Baías e Baronis 2012/2013 – Os defesas


Falou-se muito da zona defensiva do FC Porto durante o ano e houve muitos bons motivos para o fazerem. Foi talvez o único sector onde se notou alguma evolução nos jogadores, com dois em particular a merecerem a ressalva de serem olhados com admiração pela forma como cresceram durante a temporada: Alex Sandro e Mangala. O francês começou ao mesmo estilo do ano passado, ainda com alguma agressividade em excesso e alguma dificuldade em manter esses exageros controlados. Mas aproveitou bem a infeliz lesão de Maicon para lhe roubar o lugar e exibir-se em nível digno de transferência à FC Porto para um grande europeu. Tem tudo, o rapaz. Alto, forte pelo ar, rijo na marcação, raramente hesita no corte e é mais prático do que estamos habituados. Foi um prazer vê-lo a crescer, especialmente jogando ao lado de Alex Sandro, outro moço que subiu de produção quase exponencialmente, com sete Baías. Já no ano passado tinha mostrado que podia ter oportunidade de jogar a sério se fosse utilizado regularmente. E mostrou que Álvaro Pereira está tão bem no Inter que ninguém se lembrou dele, já que este rapaz desfez dezenas de adversários (os médios-ala e os laterais) com inteligência, criatividade, postura ofensiva mantendo o posicionamento e recuperação defensivas bem efectuadas, remate forte e apoio constante ao ataque. Algum excesso de confiança fez com que tremesse num ou noutro jogo, mas nunca deu hipótese sequer a que nos lembrássemos do Palito. Mangala tapou várias vezes o brasileiro durante a sua lesão mas era evidente que Alex traz uma profundidade ao flanco que Mangala, jogando sempre com empenho e força de vontade, não consegue.

Abdoulaye jogou pouco e foi coerente, apesar de ficar sempre ligado à final perdida da Taça da Liga. Coerente pela agressividade, coerente porque é lento e porque parece um Mangala mais alto e magro. Tem a vantagem de ser jogador “da casa” que dá muito jeito para compôr plantéis para a UEFA, mas não creio que venha a ser opção para titular a curto-prazo. Squad-player, through and through. Quiño também, passando a grande maioria da época nos Bs, não entrou mal quando foi chamado mas nunca conseguiu ser sequer uma sombra para Alex Sandro e perdeu inclusivamente o lugar para Mangala em várias circunstâncias. Talvez para o ano, rapaz.

Não me quero esquecer de Otamendi, porque seria uma injustiça. Várias paragens cerebrais durante o ano não mancham o que foi uma época excelente do argentino, à volta do qual foram rodando os restantes elementos daquela zona. Ota soube pegar no lugar desde que chegou no Verão de 2010 e este ano foi mais uma vez a rocha defensiva. A menor produção ofensiva foi contrariada com consecutivas e excelentes prestações defensivas em que mostrou que nem sempre os mais vistosos são os mais influentes. Atrás de um Mangala que voa por cima dos adversários, há um Nico que comanda os colegas, que manda no eixo e que raspa a relva com um sorriso nos lábios.

Com estes dois, Maicon pouco pôde fazer. Entrou muito bem, com rótulo de marcador de livres ainda desde a pré-temporada que perdeu a cola poucas semanas depois de começar a temporada. E lesionou-se em casa contra o Marítimo (que para lá do 5-0 também perdemos Fernando e Helton) para nunca mais recuperar em pleno a posição. Teve um momento horrível quando foi assobiado em pleno Dragão durante o mal-conseguido jogo contra o Rio Ave. Na altura disse: Ouviam-se gritos quando Maicon tocava no esférico, assobios quando demorava mais de dois segundos com a bola nos pés (muito embora raramente tivesse uma linha de passe decente), insultos quando o rapaz fazia algo que fosse contra o que as pessoas gostavam. É assim que querem apoiar os vossos jogadores? Quando as coisas estão a correr mal e vêem que um dos jogadores que conhecem há quatro anos, que já nos deu troféus atrás de troféus, que marcou o golo que deu a vitória na Luz no ano passado…quando vêem que esse rapaz, que perdeu a titularidade depois de uma lesão, está a ter um mau momento…o que optam por fazer é insultá-lo!? Nunca vou perceber este tipo de atitudes de alguma gente, palavra.. Não retiro um pixel.

