Proactividade vs Reactividade

É sempre complicado perder um jogo. E um jogo da Champions, por muito que a competição seja (muito) mais exigente que o nosso campeonato, custa ainda mais. Dói cá dentro, corrói a alma e desanima o corpo, faz-me atravessar sempre um deserto de ideias e uma invulgar incapacidade de olhar para o mundo de uma forma racional que pauta o meu dia-a-dia. É mais doloroso porque me bate a fria percepção que o nosso planeta encolheu para o tamanho de uma uva mirrada, que o nosso destino não passa do provincianismo de ganhar cá dentro, aos rivais de sempre e aos sacos de pancada que compõem a nossa triste Liga. É nestes jogos que o nervosismo bate mais forte, onde o coração pula a cada remate e a emoção está sempre na pontinha da língua que treme qual úvula pendurada de um qualquer palato. Escreve-se a quente, sequioso de vingança e preparado para arremessar lanças em direcção de todos e esperar que o próximo jogo seja sempre melhor, temendo o pior. É esta a vida de um pessimista que gosta de futebol.

Olho para o banco e espero não ver nem um grama (um? uma? nunca sei ao certo, com ou sem acordo) desta ferrugem mental que me rasga a alma e me polui os sentidos. E tenho-me visto lá também, no treinador que tem uma barba bem mais decente que a minha, um corpo mais bem cuidado e uma profissão a que todos que amam o desporto aspiram. Vejo-o a tentar mudar, sem o conseguir. A procurar impôr o seu estilo, as suas ideias, os seus princípios, aplicando-os a um grupo que parece estranhar a mudança e que demora tempo demais a entranhá-la. Vejo proactividade cedo demais e reactividade muito tarde. É este o binómio que assola a mente de tantos adeptos, especialmente nestes jogos grandes. Tira este, põe aquele, troca para ali, desce daqui, abre para o lado, corre para o meio. E enquanto nada parece funcionar a tempo inteiro, vamos passando por pequenos calvários em que olhamos para homens que já vimos fazer melhor e ponderamos se estarão bem, se vivem o mesmo e sentem igual. E tiramos o crédito que tantas vezes lhes foi dado para que a adaptação seja menos rápida e exigimos mais, porque é esse o nosso papel. É essa a nossa missão naquele estádio e em todos os outros estádios que pontualmente se vestem de azul-e-branco. Festejamos com eles, sofremos com eles, vivemos e morremos com eles. E tornamo-nos inconsistentes nas nossas ideias e atitudes (a quantidade de gente que vi no ano passado a insultar Vitor Pereira como se fosse um demónio infernal…estavam na terça-feira a clamar pelo seu regresso…), para só mais tarde parar para pensar.

Foi pior do que esperava. Foi mau. O próximo será melhor.

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A pressão, a sobrepressão e as putas das sinédoques

Vou começar a repensar a minha visão dos jogos pré-Champions. Faço-o no rescaldo de uma vitória que valeu três pontos e uma batelada de dinheiro, apesar do mau futebol que a equipa mostrou em quase todos os momentos do jogo. Sim, ganhámos, mas os sinais de nervosismo e desconcentração generalizada não deixam perspectivas muito positivas.

Quando enfrentamos um adversário em vésperas de jogo grande, doméstico ou internacional, há uma pressão simpática. Ganhar o jogo sem demoras, com calma e futebol aceitável, é essencial para que o próximo encontro possa ser preparado nas calmas, sem chatices e inconvenientes de última hora. Mas a pressão que é colocada nos ombros dos jogadores, os mesmos que vão disputar ambas as partidas, é atirada sem problemas por todos para o próximo desafio, onde todos os adeptos esperam uma exibição convincente que decorra com naturalidade das poupanças físicas e mentais do jogo anterior. E a pressão, crescente, acaba por resultar numa avalanche de tremideira que não poupa ninguém. As mãos suam, as pernas não reagem, os corpos tremem e a caravana acaba por não sair dos blocos de partida como se antecipava. Mas espera-se mais, espera-se que haja mais esforço, mais luta, mais inteligência e acima de tudo mais maturidade. Talvez ainda não estejamos prontos para estas andanças, mas não desisto. Levei com um barrote nas têmporas mas não desisto. Mas penso no jogo que foi e espero que tenha abanado os rapazes e os tenha preparado para novos desafios, mais duros, mais apertados, com mais pressão e menos margem para falhas. Não desisto e ninguém deve desistir. Mas…

…mas chegamos ao local do costume, onde o habitual hiperbólico adepto portista tem um pequeno ataque de nervos quando a equipa joga mal e em vez de olhar para o jogo e analisar o que lá se passou, logo vai apontar armas a tudo que mexe de azulebranco. Eu, como tantos outros, não gostei do jogo de ontem, mas para tanta gente há uma distância de um palito partido entre um mau passe do Josué e o bota-abaixismo da SAD, de todos os treinadores, do plantel, da relva e do calendário.

Já vi tantas alusões a James e a Moutinho que me começa a enjoar. É o mesmo tipo de comparações à ausência de Falcao em 2011/12 ou de Hulk em 2012/13. Uh, mas agora são dois! E vendemo-los por sei lá quantos zilhões de euros. Yoo-fucking-hoo. O que nunca ninguém menciona, para lá do facto de Josué e Licá serem agora a escumalha da Terra que merecem ser transformados em pilares de areia mijada pelo crime de tocarem na bola, é que os mesmos James e Moutinho estiveram presentes na derrocada em S.Petersburgo, no desmoronamento em Manchester ou, e ainda pior, na humilhação em Nicosia, onde Hulk também jogou. E esses jogos também mereceram críticas a tudo e todos, para que a nação portista se erguesse nos pilares dos detestadores crónicos, que só estão bem a dizer mal.

