Ouve lá ó Mister – Vitória Setúbal


Amigo Vítor,

Ahhhh…estou cansado. Aquele jogo de quinta-feira deixou-me cansado, Vitor, por isso nem imagino como hás-de estar tu depois daqueles 45 minutos de bom futebol e do resto do tempo que foi qualquer coisa perto de futebol mas não muito. Assim como um bife de soja. É, mas não é. E na quinta, assim foi. Não quero ver mais daquilo, Vitor, o meu pobre coração não aguenta, pá. Fico triste, melancólico, começo a responder mal às pessoas, durmo torto, acordo com uma disposição de arrancar cabelos à machadada e detesto isso. E hoje podes fazer com que a minha moral suba um bocadinho.

Ainda há umas semanas fui ao Dragão ver o Setúbal para a Taça da Jola. Sim, aquela parvoíce de jogo em que fecharam as bancadas de cima e me obrigaram a ir para perto do túnel de acesso e mesmo em cima do relvado, mas fui na mesma. E vi o FC Porto a fazer um jogo de treino e bati muitas palmas ao Lucho e ao Janko e foi uma alegria. Mas este é a sério, já conta para coisas importantes e temos de o ganhar. Não há desculpas, não quero saber o que vais fazer com os jogadores na palestra ou ao intervalo ou lá quando é que lhes dizes as coisas que dizes, mas a probabilidade de sairmos do Bonfim sem pontos tem de ser a mesma do Berlusconi dizer a uma gaja boa de 17 anos que não a quer papar: zero.

Não há Álvaro? Há Alex Sandro. Não há Danilo? Tens o Sapu ou o Maicon. Não tens o Hulk em forma? Põe-no ao banco. Não há equipamentos lavados? Usa os de semana passada. A bola está furada? Manda vir outra. Não há desculpas. Não pode haver.

Sou quem sabes,
Jorge

 

APOSTAS PARA HOJE NA DHOZE:

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Baías e Baronis – FC Porto 4 vs 0 União Leiria

Eu e mais 28 mil bravos portistas decidiram enfrentar o frio que se sentia na Invicta para estar uma hora e meia a ver futebol. Dá uma certa espécie de sentido de união, de alinhamento conjunto para combater as contínuas adversidades que continuam a ser colocadas pelos adversários mas também pelos nossos próprios jogadores. Numa fase onde se nota que os elementos novos e os antigos ainda precisam de tempo para criar novas sinergias (peço desculpa pelo uso de uma das palavras mais nojentas da lusa língua) dentro da equipa. Os números foram gordos, ao nível dos concorrentes daquele concurso ridículo do Gôdo mais Fóti ou Fóti mais Gôdo ou sei lá como se chama aquela treta, mas não espelham as dificuldades que tivemos em conseguir construir jogadas de perigo para a baliza de um miúdo que se continuar assim…ainda vai parar de volta ao Benfica. Acima de tudo fica a vitória que nos mantém a cinco pontos do primeiro lugar. E era tudo que se pedia. Vamos a notas:

 

(+) James Não me junto à brigada de linchamento de Vitor Pereira quando não colocou James a jogar de início porque Varela tinha vindo a subir de produção e com dois alas podíamos abrir o jogo melhor do que jogar com um falso “10”. Mas a verdade é que mal James entrou no jogo para o lugar do nosso 17 o impacto fez-se sentir quase de imediato, com passes certos, boas desmarcações para Álvaro que finalmente conseguiu ter um ponto de enfoque para o “passe-e-corta” até ao cruzamento final. Acima de tudo trouxe inteligência e domínio da bola de uma forma que Varela nunca conseguiu (alguma vez consegue?) e empurrou a equipa para a troca da bola à entrada da área, algo que até aí pouco se tinha visto. Se ao menos James conseguisse ser mais consistente nas exibições…

(+) Maicon e Mangala Certinhos, rápidos, interventivos no momento certo e com timing acertado. Não estarei muito enganado ao dizer que Mangala é um rapaz com futuro e Maicon está cada vez melhor quando joga a central depois da sua aventura no flanco direito ter terminado em crescendo, para além de ser o único jogador que causa perigo em bolas paradas ofensivas. O regresso de Rolando ao onze parece-me certo, mas não tenho tanta certeza quando falo de Nico Otamendi, porque as últimas exibições não foram nada para escrever no diário e um destes Émes pode tirar o lugar ao argentino, especialmente na quinta-feira onde um certo senhor Dzeko pode estar a jogar na nossa área…

(+) Álvaro Houve uma certa altura em que pensei que o Palito estava obcecado por marcar um golo, praí para dedicar à namorada ou mulher ou quenga ou sei lá o que o rapaz tem como companhia feminina, transitória ou permanente. Esteve quase sempre bem a romper pelo flanco como de costume e não fosse a não-presença de um certo Sr.Silvestre ao seu lado para uma eventual tabelinha e a grande parte das jogadas teriam tido um melhor fim. Marcou um golo com um excelente toque de primeira e esteve perto pelo menos mais duas vezes de facturar. Para um defesa esquerdo não é nada mau.