Passemos aos Baronis. Um para Rolando, que preferiu sair por uma porta pequenina, no fundo de uma parede pequenina…e que desapareceu da minha mente ao ponto de ter chegado a pensar que tínhamos apenas quatro centrais desde o início do ano enquanto pensava neste artigo. Rolando escolheu o caminho que decidiu trilhar e não censurarei ninguém dentro do clube se o puserem a treinar sozinho. No Parque da Cidade. À noite. Mas agora para o Baroni da época. Danilo. Sim, vou por aí.

Danilo foi uma decepção. Quem me lê sabe que sou um gajo para dar oportunidades a todos os jogadores para mostrarem o que valem em todas as posições, em vários esquemas tácticos, com as nuances de cada competição a pesarem na minha noção sobre a valia do jogador. E Danilo esteve abaixo da média em todos os vectores que me posso lembrar de o pesar. Danilo mostrou durante toda a temporada o porquê de ser um jogador que sofre a contestação dos adeptos baseada em grande parte no valor pelo qual foi comprado. E o problema foi mesmo esse, o valor que lhe subiu a cotação e que colocou um rótulo que ainda não conseguiu sacudir. E vê-se em campo, porque mostra uma indolência que não acredito seja devida apenas ao espírito do jogador. Danilo não acredita que possa render na lateral-direita o mesmo que poderia render no centro do terreno e nota-se pela forma como tende com uma precisão de um relógio de césio para o centro do terreno, valendo-se do seu pé mais fraco para poder deambular por zonas onde se sente melhor e mostra mais produtividade. E falta sempre qualquer coisa, na corrida, na intercepção, no momento certo e na altura certa…Danilo falha mais do que acerta. Tem de reabilitar a sua imagem perante os adeptos, perante aqueles que o apoiam até ao ponto que vêem que nunca desiste, que nunca baixa os braços. E viram-se esses momentos a acontecer vezes demais durante a época.

O quadro-resumo dos defesas fica abaixo:

ABDOULAYE: BAÍA (por pouco)
ALEX SANDRO: BAÍA
DANILO: BARONI
MAICON: BAÍA
MANGALA: BAÍA
OTAMENDI: BAÍA
QUIÑO: BAÍA
ROLANDO: BARONI

PS: uma pequena adenda para Miguel Lopes, porque a sua ausência aqui da lista me foi chamada à atenção e com toda a razão. Miguel Lopes, lateral direito de raiz, não conseguiu sacar o lugar a um homem inadaptado à posição. ainda tentou, mas nunca consegui ver nele mais que um suplente glorificado. Esforçado, sem dúvida, mas demasiadamente incerto para ser titular. Fez um bom jogo em Vila do Conde, mas pouco mais.

MIGUEL LOPES: BARONI

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Baías e Baronis – Moreirense 0 vs 3 FC Porto

 

foto retirada de desporto.sapo.pt

O início da partida foi lento, triste, arrastado. Mas notava-se uma certa arrogância no approach aos lances, especialmente defensivamente, onde o melhor jogador talvez tenha sido Danilo, o que diz muito da aplicação dos rapazes no trabalho defensivo. É verdade que só Ghilas dava um mínimo de nervosismo aos defesas e o Moreirense tem a qualidade técnica agregada de duas tartarugas a Prozac, mas foi enervante perceber que a equipa acabou por nunca conseg…por nunca querer impulsionar o jogo com uma intensidade que lhe permitisse conquistar os espaços que lhe faltaram durante grande parte do jogo. Enfim, a vitória não foi má…ao menos deu para Liedson jogar e Jackson marcar. Not a bad evening. Vamos a notas:

(+) Helton. Depois de uma boa exibição contra o Braga, Helton voltou a mostrar a importância que um guarda-redes tem numa equipa que, como hoje, se apresenta em casa com uma atitude excessivamente arrogante a nível defensivo. Mangala, Alex Sandro e Otamendi (menos que os colegas mas também teve algumas hesitações absurdas) estiveram distraídos e apenas Danilo me pareceu mais atinadinho na defesa. Com este panorama, cabe normalmente ao guarda-redes assumir o controlo das situações e afirmar que quem manda ali é ele. E foi o que fez, com várias defesas na primeira parte, incluindo uma saída em que acidentalmente agrediu o joelho de Ghilas com as suas têmporas. Esteve impecável e foi o responsável principal pelo zero em frente ao nome do clube da casa.

