Baías e Baronis – Estoril 2 vs 2 FC Porto

foto retirada do maisfutebol

Fomos roubados hoje na Amoreira. Os adeptos portistas que lá se deslocaram, juntos com os que viram pela televisão, os que não puderam ver o jogo em directo e os que nem sequer viram o jogo de propósito (sim, meus caros, há muitos portistas assim), todos eles foram despudoradamente assaltados hoje à noite. Roubaram-nos a alma. Tiraram-nos a estrutura que tínhamos, a inteligência competitiva, a capacidade de resistir a uma pressão que empurra com a força de um infeliz sem-abrigo que dorme ao relento em noites de inverno. Pilharam a calma de uma defesa férrea que oxidou e não parece resistir a semi-equipas e avançados lutadores mas pouco mais. Pior, roubaram-nos um meio-campo que betumava buracos e abafava contrariedades com espírito de luta. Ah, e houve um penalty marcado fora da área e um putativo golo em fora-de-jogo. Nem liguei. Foi mais triste ver o FC Porto incapaz de lutar e de o fazer com convicção. Perdemos os primeiros pontos por culpa própria e ainda custa mais quando assim é. Notas, tristes, abaixo:

(+) Lucho. O capitão continua em alta e mostra em campo que a inteligência habitualmente vence a voracidade competitiva. El Comandante não tem pernas para muito, mas controla a bola com a genialidade de poucos e se tivesse malta com vontade de o acompanhar com estoicidade táctica e desejo de vitória permanente, não estávamos agora a lamentar a perda de dois pontos. Lucho em 2013/2014 joga mais à frente com uma perspectiva ofensiva dedicada quase em exclusivo ao jogo de frente para a baliza, ao contrário do que se tinha visto no passado recente, com a perspectiva de criar os espaços na frente que possibilitem aos avançados receber a bola em condições. Houvesse mais como ele…

(+) Licá. Lutador e esforçado como poucos, foi dos poucos que conseguiu ter a clarividência de avançar com a equipa para a frente e recuar quando era necessário. Marcou o primeiro golo porque acreditou que a bola passava…e passou. Tem mostrado melhores pormenores técnicos de base (domínio, passe…) mas é no espírito de luta que ganha, por exemplo, a Varela, Marat ou Kelvin, e continuaria a apostar nele para titular.

(+) Fernando. Falhou muitos passes mas foi esforçado e ao contrário de alguns colegas mostrou que não está bem quando perde sequer uma bola, que fará várias. Não se sente bem no esquema táctico, é evidente pela postura em campo, mas tenta compensar no que pode. E é deste tipo de gajos que precisamos, dos que ficam fodidos quando as coisas não correm bem. Acredita, miúdo, adapta-te e vais ver que rendes muito mais.

(-) Otamendi. Há-de haver qualquer merda que estejam a meter-lhe no mate que lhe anda a comer a cabecinha. Nos últimos jogos tem sido uma sucessão de parvoíces e apesar de não ter tido culpa no pseudo-penalty, fez o suficiente nos outros lances para ser colocado a apanha-bolas no próximo treino. Sim, é argentino e empiricamente espera-se sempre alguma instabilidade emocional e competitiva nestes moços, mas tem sido uma peça a menos. Mangala também não esteve bem, mas ainda assim conseguiu ser melhor que o colega, que podia/devia ter sido expulso ainda na primeira parte e que falhou com a consistência de um bloco de betão armado na maioria dos lances onde esteve envolvido. Esperam-se melhores dias.

