Baías e Baronis – Málaga 2 vs 0 FC Porto

Na segunda-feira à tarde fiquei indisposto. Fui a um casamento no sábado e a máquina deve ter ficado abanada ao ponto do almoço de segunda me desengrenar o sistema e me pôr às portas da morte, como um homem normalmente fica quando está doente. Passei a terça-feira a trabalhar de casa, como se tivesse levado uma carga de pancada de quatro Mozers e dois Paulinhos Santos. E o jogo de hoje foi mais um pontapé na virilha a juntar-se ao molho que o meu corpo está a aguentar nos últimos dias. Vi um FC Porto amorfo, incapaz de lidar com um ritmo vários níveis acima do nosso, sem força nem capacidade física e mental para conseguir dar a volta a uma equipa que não nos é superior, numa competição que devia continuar a ser nossa e da qual saímos por culpa própria e sem nos podermos queixar de grande coisa. Jogámos mal, merecemos perder e fiquei com a ideia clara que a ilusão que tinha aquando do jogo da primeira mão, que conseguiríamos aguentar a vantagem mesmo contra as desventuras do jogo fora, não passou mesmo disso, de uma ilusão. Vamos a notas:

(+) Mangala e Otamendi. Não estiveram perfeitos, longe disso. Ninguém esteve perfeito hoje em Málaga. Raios, ninguém esteve *bem* em Málaga hoje à noite. Mas estes dois moços foram dos poucos que me conseguiram dar alguma réstia de esperança que a equipa não tinha caído naquele poço de infortúnio em que se baixam os braços, se agarram os joelhos e se pede a Deus que nos ajude. Tanto um como outro foram lutadores, esforçadíssimos e acima de tudo nunca desistiram, nunca viraram a cara nem os pitões à luta e tentaram de trás para a frente mudar um resultado que era justo pelos noventa minutos mas que, nas suas cabeças, não fazia sentido. Não conseguiram mas ninguém se pode queixar que não tentaram.

(+) Defour, até à expulsão. Tem de haver algum tipo de conspiração divina que faça com que o FC Porto tenha várias vezes uma expulsão absurda, ainda que totalmente merecida. No ano passado foi Fucile com aquela enorme estupidez de tentar segurar a bola com a mão em S.Petersburgo, este ano é este tolo a lixar a vida à equipa. E ainda por cima estava a fazer um jogo bem jeitoso (eu que tinha dito ainda durante a tarde que o belga ia ser titular, em conversa com amigos) na posição que o treinador lhe mandou jogar ou em qualquer uma das posições em que andou a percorrer enquanto esteve em campo. A expulsão é merecida, ainda que o acto que levou ao segundo cartão me tenha parecido fruto de algum desnorte…

(-) A diferença de ritmo. Hoje, como em várias outras oportunidades, senti nas minhas entranhas uma sensação de pequenez que já é habitual e que com o meu sempre latente pessimismo tende a tornar-se crónica. Esta equipa, que me iludiu a pensar que podia ser mais e melhor do que é, não o é. E em grande parte não o é porque não conseguiu lutar contra as adversidades de um árbitro amarelador, uma equipa contrária mais agressiva e um jogo em que pouco corre bem. Na Luz, depois do 0-1 virar 1-1 e do 1-2 se transformar em 2-2, pensei que essa mentalidade estaria longe, mas não está. Reparem bem na diferença de ritmo entre as duas equipas, na quantidade de vezes que Fernando perdeu bolas no meio-campo quando pressionado; nas vezes que Varela e Danilo, que é como quem diz “todo o flanco direito da nossa equipa”, se atiraram para o chão clamando por faltas que não existiram; na irascibilidade de tantos que percebendo que o oponente chega primeiro à bola, optam pela falta em vez de tentar batê-lo em velocidade e em poder de choque. Somos fracos nesse aspecto, muito fracos, inesperadamente fracos. Preferimos a falta à luta, reclamamos quando Toulalan abalroa Lucho mas não pensamos que Fernando tenha a lentidão do argentino. Mas tem. Insurgimo-nos quando Defour é pisado, mas não estranhamos quando Varela domina mal a bola e o adversário lá chega primeiro. Temos uma mentalidade baixa, débil, pobre, que é arrumada para o lado nestes jogos como já foi em Londres, em Liverpool, em Manchester, em Milão, em tantos outros estádios por essa Europa fora onde fomos jogar com alguma vantagem e a perdemos. Olhamos para os outros como sendo sempre mais fortes que nós, e nunca assumimos que somos ou podemos ser mais fortes que eles, só porque eles jogam todas as semanas contra equipas que lhes dão luta e nós temos de nos desamanhar contra Moreirenses e Nacionais. Somos fracos, amigos, e a grande maioria dos jogos europeus que perdemos a isso se deve. E sabem o que é mais frustrante? É perceber que lá no fundo…bem lá no fundo…somos bons. E custa-me que os nossos jogadores não joguem com essa altivez, com essa arrogância tão positiva que ganha jogos. Porque quando o fez…foi sempre longe. Mas a pensar assim…cai nos oitavos contra o Málaga e contra qualquer outro Málaga que apanhe.

