Ouve lá ó Mister – Marítimo

Señor Lopetegui,

Reparei, pelo que fui lendo da tua conferência de imprensa antes deste jogo, que permaneces com a vontade férrea de dizer que todos os jogos são de dificuldade máxima. E compreendo que este em particular, com toda a carga emocional que lhe está amarrada tendo em conta a performance do ano passado em jogos disputados na Madeira, até admito que entre para essa lista de “equipas que assustam todos os cães da rua mesmo os grandalhões que olham para mim como se fosse um pernil fumegante”. E não quero com isto dizer que o jogo não será complicado, longe disso, mas acho que estamos em altura de começar a normalizar os “máximos”. Se este é máximo, se calharmos contra o PSG na Champions será o “maior máximo”? E o Bayern? “Mega máximo”? E o Barça? “Supercalifragilisticespialidocious máximo”? O discurso está a colocar mais pressão nos teus rapazes, ou a minha percepção é que está a ficar afectada, também pode ser disso.

De qualquer forma, retórica aparte, vai ser tramado como sempre é. Há qualquer coisa naquele ar que por este ponto se começa a transformar numa profecia auto-realizável (tive de ir ver como é que esta merda se diz em português, achas bonito?). Se os jogadores acreditarem que se vão ver à rasca, é bem possível que se vejam à rasca. Por isso há que tirar pressão da cabeça deles e colocar na dos outros. O Danilo não era dos melhores que eles lá tinham? Pois, agora é nosso. E vai jogar o Patrick Vieira do lado deles? Diz-lhes que em branco não é a mesma coisa. E o Briguel? Vai jogar o Briguel? Mete logo o Bueno para lhe rebentar a boca. Pouco mais será necessário.

Limpa a imagem do ano passado e traz os três pontos para podermos ver o sorteio da Champions descansadinhos, sem pensar no que nos pode vir a lixar o Outono!

Sou quem sabes,
Jorge

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O vazio

alex-sandro

Detesto quando tenho de substituir uma peça da mobília. Os hábitos são perenes e criam-se ao longo de alguns anos a olhar para o mesmo naco de madeira que ali permanece estóico, fiel, duradouro ao ponto de pensarmos que será nosso para sempre, mint condition como quando entrou pela primeira vez pela porta, arrastando consigo todo o fausto de uma perspectiva sem presente nem passado, só com futuro. O adorno perfeito, para ser um dia legado aos seguintes, aos que por aí ainda virão. Mas há pedacinhos que se vão lascando, raspas que se vão retirando, a marca da uma etérea garrafa de tinto que foi deixada sem preocupações constantes de limpeza ou asseio e que fazem dela um bocadinho mais especial, mais presente, mais nossa.

Lembro-me quando comprámos esta peça em particular. Tínhamos outro móvel mais antigo que serviu firme durante anos e que fez com que a sala tivesse outra luz, outro fulgor depois de anos sem rei e com poucos roques. Durante três anos vivemos o enobrecimento de uma peça que mostrou a sua valia e que…oh foda-se, acaba lá com a metáfora, Jorge, já chega.

Alex Sandro é mais um numa longuíssima lista de bravos. Claro, enervava-me até à ponta dos cabelos que não tenho, chateava-me a atitude displicente em jogos de menor cartaz, aborrecia-me nas subidas pelo flanco quando nem sempre teria o seu próprio rabo protegido, arreliava-me tanto (TANTO!) quando se mandava em dribles consecutivos pelo centro sem olhar para o que conseguiria fazer em seguida. Eras um sacana, Alex. Eras um bom sacana, Alex. Eras e continuarás a ser um estupor dum defesa de valia mundial, que como tantos outros só vamos valorizar quando já cá não estiveres. E já não estás. Como Deco ou Drulovic ou Lucho ou Hulk, a tua saída deixa um pequeno vazio que vamos tentar encher.

E o mundo continua. Para cada Falcao há um Jackson, para cada Assunção há um Fernando e até um Helton para um Baía. Há muitos e muitos. E este ano há um Maxi pós-Danilo, um Danilo pós-Casemiro ou, no caso em questão, um Cissokho pós-Alex. Vou sentir falta das incursões pelo centro, das fintas no umpraum e das corridas pelo flanco. E desse sorriso que vai ser substituído por outro mais honesto mas menos maroto. Boa sorte, puto e desculpa qualquer coisinha. Um gajo chateia-se com pouco quando não tem mais nada com que se entreter.