(+) Jackson. Dois bons golos, duas excelentes desmarcações no centro da área e acima de tudo o fim de um período de seca que na altura em que apareceu pareceu assemelhar-se ao Gobi depois de um Verão particularmente seco. O segundo golo então é perfeito, desde o passe de Lucho ao chapéu do ponta-de-lança por cima do guarda-redes adversário. Isto é um ponta-de-lança em condições. Vês, Kléber?

(+) Fernando. Mais um bom jogo e um golo que tanto faz por merecer. Insiste nalguns passes menos fáceis porque é ele que começa a pegar na equipa e a criar os desiquilíbrios a partir de zonas recuadas, especialmente quando vê que Lucho não está a conseguir furar o meio-campo e Moutinho aparece em áreas demasiadamente atrasadas para fazer a diferença. Muito bem no apoio ao ataque e a limpar a borrada que os colegas da defesa iam fazendo.

(-) A puta da soberba. É um mal que nos visita quase todas as vezes que nos deslocamos a um campo deste género contra um adversário que, francamente, tem tanto direito moral a estar na primeira liga que um cacto no Amazonas. A forma absorta como encaramos este tipo de jogos é um dos items que têm vindo a chatear a malta desde há meses e que incomoda tremendamente no jogo de Vitor Pereira, porque há uma lentidão, uma falta de voluntarismo em acabar com o jogo procurando activamente os espaços para conseguir marcar um golinho que seja…que dá sono. Dá sono, garanto. E é verdade que o adversário defendeu (mal) com dez jogadores atrás da bola e só o Kamel do Ghilas lá na frente mas o FC Porto, na maioria dos lances de construção ofensiva, limita-se a ficar à espera que os espaços surjam em vez de os procurar com inteligência e acima de tudo mobilidade. É um tédio ver o FC Porto jogar na grande parte das primeiras-partes dos jogos do nosso campeonato. E depois aquela atitude de soberba que me incomoda profundamente, sem respeito pelo adversário, sem vontade de mostrar quem manda, quem é melhor…parece-me pouco para a diferença entre as duas equipas.

(-) Mangala. Devia pagar um jantar ao Helton em qualquer local que o brasileiro escolhesse, porque fez um jogo miserável e o keeper salvou-lhe o coiro uma data de vezes. Se perder em força para Ghilas seria expectável aí 50% das vezes, já fazê-lo para Fábio Espinho por desconcentração e/ou preguiça é intolerável. Somemos os pontapés em rosca, os lances mal calculados e uma ou outra entrada mais dura e Mangala teve um jogo muito abaixo do que sabe e pode fazer. Dorme bem, moço, mas lembra-te que foi por coisas destas que o Rolando começou a ganhar confiança a mais e a perder a mesma confiança dos adeptos e do treinador.


E agora peço que todos se juntem numa roda de oração enquanto nos sentamos para ver o Benfica a receber o Sporting. E se as coisas correrem muito bem, se o Benfica perder pontos esta jornada…we’re back, baby. Até lá…dobremos as apostas, envenenemos os pessimistas e louvemos os optimistas. Vamos torcer pelo Sporting. Vamos lá, não custa nada.

