Baías e Baronis – FC Porto 3 vs 1 Vitória Guimarães

Um Porto-Guimarães (ou Vitória, como eles insistem em ser chamados) é sempre um jogo motivador. Esqueçam as cabeçadas dos últimos anos, com o FC Porto “a pagar em todas as frentes” segundo vontade do Vitória aliado pontual do Benfica. Há muitos anos que vejo este jogo ao vivo e há sempre qualquer coisa de diferente. O Nuno Assis a ser insultado, o Dane a falhar golos, o Quim Berto a marcar livres ou o Neno a tentar pontapear o Jardel na cabeça. Sempre qualquer coisa de diferente, menos na relação entre adeptos, que se mantém constante e é curioso perceber que os da actual capital europeia da cultura sente e propaga a rivalidade entre os dois clubes, ao passo que os da cidade que já o foi há onze anos não sente essa rivalidade. Apenas um leve e singelo sentimento de desprezo. Com estes factores ao barulho, a vitória soube bem. Soube melhor ainda porque a equipa mostrou que começa a aprender a jogar sem Hulk, por muito que ainda trave nos processos de construção, com alguma trapalhice a meio-campo e uma dinâmica atabalhoada em frente à área, para não falar lá dentro, onde Kleber parece um elemento estranho. To the noutes:

 

(+) Fernando Juro que me apeteceu saltar para dentro do campo por duas vezes hoje à noite. A primeira foi quando Fernando recuperou (mais) uma bola a meio-campo, no chão, se levantou e procedeu a fazer passar o esférico por entre as pernas do adversário, fazendo-a rodar com um toque singelo com a sola da bota. Entrava para lhe dar um beijo na testa e dizer: “Moço…que lindo!”. A segunda foi quando um excelente carrinho que cortou uma jogada de ataque com um desarme LIMPINHO na bola, só para o árbitro marcar a falta inexistente de onde apareceu o golo do Vitória. Aí entrava só para lhe dizer: “Não se chateie, sr. Reges, eles não merecem que fiques de fora em Barcelos!”. Para lá do “bromance”, foi mais um jogo quase perfeito de Fernando que está a fazer uma época que o pode catapultar para um grande europeu no Verão. Só no Verão.

(+) Varela Esforçado, lutador, com alma, velocidade e empenho. Este Varela hoje não se limitou a passear pelo relvado como tinha feito durante toda a primeira volta do campeonato, mas sim um Varela que parece ter recuperado alguma alegria e a convicção que consegue voltar a fazer tudo o que já fez na Invicta. Sinto que a falta de uma presença forte na área, como Falcao era, limita um pouco a capacidade de Varela fazer a diferença porque é necessária uma boa “parede” para as tabelas que o Silvestre sabe fazer tão bem, para lá da referência visual para onde centrar a bola. Espero continuar a ver Varela no mínimo a neste nível.

(+) Rolando Estável, firme, sem inventar e a tentar jogar simples e prático. Parece estar mais concentrado do que aconteceu no início da temporada e está sem dúvida a melhorar do ponto de vista da comunicação com Otamendi. Os passes longos continuam a ser exagerados mas são cada vez menos e mais certeiros. Mas hoje não há como não falar do golo que marcou, com um domínio de bola perfeito antes de enfiar a bola de primeira no fundo da rede de Nilson. Excelente, meu caro. Excelente.

(+) O sentido prático de Maicon (defensivamente) É um daqueles gajos que muita gente chama “jogador de pontapé prá frente”. Não contesto. Mas por vezes é preciso haver um fulano desses na equipa, como Jorge Costa foi durante muitos anos, depois de João Pinto ter carregado essa bandeira muitos mais. Quando há alturas em que todos os elementos que povoam a zona mais perigosa para as nossas próprias redes parecem estar a brincar ao meiinho com o adversário e perdem a concentração necessária para sair com a bola controlada, lá aparece o tolo careca a mandar semelhante biqueirada na bola que se acertasse no focinho do Vale e Azevedo era capaz de o fazer esquecer das negociatas todas com a Euroárea. Não é bonito, não é construtivo, mas às vezes é necessário. Só precisa de aprender a não abusar.