(-) Sub-rendimento de peças-chave. Moutinho fez uma primeira parte sofrível até ser substituído com dores. Lucho raramente conseguia meter o pé nos lances divididos. James perdeu mais tempo a rodar sobre si mesmo que a prosseguir com o jogo para a frente. Fernando fez passes consecutivamente maus, parecendo que tinha perdido em meia-dúzia de minutos a noção táctica que ganhou em cinco anos. Danilo não acerta um passe em condições e perdi a conta à quantidade de vezes que Joaquín apareceu nas costas de Alex Sandro. Não há equipa que aguente e se Jackson se pode queixar da ridícula quantidade de bolas longas que foi obrigado a lutar contra jogadores mais fortes e talhados para aquele tipo de lances, também Vitor Pereira se pode queixar do facto de nenhuma equipa aguentar tantos passes falhados e tanta inconsequência ofensiva dos mesmos jogadores que sufocaram este mesmo Málaga na primeira mão. Ponham Iniesta, Xavi, Busquets, Dani Alves e Messi em baixo de forma e atirem-nos para o campo contra uma equipa mais rápida e mais agressiva. Acontece-lhes o mesmo e não há maneira de dar a volta ao assunto.


Estou triste, mas não desisto. Abatido, mas nunca derrotado. Ou melhor, derrotado, mas nunca vencido. Estes rapazes têm muito mais para dar do que isto, apesar da excessiva dependência de algumas peças-chave que, quando em dias maus como o de hoje não surgem em patamares condizentes com o seu talento, fazem com que a equipa não consiga funcionar em pleno e se desmorone sem capacidade para se transformar na equipa de guerreiros que todos gostávamos de ter. Não caímos de pé como as putas das árvores. Caímos redondos no chão, de cara na relva, sem um ramo ou uma mão amiga para nos ajudar a levantar. Não tem mal, amigos como dantes. Venha o campeonato e voltemos às vitórias já na Madeira, para continuar com o principal objectivo, resignados a uma temporada em que devíamos ter feito mais na Europa mas que, por culpa própria, não conseguimos. Mais uma vez.

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Baías e Baronis – FC Porto 2 vs 0 Estoril

Deve haver uma expressão melhor que a habitual para este tipo de jogos. “Serviços mínimos”, francamente, não consegue transmitir em pleno o tipo de partida que assisti nesta noite no Dragão. “Consultoria em secagem de tinta”, talvez. “Sleep-cardio”, também pode ser. Foi um bocejo gigantesco, intercalado por algumas boas conversas entre portistas que se dão bem e só se encontram ali mesmo no estádio, no meio do público que estava tão interessado no jogo como um touro que vê bandarilhas a dirigirem-se para o lombo. O jogo entrou numa espécie de estado de coma pelos quinze minutos, altura do penalty bem marcado (sem panenkadas) por Jackson, e raramente despertou desse estado vegetativo, com alguns espasmos lá pelo meio a animar o povo. A vitória foi tão fácil que terminámos com um meio-campo composto por Fernando, Castro e Izmaylov. Sim, leram bem. Vamos a notas:

(+) Lucho. Enquanto esteve em campo foi dos melhores jogadores da equipa pela simples razão de jogar com a cabeça levantada enquanto que a maioria dos colegas parecia procurar lentes de contacto perdidas na relva do Dragão (que pareceu melhorzinha, ainda bem!). Melhor no passe que nos últimos jogos, recuou bastante para construir o jogo a partir de zonas mais atrasadas, mas conseguiu sempre encontrar as melhores linhas para os quase-imóveis-colegas. Saiu para descansar porque vamos precisar de um Lucho em condições na quarta-feira.

