A rotação – parte II

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A rotação no meio-campo tem sido aplicada desde o início da temporada, com Guarin, Belluschi e Defour a trocarem permanentemente de lugar. Nem João Moutinho escapou à rotatividade durante o mês de Outubro, com os jogos pela Selecção a roubarem capacidade física ao nosso 8. Curioso reparar que Defour, que começou por alternar com Moutinho, se transformou até ao jogo do Dragão contra o Zenit num complemento do português, atirando com Belluschi para o banco. Guarín, alternando más exibições com jogos pela Selecção e pequenas lesões, não mais conseguiu recuperar o lugar, e Souza nunca conseguiu convencer Vitor Pereira a tomar o lugar de Fernando que, depois de não sair no Verão, está de pedra, cal, cimento e betume no onze. Entre Belluschi e Defour há grandes diferenças do ponto de vista táctico, com o argentino a jogar mais avançado à entrada da área e o belga a alinhas sempre mais recuado, com perspectiva de posse, menos risco e mais rotação de bola. Há vantagens e desvantagens dos dois lados, honestamente, mas não deixa de ser interessante perceber que quando ambos alinham na mesma equipa, o FC Porto ainda não sofreu um único golo (3-0, 8-0, 5-0, 3-0). No entanto, o meio-campo que me deixou mais animado foi mesmo o da segunda parte contra o Setúbal no Dragão, com Moutinho a jogar mais recuado, Defour um pouco à frente e Belluschi mais adiantado. Ah porra, se a nossa defesa fosse mais rápida e jogasse mais subida em posse…que lindo seria. Xavi e Iniesta pagavam bilhete para vir tirar ideias. Ou não. Deixem-me sonhar, carago!

Com Danilo aí a chegar e os rumores da eventual saída de Guarín a intensificarem-se, talvez possa haver alguma renovação no centro do terreno, o que não me surpreenderia. Mas o que é mais estranho nestas composições do meio-campo está na diferença de rendimento quando alinharam os três que no ano passado terminaram a épica época. Fernando, Guarín e Moutinho, nos três jogos em que jogaram lado a lado a lado, somaram uma vitória e dois empates. Estatisticamente não há dúvida que a tripla mais forte continua a ser Fernando, Defour e Moutinho, mas só voltaremos a poder ver este esquema em 2012. Que Defour volte rápido.

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A rotação – parte I

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Na primeira de uma série de três artigos não-opinativos sobre a rotação do plantel feita por Vitor Pereira, arranco pelo melhor ataque metafórico, a defesa. De notar que apenas apresento dados e é lógico que extrapolar a partir de meros números é esticar a corda e inferir verdades que não o serão, mas ainda assim, ficam os valores.

Estão assinalados os jogos dos dois “períodos negros” em termos de resultados neste início de temporada, mas ainda assim não consigo encontrar nenhuma tendência estatística que permita tirar qualquer conclusão, para além de Rolando ser o único titular absoluto no centro, com Otamendi a somar o maior número de jogos a seu lado e Álvaro sem rival à esquerda desde que chegou de férias e não saiu para o Chelsea. Foquemo-nos na rotação do defesa direito, olhando friamente para os números:

  • Sapunaru: 9 jogos
  • Fucile: 7 jogos
  • Maicon: 6 jogos

À primeira vista creio ser uma questão de gestão de plantel, mas não consigo dissociar essa opção do fraco rendimento de Fucile e da lesão do romeno. A alternância entre Otamendi e Mangala, mais visível em Outubro com Otamendi a jogar duas partidas pela Argentina, teve resultados mistos. Curioso o facto da presença de Mangala resultar no menor número de golos sofridos (apenas dois em seis jogos).

Parece evidente, no entanto, que três em quatro são titularíssimos. Resta saber quem será o quarto num futuro próximo.

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A causa das coisas


O título não se refere à colecção de crónicas de Miguel Esteves Cardoso coleccionadas dos artigos publicados no Expresso que apesar de não ser da nossa cor (nem o homem nem o jornal) merece a minha homenagem pelo excelente live blogging aqui há uns largos meses por ocasião de um qualquer cincazero no FC Porto vs Benfica, com frases como: “O Benfica é como eu: vai ao Porto para não fazer nada e comer bem.“. Lindo. Mas divago.