 

(-) Kleber na área É surpreendente ver o único ponta-de-lança de raíz do plantel a mostrar tão pouco instinto de ponta-de-lança quando joga na área. Há uma jogada que me ficou na mente porque me incomodou de tal forma que não a vou esquecer tão cedo. Kleber é lançado em velocidade, já não me lembro por que colega, e tem uma posição que lhe permite o remate de pé esquerdo. Qualquer ponta-de-lança, quando colocado perante uma oportunidade daquele calibre, só pode ter uma imagem na cabeça: um pontapé que ponha a bola no fundo das redes. Kleber parece estar constantemente à espera da bola perfeita na posição perfeita e no momento perfeito. Nunca vai acontecer, rapaz, e os melhores cabeças-de-seta do Mundo são peritos em tocar poucas vezes na bola. Às vezes, basta um toque. E tu estás a dar toques a mais para o que produzes.

(-) Moutinho e James na primeira parte Fracas, bastante fracas as exibições de um e outro na primeira metade do jogo. Moutinho esteve lento, complicou o que não precisava de complicar e nunca conseguiu imprimir a dinâmica que o meio-campo precisava e onde Fernando era de longe o melhor elemento, seguido a alguma distância por Defour. Já o colombiano esteve ainda pior e cheguei a pensar que ia sair ao intervalo. Raramente causou perigo com a bola nos pés porque a perdeu vezes demais em grande parte pela lentidão com que jogava e invariavelmente fazia com que se deixasse antecipar por qualquer bestinha de branco que lhe apareceu por perto. Subiram de produção na segunda parte (principalmente Moutinho) mas o arranque foi medíocre. Se Moutinho tem direito de ter um dia menos bom, admito que espero mais consistência de James a esta altura da época.

(-) Os últimos dez minutos Compreendo que muitos jogadores não sejam o zénite da inteligência humana. É normal, há de tudo e no meio de todo o talento para a bola é natural que se percam três ou quatro milhões de neurónios. Mas creio que todos eles sabem que um jogo se disputa ao longo de noventa minutos regulamentares. Pronto, 90, para os que não perceberem o número escrito por extenso. E já não é a primeira vez (Beira-Mar, Estoril, Braga, para dar alguns exemplos) em que os jogadores do FC Porto, por gestão física ou mental, acabam por permitir muita posse de bola ao adversário no final dos encontros e se até agora as coisas têm corrido bem, um destes dias pode ser que tal não aconteça e venhamos a lamentar um empate ou pior. É preciso manter a atenção até a senhora gorda cantar, como dizem os americanos. No nosso caso, até o árbitro apitar.

 

Todos os jogos são essenciais enquanto estivermos noutro lugar que não o primeiro. Todas as exibições têm de ser fortes, rijas, com espírito de sacrifício e exige-se entrosamento e empenho em alta para conseguirmos continuar a pisar os tornozelos dos moços de vermelho lá de baixo. Para a próxima semana, o nível tem de ser pelo menos o mesmo mas há ainda muitas pequenos pormaiores a corrigir: a atenção defensiva no final dos jogos, a destreza na área, o sentido prático na finalização e acima de tudo as bolas paradas que raramente são perigosas. Este jogo foi jeitoso. Que venham mais destes.

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Ouve lá ó Mister – Guimarães


Amigo Vítor,

Já lá vai metade do campeonato, Vitor, e as coisas estão…bem, simplesmente estão. Ainda te lembras quando começámos esta brincadeira? Estávamos em Julho, o sol queimava e as esperanças de um povo azul-e-branco acabadinho de ganhar quatro troféus caíram todas sobre os teus ombros. E desde aí o que se tem passado? Já te chamaram de tudo, já te criticaram a gravata, as substituições e o bigode do teu adjunto. Mas ainda aí estás, o que é sinal que nem tudo tem corrido tão mal. Não tens sido um Mourinho, mas também não baixaste ao nível de um Octávio. Menos mal.

E agora que começa a segunda volta deste desterro, vamos passar à acção, como dizes. Os actos valem mais que um milhão de palavras e um golo do Kleber começa a ser mais valioso que a virgindade de uma freira, por isso há que tratar do assunto. E o Guimarães não é propriamente uma equipa em grande forma, para além do mais ainda devem estar todos ressacados porque foram todos ver os Fura dels Baus ontem na terra deles e aposto que mamaram mais de uma dúzia de finos cada um, por isso toca a pô-los a ir buscar a bola ao fundo das redes várias vezes. Ainda assim…cuidado. Cuidado com os centrais que são fortes nas bolas paradas. Cuidado com os brasileiros de nome duplo, gajos como Leonel Olimpio, Marcelo Toscano, Anderson Santana assustam-me porque estou habituado a vê-los só com um nome e se têm dois é porque o perigo é a dobrar. E cuidado com o Nuno Assis. Com drogaditos nunca se pode ter a certeza do que vão fazer.