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Baías e Baronis – SC Braga 1 vs 0 FC Porto

Uma final tem este tipo de características, que enervam toda a gente. Há duas equipas, uma de cada lado, ambas a tentar ganhar o jogo sem o perder antes de poderem sequer tentar. E quando se juntam duas equipas com capacidades ofensivas igualmente fracas, uma das quais (a nossa) com um permanente engasgar na criatividade e na criação de lances de ataque coerentes, a somar a erros defensivos que são tão evidentes que se tornam patéticos, é impossível afirmar que jogamos bem. Mas…e há um mas…não jogamos assim tão mal. A equipa pareceu motivada, com garra, com mentalidade de “final” como se exigia. Mas foi evidente que nunca conseguiu uma produtividade ofensiva que causasse medo ao adversário, esse sim com um jogo parecido com o que fez no Dragão, sem problemas em jogar lá atrás até se ver a jogar a mais…e mesmo assim mantendo-se a controlar sem bola. Foi frustrante ver o jogo, mas ainda mais frustrante ver que seria quase impossível, a jogar com dez jogadores, conseguir a claridividênvia necessária para lhe dar a volta. Vamos a notas:

(+) Fernando. A maior injustiça deste jogo é o facto de Fernando não o ter ganho. Pareceu sempre jogar a um nível substancialmente superior a todos os colegas, a recuperar bolas da defesa ao ataque, correndo muito mais do que a Fernanda Ribeiro em dias de treino intensivo. Apanhou pancada de tantos jogadores do Braga que não o censurava se fosse ao Sameiro urinar na entrada, mas tentou vingar-se em campo com a força que mostra, com a forma como tenta continuamente levar o jogo para a frente mesmo quando os colegas já não aguentam com as pernas. Está em grande forma física e só tenho pena que poucos o acompanhem. Porque em campo só ele, James e Moutinho se lembravam da última final contra o Braga. E garanto que Fernando não jogou tão bem dessa vez como fez nesta.

(+) Alex Sandro. É muito bom no ataque, este puto. É tão bom que acho que vai ser complicado agarrá-lo para a próxima temporada, mas atravessemos essa ponte quando lá chegarmos. Muito activo na tentativa de levar o jogo sempre para a frente, sempre pelo flanco, com excelente toque de bola e só a precisar de melhorar um pouco nos cruzamentos. Foi o do costume, com alguma brincadeira mas a conquistar os adeptos pela força e inteligência com que ataca. Uma pérola que temos aqui no plantel.

(+) Fabiano. Uma grande defesa aos oitenta e tal minutos depois de um balázio do Hugo Viana e uma saída incrível aos pés de João Pedro ainda mais tarde já seriam momentos altos, mas foi por todo o jogo de segurança (até com os pés, por implausível que pudesse parecer) que transmitiu aos defesas que não senti falta de Helton. Não foi por culpa dele que perdemos o jogo, que é mais do que se pode dizer acerca da última Taça da Liga, quando o actual treinador do Rio Ave enfiou um enorme perú e tramou o resto dos rapazes.

(-) Incapacidade de criar jogadas de perigo. Um Baroni chega para todo este jogo, até porque mantenho a minha opinião: para uma final, não jogamos assim tão mal. Mas a quantidade absurda de erros que cometemos durante uma partida é simplesmente incompreensível. Houve uma repetição de tantos e tantos erros que se vêem há tanto tempo nesta equipa do FC Porto que me questiono se de facto há treino conjunto e um mínimo de tentativa de melhorar os níveis técnicos dos jogadores ou se apenas se foca na troca de bola em peladinhas. Sim, é uma “queixa” antiga dos treinadores de bancada, mas depois de ver esta exibição com tanta falta de inteligência na troca de bola na frente, com o enorme número de passes falhados, más recepções e falta de entrosamento entre laterais e extremos, aliados a alguma imaturidade de vários jogadores, começo a pensar que os treinos se limitam à parte física e pouco mais. Este jogo em particular fez-me lembrar aquelas jogatinas na escola primária, em campos de cimento com balizas sem rede (sim, na minha escola eram assim), onde a malta zarpava em louca correria mal tocava a campaínha para intervalo, juntando-se todos ao molho no centro do campo para pegar na bola e andávamos como doidos a tentar acertar na bola. Não havia equipas, só havia grupos de pó como em bandas-desenhadas antigas, com agudíssimos gritos de pré-adolescentes que ainda não quebravam a voz. E ninguém controlava a bola, só a chutava se visse alguém próximo da baliza, quer estivesse de costas ou de frente para os postes. E quando entrava um golo, naqueles momentos de bênção divina que faziam com que a bola atravessasse a linha sem ninguém fazer nada por isso…ninguém sabia o que raio tinha acontecido. E às vezes penso que há jogos em que o FC Porto só consegue marcar um golo se fôr empurrado por um qualquer arcanjo. Este foi um deles.