Estas duas últimas vitórias (Shakhtar e Braga) serviram para levantar um pouco a moral da equipa, começando pelos adeptos. Falta ainda o jogo da próxima terça-feira para que possamos de facto sentir que a mudança de mentalidade foi evidente e que tenha marcado uma má fase do FC Porto, num momento em que cada minuto de cada jogo é avaliado com a intensidade de um tanque a atravessar as florestas das Ardenas. Mas o que de facto pode servir como razão credível para um abaixamento tão grande da dinâmica de uma equipa que já tinha mostrado qualidade a nível europeu? Não há só um, mas vários e o risco era alto em qualquer um deles.

Comecemos pela SAD. Todos sabemos e é apregoado até às estrelas, que o princípio básico de gestão do FC Porto tem servido como case-study em tantos artigos e colunas de opinião por esse mundo fora e é exactamente o mesmo que se aplica a um investidor na Bolsa: “Buy low, sell high”. E a aposta tem funcionado na perfeição, desde Pepe a Falcao, passando por Lucho, Anderson, Ricardo Carvalho e tantos outros, continuamos a pensar em valorizar rapidamente um jogador para que possa ser vendido por lucro óbvio e alto. Essa estratégia exige que o plantel seja composto por forma a conseguir maximizar as potencialidades dos jogadores-alvo e continuar a mostrá-los em jogo e a contribuir para a construção de uma imagem de um activo que pode ser uma mais-valia para qualquer grande europeu que os queira vir cá buscar e deixe uns contentores de dinheiro. Isto leva a que o nível exibicional da equipa seja obrigatoriamente alto para que os rapazes sejam reconhecidos pelas valências e não pelas fragilidades e coloca pressão em cima deles próprios e das equipas técnicas que sem dúvida dependem deles para levarem o barco a porto seguro. A questão coloca-se: e quando rendem menos, como em 2009/2010, fruto de algum cansaço, ocorrências extra-futebol e pela incapacidade de motivação das tropas pelo treinador? Perdem-se campeonatos, a equipa tem de atravessar uma renovação forçada e o valor de todos baixa em consonância. A pressão começa.

Passando aos próprios jogadores. Quando um deles chega ao ponto de querer sair (por enfado, vontade de novas experiências, insatisfação salarial ou qualquer outro motivo legítimo) e a valorização da SAD é alta ao ponto de impedir que seja vendido, o que acontece? Encosta-se um activo que foi alvo da aposta para futura venda? Pune-se o jogador e o próprio clube? Tenta-se vender por valores abaixo do mínimo aceitável para manter o bom ambiente e agradar a ambas as partes ainda que não na totalidade? É fácil falar quando se está de fora, porque os boatos são simples de criar e facílimos de espalhar, mas é possível que tal tenha acontecido com alguns jogadores do actual plantel, e depois? O que fazer? Cabe a quem a responsabilidade de transformar um jogador desmotivado e contestado pelos adeptos numa máquina de futebol geradora de palmas e dinheiro? Ao empresário? À família? À SAD? Ao treinador? Talvez um pouco aos três últimos, porque lamento imenso não ter fé nos seres chupistas mas não confio em vampiros, nem que se vistam de fato e gravata. A pressão aumenta.

Chego ao treinador, o cerne da questão. Vitor Pereira, apanhado no ciclone que foi a transferência de Villas-Boas para o Chelsea, aceitou a oferta de Pinto da Costa para pegar na equipa a que estava habituado, com os jogadores que conhecia e levá-los aos triunfos. Motivado, trabalhador, competente, esforçado. Chegará? Começou razoável contra o Barcelona, suficiente para o campeonato mas o nível de futebol era baixo, fraco, insipiente, lento, morto. As declarações à imprensa eram frouxas, sem alma, sem vida, os jogadores exibiam-se sem garra, sem força, sem inspiração nem transpiração. Notava-se que Vitor estava nervoso, triste, cabisbaixo, sem soluções. E começa o povo a contestar como só o povo consegue, desde o cabelo do Hulk à gravata do mister, dos salários àos motins no balneário, das saídas às não-entradas, das substituições às escolhas para a titularidade. Tudo é alvo de crítica para quem não está lá dentro, para quem gosta de falar ao nível da irmã do Solnado, só para dizer coisas. A pressão, neste momento, é altíssima.

