Ouve lá ó Mister – Roma

Companheiro Nuno,

Não querendo lançar mais pressão do que aquela que já deves estar a sentir, mas este jogo tem alguma importância. Tu sabes disso e não haverá nada que te possa dizer aqui nestas linhas que te possa elevar o nível de concentração e de empenho que tu e os teus terão de mostrar quando os cabrões dos italianos entrarem em campo e vos olharem direitinho nas pupilas com fome de Champions e vontade de nos mandarem abaixo. Tens de ser um pré-Huno para arranjares as coisas de tal maneira que quando lá formos para o jogo da segunda mão poderes ser um Huno a entrar por ali dentro a rebentar aquela treta toda como o Aníbal aqui há coisa de dois mil anos. Com menos elefantes e um bocadinho mais de troca de bola a meio-campo, mas o princípio é o mesmo: bater em romanos.

Para continuar a metáfora, neste jogo tens de ser Asterix, Obelix e outros “ixes” que te lembres. “Ils sont fous, ces Romains!”, certo? Estes gajos não sabem com quem se metem e nem com Tottis nem Naiggolans nem sequer com De Rossis cá vêm buscar o que quer que seja. Entra lá com o Andressilvix, o Coronacorix e o Danilipovix, inventa os apelidos todos que soem vagamente a gaulês (meio celta, meio francófono, pronto) e entra em campo com vontade de lhes enfiar um tento nos queixos que até lhes mande o capacete ao ar. E já agora, se puderes, não sofras baixas. Golos, perdão.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Rio Ave 1 vs 3 FC Porto

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Primeiro jogo oficial, primeira vitória. O arranque que queríamos, com ou sem expulsões, penalties falhados ou golos sofridos. Vencer é sempre um prazer e mesmo a forma como a equipa deu a volta ao resultado só pode dar uma sensação de alegria e dever cumprido depois de algumas semanas de incertezas e que se vão prolongar por mais algumas. Ainda falta muito para que a equipa se possa chamar isso mesmo, mas para primeiro jogo, não foi mau. Arranquemos também nós (eu, pronto) para os primeiros B&Bs da época:

(+) Otávio. Visão de jogo bem acima da média, parece sempre disposto a colocar a bola direitinha para a cabeça do avançado ou para desmarcar a subida de um dos médios. Não é forte fisicamente mas lutou por todas as bolas e procurou sempre descobrir a zona mais liberta para que consiga finalmente desamarrar-se da marcação e fazer o passe certo na altura certa. Uma espécie de Quintero com menos reggaeton e mais futebol. Gostei.

(+) O golo de Corona. Se o golo de Herrera me pôs de braços erguidos e a festejar em surdina para não acordar a casa (volto a ver jogos em diferido para bem da paz familiar), o de Corona só me deixou de boca aberta. Com a bola no ar e Jesus a rodar para fugir à marcação do central, é estupenda a forma como o mexicano consegue ver que com um simples toque conseguiria desviar a bola do guarda-redes e enfiá-la na baliza. Um golo que só ele viu e que pareceu nem acreditar, tal foi a forma como ficou sentado no relvado quase sem festejar. Para lá do golo, esteve razoavelmente bem apesar do apoio de Maxi ter ficado distante do que (espero) será daqui a uns meses.

(+) A gestão táctica de Nuno. A expulsão de Telles fez com que Nuno pudesse recolocar a equipa de uma forma a que não se desequilibrasse e voltasse a tempos recentes em que uma adversidade punha tudo em risco. Já antes, na forma como a equipa nunca se conformou com a temporária derrota nem com o pontual empatem tinha notado que a formação em campo era constante: Danilo preso em frente à defesa, Herrera sempre a descer para transportar a bola, Otávio solto do flanco para o centro e Corona a furar pela direita, com André² a inclinar ligeiramente para a esquerda e André Silva móvel na área. Depois da expulsão, viu-se quase o mesmo, com menos homens, o que me agradou pela consistência já que o futebol, nem sempre bem praticado, serviu um propósito pragmático que é o maior objectivo neste arranque de época, enquanto a máquina não está oleada: não perder pontos. Villas-Boas fez isso, Jesualdo oh se fez isso e Vitor Pereira fez com que isso durasse duas épocas inteiras. As substituições também foram conservadoras e quase perfeitas, com Nuno a mostrar que dá lugar ao espectáculo para preservar a estrutura e o sentido prático. Por agora, pelo menos, agrada-me.