(-) Vitor Pereira. Culpar o árbitro pela derrota é tão redutor como dizer que os Alemães caíram nas Ardenas porque havia um ou dois carvalhos a mais na floresta. O que Vitor devia ter dito era qualquer coisa como isto: “Não entendo como é que desde há alguns meses a esta parte treinamos semanas após semanas para chegar aos jogos e raramente conseguirmos criar situações de perigo decentes. Continuo a não perceber porque é que os adversários chegam quase sempre primeiro à bola que nós e trocam a bola ao primeiro toque e nós precisamos de qualquer tipo de influência divina para chegar a esse ponto. Gostava de falar com os rapazes que estão no balneário para saber se já viram aquele número 25 que joga com as mesmas cores que eles e se percebem porque é que ele é dos poucos que o pessoal aplaude. O árbitro? Não falo de arbitragens.” E não falava. Isso é que eu gostava de ver. Perdi a esperança.

(-) Mossoró. Um anão nojento que merece tudo de mal que lhe possa acontecer em campo. É a representação de tudo o que um jogador brasileiro traz consigo, desde o excelente na finta, no drible e na visão de jogo, somados à ridícula propensão para a simulação e para a fiteirice interminável. Gostava de o ver a ser bitch-slapped por algum central maldoso. Um Materazzi bêbado, por exemplo. Batia palmas de pé, palavra.


Perdemos, perdemos bem e perderemos sempre enquanto não conseguirmos impôr o nosso estilo. E esse estilo e o autor do estilo estão por um fio, especialmente depois deste jogo. É que a malta até tolera perder a Taça da Liga. Mas não na final. Muito menos contra o Braga. Lamento, mas a vida é mesmo assim, Vitor.

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Baías e Baronis – Académica 0 vs 3 FC Porto

Só vi o jogo depois de chegar a casa, com a recta alcoólica a descer abruptamente depois de um dia em que andou a flutuar por valores bastante mais altos que o expectável para o final de Março. Assisti ao jogo já sabendo o resultado, porque é impossível tentar esconder tudo de toda a gente e há sempre alguém que está pouco interessado no diferido mesmo que não possa ver o directo, por isso a forma como o vi foi mais relaxada, com muito menos stress que o normal e deu para perceber melhor o estado anímico da equipa e a forma como isso influencia o desenrolar de jogadas ofensivas, a concentração nas defensivas e, acima de todas estas teorias…é tão fácil perceber como anda a cabeça de Danilo quando o homem acaba de marcar um bom golo e não festeja. Vamos a notas:

(+) A facilidade da vitória. Foi tão simples, tão fácil, que me deixa sempre a questionar porque raio não se consegue fazer isto todas as semanas, ou pelo menos partir de uma base tão simples como esta. Jogo prático, sem inventar muito, com facilidade de troca de bola mesmo contra um adversário ultra-defensivo. É a imagem de marca de 80% do nosso campeonato e não conseguir contrariar este estilo só nos deixa na mão dos nossos oponentes directos, como aconteceu este ano, especialmente quando perdemos pontos frente a este tipo de equipas. Jogámos bem, sem brilho mas com eficácia, sentido prático e facilidades criadas por nós e não cedidas pelo adversário. Safámo-nos bem.

(+) Castro, pelo golo e pelo seu significado. É irresistível elogiar o rapaz pelo golo, mas acima de tudo pela celebração. Depois de Danilo, no segundo golo, ter mostrado que nem sempre um golo chega para arrebitar a moral de um jogador que sabe que pode fazer muito mais e não corresponde às expectativas dos adeptos, temos no outro extremo o golo de Castro. Foi o terceiro, o ponto final de um jogo banal, sem grandes motivos para excitações, com uma exibição à imagem da equipa. E mesmo esse terceiro golo aparecendo quase aos noventa minutos, em final de festa, foi celebrado por Castro como se fosse um game-winning goal na final da Taça de Portugal. Castro sorria e os adeptos sorriam com ele, porque representou o que tantos portistas estão a ver desaparecer jogo após jogo: o portismo dos jogadores, que para lá do profissionalismo, é um desejo de todos. Parabéns, puto. Podes não participar tanto quanto querias, mas sempre que o fazes a malta sorri.