(+) Oblak Se este blog fosse pertença de um benfi…benf…de um senhor apoiante do clube da águia, estaria a cantar ainda mais as glórias do moço. Mas a Oblak o que é de Oblak, e o rapaz que tem um nome que soa como se estivéssemos a chamar um amigo à razão (“Oblá(k), tem juízo!”) fez um jogaço hoje no Dragão. O tipo de verde na baliza do Leiria defendeu quase tudo o que lhe puseram pela frente, lançou-se como um louco para cima de Janko e lixou montes de jogadas de ataque do FC Porto que em situação normal – leia-se, com um guarda-redes sem o grau de inspiração Beethovenesca do esloveno – tinham ido parar ao fundo das redes. Enfim, apanhou quatro batatas mas não teve culpa em nenhuma. Parabéns.

 

(-) Os dois Vs Varela e Vitor Pereira por não tirar Varela de campo. Posso ser daqueles fulanos que tem a mania que sabe tudo e que se arma em treinador de bancada (afinal escrevo um blog sobre futebol, alguma arrogância tinha de vir cá para fora), mas ao ver a inepta exibição de Varela que o fez regredir alguns meses no espaço de quarenta e cinco minutos, não resistia a tirá-lo de campo ao intervalo e deixava-o no balneário a limpar as latrinas. E se não houvesse lá latrinas, mandava-as instalar só para que ele pudesse ir lá limpá-las. Foi tão pouco, Silvestre, tão pouco e tão mau que o meu próprio compincha da bola há tantos anos se virou para mim e disse: “Se eu estou aqui a desejar que entre o Djalma para sair o Varela, o que é que isso diz do Varela?”. Diz muito, rapaz.

(-) Bolas paradas, tanto ofensivas como defensivas Começa a ser patético, francamente. A maior parte dos cantos são marcados com a bola a pingar para a área e tão fáceis de interceptar pelos defesas como se lhes fosse arremessado um quilograma de algodão-em-rama com toda a força de uma anta tuberculosa. E os lances em que temos de defender a nossa própria baliza são ainda piores porque basta o adversário colocar um ou dois homens na área e é logo um número-de-Pena que se gera na nossa área. Não se consegue treinar estes lances em condições para que não tenhamos todos o coração, fígado e pâncreas nas mãos sempre que a bola para lá vai pelo ar?!

 

É verdade que os jogos parecem lamacentos, travados por nervosismo, falta de confiança e uma tremenda incapacidade de impôr velocidade quando a partida parece tremida. E a somar a esses pouco conseguidos elementos de jogo, a ansiedade que se apodera dos adeptos quando vêem os minutos a passar e agarrados a exibições brilhantes da época passada não conseguem perceber porque é que estes rapazes não conseguem jogar ao nível dos outros, eles que são tão parecidos à primeira vista. Mas não são. Porque na defesa houve mudanças, o meio-campo está com uma dinâmica alterada e o ataque oferece alternativas radicalmente diferentes das que tínhamos no ano passado. É preciso começarmos a ver os jogos com alguma distância emocional e perceber que este FC Porto da segunda metade da época tem tudo para ter sucesso. Mas não será com duas ou três semanas que vamos conseguir chegar ao nível que a malta pede…e quinta-feira, por esses motivos, é uma enorme incógnita.

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Ouve lá ó Mister – Leiria


Amigo Vítor,

Agora é a sério. Já sei que me vais dizer que a Taça da Liga também é séria e coiso e tal, porque é uma competição que o FC Porto entra para ganhar, yadda yadda, mas não me interessa tanto, nem a mim nem a milhões de Portistas. Este jogo de hoje e ESTA competição é que conta. Estamos muitos pontos atrás da vermelhidão e agora todos os jogos são ainda mais decisivos.

Já vi que temos alguns gajos no estaleiro e outros na bancada por causa dos cartões. A experiência contra o Setúbal de colocar o Maicon e o Mangala lado-a-lado pode ter corrido bem mas este jogo é diferente por vários motivos: o jogo conta para o campeonato e o Leiria não se importa nada de sacar um pontinho…mas importa-se ainda menos se conseguir tirar-nos os três. Salvo seja, claro. Ainda assim tem cuidado e manda os moços estarem atentos às correrias dos outros.

