Deco is out of the building

Acompanhei-o desde que chegou ao FC Porto. Vivi com ele algumas das maiores alegrias da minha vida, tanto nas Antas como no Dragão, com milhares à minha volta a gritar o seu nome no êxtase em que tantas vezes deixava as bancadas. Desde a altura em que coabitava com Zahovic no meio-campo, passando pela partilha dos louros com Alenitchev, continuando para o melhor meio-campo do FC Porto que me lembro de ver a jogar, foi um elemento sempre presente, que aprendi a venerar como tantos outros, que me enfeitiçava com as fintas, a visão de jogo, os passes certeiros e a forma jingona com que parecia arrancar em drible. Lembro-me de golos, de tantos golos, mas há um que me ficará para sempre na memória. Num FC Porto vs Benfica, numa das temporadas que mais fama lhe trouxe, em 2002/2003, numa chapelada de livre directo marcado ao Benfica, na altura com Moreira na baliza.

Foi um daqueles jogadores iluminados pelos deuses que transforma alguém que deteste futebol num ávido amante da bola. Por toda a magia que me deste, número dez, por fintares tantos adversários com os dois pés, pelas centenas de vezes que gritei que eras melhor que o Pélé, obrigado.

Obrigado, rapaz. Vemo-nos em 2029 quando vieres celebrar as bodas de prata de Gelsenkirchen.

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Baías e Baronis – FC Porto 3 vs 0 CS Marítimo

foto retirada de desporto.sapo.pt

Foi mais fácil do que esperava e nada do que aconteceu foi por demérito do adversário. Foi tudo graças a uma equipa que parece começar a crescer depois de cada jogo, com automatismos criados durante as partidas, rotação de bola inteligente e, a espaços, algum espectáculo. Vejo qualidade técnica superior à de ano passado (mesmo com a saída de Moutinho e James), uma estratégia diferente no approach à baliza contrária e vontade de estar na frente logo desde o início, com estabilidade mas uma maior agressividade ofensiva. O jogo foi fácil porque o tornámos fácil. Vamos a notas:

(+) Licá. Continua a ser dos meus preferidos pelo empenho. Nunca vai ser genial e sabe disso, mas a forma como aparece sempre em zonas perigosas, como pede a bola em movimentações constantes na linha de ataque, diagonalizando para o centro quando é preciso e persiste em todos os lances de disputa individual fazem dele um jogador extremamente útil. O primeiro golo é todo dele, pela corrida e insistência na luta com os adversários, pela sorte que fez por merecer no ressalto e por conseguir olhar e ver Jackson livre para encostar. He’s a keeper, I tell you.

(+) Josué. Confesso que esperava menos do puto do que ele tem vindo a mostrar. Mas faz por merecer a confiança do treinador pelo esforço, pelo espírito de sacrifício e pela maneira lutadora como disputa todos os lances (às vezes demais, como podem ler abaixo). Marcou bem o penalty (que me pareceu fora da área, pelo menos visto da bancada) mas foi com Danilo que mais brilhou, ajudando o brasileiro a zarpar pelo flanco fora com passes certeiros nas costas dos defesas a isolar o colega por diversas vezes e criando assim o segundo golo. Mais um bom jogo.

(+) Alex Sandro e Danilo, cada um do seu lado. A táctica força-os a subir e eles lá vão em alegres correrias pelo flanco ou descaídos para o centro. Se Danilo está a jogar mais solto e aparentemente mais feliz na função, já Alex Sandro dá prazer ver em campo pela capacidade técnica e pela forma como protege a bola com inteligência e bom uso do corpo, para em seguida gincanear pelos adversários com um sorriso no rosto de quem sabe o que fez e sabe que fez bem. Excelente jogo dos dois.

(-) O “nervo” de Josué. Sim, é lutador. Claro que é esforçado. Mas tem de ter calma em muitas situações que podem transformá-lo de mais-valia em risco permanente. O lance da simulação de penalty, ainda que me tenha parecido exagerado a partir da bancada, é o menos dos males. Pior foi uma entrada a meio-campo depois de perder uma bola dividida, em que fez uma tesoura com pés bem levantados e onde não viu amarelo talvez por um súbito e passageiro ataque de Alzheimer do árbitro que, deixando a bola seguir, se esqueceu do cartão. Por menos vi Álvaro ser expulso contra o Sevilha ou Defour contra o Málaga…e é aí que pode deitar tudo a perder não só para ele como para a equipa, especialmente em jogos mais complicados. Não é fácil mas tem de se acalmar.