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O percurso é sempre o mesmo

Olho para as sapatilhas enquanto o pensamento voa a velocidades parvas, com sinapses a disparar pelo cérebro fora e penso: está na hora. Não há árbitro? Onde estão as equipas? Está na hora? Já está, cheguei aqui há mais de vinte minutos e já vi o Imbula a mandar uma bola prá bancada e o Alex a cruzar para o fim do mundo e até o Varela parece com vontade. Está bonito, está. Está na hora? Está quase.

Os momentos que antecedem um jogo do FC Porto são habitualmente joviais nestes primeiros jogos da temporada. Conversa-se para aqui enquanto as nádegas se vão reconfortando à cadeira que é nossa durante umas horas de um final de tarde de sábado. Uma hora ou coisa antes, saio do café de camisola no lombo, calorzinho na nuca e sorriso no rosto e começo a navegação automática que me leva ao Dragão. Já houve tempos em que fazia o mesmo percurso a caminho das Antas, anos depois de me fazer homem e de tomar café no mesmo sítio, com a mesma companhia e os mesmos tiques e nervosismos. Andava a passo apressado pelos meandros das ruas em que o estádio se via ao longe, percorria as ladeiras dos campos de treino e atravessava o apertado corredor a caminho da bancada que ficava mesmo por cima do relvado onde os rapazes aqueciam para o jogo que se seguiria. Outrora João Pinto, Semedo ou Capucho, agora Maxi, Imbula ou Brahimi. A nacionalidade muda mas o espírito permanece, sempre com força, sempre com brio.

Vejo muita gente a caminho, iguais a mim, diferentes de mim, altos e baixos, gordos e magros, barbudos e barbeados, sorridentes e sisudos, conversadores e mudos. Vamos todos para lá. Vamos continuar a ir todos para lá.

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Baías e Baronis – FC Porto 3 vs 0 Vitória Guimarães

retirado de desporto.sapo.pt

retirado de desporto.sapo.pt

Para primeiro jogo, foi bem bom. A equipa pareceu harmonizada, com o estilo mais musculado do meio-campo a contrastar com o “onde está o Casemiro?” do ano passado sempre que era necessário usar o corpo para vencer as bolas divididas. As alas foram ágeis, com os laterais a subirem no terreno sempre que possível, a integração dos novos a correr razoavelmente bem e um rapaz que mostra que pode haver vida depois de Jackson mais cedo do que se pensava. Ainda houve tempo para um Varela trapalhão mas empenhado, um Tello rápido mas inconsequente e um central que sendo o quarto da hierarquia no início do ano passado se afirmar como titular indiscutível. Sic transit gloria mundi e por aí fora. As primeiras notas da época estão já a seguir:

(+) Aboubakar. Humilde, trabalhador e eficaz. Já tinha entrado no goto dos adeptos quando libertou alguns mísseis no ano passado e começou o ano da melhor maneira: com golos. Não é Jackson e nunca o será, mas a diferença entre ele e o colombiano faz-se na força e velocidade com que consegue ultrapassar os adversários e na aparente facilidade com que vem atrás ajudar a equipa na construção ofensiva. Osvaldo, puto, tens de fazer pela vida, que o Vincent entrou em grande.

(+) Maxi. Não sabe jogar de outra forma sem ser na raça, mas surpreendeu-me com a forma como se integrou tão rapidamente na criação de lances ofensivos e na facilidade de desdobramento com qualquer um dos alas que lhe apareceu à frente. Foi o mesmo Maxi que vimos durante os últimos anos de vermelho ao peito: lutador, duro, esforçado, sempre pronto a subir no terreno e a recuar com garra e a conquistar os adeptos pela capacidade de recuperação defensiva e pelo sentido prático. Continua a ser estranho aplaudi-lo, mas está a saber fazer-nos engolir as dúvidas que poderíamos ter quando o contratamos. Que continue assim, é só o que peço.

(+) Varela. Entrou trapalhão, lento e inconsequente, mas fez uma excelente segunda parte e acabou por marcar um golo que fez por merecer. Mantenho que não podemos depender de um jogador como o nosso Silvestre, tão dado a oscilações de forma como um gordo a fazer abdominais perante uma pizza de queijo, mas pode trazer alguma mais-valia a um ataque com demasiada…velocidade. E ele, não a tendo, compensa com a experiência.