(+) Maicon. Já antes do jogo tinha pensado que era um jogo importante para o rapaz, especialmente depois da última exibição no Dragão lhe ter valido uma data de assobiadelas dos atrasados que insistem nessa parvoíce. Uma pequena redenção, nada de mais, que a malta quer é que se jogue em condições e que jogadores como Maicon não tentem emular Madjers ou Futres. E foi exactamente isso que fez, jogou simples, prático, a aliviar para fora, para longe, para cima, sempre que foi necessário. O golo fez com que voltasse a receber aplausos, totalmente merecidos.

(+) Defour e Atsu, na primeira parte. Defour tem o que poucos conseguem ter em todo o plantel do FC Porto: inteligência no controlo da bola. Atsu também tem algo que poucos conseguem ter no plantel do FC Porto: velocidade. E ambos puseram estas duas características em prática, com o belga a rodar bem a bola de uma forma horizontal no meio-campo, um pouco à semelhança de um Meireles dos bons tempos, ao passo que o ganês surgiu várias vezes pelo flanco esquerdo do ataque, sem o apoio de Alex Sandro (que jogo de trampa, homem!) mas a conseguir safar-se muito bem da marcação rija dos defesas do Estoril. É importante que estas “segundas escolhas” (que acabam por ser “primeiras” uma grande parte das vezes) continuem a jogar e a dar garantias que temos alternativas para as lesões e abaixamentos de forma dos titulares. Baixaram de produção na segunda parte, mas gostei dos primeiros quarenta e cinco minutos.

(-) Pronto, joguem devagar. Mas não tanto! Se Sir Bobby tivesse estado no Dragão hoje à noite, decerto teria chegado ao final do jogo e perguntado: “I don’t perceber, isto foi um match?”, e mandava pôr pinos no relvado para começar o treino. É verdade que a equipa até entrou bem, com força e vontade de resolver o jogo, o que logo aí me faz questionar o porquê de não o fazer em todos os jogos…mas isso são outros meios-milhares. Mas a partir do momento em que o segundo golo entrou na baliza de Vagner…a equipa travou. Era expectável para qualquer portista que siga o calendário e a evolução da equipa durante a época e ninguém estranhou que o nível baixasse. Mas…e há sempre um mas…foi um exagero. Mesmo. Alex Sandro começava a correr sozinho sem soltar a bola e perdia-a consistentemente; Fernando “picava” a bola por cima dos oponentes para depois a ir buscar a seguir, nem sempre com sucesso; James ficava à espera que a bola lhe chegasse aos pés, não se mexendo e esperando que o adversário fizesse o mesmo, o que raramente aconteceu; Otamendi falhava intercepções, Danilo estava miserável no passe e inexistente no ataque. E a vontade de jogar só apareceu de novo com Castro, que naquele estilo nervoso que contagia os adeptos com mais nervosismo ainda foi dos poucos que abanou com a malta. Nem Izmaylov nem Varela conseguiram trazer dinâmica à equipa, que atirava a bola para Jackson, então perto do círculo central, para que a dominasse e recuasse para atrasar a bola a um qualquer colega dez metros ao lado. Não houve brio de mostrar aos adeptos algo que fizesse da noite mais interessante do que a simples, fria e estática certeza que a vitória era nossa, sem brilho nem grande alegria. Será daqueles jogos, como tantos outros, que nem no rodapé da história ficará, mas já vi dezenas de jogos que antecipam importantes confrontos europeus…e este entra sem dúvida para a lista dos piores.

(-) James. Está mal e não vejo evolução nos últimos jogos. Sim, veio de lesão, mas já reapareceu há alguns jogos e continuo a não ver nem um brilhozinho do James da primeira volta. Lento demais, desconcentrado, com pouca acuidade no passe e num estado de quase permanente descompressão física e táctica. Precisamos do James que rasgou defesas com passes perfeitos, que driblava fácil e passava simples. Precisamos desse James, caso contrário o modelo de jogo da hibridização estrutural ataque/defesa deixa de fazer sentido nos moldes actuais.