Lembra-te que no Dragão, para lá da malta que lá vai estar só de branco, não há ninguém que goste deles. E todos queremos ver o Guimarães perder, seja contra que equipa fôr (abro a excepção para a Europa, mas não devia. Maldita consciência!), por isso estoura-lhes a pica do sexto lugar e põe essa malta a olhar para baixo em vez de para cima. Eles merecem.

Sou quem sabes,
Jorge

 

APOSTAS PARA HOJE NA DHOZE:

  • 1.27 na vitória do FC Porto
  • 1.60 com vitória conquistada na primeira parte
  • 1.75 se não sofrermos golos
  • 2.20 para apostar num golo de James
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Baías e Baronis – FC Porto 2 vs 0 Rio Ave

 

Para quem esteve presente no Dragão hoje à noite e achou que o Chefão lá de cima estava tão aborrecido com o jogo e pensou que abrir as torneiras era a melhor forma de animar a partida…bem-vindos à Invicta. A chuva só trouxe dois golos mas o futebol foi interessante a espaços e atabalhoado durante uma grande parte deste encontro entre duas equipas em patamares claramente diferentes de talento. O FC Porto parece torto, desiquilibrado, com moral em baixo e ansiedade em alta, a misturar lances de bom entendimento com displicências estranhas, criando sentimentos antagónicos nos bravos adeptos que lá apareceram para aplaudir o regresso da chuva e das infantilidades de Rolando. Tão bem que ele tinha andado nos últimos tempos…enfim, cala-te boca. No final, o jogo resume-se a uma expressão inglesa: “utterly forgettable”, que é como quem diz: “ninguém se vai lembrar dele daqui a duas semanas ou depois de ver um episódio do Fringe”. Vamos a notas:

 

(+) Fernando Este é o mesmo Fernando que fez um jogo contra este mesmo Rio Ave na pré-época e na altura me enervou com a inépcia e falta de vontade. Este é o mesmo Fernando que terminou a época passada em ruptura com os adeptos que quase o insultavam pelas más performances. Este Fernando é exactamente o mesmo, mas joga com a vontade de quem chegou agora a um grande clube e parece saber perfeitamente o que fazer em qualquer momento do jogo. Transformou-se num trinco quase perfeito, com intercepções milimétricas, marcação intensa sobre o adversário directo e hoje ainda se lembrou de subir para a pressão alta sobre os centrais e até ao guarda-redes com o melhor nome de sempre (Huanderson, peço desculpa, mas ultrapassas qualquer Renivaldo ou Givanildo). Só não remata à baliza, vá-se lá saber porquê. Quem deve ter achado curioso foi Iturbe quando lhe endossa uma redondinha perfeita, para a ver a ser remetida para o fulano do lado. Porque Fernando raramente arrisca e na posição que joga, é uma mais-valia que agarro com as duas mãos e um cinto de couro.

(+) Otamendi Mais um jogo quase perfeito do argentino. Ao passo que pode ser um pouco injusto usar essa palavra, porque um defesa central pode ter um jogo “quase” perfeito…e fazer uma ou duas imbecilidades que custem golos, mas hoje não foi esse o caso com Nico, que parece estar a assentar a cabecinha, a cometer menos erros e a falhar menos passes. Joga prático, joga simples e não inventa nada, servindo como uma ligação directa para as arrancadas de Álvaro pelo flanco. Se continuar assim, está impecável.

(+) Os dois golos de James Não foi o melhor em campo, longe disso. Mas foi à custa dele que a vitória chegou com maior tranquilidade e em ambos os golos o colombiano mostrou a qualidade que tem e que deve continuar a mostrar. Com calma, inteligência e facilidade no controlo da bola e da situação, olhou bem para o que estava a fazer e colocou a bola no fundo da rede como se exigia naqueles dois momentos vitais para que a equipa descansasse mais um pouco. É curiosa a forma como me vejo a perdoar-lhe muito mais falhas quando joga ao centro do que faço quando o vejo na linha, o que diz muito sobre a forma como vejo o jogo e especialmente a utilização do jogador certo na posição certa. Porque é só no centro que ele pode render ao nível que todos queremos e Vitor Pereira já percebeu isso, como é evidente, e já insiste na utilização do 19 na criação de jogo ofensivo. E ainda bem.

