O próximo é sempre mais complicado

Não é de agora e não creio que vá parar por aqui. Esta forma muito peculiar das equipas grandes abordarem os jogos contra outras que no plano teórico lhes serão inferiores é algo que me massacra a alma desde há muitos anos (vejo futebol desde o meio dos 80s e sempre fiquei lixado com estas tretas) e, mais uma vez, não me parece que termine a curto ou médio prazo. E este tipo de irracionalidades acontece por uma enormidade de razões possíveis, típicas de quem errou sabendo que não podia errar. É a Champions, pela dificuldade do jogo seguinte e pela montra para possíveis transferências a fazer com que o jogador tire o pé ou faça um sprint a menos; é a parte física, que não está ainda em condições e que impede o esforço extra; é o desconhecimento das características dos colegas, que fazem com que haja menor entrosamento; é a táctica que não entendem e a movimentação que não compreendem.

Bollocks.

É facilitismo, apenas isso. É a hubris de um grupo de homens que vê o adversário como um alvo fácil, como se a maçã do Guilherme Tell fosse uma abóbora e o seu filho fosse Tyrion Lannister. É ver o jogo como uma sucessão de passes e remates até que o próximo certamente vai entrar e o(s) golo(s) serão suficientes. É sempre isto e não consigo engolir esta casca de melancia que se atravessa na garganta quando olho para o resultado e vejo que sofremos dois golos evitáveis de uma equipa que está em lugares de descida, que se bateu com garra e com força contra nós e que não conseguimos mostrar em campo que somos melhores que ele no papel.

E decepciona-me ver que Lopetegui não consegue mudar esta maré.

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Baías e Baronis – Moreirense 2 vs 2 FC Porto

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Não sei o que é que possui um grupo de jogadores, sabendo que são claramente mais talentosos que o adversário, a facilitar desta forma quando está sempre tanto em jogo. Quando toda a gente os avisa durante dias a fio que não se pode brincar em nenhum jogo, quando todos os jogos contam, quando um deslize pode significar a diferença entre ganhar e perder e quando a equipa ainda está numa fase instável que parece não querer acabar. O treinador brincou, os jogadores brincaram e os adeptos não sabem o que fazer. Um jogo de merda, com um resultado de merda e uma exibição de merda. Não há outro termo. Notas, abaixo:

(+) Osvaldo. Trabalhou que se fartou e mostrou que tem uma capacidade técnica e talento para jogar de costas para a baliza que fazem dele um elemento importante para o onze, mas é o remate rápido e repentino e a facilidade de desmarcação que podem fazer dele um ainda melhor suplente de luxo. Merecia ter marcado.

(-) Incapacidade de criar perigo constante contra equipas fechadas. Ainda não tínhamos apanhado uma destas este ano e viu-se o que já se viu vezes sem conta em anos anteriores e em especial com Lopetegui: somos incapazes de pressionar de uma forma que crie perigo a não ser por lances individuais.

(-) As contínuas adaptações tácticas Entram. Travam. Sofrem. Muda-se o miolo. Mudam-se as alas. Muda-se tudo e continua a mesma parvoíce. Um jogo lateral como no andebol. Sobe um, desce outro, não apoia o terceiro. Sobe o lateral, trava o extremo, volta atrás. Os médios não sobem, o avançado atrasa. Os extremos não furam, bola para o lateral, recua para o central, volta à base, recomeça. Nervosos, como o treinador. Muda-se o centro de novo. Sai um médio, entra um extremo. Troca outro extremo para o meio. Troca outro médio para trás. Recua o jogo, trava a forma, pára a equipa. Sai um defesa, entra um avançado. Desce um médio. Desce outro avançado. Recua o jogo, trava a forma, pára outra vez a equipa. São mudanças a mais durante um jogo onde os jogadores deixam de saber o que fazer e insistem na lateral. Pelo ar, agora. Não dá. Força pelo meio. Não dá. Onde estão os avançados? Onde estão os médios? Ninguém sabe, muito menos eles.

(-) Herrera Enquanto o meio-campo o tiver como comandante não vejo como conseguiremos ser uma equipa em condições. Podem-me dizer que toma as decisões certas e que tem bom controlo de terreno e de zona e de todos os conceitos técnicos e tácticos, mas a velocidade a que joga é tão ridiculamente baixa e a forma como triangula com os colegas reflecte-se em passes mal feitos e num empastelamento do jogo que me enerva como poucos o conseguiram no passado. À sua beira o Bolatti cresce para um Bolt, um Chippo para um Obikwelu e um Valeri para um Ben Johnson. Com doping.