(-) A imagem de um campeonato desiquilibrado. O FC Porto não jogou sequer a passo, deixou-se estar sem cansar, sem arriscar lesões, sem preocupações excessivas com pressão e posse de bola. O Estoril começou a pressionar quase em todo o campo e manteve essa pressão o jogo todo. Quantas situações de verdadeiro perigo criou para Helton? Quantas? Lembro-me de um remate torto, dois cruzamentos tensos mas sem destinatário seleccionado…e nada mais. Noventa e quatro minutos de passeio para o FC Porto contra o sétimo classificado da Liga. Percebem agora porque é que fico tão chateado quando coloco sequer a hipótese de perder pontos para estes fulanos?!


Já vi tantos jogos destes que nem me preocupo. Entedia-me um bocado mas sinceramente já nem me chateio com isto. Ainda se o Estoril mostrasse um mínimo de argumentos ofensivos, ainda me podia preocupar, mas nem chegou para tanto. O que interessava era a vitória e essa, com os três pontos que tanto contam, ficou deste lado. E agora, meus caros…tudo a preparar Málaga, porque esses rapazes jogam bem mais que estes…

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Baías e Baronis – Sporting 0 vs 0 FC Porto

Hoje de manhã, em futebolada com amigos, levei uma bolada no focinho que me pôs a ver estrelas durante uns segundos e me deixou o lábio superior inchado como se tivesse andado à pancada. Ainda por cima, a bola sobrou para outro adversário e entrou na minha baliza. Levantei-me e continuei a jogar. Passados dez ou vinte minutos, dei um pontapé no poste, sem querer. Uma unha partiu e a pancada fez com que enchesse a ponta da meia de sangue. Levantei-me e continuei a jogar. Antes que digam: “este gajo é mesmo tosco!”, esperem pelo corolário. Hoje à noite, em Alvalade, não houve nenhum lance que se assemelhasse a estes dois eventos matinais. Mas quase nenhum dos nossos jogadores mostrou este tipo de vontade que até eu mostrei numa amigável futebolada com amigos para, depois de aturdido com um ou outro lance que não tivesse corrido bem, se conseguir levantar e perseguir com garra o que estava ali ao seu alcance. Só houve nervosismo, incapacidade de lidar com contrariedades tácticas, incapacidade de ultrapassar um adversário fraquinho mas que correu mais que nós. Metaforicamente, levamos petardos nos dentes, demos chutos em postes. E não nos levantamos para continuar a jogar, mantivemos o jogo passivo, lento, sem rasgo, sem chama. E perdemos dois pontos, sem necessidade. Vamos a notas:

(+) Otamendi Que me lembre teve uma falha no jogo todo, que podia ter dado um golo ao adversário: o fora-de-jogo não existente a Wolfswinkel que o holandês aproveitou para rematar e Helton para defender, e onde o argentino subiu tarde, caindo na desmarcação do Ricky. Para lá disso, um jogo de intercepções consecutivas, cortes perfeitos, bola levada pelo pé até zonas que não lhe são familiares mas que Nico fez com que se transformassem em áreas onde parecia à vontade. Mantenho que é o melhor defesa que temos (“defesa”, como em “um dos gajos que ficam lá atrás, ao contrário dos defesas/médios-ala que povoam as nossas laterais), para lá do brilhantismo de Mangala e da força e técnica de Maicon, e insisto nesta tecla: como é que o Rojo é chamado para a selecção argentina e Otamendi not so much? Comigo era titular em todos os jogos.

(+) Fernando. Jogou muitas vezes em zonas avançadas, mais do que é normal. Com Defour excessivamente recuado, a tentar sem sucesso agir como Moutinho (há muitos que o consigam? duvido muito.), Fernando foi o que mais tentou e dos poucos da linha do meio-campo para a frente que mostrou que queria mesmo ganhar o jogo com a força do campeão que é e que não quer deixar de ser. Foi lutador, sempre lutador, contra os caceteiros que apanhou pela frente, nunca perdendo o tino a não ser com algumas decisões questionáveis de Paulo Baptista. Não chegou.

(+) Jackson, mesmo sem marcar. É um excelente ponta-de-lança e hoje foi o mais perigoso dos jogadores do FC Porto em Alvalade. Mas não consegue fazer tudo sozinho e está a começar a receber bolas em demasia a partir do meio-campo e até da defesa, que começam a ver nele uma espécie de messias em que todos depositam a confiança suficiente para livrar a equipa de situações mais delicadas. Nem sempre consegue e hoje tentou, sempre com inteligência e espírito de equipa. Resultado? Vários remates ao lado, com constante pressão dos defesas do Sporting, sem apoio dos colegas. Não era o dia dele, mas fez para que o fosse.

