Ouve lá ó Mister – Dínamo Kiev


Amigo Vítor,

Hoje não sou eu quem te falo. Opto por dar a palavra à malta que no ano passado jogou contra nós de laranja e preto e que vive em Donetsk, bem mais perto do nosso adversário de hoje que eu. Esses moços, que entrevistei aqui para o cubículo há treze meses, lembraram-se de mim e enviaram-me alguns pedidos bem endereçados para desejar boa sorte à nossa equipa no confronto contra os grandes rivais deles, recolhidos do site dos gajos.

Tudo que eles possam dizer é melhor do que as minhas palavras porque do Dínamo conheço pouco, admito. Kranjcar, Shovkovsky, Milevsky, Yarmolenko e Miguel Veloso. Pouco mais. Por isso ficam os votos (*) de ucranianos anti-Kiev que compuseram este excelente cartaz que represento aqui em baixo e aos quais me junto com menos antagonismo mas o mesmo sentimento. É para ganhar, Vitor!

(*)

  • Vamos ficar desiludidos com uma vitória de 2-0. Três ou mais golos devem entrar para a baliza do Dínamo. Força Porto! O Dínamo, como Cartago, deve ser destruída. (Max)
  • Uma vitória fácil. Deixem que o jogo seja decidido de uma vez com o apoio dos vossos devotos adeptos! (Valentin Burinchenko)
  • O Dínamo perdeu em Donetsk, Poltava, Kiev e Paris, por isso vamos deixar que o Porto os atire para o fundo do mar! (Dill Pomidorych)
  • Uma vitória portuguesa, 6-0 (vovan79)
  • Boa sorte, Porto, que ganhem com uma goleada!  (KieV1965 )
  • Desfaçam-nos! (Rerer)

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá ó Mister – Santa Eulália


Amigo Vítor,

We’re back, baby! We’re finally back! Nem a fugaz tentativa dos nossos media ao empolarem o assunto da Selecção a níveis estratosféricos conseguiu motivar-me a desligar as luzes e sair daquele que é sem dúvida o grande foco da atenção de qualquer portista de sangue quente: o seu, meu, nosso FC Porto. E hoje, Vitor, no dia do nosso regresso, em que as camisolas azuis-e-brancas vão mais uma vez aparecer em público duas semanas depois da última vez, não espero menos que uma vitória. É verdade que os rapazes até podem ser simpáticos, têm nome católico e ninguém os censura por nos quererem encostar contra uma parede e fazer-nos o que muitos escoteiros (ou neste caso talvez escUteiros) fizeram no Oregon, mas não daria muita margem aos rapazes. Ganhar é fundamental.

Quanto à equipa, não sei que te diga. Ou melhor, até sei. Não discordo da convocatória e até acho que podias dar hipótese a vários para serem titulares, só te pedia que não inventasses nas posições. Tens o Quiñónez para a esquerda, não ponhas lá o Miguel Lopes nem o Mangala. O Kelvin está pronto para jogar? Não o encostes à ala, põe-no em vez do Lucho para não cansares o capitão para quarta-feira. O Castro está disponível? Enfia-o em vez do Moutinho e não o prendas atrás a “seis”. E de uma vez por todas diz ao Kleber para ver se consegue tocar mais de três vezes na bola durante um jogo inteiro, fazes favor. Ah, e livra-te de pôres o Sebá em campo antes do Iturbe para evitar que metade dos adeptos te caiam em cima. Acima de tudo tenta convencer os rapazes que do outro lado está uma equipa que pode não ter o mesmo foco de mediatismo que a nossa, que os jogadores se calhar vão prós copos antes dos jogos (e os nossos não…certo?) e que as condições de treino são um bocadinho inferiores às que os teus moços têm. Mas ali em campo são onze contra onze e já vi muita borrada a acontecer por faltas de empenho. E tu próprio já viste isso este ano, pois já?

