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Baías e Baronis – Benfica 3 vs 1 FC Porto

Dói, dói muito. Dói mais porque a eliminatória esteve ali, ao nosso alcance, por muito que possam reclamar de penalties e jogo rijo e perdas de tempo e fitas. Ali, naquele relvado, estão os culpados de mais um naufrágio nesta eterna travessia do longo oceano de adamastores que se transformou esta temporada. Ali, onde no passado saímos tantas vezes de cabeça erguida para os céus, a mostrar a força da nossa identidade, da nossa imagem, do nosso querer, foi onde caímos com estrondo, sem que tivéssemos tido a cabeça e o coração para evitar a queda. O Benfica venceu bem, foi melhor, mais eficaz, mais inteligente, mais equipa. Nós, ficamos com a imagem de um conjunto de jogadores fracos na cabeça, lentos nos pés e amorfos na alma. Dói, vai doer mais durante meses…e esta puta desta época nunca mais acaba. A notas:

(+) O golo de Varela. Na única vez que Silvestre conseguiu fazer alguma coisa de jeito, foi brilhante. Esqueçamos que passou o resto do tempo em campo a tentar receber bolas pelo ar enviadas pelos colegas ou a fugir da marcação dos adversários sem que conseguisse produção ofensiva digna de um shot de limoncello. O golo é dos bons, desde a finta de corpo à aceleração em flecha para a área, acabando com um remate perfeito pelo meio das perninhas de Artur. Pena que não tivesse feito mais nada durante todo o resto do jogo.

(-) Oh meu Porto da eterna mocidade. O jogo do Dragão ficou marcado por uma terrível falta de eficácia, que nos deixou à mercê do adversário. Hoje, foi a constatação mais evidente de que uma eliminatória a duas mãos tem de ser encarada no primeiro jogo como se todos os lances fossem o último, para que a vantagem possa ser suficiente para aguentar a enxurrada da segunda mão. Não o fez e deixou assim o ónus dessa ineficácia para ser colmatado com uma exibição mais eficiente neste jogo. Sabendo disso, a equipa entrou em campo com algum medo e até Siqueira ter sido (bem) expulso, pouco ou nada fez para tentar marcar um golo. Apanhando-se em vantagem numérica, mandou no jogo. Pegou na bola, rodou-a, criando pouco perigo, mas com a eliminatória empatada cheguei a acreditar que com mais alguma acutilância e velocidade pelas alas, as coisas podiam sorrir para o nosso lado. Veio o golo, de força, de garra, por um homem que nada tinha feito até então mas que poderia servir para agrupar as forças, reunir mais confiança e acabar com o inimigo de uma vez por todas. E…nada. Nada. Um enorme vazio apoderou-se de todos os jogadores, com uma incapacidade de imberbes coitados, sem capacidade para trocar a bola com perigo, perdendo duelos após duelos, desperdiçando lances ofensivos consecutivos em fugazes tentativas pelos flancos, em zonas de debilidade tremenda, sem apoio ofensivo, sem overlaps, sem mentalidade de vitória. Luís Castro não ajudou, tremendo pela primeira vez desde que o vi, enfiando Josué para parar o jogo quando apenas um golo separaria o Benfica do Jamor. Também ele teve medo, medo de uma equipa a jogar com dez, medo de um ataque avassalador de uma equipa com menos um homem, medo do que podiam os outros fazer sem acreditar no que nós conseguiríamos atingir. Josué em campo em vez de Ghilas ou Quintero. Medo, nas faces, nas expressões, nas pernas. Medo de onze contra dez. Mas foram dez homens comparados com onze meninos, dez jogadores contra onze pirralhos medrosos de tudo, desconfiados deles próprios e com a fibra competitiva de uma folha de gelatina ao vento. Quaresma, que caiu nas manhas de Maxi durante todo o jogo. Herrera, que desapareceu sem sequer ter aparecido. Jackson, perdido no meio dos centrais sem que a bola lhe chegasse. Fernando, fraco nos lances divididos (sim, até tu, Reges!). Danilo, a dar mais espaço a Gaitán que um merdas de um lateral de uma equipa amadora. Alex Sandro, sem força nem altura nem posicionamento no golo de cabeça de Sálvio. Fabiano, com culpas no primeiro e no terceiro golo. Mangala, trapalhão e permissivo. Enfim. Tantos e tão poucos, é o que somos. Uma equipa é bem mais que a soma das suas partes e o FC Porto, este ano, poucas vezes tem conseguido ser uma equipa. E isso, meus caros, é o que mais dói. Perder na Luz dói sempre, mas quando se perde desta forma pouco há a dizer e estico-me nesta prosa solta e desligada porque a tristeza vai assumindo a proporção habitual cá dentro e o discurso sai pouco fluido, como o nosso jogo. Já houve tempos em que apagámos a Luz. Hoje, fomos nós que nos apagámos Nela.