(-) Os exagerados excessos de confiança. Quem já viu Helton, Mangala, Fernando ou Alex Sandro em campo sabe do que falo. O resultado está feito, os números são robustos e não há quase nada a temer por parte do adversário. Então, ‘bora lá brincar um bocadinho, com bolas picadas, passes “na queima”, fintas pelo meio de quarenta e dois adversários e atrasos arriscados. Sei que ocorreram em alturas fáceis do jogo, mas vem-me sempre à memória o jogo de Vila do Conde onde deitamos fora um avanço de dois golos por contínuas e desnecessárias parvoíces. Não exijo noventa minutos de suor constante, mas quero os rapazes concentrados até ao final do jogo.


Não nos entusiasmemos em demasia. Ainda é cedo e estamos no início de uma época que será longa e nem todos os jogos serão deste nível. Mas o que vi hoje, pela primeira vez ao vivo esta temporada, deixou-me muito satisfeito. E o mercado, não acaba?

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Ouve lá ó Mister – Marítimo

Mister Paulo,

Finalmente vou ao Dragão ver a bola. Já estou há meses sem ver os moços a jogar e devo admitir que me começa a fazer uma falta que nem te conto. E estou todo contente porque está bom tempo, sol brilhante e calor suficiente para que possa sair de casa com a minha camisola azul-e-branca vestida e dirigir-me para o estádio em boa companhia e com vontade de ver a minha equipa a jogar e, com a tua ajuda, a ganhar.

Já sei que não vai ser um jogo fácil. Por muito que o teu rival venha “dar mérito” ao que o Marítimo fez na semana passada bem à sua maneira, com aquela cagança muito mal disfarçada a que já todos nos habituamos, a verdade é que tiveram mesmo mérito. Vi um pouco do jogo e reparei na forma como os gajos saem para a frente disparados com perigo, boa troca de bola e acima de tudo com aquela acutilância ofensiva de quem não tem nada a perder e tudo a ganhar. E é exactamente este tipo de problemas que vais encarar, uma equipa que aparece no Dragão com uma vitória muito saborosa no bucho e que nos vai tentar fazer a vida negra para sacar a segunda que, admita-se, seria ainda mais fantástica que a da primeira jornada.

Conto contigo para escolheres os gajos certos. Já sei que só podes levar dezoito dos aparentemente quarenta e doze que tens à tua disposição, mas é nestas alturas que tens de fazer os cortes no orçamento de mão-de-obra para a época que já começou, porque o grupo é grande e só ficas limitado pelo final do mercado, mas não duvido que já tenhas as tuas ideias. É altura de os convenceres que agora é que têm de te provar que o futuro só depende deles. E já vi que convocaste o Maicon e o Iturbe, o que me parece uma excelente maneira de dar oportunidades a todos por igual. Vai para cima deles, Paulo. E ganha o jogo.

Sou quem sabes,
Jorge

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Os meus quatro Onzes – Parte I

Toda a gente e os irmãos deles andam a dizer quais são os seus onze jogadores preferidos da história do FC Porto. Também me vou juntar ao povo e fazer o mesmo. Mas como não podia deixar de ser, tendo em conta o pedantismo dos meus habituais comentários, vou dar um pequeno twist à selecção e escolher não um, não dois, não três, mas quatro onzes! Sim! Quatro! Serão quarenta e quatro jogadores, com outras quarenta e quatro notáveis omissões que me sentiria mal se não mencionasse. Porque esta escolha de apenas onze não bate com a minha maneira de pensar e não me consigo limitar a apenas uma equipa, tantas foram as que me deram alegrias durante a minha vida. E como a minha experiência de FC Porto só vai até aos anos 80, decidi seccionar os últimos 30 anos em quatro partes assimétricas, que vou divulgando à medida que for publicando os onzes de cada uma dessas partes. Os critérios são meus e como tal serão totalmente questionáveis, mas foram os que me pareceram melhor em termos da divisão equitativa de eras que o FC Porto atravessou nos últimos trinta anos. Assim sendo, começo pelo primeiro onze que engloba a era “Basileia, Viena e Pré-90s – De 1983/1984 a 1990/1991“:

 

Os mais perspicazes notarão que a equipa é quase idêntica à que venceu a Taça dos Campeões em Viena, com três diferenças: entram Gomes e Lima Pereira, que lesionados falharam a final, para os lugares de Eduardo Luís e Quim que a disputaram na sua vez, para lá da entrada de Branco para o lugar de Inácio, porque a classe do brasileiro era difícil de igualar, quanto mais ultrapassar. E o resto dos jogadores seleccionados como “omissões” foram todos importantes nesses anos que marcaram o arranque da nossa hegemonia nacional no futebol, desde o futebol inteligente de Frasco e Jaime Pacheco, à juventude de Jorge Couto e Domingos, a alma de Bandeirinha e Inácio e a segurança de Zé Beto e Geraldão. E só faltava Juary, o homem que nos deu esse troféu que definiu de vez a minha entrada de alma e coração para o interior do mundo portista.

Muitos podem discordar, por isso fico à espera dos vossos comentários.

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