(-) Passaram onze dias desde o jogo contra o Málaga… e é assim que estamos. Uma equipa que tem tanto de genial como de permissiva, tecnicamente inapta e tacticamente incapaz de levar o jogo para cima do adversário durante um período de tempo que permita a criação de lances que levem de facto perigo à baliza contrária. Patrício teve mais trabalho pelo ar a tentar roubar a bola da cornadura de Jackson do que pela relva, e o facto de termos alguns jogadores em baixo de forma (Varela, Lucho, James, Danilo…) faz com que a boa forma de outros (Fernando, Alex Sandro, Jackson…) não chegue para compensar as falhas dos primeiros. Falta força, falta tanta força, falta choque, impacto, agressividade, falta jogar com um objectivo claro. Falta alma, falta paciência, falta pachorra para aturar a falta de paciência. Juntemos a este caldo a ausência de Moutinho e transforma-se o FC Porto numa equipa banal, incapaz de manter um ritmo de jogo consistente com o que já vimos este ano contra grandes equipas, particularmente na Europa ou na Luz. É um FC Porto de duas caras, Hyde para os amigos e Jekyll para os inimigos, ou ao contrário, porque nunca sei qual é o bom e o mau. Nem eu nem ninguém, porque no início de cada jogo nunca se sabe qual é o FC Porto que vai aparecer. Se alguma vez alguém tentou diagnosticar bipolaridade a uma equipa de futebol, não podia começar por um sítio melhor que pelo FC Porto de Vitor Pereira.

(-) Os piscineiros do Sporting. Uma curta nota porque não quero deixar passar em claro uma das coisas que mais me enervou hoje à noite, para lá da incredulidade de ter visto Rinaudo acabar sem amarelo e Miguel Lopes, que jogou de raiva e a bater em tudo que viu, a levar um amarelo apenas aos 89 minutos. O que mais me chateou no adversário foi a distinta lata da maioria dos jogadores do Sporting de tentarem sacar tudo que era falta após o mínimo dos contactos os fazer voar para o chão como putos com um fato de Super-Homem. Labyad, Capel, Carrillo mas principalmente Wolfswinkel, que já devia perceber que se chega a Inglaterra para fazer este tipo de merdas, vai ser corrido com um gesto do árbitro mais depressa do que conseguir dizer: “Ref, it’s a foul!”. Ah, só para perceberem o quão lixado devemos todos estar: perdemos dois pontos contra este bando de freiras desfloradas.


Nada está perdido e vamos lá deixar-nos de miserabilismos e toalhas ao chão e outros clichés do género. Mas preocupa-me que tenha sido um mau jogo que se seguiu a outro mau jogo, o que me deixa sem convicção para perceber se vamos ou não conseguir a recta final que precisamos. Se o Benfica vencer em Aveiro, continuamos a depender só de nós para sermos campeões. Mas custou perder dois pontos contra uma equipa que perdeu várias vezes os pontos todos contra equipas muito mas muito mais fracas. E não aconteceu por mérito deles, ou pelo menos não exclusivamente por isso. Muita da culpa do empate é nossa, e deixa-me triste. Mais uma noite triste.

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Dez minutos

“A equipa está de parabéns, está a jogar um futebol que, para além de bonito, tem outra coisa que gosto: raramente concede uma oportunidade de golo aos adversários. Não gosto dos jogos de 5-4 ou 4-3, porque é sinal que estivemos desorganizados do ponto de vista defensivo. Gosto de jogos a dominar e a impor o nosso jogo.”

Vitor Pereira, depois do jogo em Guimarães, teve estas declarações que não me chocaram. Afinal a consistência defensiva tem sido uma das imagens de marca da temporada 2012/2013 do FC Porto, com nove golos sofridos em dezanove jogos na Liga, quatro em sete na Champions. E não contesto que é uma fixação do nosso treinador, que até tem vindo a rodar o eixo defensivo (com Danilo e Alex Sandro firmes nas laterais), com os quatro centrais que actualmente fazem parte do plantel a terem tempo de jogo, obviamente não-equitativo. Mas neste último jogo contra o Málaga, houve ali uns dez minutos que decorreram depois dos primeiros oitenta e que me deixaram nervoso. A equipa abdicou de atacar e manteve-se com a posse de bola bastante mais recuada no seu meio-campo do que tinha feito durante o resto do jogo. Era uma equipa satisfeita com o resultado, que se limitou a trocar o esférico em passes laterais, atrasando para Helton várias vezes, com pouca verticalidade e alguma aparente dificuldade ou falta de ousadia em avançar um pouco mais no terreno à procura do segundo golo, nessa altura mais que merecido.