Só uma pequena nota: perdemos o campeonato para o Benfica, a Taça para o Benfica e também podemos ter perdido a Liga Europa que o Benfica pode vir a vencer. E a Taça da Liga? Esse miserável troféu…perderemos também para o Benfica?

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Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 0 Benfica

É uma vitória, mas também é uma derrota“, ouvi enquanto ia saindo do estádio. Nim. É uma vitória factual, com números escassos, porque se formos a pensar bem e se ambas as equipas tivessem sido eficazes, o resultado tinha sido qualquer coisa como 4-1 a nosso favor. Mas não foi e não o foi em grande parte por culpa nossa já que houve mais uma quantidade de golos falhados que faz com que qualquer adepto se enerve e peça a Deus um poucochinho mais de benevolência divina para o nosso campo. O Benfica permitiu que jogássemos no meio-campo deles em toda a primeira até ao ponto em que já não havia nada que permitir porque o relvado era nosso e o jogo era nosso e quase que a eliminatória foi toda nossa. Não o conseguimos e a equipa implodiu fisicamente a meio da segunda parte, quase desfazendo em vinte minutos o que tinha demorado setenta a construir. Saí sorridente mas preocupado com a segunda mão. Eu e todos os outros. Vamos a notas:

(+) Finalmente, um Porto de que nos podemos orgulhar! Já cá faltava um destes, carago, depois de tantas exibições com a chama tão apagada e sem a capacidade e concentração em níveis tão altos quanto são sempre exigidos de jogadores que usam aquela linda camisola. E se é verdade que o Benfica se organizou em pleno para permitir um maior domínio da nossa parte, jogando com a estratégia típica de uma equipa que joga a primeira mão fora de casa numa competição a eliminar, não é menos verdade que a meio da primeira parte devem ter começado a pensar que se calhar mais valia terem optado por outros truques que têm (oh se têm) nas mangas. Fomos dominadores, rápidos, pressionantes, jogando com coração mas muita cabeça, rodando a bola com bom critério na zona mais recuada e furando com incisividade pelas laterais, sempre com a baliza como objectivo. E se é ainda mais verdade que foi das melhores exibições do ano, especialmente na primeira parte, também é verdade que me deixou um sabor acre na boca, pensar que podíamos ter usado esta fibra, esta organização em campo exibida pelos mesmos jogadores numa táctica semelhante à anterior…se ao menos houvesse cabecinha no sítio e vontade de mostrar que até podemos perder esta merda, mas que em nossa casa não queremos cair. Não podemos cair. Muito menos contra o Benfica, porque é uma questão de honra. Tem sempre de ser uma questão de honra, carago. Foi algo que Fonseca não percebeu desde que cá chegou e que Luís Castro conseguiu voltar a transmitir aos rapazes: nós, todos nós, somos melhores que os outros. E é em campo que temos de o mostrar. Hoje, conseguiram-no. Parabéns, rapazes!

(+) Jackson. Na minha cabeça, a comparação com dois lances do nosso passado é fácil e impossível de evitar apesar da diferença nas balizas e na geografia: McCarthy recebe um cruzamento de Nuno Valente e salta mais alto que Gary Neville, cabeceando para o cantinho da rede com Tim Howard batido. Sete anos depois, em Dublin, Falcao salta para apanhar um cruzamento de Fredy Guarín do lado direito, fazendo a bola passar ao lado de…guess what, Artur. Foi um golo estupendo, na senda desses outros dois brilhantes tentos que guardo na minha memória e para onde este vai direitinho. Mas não foi só pelo golo que Jackson aqui está, porque trabalhou imenso, atrás e à frente, servindo como primeiro tampulho aos ataques do Benfica pela zona central e recuando para ajudar…os laterais na cobertura defensiva. Teve azar no remate ao poste mas não mancha o que pode ser o regresso de Jackson à boa forma. Terá pernas para continuar?