Vá lá. Ganha o jogo e mostra ao povo que não é só em Inglaterra ou na Alemanha que se sabe jogar futebol às 14h30 da tarde. Em Portugal também sabemos. E quem dera que mais jogos houvesse a estas horas, Vitor…

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá ó Mister – Sporting


Amigo Vítor,

Um clássico é um clássico e é um clássico. Não importa quão distantes as equipas podem estar na tabela, a nacionalidade dos defesas centrais ou a marca dos equipamentos que usam na pele. O que interessa mesmo é que hoje à noite, pelas 20h45, hora de Portugal e dos Algarves, vão estar onze contra onze no relvado do Dragão prontos a arrancar mais um eterno confronto entre duas das melhores equipas do país.

E é destes jogos que a malta gosta, Vitor, para lá dos da Champions como na passada quarta-feira. É por causa destes jogos que pais deixam as famílias em casa, miúdos tentam arranjar bilhetes à pressa, idosos saem do conforto do lar para se dirigirem ao estádio ou ao café para verem o jogo que todos querem ver. Para arrancarem uma vitória contra aqueles que todos os anos lutam para que não consigam ser melhores que nós. E é essa atitude que quero ver em campo hoje à noite. Não quero um FC Porto lento e despreocupado como vi em Vila do Conde. Não quero um FC Porto ausente e triste como vi em Barcelos. Quero um FC Porto forte como o que jogou no Dragão contra o Paris Saint-Germain, contra o Beira-Mar, contra o Guimarães ou em Zagreb. Quero que faças os jogadores esquecer que do outro lado está uma equipa arrastada para a lama pelos últimos resultados, uma equipa desmoralizada porque teve de comprar almofadas novas em forma de donut porque uns quaisquer parolos húngaros lhes enfiaram um dildo king-size pelo esfíncter. Quero que digas aos nossos gajos: “Ouçam e ouçam bem. Não há espaço para merdices. Não vos quero a olhar para o Capel e pensar que não vale um charuto porque só joga com o pé esquerdo. Recuso-me a aceitar que pensem que o Vulfogrinkel é fraco porque não marca tantos cá como fazia na Holanda, ou que o Rinaudo é uma versão argentina do Doriva com um nome mais engraçado e um remate menos pujante. Nem que se lembrem que o Patrício ainda não percebeu a regra do atraso ao guarda-redes. Quero que entrem em campo, olhem para os verdes-e-brancos e imaginem que ali está uma mulher despeitada, um leão violentado por quarenta corças à procura de vingança. Olhem bem para os olhos deles, à procura de mostrar que são bons. E vocês são melhores que eles. E vocês vão mostrar porque é que são melhores que eles. E vão ganhar. Ganhar. Só isso. Ganhar.”

Vamos ganhar, Vitor. Vamos empurrá-los mais para baixo e mostrar quem é que manda.

Sou quem sabes,
Jorge

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A incerteza das substituições

No jogo contra o Paris Saint-Germain houve dois pormenores que me ficaram guardados na memória. Aos 73 minutos, Vitor Pereira tira Varela e faz entrar Atsu. Nada de estranho, de extraordinário ou questionável. As pernas do português estavam a ceder depois de muita correria e de uma intensa pressão sobre ambos os flancos onde alinhou, ajudando a carregar sobre o adversário e a tapar o flanco para as eventuais subidas de Alex Sandro ou para proteger contra o eventual overlap dos franceses. O ganês entrou, cheio de garra e vivacidade, desfez várias vezes os rins a Jallet, então o seu adversário directo, arrancou dois remates e vários cruzamentos perigosos e ajudou o FC Porto a empurrar o inimigo para dentro da sua área até que James se lembrou de dar aquele toque na bola que nos deu três pontos e saciou a sede de uma vitória que demorava a chegar. A substituição tinha sido óbvia, esperada e correu muito bem.