E o Hulk, é desta que volta? Admito que estou muito curioso para ver o que é que o rapaz pode fazer com o Janko na frente e o Lucho ao lado. Ui! E do outro lado? James com Álvaro a voar-lhe pelas costas? E no meio se o Fernando estiver em condições ao lado do Moutinho…pá, tens jogadores que chegue para ganhar o jogo num instantinho e acabar com esta treta rapidamente e começar a pensar no jogo de quinta-feira. Mas antes…temos três pontos para ganhar, um estádio bem composto para agradar e um belo dum briol para aguentar. Foca-te nos primeiros dois.

Sou quem sabes,
Jorge

 

APOSTAS PARA HOJE NA DHOZE:

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Baías e Baronis – Gil Vicente 3 vs 1 FC Porto

foto retirada de desporto.sapo.pt

Estaria a roçar o inadmissível ver um jogo destes numa pré-época. Se pensarmos que este é mais um numa série de jogos a não perder para evitar alargar a vantagem do Benfica no primeiro lugar, o impacto de uma exibição deste nível ganha proporções épicas e quase indeléveis. Como que voltando atrás uns meses ao jogo da Taça em Coimbra, onde um recorde de invencibilidade já tinha sido batido noutra competição, o FC Porto jogou em Barcelos com uma inércia assustadora, uma incapacidade de lutar, de vingar, de vencer e de mostrar que os momentos maus tinham já passado e que o futuro era nosso e só dependíamos da própria força para chegar vitoriosos no final da época. Não o fizeram e questiono-me até que ponto a vitória do Benfica na Feira, da forma que aconteceu, não levou a que os nossos rapazes entrassem em campo com a atitude derrotada com que pareceram jogar. Não vi nenhum do empenho que tinha vindo a reparar nos últimos jogos, onde mesmo que as coisas corressem mal parecia sempre haver um brilho nos olhos dos moços que me fazia acreditar neles. Neste jogo, perderam-me e perderam o apoio de muitos adeptos que os louvam e os defendem desde há tanto tempo. Inadmissível, mais uma vez, como no Chipre, como em Coimbra, como na Rússia. Inadmissível. Vamos, penosamente, às notas:

 

(+) Belluschi O único com discernimento no meio-campo. Com Moutinho a fazer uma partida ao nível de um mau jogador de boccia e Defour tão encostado ao flanco que parecia um bêbado numa discoteca, Belluschi entrou para ir ao choque, para criar os passes de ruptura a furar a defesa e a procurar levar a bola não só nos pés mas também a desmarcar-se por entre o ríjido meio-campo adversário por forma a descobrir o espaço que precisávamos. Conseguiu-o uma vez e deu golo. Mas tentou e rematou e passou e cruzou. Fez mais em 45 minutos que os companheiros do meio-campo durante todo o jogo. Juntos.

(+) Álvaro Pereira Fez-me muita mas muita impressão ver o Palito a jogar tão atrás no esquema de três defesas e o rapaz estava nitidamente frustrado por não conseguir subir no terreno pelo flanco como é hábito. Foi ainda mais enervante vê-lo a levantar os braços quando saía da defesa com a bola, a tentar fazer com que os colegas se mexessem, a incentivá-los a criar linhas de passe para arrastar os defesas do Gil ou a sair da marcação para abrir espaços de maneira a que conseguisse voar pela ala. Nunca o conseguiu mas tentou…e tentou…e tentou, até que percebeu que o apoio não ia chegar de lado nenhum.

(+) Varela Marcou um golo e tentou chegar à baliza quase sempre com pouco discernimento mas muita vontade. Nem sempre conseguiu correr com a bola presa aos pés e continua com uma incapacidade crónica de dominar uma bola e colocá-la rapidamente no relvado, mas ainda assim hoje foi dos poucos que pareceu genuinamente interessado em recuperar a desvantagem.

 

(-) Apáticos, tristes e derrotados Só tenho uma pergunta: porquê? O que se passou para que os mesmos fulanos que jogaram no Dragão contra o Guimarães no passado sábado tivessem entrado para o Cidade de Barcelos como meninos amedrontados no primeiro dia de aulas mas com três Prozacs no bucho. O que raio se terá passado?! Terá sido da mudança de capitão? (alguém me explique essa, já agora, porque por muito que prefira um jogador de campo como capitão, a mudança a meio da época parece-me no mínimo questionável). Da vitória do Benfica? Do recorde a bater? Da ausência de Fernando? Dos equipamentos contrários? Anybody? Ninguém sabe e ninguém pode saber a não ser os jogadores e o treinador. Seja o que foi que os afectou, fez com que regredissem até ao jogo de Coimbra e jogassem sem força nem vida, com toda a dinâmica de um dólmen e a agressividade de um éclair. Moutinho não criou perigo, Kleber quase não tocou na bola, Souza não obstruiu, Rolando não cortou e Defour não passou em condições. A ausência de jogadas de combinação com um mínimo de fluidez de jogo criava um vazio que ninguém preenchia e deixava-me ainda mais inerte e preocupado. Não falei durante o jogo todo, não me enervei, não me entusiasmei, não me emocionei. Inacreditável. A meio do jogo fui contagiado pela inércia e comecei a perceber que não íamos conseguir vencer o jogo, algo que raramente me acontece. Eu que sou daqueles crentes que fica até aos 8 minutos de desconto à espera do golo da vitória num zero-zero, que acredita que “vai ser este canto que dá o golo, vais ver!”, parei de acreditar. A equipa do FC Porto que hoje jogou em Barcelos fez-me perder a fé durante noventa minutos. Triste, cabisbaixo, emulei os jogadores. A diferença, a grande diferença, é que eu não estive naquele relvado. E dava tudo para poder lá ter estado com aquela camisola no lombo. Garanto que tinha lutado mais que a maior parte deles.