(+) A primeira parte de Quaresma. Segue com a bola, aparece adversário, finta-o, continua pelo terreno fora, mais uma finta, com os dois pés, à Deco, ei que este gajo hoje está em brasa, pumba mais um túnel ao Cardozo e lá vai ele pela linha, olha mais um cruzamento, não, parou outra vez, vai ver se traça o Maxi, quase, volta para trás, passa a bola ao colega. Uff. Foram jogadas consecutivamente geniais de Quaresma, lutador na frente e esforçado na rectaguarda. Pena que tenha exagerado nos lances individuais durante a segunda parte…

(+) Aquela defesa do Fabiano… foi qualquer coisa de orgásmico para quem estava, como eu, a ver a bola já a entrar para a nossa baliza. Depois de inúmeras oportunidades falhadas, foi o nosso guarda-redes que acabou por receber um aplauso enorme do Dragão depois de uma defesa que faz Yaschin parecer um menino manco e sem elasticidade nos bracinhos. Excelente, caríssimo, excelente.

(-) Golos falhados. Num jogo deste nível, num confronto entre estas duas equipas que se pode decidir por um mero pormenor, uma distracção, um descuido posicional ou uma falha momentânea…falhar tantos golos é agonizante para quem joga e ainda mais para quem vê sem poder interferir. Varela, Jackson, Quintero, Herrera, todos eles tiveram o golo nos pés e falharam a oportunidade de entrarem para a história em mais um festival de golos que termina apenas com um pre-show interessante mas que deixa tudo em aberto para a segunda mão, com a vantagem do lado do Benfica. Sim, vencemos o jogo, mas se o tivéssemos feito com uma margem maior (e devíamos, raios!), podíamos ir a Lisboa mais tranquilos. Hélas.

(-) Ai quem me dera ser só da cintura para cima. É uma música que fez parte de um sketch do Gato Fedorento, esse grupo de talentosos e primários anti-portistas, que espelha na perfeição o que senti quando olhei para o relvado a meio da segunda parte e percebi, como Luís Castro e outros quarenta mil nas bancadas, que os rapazes andam à rasca das pernas. Como escrevi aqui há uns dias, há jogadores com minutos a mais nas pernas (casos de Danilo, Alex Sandro, Varela ou Jackson) e começa-se a fazer notar especificamente neste tipo de jogos em que o coração pede mais mas os músculos já não conseguem responder e a cabeça é habitualmente a próxima a ir. Não deverá ser surpresa para ninguém a simultaneidade da subida no terreno do Benfica e a descida no mesmo do FC Porto, precisamente numa altura em que Jesus (bem) fez entrar as peças mais importantes da equipa com a excepção de Enzo (maldição de banco que estes estupores têm e que vantagem de poderem rodar jogadores de tão alto nível! malditos, insisto!) e colocou um ataque com Gaitán, Markovic, Lima e Cardozo, que assusta qualquer equipa. E assusta especialmente uma formação com dois laterais à rasca dos gémeos, um central com pouca experiência nestas coisas (mas que se safou bem) e outro que andou a primeira parte toda a recuperar sozinho de uma lesão sofrida durante o jogo. Já devíamos ter começado a rodar jogadores há bastante tempo e o facto da segunda mão ser disputada três dias depois de irmos a Braga e seis depois de Sevilha pode (deve?) querer dizer que vai haver algumas poupanças na pedreira…


Podia ter sido o tónico que a equipa necessitava para um final de temporada um pouco mais seguro e confiante. Mas a forma física de alguns elementos essenciais do onze, acoplada à falta de opções alternativas que assegurem bom rendimento sem falhas de maior pode ser um handicap difícil de recuperar. Pode estar na altura de começar a tomar opções pelas competições que podemos mesmo vencer…e o campeonato, lamento dizê-lo, mas está agora no fundo da lista…