E somando os três pontos de cima, é fácil perceber que despedir o treinador nunca iria resolver grande coisa a curto prazo. E também por isso talvez seja altura de começarmos a rever a política económica fundamental do nosso clube, porque a pressão transformou-se numa bigorna (não, Walter, deixa-te estar) pendurada por cima da cabeça de treinador e jogadores. Qualquer falha é catastrofizada, qualquer fraqueza exacerbada. E o futebol não é uma ciência exacta, as equipas têm baixas de forma, o jogador às vezes falha o remate e o treinador há dias em que não acerta uma substituição. Acontece. Mas no FC Porto, em 2011, cada vez é mais difícil falhar e a pressão que essa exigência acarreta transforma as pessoas, fá-las escravas da sua própria actividade.

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A rock and a hard place

Por um lado, vejo a equipa sem vida, sem alma, sem moral, sem futebol.

Por outro lado, vejo os mesmos jogadores que no ano passado tanta alegria me deram com vida, alma, moral, futebol.

Por um lado, o actual treinador conhece os jogadores e os métodos de trabalho que tiveram sucesso comprovado na época passada.

Por outro lado, o actual treinador não era o líder do grupo que teve o sucesso da época passada.

Por um lado, estamos em primeiro lugar no campeonato e temos todas as hipóteses de passar aos oitavos da Champions.

Por outro lado, nenhum portista acredita que conseguiremos algum destes objectivos se as coisas se mantiverem neste estado.

Por um lado, acredito que o treinador é um treinador competente, honesto e trabalhador.

Por outro lado, sem carisma e uma liderança firme não chega ser competente, honesto e trabalhador para vingar num clube de topo.

Por um lado, despedir o treinador a meio da época raramente resulta.

Por outro lado, manter o treinador até ao final da época pode enviar a equipa para uma fossa de onde é difícil sair.

 

Uma coisa é certa: só há um lado para quem vai decidir. Se houver decisões a tomar, claro.

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Ponto de situação – treinador

Está a ser uma semana difícil. Começou mal, com a trombeta da desgraça a soar bem alto e a salvação a aparecer nos pés de um jogador emprestado pelo Benfica, e terminou em Chipre, ilha dividida (como foi exaustiva e cansativamente anunciado como novidade pelos jornalistas da RTP) que nos dividiu ainda mais.

Não sou um portista muito antigo. Tenho 32 anos e apenas sou sócio há vinte. Passei por poucos momentos turbulentos quando me comparo com a malta da travessia de dezanove anos no deserto até o salvador Pedroto aparecer com o cajado por detrás do metafórico Sinai e a liderar o povo para longe da servidão. Mas atravessei algumas épocas de seca, entre o penta e Mourinho e depois do Zé (outro Zé, mas sem boné) sair, passando pela devassidão da época tri-partida e chegando ao último ano de Jesualdo. Passei de um futebol aborrecido mas vitorioso com Carlos Alberto Silva, segui com o entusiasmo ofensivo de Robson, a fleuma organizacional de Oliveira, o tédio de Fernando Santos, o exagero defensivo de Ivic e Octávio, a tranquilidade de Mourinho, o desespero de Couceiro, a loucura de Adriaanse, o tacto de Jesualdo e a dinâmica de Villas-Boas. E poucas alturas houve em que, olhando para um campo com onze jogadores de azul-e-branco (ou amarelo, ou laranja, ou ciano, ou violeta), tivesse ficado genuinamente desiludido com o que via. Porque nos piores momentos, nas fases mais negras da qualidade do nosso futebol, sempre se via algum lampejo de luta, alguma tentativa de mudar o que estava a ser feito para que deixasse de acontecer. Lembro-me de um miserável jogo contra o Artmedia em que os jogadores lutaram mas foram incapazes de se organizar; uma desesperada luta contra as forças do mal Manchesteriano onde tudo o que podia correr mal assim correu; um enervante jogo contra o Famalicão onde ao fim de cinquenta remates a bola não quis entrar. Passei por tantos desses jogos…e nenhum foi tão mau como o de terça-feira. E nunca desisti, nem vai ser agora que o vou fazer. Hell, no!