(-) Organização táctica e fibra moral Somos uma equipa pequena, neste momento. Somos reactivos em vez de activos e parecemos ter regredido a uma fase no primeiro ano de Vitor Pereira (para ser mauzinho, até podia dizer que tínhamos voltado ao tempo de Octávio em termos de construção de jogo) onde os centrais chegavam ao meio-campo e olhando para a frente procediam a enviar a bola para a frente sem grande critério, esperando que algum arcanjo descesse do céu e colocasse a bola na baliza. Há uma lei de menor esforço vigente no FC Porto em Setembro de 2013, onde o meio-campo recuado não se entende, os extremos não o são ou não agem como tal, os laterais parecem distraídos e sobem pouco (ao contrário do que fizeram na Supertaça, por exemplo), o avançado parece alheado do jogo e não recua para os locais de recepção…e nem começo a tentar perceber o que transformou dois belos centrais em defensores tão permeáveis nestes últimos jogos. Acima de tudo falta ânimo, garra, vontade. Foda-se, falta muito ânimo, muita garra, muita vontade. Eu e todos os portistas queremos ver os azuisibrancos (ou só brancos como hoje) a chegar primeiro às bolas, mesmo que a equipa adversária seja mais rija, mais viril, mais bruta. Quero-os ver a arrancar relva com os dentes de fúria, a pontapear postes depois de falharem um remate, a empurrar o apanha-bolas de um qualquer adversário para acelerar o jogo. Não tenho visto nada disso nos últimos três jogos. Três. O primeiro, perdoa-se. Ao segundo, questiona-se. Ao terceiro já parece de propósito.


Abanei, mais uma vez, mas não caio. Não caio, caralho, não me deixo cair perante adversidades. E a inconsistência táctica e exibicional tem de ser corrigida com trabalho, com cada vez mais trabalho e com a construção de uma equipa que sirva para enfrentar dezenas de equipas como o Estoril e vencer sem problemas. E nos jogos grandes é nosso dever fazer o mesmo, ou morrer a tentar. Não caio. Não vamos cair.

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Ouve lá ó Mister – Estoril

Mister Paulo,

O jogo na Áustria já passou, mas não passou de vez. Se leste o que escrevi aqui há uns dias, já começas a perceber como é que a malta funciona e o nível de expectativa que vais ter de cumprir para nos agradar. Lembras-te daquele rapaz que cumprimentaste em Paços antes do jogo acabar? O que foi bicampeão e que agora está no meio do deserto a pregar aos mouros? Pois, é nesse nível.

E já todos entendemos que a equipa está em construção (uns mais que outros) mas até uma casa que está ainda com as paredes a meio, já tem de ter pelo menos uma tenda ou qualquer oleado parecido para nos abrigarmos das intempéries que possam por aí vir. Estas coisas não são parvoíces da turba, Paulo, isto é o sentimento de toda a malta de dentro e de fora do clube, que não se importa que dês as tuas ideias aos rapazes mas entretanto tem de haver futebol. Nem nos podemos queixar, carago, sempre são cem por cento de vitórias em várias competições e por isso ninguém te pode chatear a cabeça por causa dos resultados. Mas os últimos dois jogos foram fraquinhos e tu sabes disso e até já o vieste dizer em público, o que me deixou bastante satisfeito pela tua honestidade. Mas olha que em Viena não disseste a mesma coisa…tem lá cuidado com as incongruências que os maldizentes vão-te massacrar a cornadura à primeira falha.

Hoje é mais um para ganhar. Vamos a lógica, tão simples e prática para quem não percebe nada da bola: o Estoril perdeu com o Sevilha; nós ganhámos ao Áustria de Viena. Eles jogam na Europa League e nós na Champions. A Champions é melhor que a Europa League. Ergo, nós somos melhor que o Sevilha e portanto somos melhores que o Estoril. É isso.

Sou quem sabes,
Jorge

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Leitura para um sábado tranquilo

 

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A pressão, a sobrepressão e as putas das sinédoques

Vou começar a repensar a minha visão dos jogos pré-Champions. Faço-o no rescaldo de uma vitória que valeu três pontos e uma batelada de dinheiro, apesar do mau futebol que a equipa mostrou em quase todos os momentos do jogo. Sim, ganhámos, mas os sinais de nervosismo e desconcentração generalizada não deixam perspectivas muito positivas.