Oito minutos depois, ainda com o resultado a zeros, Vitor Pereira manda sair Lucho e entrar Defour. O argentino, esgotado depois de correr por ele e pelo que James não conseguia, ajudando a pressionar o adversário pelo chão e pelo ar, com intercepções valiosas e uma mão-cheia de passes brilhantes, sai de campo para dar lugar a um belga voluntarioso, bom tecnicamente, com uma visão de jogo prática, simples, de posse. Defour entrou…e o meio-campo ressentiu-se. Sofreu porque nada corria bem a Steven, nem um passe calmo ou uma desmarcação tranquila antes ou depois da obra-prima de James. A bola parecia queimar e as corridas saíam sempre para o lado errado, deixando o centro do terreno entregue ao mini-mega-Moutinho ou ao Rochedo de Goiás, Fernando, que já cansados ainda tiveram de cobrir as falhas de Defour, que até vinha de uma série de boas exibições com a nossa camisola. O meu colega do lado gritava: “Se foi para esta merda que o meteste mais valia o Lucho cansado, pá!“, dirigindo-se a Vitor Pereira como o principal responsável pelo mini-terramoto que abalou o nosso meio-campo e ajudou a somar ao sofrimento do resto das bancadas, felizmente por pouco tempo. E, no entanto, a substituição fez todo o sentido e só não terá sido feita mais cedo porque o jogo não estava ainda ganho.

É ingrato seleccionar um jogador para sair quando estão todos a jogar bem. Ainda mais quando a equipa, até aí estável emocional e estruturalmente, pode vir a desagregar-se fruto de uma opção menos acertada do treinador que vê o jogo como nós vemos, mas a uma altitude bem mais baixa. E é difícil compreender o porquê de uma ou outra substituição, por muito que seja uma tradição acontecer sempre por volta dos mesmos minutos com quase sempre os mesmos intervenientes (lembrem-se das trocas de Meireles por Tomás Costa, de Tarik por Mariano ou McCarthy por Jankauskas, entre muitas outras), ser oscilante no efeito que traz a uma equipa.

A cabeça do treinador está sempre no cepo durante um jogo. Mas nunca está mais em xeque como depois de uma substituição que não lhe corre bem, especialmente quando a culpa não é dele, nem dos jogadores. It just is.

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Ouve lá ó Mister – Paris Saint-Germain


Amigo Vítor,

Sabes, pá, não estou feliz. Não estou, que queres? Tenho uma vida porreira, bem-disposta, sorrio por dentro e por fora e a carteira deixa-me razoavelmente satisfeito. Tenho um bocadinho de pança a mais mas nada que me preocupe por aí fora. Mas não estou feliz. Com a idade fui percebendo um bocadinho disto e um bocadinho daquilo, sei o que faço no trabalho e safo-me bem em casa. Até sei cozinhar em condições, vê lá tu. Mas não estou feliz. Falta-me algo. Falta-me ver o meu clube a jogar bem, pá. Espera, não é isso. Falta-me ver o meu clube a jogar bem de uma forma consistente. Sim, é mais isso. Não será propriamente uma declaração do “pursuit of happiness”, mas por agora chega para fazer passar a ideia.

E hoje podias ajudar a fazer de mim um gajo mais feliz. Era só ganhares a esta cambada de gajos sobre-pagos, sobre-valorizados e sobretudo famosos. Gosto muito de ganhar a famosos, sabes, é daquelas coisas que só conseguimos na Europa, este estatuto de “underdogs”, em que todos olham para nós de cima para baixo, como se fôssemos uns pobres troikados que não temos postura nem poder para mandar o Ray Charles trautear o Carmina Burana. É uma vergonha, é o que é. E estes novo-ricos que hoje vão pôr as patas no Dragão são mais um exemplo disso, porque gastaram mais dinheiro que o nosso estado poupou no fecho das maternidades ou lá que raio medida é que tomou para safar 150 milhões de euros do orçamento. E o ideal para acalmar a malta era mesmo dar cabo deles logo à partida. Com cabecinha, com calma, com inteligência. Mas desfazê-los.

Apostaria no Atsu e no James, com o Jackson ao meio. Já reparei que repetiste a convocatória mas se fosse a ti avançava com o Fernando a titular para aguentar bem o meio-campo e rezar que o Lucho esteja em dia bom e o João em condições para fugir aos onze Mangalas que do outro lado vão tentar acertar em tudo que mexe. E se tiveres de pedir a algum para sacrificar um amarelo só para que o Ibrahimovic saia do Dragão com uma perna mais curta, vou olhar para o outro lado e pensar que foi intervenção divina. Ninguém, mas ninguém te levava a mal.

Venham eles. Somos mais fortes. Vamos mostrar isso em campo.

Sou quem sabes,
Jorge

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