rasgar a defesa, contrariar o movimento de quatro adversários e coloca a bola direitinha nos pés do brasileiro que só precisa de encostar para marcar, o que faz na perfeição pelo meio das pernas de Ricardo. A celebração deste banquete futebolístico? Um punho levantado, a cabeça caída, os abraços dos colegas, que compreendem o desânimo do companheiro e continuam a festejar sem chama, sem entusiasmo. Se não conseguirmos ser campeões, esta é uma das imagens que me vai ficar na memória.


Preparem-se para mais umas semanas de sofrimento, meus caros. Os jogos continuarão a ser vencidos (ou assim esperamos), e os três pontos não parecem falhar aos moços de vermelho. A culpa de todo este desterro é total e completamente alocada a nosotros, por isso não nos podemos queixar do destino ou da performance de terceiros. Insisto que se tivéssemos marcado dois penalties, estaríamos em primeiro lugar com um jogo no bolso se conseguíssemos vencer o Benfas em casa daqui a uns tempos. Enfim, assim vão as glórias por-agora-adiadas do nosso mundo…

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Ouve lá ó Mister – Académica


Amigo Vítor,

Olá. O meu nome é Jorge e sou o animal que escreve habitualmente aqui neste espaço, sócio e adepto portista há muitos anos, detentor de Dragon Seat e com um sentido de humor geralmente considerado “nocivo” por algumas pessoas que se riem do que digo para depois me criticar pelas costas. Um bocado como fazem com o Quaresma depois de o ver em campo, se é que o rapaz ainda calça as botas e suja os calções, porque já não ouço falar dele há que tempos. É uma tristeza quando se perde o foco da ribalta, não achas? But I digress, regressemos ao que me trouxe.

Estou farto de não ganhar jogos. Sabes que não celebro uma vitória do FC Porto desde o dia oito de Março? OITO, VITOR!!! E já jogámos duas vezes desde esse dia, pá, e vinte e dois dias deste jejum forçado dá-me uma azia que nem imaginas. Nem os jogos da selecção me dão a pica de antigamente, sinceramente, por isso estou dependente do jogo como de pão para uma boquinha que já não se nutre há tempo demais. E já sei que esta Académica é uma equipa de ferrolho, que defende com tantos gajos quantos puder enfiar na pequena área. Mas não quero saber de desculpas e os teus moços também não podem pensar nisso. E deixa-me que te diga: ainda bem que o Varela não está disponível. Não estou a gostar nada de o ver a jogar. Neste momento, preferia o Sebá. Raios, preferia o Mariano! Joguem em condições e ganhem. Ponto.

Para lá deste desterro mental…não vou poder ver o jogo em directo. É um caralho dum complot contra mim, só pode ser. Por essa hora vou estar algures pelo distrito de Braga, a enfiar o focinho numa travessa de sapateiras ou de croquetes, com um copo de Touriga na mão a fazer um brinde aos noivos. Ainda por cima o noivo é um dragão dos grandes, pá, por isso imagina o sacrifício que se faz pelo mulherio na nossa vida. Por isso só vou ver o jogo depois de chegar a casa e talvez só escreva no dia seguinte. Mas também é Páscoa e vai andar tudo a enfardar o bandulho com cabrito e ovos de chocolate. Só espero fazer algo parecido e não me cair mal. A responsabilidade é tua.

Sou quem sabes,
Jorge

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