(-) Felipe com a bola nos pés. Não é complicado, rapaz. Tu és lento. És, não te enganes a pensar que não és. És, pronto. E és lento a pensar, que é o maior problema para quem acabou de chegar a um futebol onde há vários Yazaldes e Wakasos, para não falar de Rubens Ribeiros e vários outros do género, que te vão tentar pisar os calcanhares de cinco em cinco segundos, mal se aperceberem que tu, como já referi en passant, és lento. E como tal não há que inventar nem demorar muito. Há espaço? Despacha a bola. Não há espaço? Despacha a bola. Chegou um autocarro cheio de gajas nuas a yodelar enquanto dançam aquelas merdas irlandesas? Despacha a bola. O árbitro está à tua frente? Chut…despacha a bola. Isso. Vais ver que te enervas menos e enervas ainda menos a malta, logo tu que tens potencial para seres um belo espécimen de jogador com a nossa camisola. Anda lá.

(-) Maxi. Temos um novo Rui Filipe (salvo seja, cruzes canhoto e tal)!!! Olha o gordo!!! Olha o gajo que vem de férias com a pança cheia e vai demorar a queimar a banha! Pareceu pesado, sem mobilidade, pouco prático com a bola nos pés e lento a executar e a pensar. Melhorou na segunda parte mas ainda está bem longe da forma física ideal. Como eu, com a diferença que eu não sou titular no FC Porto. Por culpa própria, obviamente.

(-) O golo do Rio Ave Muda o ano e continua a passividade na marcação nos cantos. Marcação mista, dizem-me, é o que fazemos, em que um ou outro é marcado ao homem e cinco ou seis são marcados à zona. E se continuarem a marcar assim, quem vai marcar são os outros, várias vezes.


Quarta-feira vai doer mais. Bem mais. E vamos ver como a equipa se safa contra um adversário que joga no ferrolho. Tal como 70% da nossa Liga, mas em bom.

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Ouve lá ó Mister – Rio Ave

Companheiro Nuno,

Ora então cá vamos nós. Prontinhos para mais uma época que nos vai encher de alegrias, tristezas, semi-ataques cardíacos, pequenas pinguinhas de urina com lances entusiasmantes no ataque e mãos erguidas para o peito com falhsa defensivas. Nada de novo, apenas na necessidade imperiosa de ganhar. E para isso precisamos de começar bem, já hoje em Vila do Conde. É um campo complicado? Não faço ideia, nunca lá joguei. O único campo de futebol em que já alguma vez joguei foi o Campo S.Miguel em Gondomar (agora Estádio São Miguel, porque é relvado e tal) e na altura o pelado era bem fixe para quem queria ficar sem joelhos. Uma espécie de lixa com 100×50 metros, bem catita. As coisas são diferentes e os hábitos também, até para nós. Especialmente para nós.

Disseste a meio da semana que o FC Porto não pode estar quatro anos sem vencer títulos. É para isso que aí estás, Nuno, para vencer. Vou-te dar a mesma ladaínha que dei aos teus antecessores: ninguém se vai preocupar se jogar A ou B, se a equipa tem um futebol extraordinário, guardioliano na construção ou sacchiano na concretização. O que os sócios, adeptos, raios, tudo que usa o azul-e-branco por dentro, juntinho ao coração, o que essa malta vai querer é ganhar. E se fizeres por isso, se tiveres os tomates que o Peseiro não teve, que o Julen parece ter guardado num cofre até que um dia pudesse vir a precisar deles e que o Fonseca ainda não conseguiu arranjar…se tiveres as bolas enormes de um Vitor Pereira na Luz ou de um Villas-Boas durante toda a época (só para dar exemplos recentes e não ser exaustivo, até porque daí para trás estavas bem presente e viveste as coisas na pele, não foi, senhor “Somos Porto”?), a malta não quer saber de mais nada.