(-) Varela Era tão bom, mas assim espumante-ao-pequeno-almoço bom, se o Silvestre conseguisse passar por um adversário. Nem peço tanto. Era tão agradável como três semáforos verdes consecutivos se ele conseguisse ao menos fazer um cruzamento normalzinho. Baixemos ainda mais o nível. Era tão simpático como uma toalha sequinha sem cheirar a mofo se ele conseguisse controlar uma bola de primeira. Era. Mas nunca é e hoje voltou a não ser. Dizer que foi inoperante é pouco. Foi um redondíssimo zero.


Mais dois pontinhos a voar num campo de onde não poderíamos sair com menos que três. A época vai ser longa, muuuuuuuuuito longa…

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Ouve lá ó Mister – Moreirense

Señor Lopetegui,

O Boavista de verde. É este o adversário de hoje que nos vai tentar lixar a vida e a moral depois da vitória de Domingo nos ter elevado um bocadinho o espírito. Nestes jogos, ainda por cima sabendo que na próxima terça-feira vais apanhar Mourinho e companhia no teu estádio, é normal que os rapazes se distraiam e que facilitem num jogo que lhes pode parecer mais fácil. Ainda por cima numa sexta à noite com bom tempo e noite limpa que se prevê para hoje, ainda pensam que é verão e estão num qualquer resort em Cuba a beber mojitos e a olhar para o mar, que de Moreira de Cónegos só se vê na imaginação dos mais crentes. Não deixes os putos cair nessa esparrela, é cair nos gajos desde o início e quando estiverem aviados é que se descansa um bocadinho.

E vê lá se corriges aquele meio-campo que na primeira parte contra o benfas me ia dando uma coisinha má ao ver que dos dois médios mais recuados até à linha de ataque ia um espaço tão grande que mais parecia a terra de ninguém na primeira guerra. O André anda cheio de moral mas não dá para tudo e se o Brahimi continuar a bater em paredes e a rodar para trás, se o Corona andar como um tolinho sem saber o que fazer e o Abomba estiver longe de tudo e todos, torna-se mais complicado. Assume a ofensiva, vai para cima dos fulanos e impõe o futebol que gostas, de posse e trocas curtas, mas em cima deles! No meio-campo deles! Sem misericórdias, sem brincadeiras nem conversas de treta. Joga simples, joga prático e ganha o jogo. Só depois pensas no Chelski.

Sou quem sabes,
Jorge

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A histeria em torno da histeria em torno de André André

Há uma componente do futebol moderno que surgiu há algum tempo e que invadiu o mundo como um exército de Átila depois de uma semana de pousio sem esventrar romanos. Proliferaram os analistas, desde o mais banal “X está a mais no meio-campo”, passando pelo típico “a namorada de Y tem uma influência tremenda na sua capacidade de marcação de livres directos como pode ser visto pela roupa que usa e as poses ousadas com que se deixa fotografar” acabando no “a emoção e a paixão são evidentes e caracterizam a sua conveniente tendência jungiana para o drible em zona central”. Há de tudo para todos, como deve ser.

Mas há entre esta neo-malta um núcleo que me enoja quase tanto como o Briguel de bikini: os que só sabem dizer mal. E há um em particular que está a atravessar um bom momento na sua perspectiva de “o mundo é uma merda e são todos uma merda e eu sou o único que não sou uma merda” é o Nuno do Entre Dez. Não o conheço e devo dizer que a ideia não me atrai. No último post que publicou, desatou em mais uma tirada sobre as qualidades de André André e que a caixa de Pandora do mundo da bola está exactamente no louvor às qualidades (inexistentes, na sua opinião) do agora nosso jogador, com ressalvas para “estes casos absurdos de jogadores sem o mínimo de talento que entusiasmam plateias inteiras”, “André André não tem talento”, “A sua decisão é sempre a mais óbvia” ou “André André é o típico médio de que se gostava muito há 15 anos”. E até tem razão na abordagem com que suporta estas afirmações, mas é a forma como as faz que me deixa a espumar. É aquela arrogância de quem sabe a teoria e não a põe na prática, de quem critica quem falha a esquadria que nunca existe no mundo ou de quem desenha um círculo perfeito apontando o dedo aos outros que, sabendo não existir tal coisa, se limitam às elipses que a vida nos põe pela frente.

Para Nuno e para tantos Nunos, só há equipas com Beckenbauers atrás, Pirlos ao meio e Zicos na frente. Tudo o resto é trampa. Não se deixem enganar pelos teóricos. Pensem por vocês e quando vos aparecer um André pela frente, com toda a falta de talento que tem, expliquem aos Nunos o quão embaraçante pode ser para uma equipa perfeita perder contra uma outra que corre um bocadinho mais. É só isso que é preciso para baixarem a puta da crista.