Quando enfrentamos um adversário em vésperas de jogo grande, doméstico ou internacional, há uma pressão simpática. Ganhar o jogo sem demoras, com calma e futebol aceitável, é essencial para que o próximo encontro possa ser preparado nas calmas, sem chatices e inconvenientes de última hora. Mas a pressão que é colocada nos ombros dos jogadores, os mesmos que vão disputar ambas as partidas, é atirada sem problemas por todos para o próximo desafio, onde todos os adeptos esperam uma exibição convincente que decorra com naturalidade das poupanças físicas e mentais do jogo anterior. E a pressão, crescente, acaba por resultar numa avalanche de tremideira que não poupa ninguém. As mãos suam, as pernas não reagem, os corpos tremem e a caravana acaba por não sair dos blocos de partida como se antecipava. Mas espera-se mais, espera-se que haja mais esforço, mais luta, mais inteligência e acima de tudo mais maturidade. Talvez ainda não estejamos prontos para estas andanças, mas não desisto. Levei com um barrote nas têmporas mas não desisto. Mas penso no jogo que foi e espero que tenha abanado os rapazes e os tenha preparado para novos desafios, mais duros, mais apertados, com mais pressão e menos margem para falhas. Não desisto e ninguém deve desistir. Mas…

…mas chegamos ao local do costume, onde o habitual hiperbólico adepto portista tem um pequeno ataque de nervos quando a equipa joga mal e em vez de olhar para o jogo e analisar o que lá se passou, logo vai apontar armas a tudo que mexe de azulebranco. Eu, como tantos outros, não gostei do jogo de ontem, mas para tanta gente há uma distância de um palito partido entre um mau passe do Josué e o bota-abaixismo da SAD, de todos os treinadores, do plantel, da relva e do calendário.

Já vi tantas alusões a James e a Moutinho que me começa a enjoar. É o mesmo tipo de comparações à ausência de Falcao em 2011/12 ou de Hulk em 2012/13. Uh, mas agora são dois! E vendemo-los por sei lá quantos zilhões de euros. Yoo-fucking-hoo. O que nunca ninguém menciona, para lá do facto de Josué e Licá serem agora a escumalha da Terra que merecem ser transformados em pilares de areia mijada pelo crime de tocarem na bola, é que os mesmos James e Moutinho estiveram presentes na derrocada em S.Petersburgo, no desmoronamento em Manchester ou, e ainda pior, na humilhação em Nicosia, onde Hulk também jogou. E esses jogos também mereceram críticas a tudo e todos, para que a nação portista se erguesse nos pilares dos detestadores crónicos, que só estão bem a dizer mal.

Construir, corrigir, acertar as agulhas, não. Destruir e desmoralizar, já parece bem. Há dias em que é difícil ser portista, palavra.

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Baías e Baronis – Áustria Viena 0 vs 1 FC Porto

foto retirada de MaisFutebol.pt

Vencemos o jogo e essa é a parte mais importante e a que fica para a história e que vai constar de inúmeros compêndios de estatísticas, em papel ou online. Mas quem assistiu à partida viu uma equipa europeia, com jogadores de técnica abaixo da média e uma estratégia e mentalidade competitiva mesquinha e de fraca estirpe…a defrontar o quinto classificado da liga austríaca. Foi mau, destruiu a minha moral e abafou por completo qualquer ilusão que pudesse ter que esta iria ser uma época descansada e que alguns dos maus vícios que foram adquiridos nalguns jogos do ano passado poderiam já ter desaparecido. Não. Ainda lá estão. Só gostei dos três pontos porque a exibição foi deprimente. Notas:

(+) Lucho. Exactamente há um ano atrás (confirmei agora via zerozero), Lucho mostrava o tipo de profissional que era (e é) ao jogar em Zagreb na primeira jornada da Champions pouco tempo depois de saber a notícia da morte do pai. Há um ano atrás, usando a terceira camisola exactamente como fez hoje em Viena, marcando um golo e orientando a equipa à vitória dentro de campo, Lucho serviu como a extensão natural do treinador no relvado e mostrou que a equipa estava unida e pronta para jogar com ele ao comando. E hoje foi mais um episódio da campanha “Lucho a Presidente”, onde o argentino pareceu o único que estava em campo com a cabeça bem assente nos ombros, com capacidade técnica afinada, coordenação táctica e agressividade a igualar o adversário. Marcou um, podia ter assistido mais um ou dois, mas nenhum dos seus colegas o acompanhou.