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Baías e Baronis – Benfica 2 vs 0 FC Porto

foto retirada de MaisFutebol

Estou há quarenta minutos com esta página aberta num tab separada das outras enquanto vou pesquisando livros usados sobre a guerra civil americana na Amazon. Estou por isso oficialmente deprimido. Foi uma tarde dura, com um jogo do FC Porto que esteve abaixo do que esperava e que mostrou pela enésima vez este ano que não conseguimos ter um andamento que sirva para mais que vitórias mais ou menos sofridas contra equipas de meio da tabela em Portugal e alguns confrontos europeus contra rapazinhos nórdicos ou moldavos. O Benfica não fez um jogo extraordinário, longe disso. O FC Porto é que não jogou nada. Nadinha. Vamos a notas:

(+) Fernando. Pode ser questionável dar a melhor nota do FC Porto a Fernando, ele que esteve tantas vezes fora da posição, chegando inclusive a ser um dos que pressionou Oblak quando mais ninguém lá saía. E foi esse o problema, porque Fernando quis ser três jogadores ao mesmo tempo: um trinco, um médio box-to-box e um organizador de jogo. E só leva a melhor nota porque tentou por tudo fazer com que o meio-campo do FC Porto não se desfizesse como uma folha de papel vegetal na Foz durante a semana que passou. Tentou e falhou, mas tentou com aquele fogo nas ventas e a atitude de fúria que tanta falta faz nesta equipa (quase que sorria quando se dirigiu a Soares Dias, como de costume, para reclamar de costas e braços bem erguidos)…mas teve poucos que o acompanhassem.

(+) Varela. Foi dos poucos que pareceu que queria tentar qualquer tipo de entendimento com o lateral e correu imenso durante o jogo, apesar de ter estado sempre com pouco apoio da parte dos colegas. Depois da expulsão de Danilo foi vê-lo a tentar fazer o flanco na maneira habitual, tosca e trapalhona, mas com uma pitada extra de esforço que merecia ter tido outra ajuda do resto da equipa.

(+) O respeito a Eusébio. Acho que posso falar por todos os portistas quando digo que só nos lembrámos do Eusébio durante o jogo porque o vimos sem cessar nas costas das camisolas do Benfica. Aliás, vimos demasiadas vezes as costas dos jogadores deles, tantas foram as oportunidades em que nos ultrapassaram em velocidade…mas adiante. O minuto de silêncio foi isso mesmo. Um minuto. De silêncio. Como devia sempre ser (e que cumpro sem falar quando o vivo num estádio), antes da imbecilidade das palmas tirar a solenidade toda de tantos momentos similares. Gostei.

(-) Mas nós temos meio-campo? E defesa? Ataque, talvez? Foda-se, temos uma equipa?! É uma constante de 2013/2014: o FC Porto parece entrar em campo em inferioridade numérica. Muitas vezes dou por mim a olhar para o relvado e a tentar perceber quem é que falta ali no meio e que está a tornar a equipa numa amálgama de jogadores que andam a correr (nos dias bons) de um lado para o outro sem saber onde serão as posições certas para os jogadores certos. É uma espécie de grande jogo de Mastermind, onde o jogador certo está na posição errada (Fernando com alguém ao lado, Josué na ala, Lucho a segundo avançado…), o jogador errado está na posição certa (Defour quando era preciso Lucho, Otamendi em vez de Maicon…) ou ambos (Licá. Só isso). Há uma extraordinária falta de entrosamento, sequências imensas com passes falhados que nos juvenis daria direito a volta ao campo e vinte flexões só com um braço, desmarcações com força a mais ou a menos mas nunca a força certa e remates ao lado, ao poste ou direitinhos ao guarda-redes. Hoje o FC Porto não jogou futebol. Foi uma equipinha banal que não conseguiu e tampouco tentou mudar a sorte de um jogo que tantos querem jogar e que tão poucos têm a sorte de o conseguir. Fomos fracos, de pernas e de espírito, e esta derrota custa ainda mais porque não a tentamos evitar.