(+) A força extra no meio-campo. Aqui está a principal diferença do FC Porto de Lopetegui deste ano quando comparado com o do ano passado. Este meio-campo consegue vencer batalhas individuais e será sem dúvida utilizada em muitos dos jogos onde vamos precisar de combater alguns vilões musculados com outras camisolas, ao contrário do que acontecia anteriormente, onde se sacrificava a imponência física para privilegiar a capacidade técnica. Não digo que é a opção perfeita, porque apesar do bom jogo de Danilo preferia ver ali Ruben a distribuir o jogo, não contesto que o ex-Marítimo é um homem importante para garantir que uma pressão feita com bons índices físicos, somado a Imbula e, nalgumas circunstâncias, André, pode ter um efeito estupendo na recuperação de bolas no centro do terreno.

(-) Herrera. Ora bem. Não. Assim tipo não. Hell no, se fosse uma avó afro-americana do sul com chapéu de abas na cabeça e tudo. Esteve tão mal que fez lembrar uma espécie de Mariano González no meio-campo, com a desvantagem de não correr um décimo do que o argentino corria e a mostrar o mesmo ar de inépcia que o nosso anti-herói preferido tantas vezes exibia. Falhou quase tudo: o passe, a movimentação, a finalização, a criação de lances ofensivos e a recuperação defensiva. Se Lopetegui está a apostar no mexicano para ser titular, ele que me parece ser do tipo de jogadores que os treinadores gostam, os que fazem sempre o que lhes é pedido, então estamos mal, porque se o faz, fá-lo mal. Parece ainda estar cansado das poucas férias que teve e pode ser uma justificação para o jogo que teve, mas receio não ser o único factor. Herrera, neste momento, está a mais na equipa.

(-) A entrada na segunda parte Lentos, distraídos, com pouca movimentação no meio-campo e demasiadas hesitações na defesa, foi por nossa culpa que o adversário se impôs durante quase dez minutos e nos empurrou para uma sequência de perdas de bola e bolas paradas defensivas que, com o resultado em apenas 1-0, podia ter corrido mal. Já sei, sou um pessimista, mas já vi jogos a mais em que por parvoíces destas acabamos por andar a tremer até ao final da partida para sacar uma vitória a ferros. Não quero ver nada mais disso, não senhor, obrigado.


Um já está. Faltam 33. E o próximo, na Madeira, pode ser uma vitória física e moral excelente para arrancar a época em grande…

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Ouve lá ó Mister – Vitória Guimarães

Señor Lopetegui,

Bem vindo de volta ao teu estádio, hombre! Uma equipa cheia de caras novas, uma relva fresquinha, balizas pintadas, equipamentos todos shiny e uma saúde clubística que mete inveja a tantas formações por esse mundo fora. Vais ter um Dragão cheio para te saudar no regresso à competição e para apoiar a nossa demanda pela reconquista do caneco que nos foge há dois anos. Há muita pressão, muita fome, muitíssima vontade de ver o azul-e-branco a voar nas varandas, alpendres, janelas e telhados por todo o país. E tu, mais uma vez, és o escolhido para levar a nau a bom porto.

Já sei que a equipa é diferente e que perdeste metade dos titulares da época passada. Quatro indiscutíveis e o Fabiano desampararam a loja por um ou outro motivo e estás novamente a construir baseado nas tuas ideias e nos bolsos da SAD. E não podemos dizer que tenhas poucas mais-valias no plantel, mas também compreendo que possa demorar até termos uma equipa estável, afinal somos todos homens e se um gajo se desentende na fila para o Metro, é possível que em campo, com toda a movimentação e basculação e diagonalização, as coisas também abanam. Mas é imperioso começar a vencer e acima de tudo é muito importante arrancar os primeiros jogos com vitórias e não abdicar de pontos que nos possam lixar mais para a frente. Lembras-te do Boavista no ano passado? Pois é, se tivéssemos ganho esse jogo talvez não andássemos a dar cornadas contra a parede mais tarde.

Começa bem. Faz o que quiseres, usa os pés de coelho ou as ferraduras ou trevos que te der na mona. Reza a Deus, Alá, Vishnu, Horus, não quero saber. Mas ganha este jogo e continua a ganhar. A jogar bem ou mal, pouco me importa, quero é os três pontos.

Sou quem sabes,
Jorge

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