(+) O sentido prático de Mangala / O floreado de Marat. Porque cada um se quer no seu sítio. O francês viu a bola saltar em frente a ele e notando que o adversário vinha perto, pumba para a bancada; o russo deixava que os adversários caíssem sobre ele, tirava um da frente com uma finta curta de pés e jogava para um colega logo para a receber a seguir, perdendo o tempo necessário para desorientar o oponente. Ambos estiveram bem em várias ocasiões.

(-) Não sei o que chamar à primeira meia-hora do FC Porto. Não sei se foi do equipamento tão branco que parecia criminoso sujá-lo. Talvez tenham pensado que ia ser fácil e viram-se à rasca para conseguir mudar a mentalidade. Estava frio ou húmido ou sei lá o que raio aconteceu. Mas não percebo. E o que vi foi do pior que me lembro de ver há algum tempo, a fazer-me recuar ao inverno de São Petersburgo onde Vitor Pereira se deixou cair com estrondo depois da idiota manápula de Fucile o fazer ir prá rua mais cedo, ou o cincazero que sabemos dar mas também soubemos apanhar em Londres de onde Jesualdo saiu vergado e curiosamente Fucile fez mais um dos piores jogos da sua carreira. Mas não demonizo mais o meu homónimo, ele que hoje nem tem culpa nenhuma. Hoje, ao contrário desses jogos, a vitória ficou do nosso lado mas à custa de Lucho que finalizou aquela que terá sido talvez a única jogada interessante do encontro. O resto foi uma sucessão de idiotices, passes falhados, domínios de bola a rivalizar com o de um qualquer poste de electricidade, escorregadelas, remates falhados e faltas desnecessárias. Poucos ficaram longe da poça de lama que pareceu encher o cérebro da equipa, tal era a dependência nas tabelinhas mal feitas, a espera por jogadores que não apareciam no ataque, só para perder a bola e ficar à espera dos jogadores que deviam tapar a defesa. O centro do terreno esteve mal, tanto Fernando como Josué, com demasiados passes falhados e descoordenação táctica. Na defesa Mangala lá se safava mas Nico estava louco, Danilo adormecido e Alex Sandro a brincar demais. No ataque Varela era lento, Licá e Jackson inconsequentes e tecnicamente inúteis. E a falta de agressividade foi o mais inexplicável de tudo, com os austríacos a chegarem consistentemente à bola antes dos nossos. Foi mau demais e não consigo reduzir a exibição ao facto de ser a estreia na Champions. Gostava de o fazer mas não consigo. Hoje o FC Porto desiludiu-me, apesar da vitória.

(-) Otamendi. Vai ser um ano longo, ah vai, se continuas a fazer a quantidade de imbecilidades que hoje parecias incapaz de evitar. Cortes deficientes, atrasos medrosos, passes absurdos para o centro…houve um que chegou a uma zona onde estavam três gajos do Áustria e…nenhum do FC Porto num raio praí de vinte metros. Fiquei a pensar que o Nico precisa de óculos. E de Xanax. E de um par de estalos. Do Mangala. De mão fechada.

(-) Josué. Não pensei alguma ver dizer isto sobre Josué, mas o que vi hoje foi um rapaz displicente. Lento, constantemente a deixar-se antecipar pelos adversários pelo simples facto de cravar os pés no chão e esperar que a bola viesse ao seu encontro. Não gostei de o ver no lugar de Defour porque simplesmente não fez o que o belga tem vindo a mostrar: movimentação constante, toca-e-passa com a bola nos pés e acima de tudo passes adequados e simples. Josué não fez nada do que atrás referi.


Estava renitente. Agora, depois do jogo, estou pessimista. Pode ter sido só o primeiro, que serviu para desflorar alguns rapazes e todos sabemos que o primeiro pode ser complicado. Mas não explica tudo e acima de tudo exacerba alguma inexperiência que nos pode vir a tramar no futuro. Os próximos jogos o dirão.

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