(-) Otamendi. Há vários jogos que não andava bem e tinha sido encostado por Fonseca. Na altura, Maicon calçou as botas e fez um ou dois bons jogos, fazendo que todos pensássemos que os dois Ms seriam a solução defensiva que iria formar o eixo da zona recuada nos próximos tempos. Hélas. O argentino voltou à equipa e voltou às borradas. Às vezes dá a ideia que está totalmente desconcentrado em jogo, tais são as constantes falhas de discernimento posicional que mostra, ocupando vezes demais o espaço de Mangala e falhando nas subidas parvas a tentar pressionar o segundo avançado, deixando um buraco enorme que foi (bem) aproveitado por Markovic e Rodrigo. Somem-se a quantidade ridícula de passes curtos falhados e temos um caldinho de proporções épicas a tramar-lhe a boa imagem que recuperado no ano passado. Já foi o melhor defesa do FC Porto. Neste momento, nem no banco o quero.

(-) Lucho. Completamente engolido pelos três Eusébios que estiveram no meio-campo do Benfica (não resisti à piada, sorry), conseguiu perder a bola várias vezes pelo simples facto de não ter actualmente uma velocidade mínima de execução para poder ser titular. A braçadeira está a agarrá-lo ao lugar mas pela forma como a equipa se tem vindo a exibir, questiono a utilidade do actual capitão. Ou são todos otários e não sabem fazer o que ele manda…ou ninguém lhe liga. E a segunda é muito mais grave.


Perder três pontos é mau, mas podia ter sido pior. Da forma como a equipa estava a jogar, ainda por cima com apenas dez jogadores em campo, só um Benfica incapaz e desinteressado falhou o que poderia ser uma goleada para lhes saciar a sede. Perder três pontos é mau mas a nível da resolução do campeonato…são “apenas” três. Custou-me mais empatar em Belém e no Estoril, porque jogámos sensivelmente o mesmo que hoje mas o adversário tinha uma valia várias ordens de magnitude abaixo da nossa. Perder três pontos é mau. Perder um único ponto com o Benfica é só depressivo.

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Baías e Baronis – FC Porto 2 vs 1 SL Benfica

Regressei por momentos a Novembro de mil novecentos e noventa e dois, o meu primeiro jogo como sócio naquela mítica noite de um intenso nevoeiro na Invicta. Quando Jorge Costa irrompe pela área e é atropelado por Helder, o penalty foi marcado e Timofte, esse genial romeno, marca o penalty que me fez dar um dos maiores saltos da minha vida. E este jogo trouxe-me sensações similares, com a adicional componente de ser um jogo que podia ajudar a decidir o campeonato. Foi um jogo vivido entre adeptos, entre portistas, rodeado que estive toda a tarde por dragões do Porto, de Santo Tirso, de Lisboa e de Castelo Branco. O portismo, por muito que nos queiram convencer do seu provincianismo, está em todo o lado. E hoje reuniu-se de alma e coração na Invicta, na sede física mas também moral, onde podemos ter pintado um dos mais belos quadros de sempre. Foi lindo, foi catártico, foi futebol. E foi nosso. Vamos a notas:

(+) FC Porto. Não tenho a certeza que tenhamos merecido ganhar o jogo. Mas tenho a certeza que o Benfica merecia perder, porque uma equipa que joga para não perder com o exageradíssimo anti-jogo que praticou durante toda a partida merece sair do estádio com as nádegas profundamente marcadas com vergastas de nós bem fechados. Diria o mesmo se a minha equipa fosse jogar à Luz da mesma maneira. Ainda assim, se havia uma equipa que merecia ganhar era o FC Porto, pelo suor que largou em campo, pela forma audaz como se lançou ao jogo, pela maneira como conseguiram manter-se firmes, com vontade férrea de nunca desistir, nunca baixar os braços, nunca abdicar de tentar o ataque sempre que fosse possível e acima de tudo pela resistência que mostraram à aparente vontade de Proença em permitir o ostensivo queimar de segundos após segundos por parte da equipa visitante. Lucho foi rijo, Moutinho foi estável, Otamendi controlou-se quase sempre atrás e Mangala, mais nervoso, não esteve mal. Varela foi sempre trabalhador e Fernando foi igual a sempre até se lesionar. Helton seguro, Alex confiante e até Danilo esteve menos medroso que o costume. Ainda que não tivéssemos conseguido vencer, a equipa estaria sempre de parabéns.