Construir, corrigir, acertar as agulhas, não. Destruir e desmoralizar, já parece bem. Há dias em que é difícil ser portista, palavra.

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Onze onzes de onze portistas

Com a sondagem que o FC Porto lançou para os adeptos elegerem o melhor onze de sempre do FC Porto (no site oficial, no Facebook oficial ou via email para [email protected]), decidi recolher alguns onzes ideais de vários portistas, entre bloggers, ex-bloggers…e Pinto da Costa.

Os nomes que estão com fundo azul são os que reuniram maior consenso e que estarão então em bom caminho para figurarem na lista do melhor onze de sempre. A melhor equipa do FC Porto seria então:

Vítor Baía, João Pinto, Aloísio, Ricardo Carvalho, Branco, André, Deco, Lucho González, Madjer, Futre, Gomes

Reparem que ninguém se limitou aos nomes propostos pelo clube e usaram os próprios critérios para selecção dos jogadores, atitude que aprovo a 100%. Eu próprio, aqui há uns anos, fiz o mesmo num exercício curioso que agora revejo. Olho para o onze que escolhi e percebo que devia estar semi-alcoolizado na altura. É injusto escolher apenas onze jogadores e há tantas formas diferentes de abordar uma questão deste género (Como é que se diferencia entre Rodolfo e André ou Paulinho Santos? E Jardel, Gomes e Falcao? Quantos é que ainda viram o Virgílio, o Hernâni ou o Barrigana a jogar? E temos de escolher só onze?!) que seguindo o mesmo critério (em 2013, pelo menos), equilibrar o talento bem como o contributo para a história do clube torna-se quase impossível.

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Os jogos de apresentação aos sócios e os sócios que se exaltam nos jogos de apresentação

Resultados dos últimos dez jogos de apresentação do FC Porto aos adeptos, todos eles realizados no Dragão:

 

Nalguns jogos deveria haver uma estrelinha ao lado, como no caso de 2010/2011, quando jogámos também contra o Ajax ainda antes do jogo contra a Samp, numa exibição bem mais fraca.

Conseguem tirar alguma métrica de análise deste quadro? Há uma coisa que parece mais ou menos evidente: raramente há resultados grandiosos contra equipas superiores a nós, pelo menos no papel. Houve sete vitórias, dois empates e uma derrota (provocada por maus visitantes, incapazes de perceber que a etiqueta devia ser superior aos treinos…escoceses, pá, manias de William Wallace…). Dessas sete vitórias, três foram por margens de três golos e quatro por apenas um, incluindo a deste ano. E reparem nas minhas memórias desses jogos, retiradas das crónicas escritas aqui no Porta 19. Não há emoção, festa, grandes espectáculos de futebol, dinâmicas subidas de flanco e combinações com seis, sete, vinte passes consecutivos até que o médio defensivo marque de calcanhar dentro da pequena área, todo de costas e no ar. Não há nada disso. Os jogos de apresentação são, desde há muito tempo, uma seca.

As equipas adversárias são todas estrangeiras, quase todas também em pré-época, a tentar ganhar índices físicos aceitáveis para uma época que é sempre mais longa do que se pensa, a procurar a melhor forma de encaixar com novos colegas e muitas vezes novos treinadores e novos métodos. Mudam treinadores, tácticas, cadeiras, preparadores físicos e defesas-esquerdos. Os jogos mantém-se aborrecidos e a única coisa que devia preocupar os treinadores e a direcção são as possíveis lesões ou castigos que possam surgir destas partidas, bem como a inadaptação de um ou outro jogador às ideias do treinador e à postura da equipa e de um jogador do FC Porto nessa mesma equipa.

Não queiram fazer omeletas sem que a galinha acabe de parir o ovo. Tenham calma, não se exaltem, critiquem o que devem criticar, mas façam-no jogo-a-jogo, não exacerbando a parvoíce como já vi em muito blog durante todo o dia de ontem, porque estamos tramados e porque não houve evolução desde o ano passado e a merda é a mesma e as comissões e os empresários e falta um jogador para a frente que faça a diferença e yadda yadda yadda.

A procissão ainda nem sequer está no…raios, o padre ainda está no trânsito, amigos!

PS: já agora, se quiserem consultar as crónicas:

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Adicionando ao arquivo…

…fica mais uma colecção de livros sobre o FC Porto, saídos no longínquo ano de 2004, numa altura em que poucos imaginavam que no final da temporada viriam a ver Jorge Costa a levantar a “orelhas”…

Porque a nossa história tem de ser lida, conhecida, estimada e guardada para transmitir às novas gerações. Para que saibam que o FC Porto não é feito só de pipocas no Dragão, cartazes ou cânticos para jogadores que chegaram ao clube há 20 minutos ou patrocinadores mais ou menos obscuros nas bordas das camisolas. É a alma de Monteiro da Costa, a liderança de Nicolau d’Almeida, a vida de Barrigana, a morte de Pavão e o golo de Ademir. É o Campo da Constituição e do Lima, as Antas e o Americo de Sá, o Dragão grande e o Dragãozinho. É a história de um clube mais velho que todos nós e que vai ficar por cá depois de todos nós termos partido.

Leiam sobre o vosso clube. Aprendam-no, cultivem-no nas vossas almas e corações. Vivam-no para que através dele consigam também vocês viver um pouquinho mais.

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