(+) Moutinho. Há ali um passe na segunda parte em que Moutinho recebe a bola de Fernando ou Danilo, esqueço-me agora quem foi o remetente. João, com meio segundo de tempo disponível para olhar à sua volta e descobrir uma linha de passe antes que Wilson Eduardo (ou Edinho, mais uma vez não posso garantir…mas também não interessa muito à questão, acreditem) lhe caia em cima e lhe tire a bola dos pés, faz um passe de trinta metros direitinho para o caminho de Alex Sandro, que tem o corredor à sua mercê para atacar a área adversária pelo lado esquerdo. E o número oito faz isto repetidamente durante um jogo, de uma forma natural, como se nada o abanasse, com uma confiança que parece estar sempre em alta. Excelente.

(-) O ricochete do desânimo. Vou abordar este tema daqui a uns dias, mas parece-me evidente que nem o apoio das claques (até elas resistentes ao futebol que adormece tanta gente mas que os parece conseguir manter em força no apoio à equipa…e ainda bem!) pode esconder alguma desilusão dos jogadores para com a equipa. Parece fácil pensar que os rapazes vão entrar em campo com a confiança de Thor com o martelo nas mãos, mas a verdade é que se nota que há uma tristeza latente na forma de jogar, no passe, até no festejo dos golos e dos lances mais bem conseguidos. Os jogadores parecem unidos e se há alguma divisão no plantel, não creio que passe cá para fora. O que passa é uma espécie de infelicidade exteriorizada que consigo entender na perfeição, mas que mais uma vez não compreendo o porquê de se terem deixado chegar a este ponto. Danilo foi o expoente máximo dessa tristeza. No final de um excelente lance de ataque, onde Lucho aproveita a subida do lateral para rasgar a defesa, contrariar o movimento de quatro adversários e coloca a bola direitinha nos pés do brasileiro que só precisa de encostar para marcar, o que faz na perfeição pelo meio das pernas de Ricardo. A celebração deste banquete futebolístico? Um punho levantado, a cabeça caída, os abraços dos colegas, que compreendem o desânimo do companheiro e continuam a festejar sem chama, sem entusiasmo. Se não conseguirmos ser campeões, esta é uma das imagens que me vai ficar na memória.


Preparem-se para mais umas semanas de sofrimento, meus caros. Os jogos continuarão a ser vencidos (ou assim esperamos), e os três pontos não parecem falhar aos moços de vermelho. A culpa de todo este desterro é total e completamente alocada a nosotros, por isso não nos podemos queixar do destino ou da performance de terceiros. Insisto que se tivéssemos marcado dois penalties, estaríamos em primeiro lugar com um jogo no bolso se conseguíssemos vencer o Benfas em casa daqui a uns tempos. Enfim, assim vão as glórias por-agora-adiadas do nosso mundo…

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Vectores do potencial insucesso: técnico

Aqui, meus amigos, começam as grandes questões e aquelas que são mais facilmente escondidas quando a equipa mostra alguma eficácia no decurso dos jogos. Se é notório que alguns dos jogadores do plantel têm uma capacidade técnica acima da média, há uma evidente e enervante incapacidade na performance em jogo corrido de exibir algumas características que parecem óbvias quando falamos de futebol moderno, onde os rapazes que fazem do futebol o seu modus vivendi insistem em mostrar tão pouco no que diz respeito a elementos básicos que são ensinados aos menos talentosos e que saem naturalmente aos génios.