(+) Dragão. Lágrimas escorriam pelas faces do rapaz que se senta à minha frente. O estádio estava vivo, mais uma vez, depois de quarenta e cinco minutos dos mais frustrantes que vi em mais de vinte anos de futebol ao vivo. Kelvin conseguiu transformar as vozes de portistas pelo mundo fora num grito em uníssono de vitória, de reconquista, de enorme alegria e um alívio que ninguém conseguiu controlar. Nas bancadas há abraços, beijos, danças, saltos, cinquenta mil que suspendem a gravidade e o bater do coração durante minutos consecutivos, enquanto dois mil e dezoito estóicos adversários estáo petrificados como estátuas gregas, sem resposta, sem reacção. Grito e parece que o som fica preso na minha garganta. Agarro amigos, abraço desconhecidos, salto e beijo o emblema do FC Porto com força e sem qualquer pudor em perceber que se morresse naquele momento, pelo menos morria feliz. Não me dava jeito nenhum porque tenho coisas combinadas para os próximos tempos, mas estaria feliz. Naquele momento não existia mais nada no mundo para as almas que lá estavam. Era só aquilo, só aquele remate que vi a entrar na baliza de Artur e me fez parar de respirar durante meio segundo. Futebol é isto e o Dragão hoje foi futebol.

(+) Kelvin. O jogo foi rijo, frustrante, difícil, com um Benfica que jogou para empatar e que perdeu por um golpe de sorte com muita vontade de um puto que já é uma figura de culto entre os adeptos. Quem diria, minha gente, que seria Kelvin a dar vitórias contra Braga e agora Benfica?! É abençoado pelos deuses da bola, este rapaz…

(-) James. Foi o pior jogador do FC Porto, não pelo que fez de mal mas principalmente pelo que não fez. Não conseguiu entrar em jogo, raramente teve capacidade de ter a bola nos pés e funcionar como número dez, com uma marcação muito eficaz de Matic (muito bom, este rapaz) e/ou Enzo Perez. Teve um jogo fraquinho e nunca teve hipótese de manter a bola tempo suficiente para fazer a diferença e passou a segunda parte inteira sem ter influência na partida. E foi uma pena.

(-) O beneplácito de Proença. Não me parece que tenha havido casos que possam levar a discussões com o nível de estupidez que habitualmente grassa as nossas televisões, jornais ou mesas de café. Se há um erro que poderia ter sido marcante, ocorreu no fora-de-jogo não assinalado a James que felizmente não deu golo mas que não foi tão escandaloso como isso. Mas o que enervou todos os adeptos do FC Porto e acredito que ainda enervou mais os jogadores em campo, foi a forma como Proença permitiu o anti-jogo do Benfica. Não censuro o Benfica nem Jesus pelas opções que tomaram, longe disso, mas como as puseram em prática, de uma forma tão feia e ostensiva, foi enervante para todos e se alguém poderia ter feito alguma coisa, era o árbitro. Proença insistiu em permitir os lançamentos executados com a lentidão de um caracol de muletas, as consistentes quedas no relvado e principalmente Artur. Artur é o melhor exemplo que se pode dar, porque desde os dez minutos de jogo que estava deliberadamente a perder tempo sem que se visse algum aviso de Proença para deixar a teatralidade. Artur acabou por ver um amarelo por protestos na altura do offside de James. A meio da segunda parte. Helton, depois do segundo golo, foi buscar a bola e levantou os braços para os adeptos continuarem a gritar em apoio da equipa. Amarelo imediato. Ah, e quatro minutos de descontos no final do jogo é pouco. Muito pouco. Seis substituições, duas lesões com assistências em campo e saídas em maca, tudo isto somado aos desperdícios constantes de muitos segundos em lançamentos e marcações de livres…é pouco. É esta inconsistência que chateia, mais nada.