(-) Arbitragem Não é novidade para ninguém que Paixão é mau árbitro. Desde que o conhecemos, naquela mítica noite em Campo Maior em que Jardel passou o equivalente de uma sessão de S&M com um boxeur profissional, que sabemos que é uma bestinha. Uma besta autoritária, exibicionista e arrogante. E hoje não foi diferente, mas com ressalva para a parte técnica. O primeiro golo surge de uma falta que não o é, o penalty nasce de um lance em fora-de-jogo e até dou o benefício da dúvida para o eventual fora-de-jogo no início da jogada do terceiro golo. Mas o penalty sobre Defour é tão inacreditavelmente evidente que me questiono se o rapaz não estará a precisar de rever o livro das regras que qualquer árbitro deve pelo menos ter folheado uma ou duas vezes na sua vida. Decalco Vitor Pereira desta vez: foi uma vergonha. Mais uma. Não justifica a exibição, atente-se, mas não a ajudou.

 

Nada está perdido. É uma verdade e a matemática está sempre pronta a responder a afirmações cataclísmicas com a certeza dos números. Mas moralmente estamos de rastos, jogadores, treinadores, adeptos, portistas. O FC Porto que vi hoje em Barcelos não quer ganhar, não se quis revoltar contra a arbitragem de Paixão, não se enervou, não se indignou. Limitou-se a continuar a passar a bola de uma forma mais tosca que uma equipa de terceira categoria, resignados a um sentimento derrotista e miserável de quem não consegue virar uma situação desconfortável. E Vitor Pereira, com os erros que possa ter cometido e apesar de ter estado bem na flash onde criticou os jogadores, elogiou o Gil e desancou no árbitro, também não está isento de culpas. Porque aquela máxima parva das desculpas não se darem pois devem ser evitadas só funciona quando se faz por isso. E a anarquia que vi hoje e já vi tantas vezes não pode ser só atirada para os jogadores. Também, mas não só. E nem a falta de Hulk justifica toda a inépcia para praticar um futebol de um nível minimamente aceitável. Foi muito mau e há tanta ferida para lamber que nem sei por onde começar.

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Ouve lá ó Mister – Gil Vicente


Amigo Vítor,

Ora cá estamos de novo. E agora, depois do Guimarães, a agenda ditou que apanhemos um Gil cheio de força porque perdeu com o Benfica por números exagerados para o que fez em campo e estão a cantar de galo. Viste o que fiz ali atrás, com a piada ao galo? Ah, pois é, um gajo arma-se em piadético e tem a mania e tal e lá vai parvoíce com o símbolo da terra. Pronto, já vi que não achaste graça. Adiante.

O Benfica ganhou e por isso precisamos de ganhar. Não há nada que seja mais directo que isso e a desvantagem de estar em segundo e jogar depois do líder é mesmo esta, porque quando aquelas bestinhas ganham o jogo, não podemos deixar de ganhar para manter o nível. Pá, sei que é chato e que coloca mais pressão nos nossos moços, mas não me lixes porque se não tivesses empatado em Alvalade ainda estávamos lá em cima. Pois é, eu sei que foi difícil, mas a verdade é que o calendário não mente e por isso temos de zurzir em tudo o que nos apareça pela frente.

Por isso vamos lá deixar de lado as amizades e partir para a conquista. Esquece as comezainas lá no burgo, manda o galo pró forno e siga para a vitória. Não interessam Luchos, Liedsons ou outros L’s. O que conta são os três pontos e já que não tens o Hulk proponho que avances com James, Iturbe e Kleber. Deixa o Varela no banco e prepara-o para entrar na segunda parte. No centro do terreno…é o normal, não inventes muito porque não vale a pena. Sai Fernando, entra Souza. Pumba. Moutinho e Defour fazem o resto. E a partir daí é para ganhar. Mai nada.

Sou quem sabes,
Jorge

 

APOSTAS PARA HOJE NA DHOZE:

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