(+) As recepções a Jorginho e Kelvin Foi bonito ver o estádio a aplaudir duas figuras que representam pontos extremos da nossa história: um brasileiro a caminho dos seus 35 anos que já foi bi-campeão pelo FC Porto (até nos deu um campeonato em Alvalade, vejam lá) e um puto com quase metade da sua idade e que começa agora a tentar a sua sorte no nosso clube, rodando fora para cá chegar. Ambos foram recebidos com o carinho que deve ser reservado aos jovens como incentivo e aos velhotes como louvor. Gostei.

 

(-) Os cruzamentos “pra lá” Começa a ser complicado perceber o porquê da maior parte dos cruzamentos que os nossos defesas/alas/extremos/apanha-bolas fazem para a área. As coisas aconteceram exactamente como em Alvalade, onde disse: “Não há um “bullet cross”, raramente a vantagem de termos um dos melhores alas do mundo consegue ser de facto uma vantagem porque não concretizamos situações de perigo dessa forma.”. Álvaro, Rodriguez, Belluschi, James, Maicon…todos eles cruzavam a área com as patadas que mandavam na bola, como se conseguisssem criar alguma situação de perigo com aqueles remates sem medir, sem olhar, sem pensar. Exige-se trabalho específico nesta área.

(-) Atrapalhação e anarquia táctica Várias vezes vi Álvaro Pereira a aparecer como interior direito, Cristian Rodriguez a surgir no centro do terreno à entrada da própria área e Rolando a aparecer na área pronto a finalizar um cruzamento de James. Compreendo que se queira versatilizar e agilizar a estrutura táctica da equipa, mas o que hoje vi foi mais anárquico que organizado. Ou terá sido uma anarquia calculada para enganar o adversário, arrastando-o para uma falsa sensação de insegurança planeada como um qualquer vilão num mau filme de acção? Não. Foi só desorganização, acreditem. E não pode acontecer contra equipas que nos ponham a correr atrás da bola porque pode ter resultados escandalosamente negativos.

(-) Rolando Perdoava a falha a um júnior. Porra, até lhe perdoava o gesto se fosse no decorrer de uma jogada em que um colega tivesse falhado e não houvesse outra opção senão a de rasteirar João Tomás para impedir que marcasse. Mas o alheamento do jogo e o excessivo relaxamento que Rolando insiste em exibir como um qualquer “poster-boy” a vender relógios de marca é que me enervam, porque independentemente de poder ou não queimar o jogo da Taça da Liga com este vermelho, é a imagem negativa que me fica depois de ver uma parvoíce daquela magnitude, especialmente com Otamendi a fazer tudo direitinho ao lado. Aqui há umas semanas era exactamente ao contrário…

 

A vitória pode não ter tido os números esmagadores mas é inegável que a produção ofensiva foi mais que suficiente para vencer por mais um ou dois golos. Algum nervosismo em excesso, especialmente em Iturbe, que entrou com ganas a mais e calma a menos, mostrando a todos o porquê de Vitor Pereira dizer que o miúdo ainda tem muito que aprender. É verdade que sim, mas também é verdade que é em campo que o vai fazendo e não haverá melhor oportunidade para entrar a titular contra o Estoril já na próxima quarta-feira. Mas isso é conversa para outro dia.

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Baías e Baronis – Sporting 0 vs 0 FC Porto

 

foto retirada de desporto.sapo.pt

 

Andei a semana toda a pensar que ia dar empate. Em conversa com amigos, à noite com a cabeça na almofada naqueles momentos antes de dormir, no trânsito, no quarto-de-banho, a tomar café. Seja onde fosse, só via um desfecho para este jogo. Acho que posso afirmar que sou melhor que o pobre do Zandinga, tão convicto que ele estava em forçar que o “seu” Sporting fosse finalmente campeão. De qualquer forma, as minhas expectativas confirmaram-se: Cebola na ala, Djalma a tapar as subidas de Ínsua, Maicon a encostar sempre em Capel e um 4-5-1 em campo para tapar os flancos do Sporting e mandar a bola rapidamente para Hulk na correria louca pelo ataque. É estranho ver uma equipa que joga bem melhor com a bola lenta nos pés, a rodá-la calmamente para o lado e para trás à procura de uma brecha na armadura contrária…a transformar-se numa Jesualdequipa, com transições rápidas e bolas directas para o ataque. Estranho, porém necessário neste tipo de jogos, onde o adversário é forte e não se limita a ficar lá atrás. O resultado é, numa palavra, justo. Vamos às primeiras notas de 2012:

 

(+) As três paredesRolando, Otamendi e Maicon foram os homens do jogo. Estiveram quase sempre perfeitos no corte, na intercepção e particularmente no posicionamento. Rolando fez vários cortes perfeitos pelo centro do terreno e com a bola na relva, ao passo que Otamendi poucas vezes deixou que Wolfswinkel conseguisse dominar a bola ou sequer vencer a grande maioria dos lances aéreos. O argentino foi muito importante no jogo de contacto, essencial neste tipo de jogos, juntamente com o brasileiro, que esteve excelente na marcação a Capel, praticamente eclipsando o espanhol do jogo. Impôs-se fisicamente, pelo ar e pelo chão, nunca permitindo grandes correrias do espanhol (com Djalma a falhar várias vezes a pressão táctica defensiva já que se punha a correr em zonas onde não era necessária a sua presença) e apenas sentiu algumas dificuldades com o overlap Ínsua/Matias. Rolando teve UMA falha no jogo todo, quando deixou Wolfswinkel ultrapassá-lo em velocidade, mas numa partida com este tipo de intensidade e luta, tanto ele como os outros dois colegas estiveram impecáveis.

(+) Álvaro Pereira Salvou a baliza por duas vezes, na primeira parte a remate de Carrillo e especialmente na segunda quando o Marat “The Dragon Slayer” Izmailov rematou para Palito esticar a perna esquerda e bloquear o caminho da bola em cima da linha. Acima de tudo subiu sempre pelo flanco como só ele consegue, sempre com a bola semi-controlada e protegida dos adversários para sacar mais uns metros de vantagem. Os cruzamentos com o pé direito saíram muito tortos mas os que fez com o seu melhor pé não foram muito melhores, mas ajudou a equipa a esticar o jogo quando foi preciso.

(+) Fernando *suspiro* Pela enésima vez, Fernando é dos melhores em campo. Pelo ar e pelo chão, Fernando aparece sempre a impôr o corpo e o posicionamento na frente da área, mas hoje fez ainda mais. Subiu um pouco no terreno quando foi preciso ajudar Moutinho (muito mexido) e Belluschi (menos mexido e fraco no passe), mas foi principalmente nas dobras a Álvaro que mais vezes apareceu em jogo, juntando-se a Defour a tapar o flanco deixado aberto pela subida de Álvaro depois da entrada de James. Fernando continua a ser um jogador escondido, discreto, sem brilhar. Limita-se a jogar. Bem. Ainda bem.

(+) Hulk Enervou-me com as tabelinhas de costas feitas com o calcanhar. Tirando isso foi mais um jogo de trabalho, de luta e de correria de Hulk que andou a deambular pela zona central e acabou na ala depois da entrada de Kleber. É uma noite infeliz para o rapaz porque não marcou mas foi uma ameaça permanente para Polga, Onyewu e companhia tecnicamente limitada.

(+) Os esforços do Cebola O rapaz até nem é mau rapaz. É trapalhão e insiste em rematar com a pança inclinada para trás o que leva a que 98% das vezes a bola sai por cima da baliza. Mas luta muito e por isso é que apostei nele para jogar de início e Vitor Pereira concordou comigo. Ou eu com ele. Talvez a segunda. E é empolgante ver o moço a voar até todas as bolas perdidas como um Derlei uruguaio, mesmo que raramente consiga lá chegar. Corre, Cebola, corre como o vento!

 

(-) Cruzamentos para a área Sei que actualmente não jogamos com um ponta-de-lança fixo. Os alvos na área são difíceis de localizar porque as posições são constantemente trocadas, remisturadas e alternadas. E talvez por causa disso há uma tentativa insistente de bombear bolas para o segundo poste ou pelo menos é lá que a maior parte dos cruzamentos lá vão parar. Não há um “bullet cross”, raramente a vantagem de termos um dos melhores alas do mundo consegue ser de facto uma vantagem porque não concretizamos situações de perigo dessa forma. Das duas uma, ou Álvaro tem a ajuda do médio mais próximo dele para usar 2×1 e assim entrar na área…ou não lucramos nada com as suas incursões pelo flanco.