Ainda tenho a camisola vestida (a principal de 2008/09, azul-e-branca com debruado a laranja) enquanto escrevo estas palavras. Comecei a tarde com ela e só não durmo com ela no corpo porque seria certamente mal recebido no leito e prefiro manter o status-quo familiar. Mas tenho-a ainda perto do coração, até porque faz há alguns anos parte da colecção. É uma das que “dá sorte”. Se não era, passou a ser. E é uma camisola felizarda, porque esteve presente num dos jogos mais marcantes da minha vida. Inesquecível, diria. Mas atenção, porque se não vencermos em Paços na próxima semana, este jogo acaba por ser uma etapa inconsequente no objectivo de toda uma época. A Paços, amigos, a Paços!

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Baías e Baronis – SL Benfica 2 vs 2 FC Porto

retirada de desporto.sapo.pt

Pensei em apelar ao sentido lírico e começar com metáforas parvas sobre os incidentes durante o jogo, a arbitragem, a idiotice de Artur, ou as inclementes entradas de Maxi. Mas deixo esse lado mais romantizado para as notas, mais abaixo. Por isso afirmo aqui já à partida: o empate é justo. Ambas as equipas tentaram ganhar, com mais ou menos inteligência emocional e táctica, com jogo mais directo ou mais trabalhado. Lutaram todos na busca de um resultado mais positivo que a partilha dos pontos e conseguiram aguentar as estúpidas emoções de um dos quartos-de-hora mais emocionantes de sempre num clássico. O FC Porto esteve bem, não perfeito, longe disso, mas nunca desistiu do jogo, nunca se desconcentrou tacticamente e conseguiu um empate que nos deixa com uma vantagem teórica mas acima de tudo moral. Notas abaixo:

(+) Mangala. Proponho mudarmos o nome do rapaz de uma vez por todas para Mangalho. Mangalhão, para os mais excitáveis. Ponham na camisola essa palavra para impôr o respeito que o moço faz por merecer quando entra em campo, de maneira a que os adversários possam olhar para ele e verem o nome antes de levarem com ele. Fez um jogo estupendo, com uma segurança impressionante no centro da defesa, ofuscando Otamendi mas acima de tudo quase fazendo desaparecer Cardozo do jogo…literalmente, depois de um choque mais que tardio. Esteve em grande, marcou um golo e foi um patrão impossível de controlar, levando a bola para a frente para ajudar o ataque, arrastando jogo pela relva e pelo ar e mostrando a todos que é um jogador pronto para ser titular a 100%. Maicon, rapaz, não sei que te faça: se o Mangalho continuar a este nível…tens de trabalhar muito para lhe roubar o lugar.

(+) Jackson. Não parou todo o jogo, a roubar bolas ao adversário mas acima de tudo a manter o esférico em posse na zona ofensiva enquanto esperava pelo apoio dos colegas que, devo dizer, apareceu mais frequentemente que noutras alturas. Marcou um golo numa daquelas oportunidades à ponta-de-lança e redimiu-se de um lance quase idêntico que em Zagreb deixou os adeptos loucos depois de o falhar. Continua a ser excelente a funcionar como pivot, a receber de costas e a recuar para rodar a bola para o sítio certo.

(+) Luta, empenho, garra. A moral, depois dos primeiros dezasseis minutos, deveria pender para o lado do Benfica, porque recuperar duas vezes de um resultado negativo é motivo suficiente para elevar o espírito do zombie mais incauto nestas coisas da bola. Mas o FC Porto nunca deixou de se manter controlado, seguro nas transições, capaz na gestão da bola a meio-campo e preocupado em abrir o jogo para os flancos quando era preciso e de controlar a zona central em alturas mais complicadas de pressão alta do Benfica, que apesar de intensa nem sempre foi bem executada. E admito que me surpreendeu o empenho dos jogadores em provar que o campeão está em forma nos grandes jogos, que a capacidade de luta está ali bem viva no coração dos jogadores e que me enganaram num ou noutro jogo em que pensei que a alma se tinha afastado para locais mais tranquilos. Gostei de ver e orgulho-me do trabalho que desempenharam.