Hesito em categorizar estes últimos dez minutos. A parte reptiliana do meu cérebro puxa-me para o pessimismo, como de costume. Porque raio é que não rompemos pelo desgastado meio-campo adversário, sem a agressividade do Iturra nem a força do Baptista, para tentar encostar mais uma bola nas redes do argentino?! Tínhamos Atsu para rasgar pela linha, James para pegar no jogo, Moutinho ainda com pernas e Jackson cheio de vontade de rematar! Não teria valido a pena mais um esforço, mais umas corridas, mais uns metros ganhos com o objectivo tão claro, tão límpido, tão útil de poder ganhar uma almofada de conforto para a seguinda mão? Viro-me para o sector racional, que me dá uma cachaçada e me diz que não valia a pena. A equipa estava confiante, intensamente confiante no seu talento e na sua capacidade de gestão de uma vantagem curta mas importante, mas acima de tudo estava a tentar testar o Málaga, para ver se conseguiam um pequenino lampejo de futebol ofensivo depois de soltos das amarras do meio-campo portista. E depois de perderem a bola, como inevitavelmente perderiam, lá estávamos nós para a recuperar e proceder a pôr os outros a correr atrás dela, para gerir, para descansar com bola, tapando os espaços mas evitando riscos desnecessários, porque um-zero não é óptimo mas um-um é mau.

Lembro-me daquelas declarações de Vitor Pereira, e percebi o que se fez. Percebi que a atitude é muito mas não é tudo, que há alturas para tudo e que nem sempre uma grande equipa consegue vencer todos os jogos por grandes margens. Às vezes, as pequenas margens também chegam, pelo menos enquanto a procissão vai a meio. Mas não consigo evitar que os pensamentos negativos me invadam a alma e me ponham a pensar: “E se os gajos se lembram de nos marcar um golinho nos primeiros dez minutos da segunda mão? E depois? Não teria sido muito mais porreiro estarmos com mais um de vantagem?”.

Daqui a umas semanas, no jogo do La Rosaleda, tiro as dúvidas.

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Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 0 Málaga

foto retirada de MaisFutebol

É uma vitória. É uma boa vitória. É uma magra vitória. É uma vitória. Foi um jogo tenso, como tantos outros que já vi em confrontos europeus, com o FC Porto sempre a controlar o jogo, ofensiva e defensivamente, frente a um Málaga que optou por um jogo mais recuado para que pudesse aguentar um resultado positivo e na segunda mão mudar um pouco a atitude. E quase que o conseguia, não fosse Moutinho, mais uma vez o melhor em campo, a matar (mais) um trabalho estupendo de Alex Sandro, com raça, querer, luta, empenho. Foi a imagem mais digna de uma equipa que lutou por um resultado melhor mas que se pode queixar de um Málaga muito seguro na defesa e de muita ineficácia na frente da baliza. Jogos de Champions são outra coisa, não haja dúvida. Vamos a notas:

(+) Moutinho. Já começa a ser complicado falar de ti sem que me comece a babar e a agradecer a Deus e ao Sporting por te ter “despachado” para o nosso seio. É um prazer ver-te a jogar, João, palavra que é, porque és tudo que eu sempre gostei de ver num jogador moderno de futebol. Porque sabes exactamente quando rodar e quando prender a bola. Porque esperas mesmo até ao segundo certo para veres o colega a passar por ti e sabes que é a ele que vais entregar o jogo. Porque comandas, de trás para a frente, sem arrogâncias nem tiques de vedeta. Porque tentas sempre jogar pelo melhor caminho, pelas estradas mais limpas e mais seguras. Porque dás estrutura ao meio-campo e organizas o jogo como poucos vi a fazer. Por isso tudo, obrigado, rapaz. Quando via o Jardel, pensei que nunca mais ia aparecer outro no meu clube até que chegou o Radamel. E o mesmo acontece contigo, depois do Deco.