(-) As dobras às subidas de Álvaro Construindo em cima do ponto anterior, quando Álvaro voa pela linha à procura do passe, as costas ficam destapadas. Fernando, Moutinho ou Belluschi/Defour têm de descair para o flanco de forma a bloquear as recuperações de bola do adversário e quando essas recuperações resultam numa desvantagem numérica com laterais ofensivos como *cospe* João Pereira e qualquer outro mânfio à sua frente, a equipa desiquilibra-se de uma forma que tem de suster o ataque e o quase inevitável cruzamento. É arriscado e para termos frutos no ataque temos de desviar a atenção do adversário para outras zonas, mas não podemos fazer isso contra equipas como, sei lá, o Manchester City, sem que os adeptos ganhem problemas cardíacos.

 

Como disse no topo da crónica, o resultado é justo. O FC Porto esteve por cima nalgumas partes do jogo e o Sporting fez o mesmo noutras. No fundo teria tido mais alguma piada se tivesse entrado uma ou outra bola na baliza (legalmente, não como o pseudo-golo de Hulk que o “liner” demorou duas horas a levantar a bandeira, vá-se lá saber porquê) mas estou em crer que se tal acontecesse o mais provável era que o resultado ficaria um-zero porque a outra equipa não conseguiria regressar ao jogo. É um clássico e vivi-o como tal, sentado na beira do sofá, a roer os dedos e a proferir diatribes que os meus vizinhos decerto já abdicaram de tentar limitar. Descontrolo-me, que querem? Ainda assim saímos de Alvalade sem ser estupidamente roubados (a putativa expulsão de Polga poderia ter sido confirmada por Proença, mas não me incomoda que o brasileiro tenha ficado em campo), o que já não é mau de todo, e a exibição foi intensa, rija e cheia de identidade. Só falta acertarem nas redes, rapazes.

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Ouve lá ó Mister – Sporting


Amigo Vítor,

Devo dizer que ando com uma fome de bola que me faz parecer um puto num campo de refugiados curdos a tentar chutar um calhau só para parecer que estou num campo de futebol. São muitos dias sem ver o meu clube a jogar e sinceramente é um exagero. Mas já acabou o intermezzo, as luzes estão a acender e a apagar e é sinal que o espectáculo está de volta…e tenho umas coisinhas para te dizer acerca deste particular jogueco. Estás pronto? Toma notas, aqui vai aço.

Quero ganhar. Mas quero mesmo, mesmo ganhar. Quero que esfregues a puta da soberba daquela gente na relva de Alvalade e os deixes de tal maneira furiosos com o jogo que cheguem fogo às próprias cadeiras em vez de irem atear incêndios a dois quilómetros do vaso sanitário que chamam estádio. Quero que os fustigues com remates, quero que tapes as incursões do Capel pela ala até que o cabelo dele fique verde como o da vaca fadista. Quero que o Fernando chateie o Schaars de tal maneira que leve um pontapé para ser expulso. Quero que o Moutinho faça o mesmo ao Carriço e se ria quando o amigo fôr para o balneário a chorar. Quero que os centrais se encostem ao Van Xinksotrikel e não o deixem ganhar uma bola de cabeça. Quero que sejas expulso porque reclamaste mais uma puta duma falta mal marcada ao Belluschi e entretanto lembraste-te de te virar para o João Pereira e disseste-lhe que se ele alguma vez jogar no Barça ou no Milan é porque o Berlusconi lhe enfiou um dildo de metro e meio no recto. Quero que o Izmailov saia lesionado aos dois minutos de jogo porque tropeçou numa toca de toupeira. Quero que o Luís Duque expluda com três croquetes, meia alheira e um flut de Moët no bucho e derrame as tripas em cima dos correlegionários. Juro-te, quero tudo isto. Mas acima de tudo, quero ganhar.

Brinca com eles. Fala-lhes ao ouvido, diz-lhes o que eles querem ouvir. Motiva-os da maneira que melhor souberes. Mas este jogo, este singelo jogo que não conta mais de três pontos…é para ganhar. Esses três pontos são nossos. Já são nossos. Têm de ser nossos.

Sou quem sabes,
Jorge

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