Vitor Pereira, o erro de casting que muitos chamam, aproveitando para ir agora buscar, numa atitude que tem tanto de lusitana como de cínica e oportunista, todos os erros que nunca apontariam se mesmo com derrotas houvesse uma imagem de luta e esforço, esse mesmo Vitor Pereira está a desiludir. Não só por algumas decisões em jogo, por algumas substituições falhadas ou pela incapacidade de colocar a equipa a jogar bom futebol, mas acima de tudo porque está a perder os adeptos pelo mesmo sítio onde Villas-Boas os conquistou: no discurso. É difícil colocar uma equipa de gente fraca a jogar bem. É mais fácil, dir-me-ão, pegar num grupo talentoso e fazer o mesmo. Pois o que temos visto nos últimos jogos é inegavelmente o desmoronar da imagem de um grupo de jogadores que chegou ao zénite do que podia fazer no ano passado à custa de trabalho, esforço, luta e empenho. Tudo o que deixámos de ver este ano e que servia para intimidar os nossos adversários antes mesmo da partida ter início, foi transformado em medo, lamento, infortúnio e desespero. Olhar para o nosso plantel, com a qualidade que ninguém pode negar que existe em quase todos os jogadores, e vê-los cabisbaixos, a perder luta atrás de luta contra jogadores com menos inspiração mas muito mais transpiração, é algo que me preocupa e deve preocupar todos os portistas. E apesar de Vitor Pereira ter a sua quota parte de responsabilidade, muito tem de ser atirado para o peito dos próprios jogadores, que parecem atirar com os braços para o chão à mínima dificuldade e não parecem ter o mesmo espírito que no ano passado nos enfeitiçaram. E Vitor, nos momentos mais importantes onde os adeptos precisam de ouvir o ruído do pai a entrar em casa quando o filho está à procura das bolachas que sabe não poder comer, está a falhar. Por muito que possa respeitar o trabalho nos treinos, a honestidade das opções e da orientação, é preciso mais. É preciso um discurso forte para dentro e também para fora, porque as falhas que se vão notando são exponenciadas quando as palavras são secas, sem alma, sem vida. Vitor Pereira não é Villas-Boas nem tão pouco Mourinho, mas não precisa de ser Fernando Santos.

Houve erros na organização da nova época? Talvez. Hubris em excesso? É possível. Apostas em falso? Provavelmente. Mas olhar para os factos depois deles terem acontecido é um exercício fútil e que só enobrece quem se acha bom antes de o provar. E eu, que sempre dei o benefício da dúvida a novos treinadores (como fiz com Del Neri, Jesualdo ou Villas-Boas), estou a perder a paciência com o nosso Vitor. E não achando que uma mudança de treinador a meio da época, com todas as cambiantes que acarreta, pode trazer algo de bom para a equipa, estou certo que esta linha é uma trajectória descendente da qual poucas ou nenhumas hipóteses haverá de salvação. Mas não desisto, nem nenhum portista o deve fazer. Porque é nos momentos maus que o espírito de luta deve vir ao de cima, é nestes momentos em que exigimos tanto dos nossos jogadores que temos nós próprios de dar a cara pelo clube e apoiar os nossos. Criticando, mas construindo. Apontando as falhas, para que sejam corrigidas, mas pensar em evoluir. Se os sócios estiverem dispostos a baixar os braços e deixar de ir ao Dragão, como tenho visto, ou insistir nas assobiadelas gerais ao primeiro sinal de pernas fracas, a moral que está tão em baixo lá permanecerá.

Tenho fé num futuro melhor. Acredito naqueles rapazes que compõem o nosso plantel porque já os vi a fazer tanta coisa bonita e só posso esperar que voltem a fazê-lo. Mas algo vindo de cima tem de mudar para que tal aconteça e há cada vez menos tempo útil.

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