Força, rapaz. Estamos todos contigo, os fortes, os fracos, os cínicos e os adeptos das vitórias, os indefectíveis e que vão ao Dragão às segundas à noite à chuva. Todos. É para ganhar. Que role a bola!

Sou quem sabes,
Jorge

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Os postes

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foto retirada do Record

Quando era mais puto, aqui há mais de (*suspiro*) vinte anos, o FC Porto foi ao Salgueiros comprar um jogador. Uma vara de cabelo aos caracóis, Alves Nilo Fortes era conhecido no mundo da bola lusa como Vinha e tinha três principais atributos: tinha uma altura acima da média, era um fulano de estatura elevada e era um gajo bem alto. No dia em que foi anunciada a contratação, fiquei boquiaberto. Não sabia muito bem o que pensar e era jovem demais para perceber muito bem como processar essa informação que me tinha chegado através de um jornal desportivo (que saíam às segundas, quintas e sábados, à homem!) ou pela televisão, porque internets ainda estava um bocadinho longe e as redes sociais só se fossem metáforas para jogos de pesca entre amigos.

Procedi então a cantar os louvores do homem. Que era imbatível no jogo aéreo, que ia semear o pânico e traria os relâmpagos de Zeus a cair sobre a infeliz catadupa de adversários que se dignassem a opor-se a ele, quais mortais fecundos pela luxúria de defrontar tal titã. O Salgueiral só nos dava coisa boa e era impossível que não fosse o grande (wakka wakka) avançado que nos iria levar ainda alto, nos degraus do Olimpo onde o seu Pai, passando a mão pelos seus negros caracóis, o ungiria com vestes de divindade e togas de poder eterno. Era eu, Jorge, o imbecil adolescente que cresceu mas permanece imbecil. (menos de vinte jogos, cinco golos, um dos quais nos deu uma Supertaça contra o Benfica)

Não tive a mesma reacção quando Jankauskas assinou, mas perto. Era um grandalhão tramado de marcar, com bom posicionamento e remate forte e pronto. Um Thor do Báltico, pronto para esfrangalhar defesas e rasgar os esfíncteres de qualquer guarda-redes que ousasse colocar as luvas na frente do sem pujante remate à queima-roupa. Oh luvas para que te quero, que não queriam nem eram necessárias, pois tal Ricardo no Europeu uns anos depois, mais valia estarem de manápulas ao vento porque nada faria parar o louco lingrinhas louro. Impossível, diziam-me. Balelas, respondia eu, possuído por uma personagem de novela de canalha. Será o grande, o maior, o Adónis! (oitenta jogos, quase vinte golos)

Chega Janko. Quem? Exacto. Já o conhecia ou não fosse eu um ávido jogador de tudo que acabasse em Manager durante anos a fio. É grande, diziam uns, mas não é tosco. É tosco, diziam outros, mas ao menos é grande. Não percebi. Nunca percebi. Apoiei-o, sem excitações, numa equipa onde Kleber nunca pegou e Falcao tanta falta fazia, onde Lucho rebrilhou e James e Hulk nos levaram ao título. E deixou para a memória aquela espécie de dança onde procedeu repetidamente a simular uma sofrível analidade mal direccionada com a anca o nosso actual defesa direito. (doze jogos, cinco golos)