(+) Alex Sandro. A meio da segunda parte dizia-me o Rui, um dos meus colegas de bancada desde 2004: “Este moço custou metade do Danilo e é o dobro do jogador!”. Não vai receber qualquer contestação da minha parte. É um rapaz curioso, este Alex. Parece magrinho mas usa muito bem o corpo e aguenta o choque como um Jorge Costa. Tem excelente noção de arranque, bom salto, brilhante técnica individual e não cruza mal. Mas é quando sobe pelo flanco em apoio, recebendo a bola no espaço vinda de Moutinho ou de Marat, quando aparece nas costas dos defesas, dos médios, dos alas adversários, é aí que Alex brilha ainda mais. Já conquistou os adeptos e cada vez estou mais certo que será o futuro titular do Brasil. E a continuar assim, vamos precisar de outro defesa-esquerdo para o ano que vem…

(+) Fernando e o resto dos pressionadores. A pressão que temos de exercer é alta e só pode ser alta, para roubar espaço ao adversário e impedir que saiam com a bola controlada. Mas a equipa do FC Porto hoje foi excelente na recuperação da bola no meio-campo contrário, com Moutinho, Fernando, Lucho, até Jackson e Marat, todos eles a esticarem a perna, a forçarem o erro adversário, a sacar um turnover quando o oponente menos esperava. Fomos rápidos, felinos, inteligentes, lutadores, como devíamos sempre ser mas nem sempre precisamos de fazer. Fernando destacou-se acima dos outros pela forma como conseguiu livrar-se muitas vezes de uma pressão alta forte do adversário, rompendo pelo centro quando era preciso e enviando a bola para o colega mais bem colocado. Muito bem, atrás e à frente.

(+) O público. Quarenta e tal mil vozes no Dragão, incluindo aí umas três mil andaluzas. E quão diferente é um espectáculo quando o adversário provoca, puxa, incita à rivalidade saudável como os Malaguenhos (com M grande) fizeram hoje no Dragão, e levaram resposta à altura (com alguma estupidez brejeira e ridiculamente nacionalista que perdoo porque, francamente, a maioria não sabe outra conversa que não aquela) do resto da malta, que sentiu sempre que a equipa tinha a ganhar com a nossa voz, com o nosso cantar, com a goela a guinchar como loucos (ou turcos, ou gregos se quiserem) no apoio das nossas cores. O futebol devia ser sempre assim.

(-) Ineficácia perto e dentro da área Mas nem tudo são rosas sem espinhos. Continuamos a falhar em demasia à entrada da área, porque os passes saem curtos quando devem ser longos e versa-vice. Há muito nervosismo naquela zona, demasiada ansiedade pelo remate que raramente sai direito, poucas opções de velocidade em espaços curtos e ainda menos capacidade de colocar a bola na perfeição para Jackson ou qualquer outro ponta-de-lança poder empurrar para a baliza. E estes problemas agravam-se quando se encontra uma defesa como a do Málaga, com um Demichelis quase perfeito, um Antunes certinho e prático e um Sergio Sanchez que é melhor do que parece (não é rápido mas tem um timing de corte impecável). Creio que é o principal ponto a melhorar na nossa equipa, e nota-se imenso a diferença para outros grandes clubes em jogos deste nível. Não se pode criar tanto jogo para depois falhar tantos passes sem sequer conseguir tentar produzir um remate ou um lance claro de golo. Em Málaga, se continuarmos assim, vamos sofrer e bem.


Há uma diferença muito grande entre jogar contra uma equipa defensiva portuguesa e outra “europeia”. As nossas, as dezenas de -enses que por cá gravitam e sobrevivem época após época na Liga, jogam em casulo, uma espécie de igloo recuado e emparedado em trinta metros de espaço. Lá fora, como vimos hoje, há equipas que também são defensivas, que usam o ataque de forma esporádica, rápida, sem gosto pela bola mas com objectividade maior que um arqueiro com a seta apontada ao alvo. Só que o fazem de uma maneira ampla, dinâmica, ao campo todo, rijos mas bem posicionados, técnicamente hábeis mas com sentido prático elevado. E defendem até onde podem, mas bem, esperando que o adversário não consiga furar a barreira. E hoje, quase o conseguiram. Venha a segunda mão. Estou ansioso.

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