Ouve lá, ó Danilo

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Jovem Danilo,

Lembro-me quando cá chegaste e o nome que trazias do Brasil. Lembro-me de te ver a jogar no Mundial sub-20 contra aquela estranhíssima selecção nacional que jogava em 8-0-1 com o Nelson Oliveira a correr como um tolinho lá na frente e sabendo que vinhas para o FC Porto, imaginar o que seria ter-te no plantel. Imaginava-te um novo Guarín (versão 2010/2011), um astro de força e talento no meio-campo, com um remate fulminante e uma capacidade de luta inigualável. Dizias que não gostavas de jogar na lateral, que o teu lugar era no meio com os outros, onde podias estar no centro da acção, onde te deixavam rematar e crescer e sonhar e viver como querias.

Chegaste e pouco tempo depois, pum. A lesão lixou-te os planos, lixou-nos o jogo com o Manchester e deitou por terra o que era ver-te a crescer durante os tempos seguintes. Continuava sem acreditar em ti e a não conseguir ver-te como um lateral de futuro, sempre à espera que te conseguissem enfiar no centro do terreno e olhando com desconfiança para as tuas exibições. Raios, tu próprio afirmavas que não gostavas de ali jogar, porque é que eu haveria de sentir o contrário? Quase que não falei de ti na temporada de estreia mas massacrei-te na segunda época e casquei-te na terceira como fiz com tantos outros, usei-te como exemplo por não perceber o porquê dos teus desânimos, da forma como perdias confiança em cada minúscula pedra que encontravas no teu caminho. E deste-me razão porque cresceste, porque te soubeste superar e, perdoa-me o termo, danilificaste-te de uma forma que só pecou por tardia.

Não sei se sairás pela porta grande. O anúncio da tua venda a meia-dúzia de horas do sempre inútil e ridículo primeiro dia de Abril serve para que não se pense que é uma piada (que isto de vender laterais-direitos ao Real Madrid tem história aqui por estes lados) mas a quantia é boa e se ainda deres lucro já não é mau negócio. Se o é ou não, deixo para quem tem pachorra para os números. Mas tenho a certeza de uma coisa, mais ou menos milhão que entre ao barulho na conversa: o que não é bom negócio é perder-te numa altura em que pareces mesmo direitinho para seres um lateral a sério, quando acreditas no que fazes e acreditas na forma como o fazes. Não sei, como disse, se sairás pela porta grande. Em parte depende de ti e do que fizeres até ao final da temporada, porque ninguém quer voltar a ver o Danilo antigo, o que cá chegou e que andou cabisbaixo durante grande parte da segunda época com Vitor Pereira ao comando. Aquele Danilo que acabou de marcar um golo contra a Académica e sobre o qual disse isto:

Danilo foi o expoente máximo dessa tristeza. No final de um excelente lance de ataque, onde Lucho aproveita a subida do lateral para rasgar a defesa, contrariar o movimento de quatro adversários e coloca a bola direitinha nos pés do brasileiro que só precisa de encostar para marcar, o que faz na perfeição pelo meio das pernas de Ricardo. A celebração deste banquete futebolístico? Um punho levantado, a cabeça caída, os abraços dos colegas, que compreendem o desânimo do companheiro e continuam a festejar sem chama, sem entusiasmo. Se não conseguirmos ser campeões, esta é uma das imagens que me vai ficar na memória.

Mês e meio depois estavas a levar Kelvin em ombros, rapaz! É isto que tem de ser a tua vida, é sempre a olhar para a frente e a acreditar que tens dentro de ti o que é preciso para venceres. Mesmo no Real Madrid, que terá agora um poucochinho mais de apoio da minha parte, só porque te vai ter.

Boa sorte…em Junho. Até lá temos muito trabalho pela frente!

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