Todo este prélio me leva a Depoitre. Não o conheço, devo admitir. Não acompanho a liga belga desde que nasci e vou conhecendo alguns jogadores pelos jogos europeus mas este fugiu-me do radar. Ainda assim, dou o benefício da dúvida a Nuno, ele que o escolheu de uma lista de sei-lá-quantos-nomes, talvez por ter jogado contra ele na fase de grupos da Champions há várias luas atrás. Não sei o que vale Depoitre. Sei que não temos hábito de elevar os já de si elevados a um patamar que nos garanta excelência. SIM, pode dar jeito. SIM, faltam-nos extremos para lhe colocar a bola. SIM, preferia outro nome que me desse mais garantias. SIM, também tínhamos o Gonçalo para ocupar esse lugar. SIM, o gajo tem 27 anos e jogou meia-dúzia de vezes pela selecção. Nomes, factos, números que não deixam ninguém contente nem a salivar por ver o rapaz em acção. Mas visto novamente a pele de um catraio com os pelos a crescer e a voz a mudar para dar as boas-vindas ao belga. Vem por bem e com vontade. Só precisa de marcar uns golinhos e a malta bate logo palmas de alegria. Como eu fiz ao Vinha. Como eu fiz ao Vinha…

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Notas soltas sobre o jogo contra o Villarreal

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Ficaram algumas coisas na memória do jogo de hoje, mas poucas que se aproveitem daqui a uns anos. Típico para jogo de pré-época. O problema é que estamos a seis dias da época começar e…bem, vamos a isso:

  • Os equipamentos são lindos. LINDOS. O principal então é um prazer de ver, ao longe no lombo dos jogadores ou no torso de muitos adeptos que vi já com eles vestidos. Um grande dedo polegar levantado para a New Balance este ano!
  • A equipa não esteve muito mal defensivamente. Ou melhor, mesmo lá na defesa, na zona mais recuada, porque a partir daí foi uma confusão. Médios que não se entenderam, extremos que não apoiavam, problemas graves na subida dos laterais e uma estratégia complicada de compensações e de marcação dos jogadores adversários que não funcionou. Era ver os amarelos a entrar pelo nosso meio-campo como se estivessem a treinar contra pinos. E nós fomos mais lentos que pinos.
  • Complicada também foi a gestão de esforço. Fiquei com a ideia que houve regras evidentes para tirarem o pé para não abusarem do físico porque o que aí vem é bem mais exigente do que um mero jogueco de apresentação. Mas fico sempre com receio que haja tamanha displicência nos jogos de pré-época que possa arrastar-se para os jogos a sério.
  • Displicência houve também na defesa e em doses cavalares. Passes mal feitos, atrapalhação nas laterais, demasiadas facilidades para tabelinhas dos adversários (a sério, começou a ser uma questão de orgulho a partir de uma certa altura na primeira parte) e até Casillas se deu ao desplante de não sair da baliza em várias ocasiões onde seria fácil agarrar a bola e limpar problemas.
  • Não gosto de ver Danilo a subir tanto no terreno. Percebo o intuito mas não gosto. Prefiro um trinco à antiga, a varrer sozinho aquela zona em frente aos centrais sem se preocupar com conceitos modernos como o transporte de bola ou a pressão alta. E com os buracos que abriu naquela zona quando saiu de lá…upa, tanto calafrio que vai haver, amigos…
  • Confirma-se: quando o Teixeira entra a partir do banco, só faz borrada.
  • Continuo a gostar de Felipe. Não ouviu as ordens para tirar o pé e enfiou-o em várias bolas divididas, ganhando a maior parte delas. Uma espécie de Chidozie eficaz, vá.
  • Mudei de Dragon Seat e no meu novo pouso estava uma senhora nos seus sessentas a ver o jogo sozinha. Deu para perceber que conhecia os vizinhos do lugar e conversava ocasionalmente com eles. Vocal (e sonora q.b.) nas suas opiniões, a dada altura sacou de um leque para tentar criar algum ar fresco para contrariar o calor abafante que se sentia. Gostei da imagem, da devoção e da vontade férrea da portista, um bom exemplo que muitos deviam seguir. Com ou sem leque.
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