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Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 0 SL Benfica

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Na altura em que André recebe a bola de Varela, deixei de conseguir ver o lance e só conseguia imaginar a bola dentro da baliza. Na altura que a bola entrou, já estava no ar, a saltar de braços erguidos para o céu e a agradecer que o “velhinho” pai tivesse conseguido gerar um filho que nos desse, tantos anos depois, uma alegria tão grande. Um jogo complicado, com duas partes distintas em que houve uma equipa que tentou vencer (nem sempre bem) e outra que quase nos impedia de o fazer. Um clássico à antiga e uma vitória que só podia ser nossa para vingar a injustiça do ano passado. Sigamos para as notas:

(+) André. Pois ora então cá vamos: GRANDE! GRANDE! Encheu o campo todo, percorrendo quilómetros num papel bem mais condutor da bola do que estaria à espera, arrastando defesas e procurando quase sempre perceber onde podia colocar a bola para o avançado mais próximo. Falha poucos passes e perde poucas bolas porque usa bem o corpo e tem uma invulgar capacidade de retenção da bola de costas para a baliza enquanto espera pelas subidas dos colegas e recua como um João Pinto na ajuda à defesa. Aqui vai disto: se no ano passado tivéssemos comprado este rapaz em Janeiro e ele estivesse nesta forma, talvez tivéssemos conseguido ser campeões. Marcou um golo que não vai esquecer tão cedo e ninguém mereceu mais que ele.

(+) Casillas. Duas estupendas defesas na primeira parte depois de dois lances pelo ar que a defesa, mais uma vez, não conseguiu contrariar. Mostrou, mais uma vez, que entre os postes é um guarda-redes ágil e com excelentes reflexos. Apenas uma falha num pontapé para a frente que lhe saiu mal.

(+) Ruben Neves. Mostrou que um trinco não precisa de ser um animal de força e de estatura para poder jogar com fibra e garra naquela zona, empenhando-se sempre a 100% na disputa das bolas, tanto aéreas como rasteiras. Estupendo na rotação de bola para as laterais, é um jogador sempre de cabeça levantada à procura do melhor que pode fazer, optando tantas vezes bem por não fazer o quase impossível para se manter pelo exequível. É titular por mérito próprio.

(-) Estratégia no arranque. Lopetegui entrou como tinha feito em Kiev, com dois avançados e André encostado à linha, provavelmente para ajudar Maxi a parar Gaitán. Ou seja, entrou a medo. Acabou por mudar a estrutura aí pelos 25 minutos porque o Benfica tapava muito bem o meio-campo e as alas não rendiam como era esperado (que grande jogo do Nelson Semedo a tapar Brahimi). A somar a isto, um espaço ENORME entre Ruben/Imbula e os jogadores da frente faziam com que o médio que pegava na bola pelo centro apanhasse um magote de vermelhos e quatro homens abertos lá na frente. Não funcionou e Lopetegui demorou a perceber isso.

(-) Bolas paradas defensivas Mudam os anos, mudam os treinadores e o problema mantém-se, como um primo que bate à porta na altura do Natal a pedir esmola para os jeovás. Com mil petardos, não há de haver uma forma de conseguirmos aprender a defender bolas paradas?! Os grandes lances de perigo do Benfica surgiram deste tipo de lances e é algo que me arrelia profundamente perceber que sempre que há um livre ou canto contra nós, aqui d’el Rei que lá vou eu roer as unhas, mas quando temos alguma coisa parecida do outro lado do campo, lá vou eu beijar a camisola e rezar a mil santos para a bola ir parar perto de um gajo de azul-e-branco. Treino específico, todos os dias.

(-) Soares Dias Fica já assente: eu também acho que o Maxi devia ter recebido dois amarelos. Aliás, ando a dizer isto há sete anos. Mas o problema de Soares Dias não foi (apenas) esse. Foi a forma como permitiu o anti-jogo do adversário desde o início do jogo, compactuando com as atitudes absurdas de Eliseu, Samaris, André Almenda, Gonçalo Guedes e companhia, constantemente preocupados em parar o jogo, agarrar a bolinha depois da marcação de faltas, atirar a bola para dentro de campo depois de sair pela linha lateral…este tipo de postura que já nos habituou há que tempos e que continua a passar sem que um árbitro lhes faça ver que esta merda é para jogar, não para arrastar. Soares Dias, com a complacência que mostrou, ajudou a que o jogo ficasse (mais) feio.


Uma vitória contra o Benfica é sempre motivo de felicidade e esta soube bem, especialmente por ter vindo numa altura em que já tudo parecia encaminhar-se para um triste empate. Ufa.

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