O controlo de bola é uma miséria. Uma. Miséria. James, Jackson, Alex Sandro, Lucho e Moutinho brilham, Defour é o típico jogador da Europa Central, frio, controlado, recebe, controla, passa. O resto…é mau. Varela e Atsu parecem estar num eterno jogo de Arkanoid, tantas vezes a bola pincha perto de si, para não falar dos centrais, de Danilo e de Fernando, cuja posição pareceria indicar que a recepção da bola e de a “matar” no chão perto de si seria uma peça fundamental do treino diário. Se é, não parece, porque a quantidade de tempo perdido neste tão simples acto, repetido ad nauseam ao longo de uma vida, é suficiente para num jogo fechado, com adversários pressionantes e mais rápidos, originar perdas de bola e forçar a que a equipa abdique de lances de ataque para se concentrar na defesa em contra-pé dos ataques adversários. Continuemos.

Os passes falhados são uma constante. Uma constante. E numa equipa que tem o passe na sua matriz principal de jogo, na sua filosofia-base do modo como encara uma partida, seria conveniente que fizesse desta pedra basilar o enfoque máximo do que pratica. Mas tal não acontece. Sucedem-se passes após passes com a pontaria de um rinoceronte bêbado com o corno torto a apontar para o anel de Sauron. E os passes lateralizados, de natureza menos propensos a falhas quando comparados aos passes verticais de maior risco, não fogem deste esquema infeliz de bruaaahs na bancada quando Fernando endossa a bola para a linha lateral, Varela roda para o que pensa ser Danilo e Otamendi insiste em passar para as costas do colega do lado. Perde-se tempo, espaço e momento ofensivo em tantas diferentes alturas do jogo que quando comparo o FC Porto a outras equipas do mesmo nível (como o Benfica, por exemplo), parecemos uma equipa de Marianos González com delirium tremens. Os passes de risco, os que podem criar perigo, são ainda piores, como era de esperar, com enervantes envios demasiadamente longos ou absurdamente curtos. Perdemos 20 ou 30% dos lances de ataque neste tipo de oportunidades falhadas.

E os remates? Raramente vão dois ou três consecutivos à baliza, daqueles à inglesa, de fora da área. Dos poucos que sabem e conseguem rematar com algum intuito, Moutinho e Defour lá vão acertando na baliza, porque Lucho, Varela e Fernando (convenhamos que se soubesse rematar em condições já não andava por cá…) são rematadores de ocasião e a ocasião raramente se apresenta em perfeito estado para um balázio bem colocado. Danilo lá vai tentando quando a sorte lhe bufa nas costas e descai para o meio, mas o pé esquerdo raramente faz mossa. Jackson, já deu para perceber, só marca dentro da área.

Calma, vem aí pior…as bolas paradas.

Uns dias antes do jogo no Funchal, um amigo mostrou-me um video dos distritais de Aveiro, onde um rapaz marcava um livre perfeitamente por cima da barreira, bola com bom efeito, direitinho ao canto. Golo certo, sem hipótese para qualquer Schmeichel, quanto mais para o pobre keeper contrário. Até bati palmas, congratulando-me pelo excelente golpe técnico de um rapaz que provavelmente entrega cartas durante o dia e treina à noite quando pode. E depois vi Danilo a marcar um livre. Corpo inclinado para trás, trajectória errada, bola para a bancada. Fiquei de boca aberta, de onde saíram diversos exemplos de vernáculo portuense do bom. E é assim há anos, onde temos marcadores de livres directos que aplicam a fortíssima biqueira da bota à boa maneira de Fernando Couto para fuzilar as barreiras adversárias ou, em dia bom, para fazer a bola roçar a baliza tão perto quanto o relatador da rádio local lhe apetecer gritar. Com jogadores que deambulam perto da área, que descobrem espaços para rapidamente serem levados pela metafórica ceifeira adversária e o árbitro apontar um livre que pode ser a diferença entre um zero-zero e uma vitória difícil…não há e continuará a não haver quem os marque como gente crescida.

Esta é uma das áreas em que não noto melhorias há vários anos. Cito o meu pai, que me massacra sempre com estas palavras que cada vez fazem mais sentido na minha cabeça: “Mas estes gajos não treinam estas merdas?!”. Não, pai. Pelos resultados que mostram, não.

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