(-) A hesitação no alívio em zona perigosa. Critiquei, como tantos outros, as hesitações de Danilo, Maicon, Fucile e tantos antes deles no alívio da bola em zona defensiva, particularmente quando o adversário pressiona sempre com vários elementos à entrada da área. E continuo a não acreditar em sortes e azares, especialmente naquelas estúpidas situações em que se vê a bola ali, tão perto da linha de golo, e o nosso jogador teima em tentar controlar o esférico e dominar as circunstâncias valendo-se apenas da sua valia individual. Mas é muito simples e é algo que se explica a todos os miúdos que começam a jogar e que não façam parte das escolas do Barcelona. Passo a citar as palavras de tantos treinadores de escalões de formação: “Em zona de perigo, manda a bola com as putas!”. Palavras sábias.

(-) O nosso banco e as não-opções. Tozé, Sebá, Kelvin e Izmaylov. Estas eram as opções ofensivas no banco do FC Porto para este jogo. Se as circunstâncias fossem diferentes, e era tão fácil que fossem diferentes tendo em conta a valia do adversário, era este o naipe de jogadores que estavam disponíveis para o treinador conseguir virar o jogo. Contra o Benfica. Na Luz. Não chega, e todos concordamos que não chega, por isso é sinal evidente que teremos que ir ao mercado buscar pelo menos mais um jogador de ataque, especialmente para um dos flancos. Tem de ser um fulano jeitoso, para impacto imediato. E baratinho. Pois.

(-) Maxi, o protegido depois de tantos outros. Não é a primeira vez que acontece e tenho a certeza que não será a última. Já no passado mês de Abril, enquanto assistia à derrota do Benfica em Stamford Bridge, vi Maxi a ser expulso e não resisti a escrever sobre o assunto e a ir remexer o brilhante passado do fulano no nosso campeonato. E continuo a não me surpreender com esta protecção que é estendida a este e tantos outros jogadores do Benfica aqui por terras lusas, com expoentes máximos em jogos contra o FC Porto. Desde as cabeçadas de Luisão às patadas de Javi, passando pelas calcadelas de César Peixoto, os pontapés de David Luíz ou as cotoveladas de Cardozo. É um rol interminável de lances que se sucedem nestes clássicos e que são levados sempre pela ramada, sem problemas, com os jogadores a manterem-se em campo durante o equivalente a centenas de minutos nos jogos em que nos defrontam. E a desonestidade intelectual de tudo que é imprensa, desvalorizando os lances em favor da “atitude”, da “luta intensa”, do “esforço” e do “empenho em todos os lances” que estes animais podem aplicar em campo, não é minimamente surpreendente. Entre os afortunados esteve Matic (que grande jogo fez este rapaz, muito melhor jogador do que pensei), que deveria ter levado o segundo amarelo, mas principalmente Maxi, que com uma entrada a varrer com as pernas à altura da coxa do adversário, acabou por levar um amarelo quando devia ter sido expulso, isto depois de um jogo em que tudo valeu, obstruções, empurrões e rasteiras a serem distribuídas tão facilmente como um pedófilo a atirar rebuçados para os putos à porta de uma escola primária. Maxi, com o sorriso bem cravado no rosto, safa-se. Como sempre. Como tantos outros que usam a mesma camisola. E não falo dos foras-de-jogo, porque são complicados de decidir, rápidos, difíceis sem repetições. Mas estes, os lances que dependem do critério dos Joões Ferreiras…esses tendem sempre para o lado certo.


Um empate é um empate e são dois pontos perdidos…a não ser contra o principal rival, especialmente no campo deles. Acima de tudo há que compreender os problemas que se colocaram perante Vitor Pereira e que lhe podem ser colocados apenas numa perspectiva de ter ou não no banco alternativas credíveis e com experiência necessária para este tipo de jogos que, digam o que disserem, não são iguais aos outros. Se as ausências de Atsu e Iturbe (meh) eram previstas, a falta de Maicon, James e Kleber fizeram com que as opções do treinador fossem bastante limitadas para o ataque e que a convocatória e utilização de Izmaylov não fosse sequer esperada nem suficiente. Um empate é um empate. E um empate a dois na Luz é um bom empate.

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