Ouve lá ó Mister – Guimarães

Mister Paulo,

Foi uma semana bonita, foi sim. O circo que se foi formando à volta do jogo do Benfas abafou todas as outras notícias de mínimo relevo no país e nem sequer imagino o que poderia acontecer às estações de televisão e aos jornais se esta estupidez não tivesse acontecido. Tinham mesmo de falar da bola, já viste? Me livre. E tu, tu também te deixaste enredar nessa teia de parvoíce e entraste pelo caminho dos árbitros em apenas seis jornadas. Seis jornadas, pá, foi o que chegou para começares a mandar as postas a tudo que mexe. E até compreendo que o deprimente panorama de blogues por este país fora teve uma semana de completo orgasmo que nem me dei ao trabalho de ler a grande maioria do que se escreveu. Sabes que mais, Paulo? Parece que ninguém gosta de futebol. Gostam de falar sobre ele, mas do desporto em si…não entusiasma ninguém. Tenho pena.

Mas eu não me guio pela turba e continuo o meu caminho. E como é a falar da bola que a gente se entende, deixa-me que diga que o jogo do Estoril já é uma distante memória na minha cabeça. Que remédio, homem, fiquei doente no passado fim-de-semana porque foi o terceiro jogo consecutivo em que a minha equipa não jogou uma ponta de um real corno, daqueles dos rinocerontes em África que podem enfiar arcos de hula-hoop pela ponta. Começo a ficar preocupado que não consigas dar a volta a isto, mas vou hoje ao Dragão com a esperança em alta e a motivação assim meio que pró baixinho mas sempre com fé. Já me conheces, não consigo desistir e vou continuar a apoiar sempre. E vejo que estás com vontade de mudar esta triste sequência de exibições e fazer uma série de bons jogos para convencer o povo que estás cá para ficar e para pôr a equipa a jogar decentemente. Assim espero. Começar já hoje e continuar na terça-feira…era uma maravilha.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Estoril 2 vs 2 FC Porto

foto retirada do maisfutebol

Fomos roubados hoje na Amoreira. Os adeptos portistas que lá se deslocaram, juntos com os que viram pela televisão, os que não puderam ver o jogo em directo e os que nem sequer viram o jogo de propósito (sim, meus caros, há muitos portistas assim), todos eles foram despudoradamente assaltados hoje à noite. Roubaram-nos a alma. Tiraram-nos a estrutura que tínhamos, a inteligência competitiva, a capacidade de resistir a uma pressão que empurra com a força de um infeliz sem-abrigo que dorme ao relento em noites de inverno. Pilharam a calma de uma defesa férrea que oxidou e não parece resistir a semi-equipas e avançados lutadores mas pouco mais. Pior, roubaram-nos um meio-campo que betumava buracos e abafava contrariedades com espírito de luta. Ah, e houve um penalty marcado fora da área e um putativo golo em fora-de-jogo. Nem liguei. Foi mais triste ver o FC Porto incapaz de lutar e de o fazer com convicção. Perdemos os primeiros pontos por culpa própria e ainda custa mais quando assim é. Notas, tristes, abaixo:

(+) Lucho. O capitão continua em alta e mostra em campo que a inteligência habitualmente vence a voracidade competitiva. El Comandante não tem pernas para muito, mas controla a bola com a genialidade de poucos e se tivesse malta com vontade de o acompanhar com estoicidade táctica e desejo de vitória permanente, não estávamos agora a lamentar a perda de dois pontos. Lucho em 2013/2014 joga mais à frente com uma perspectiva ofensiva dedicada quase em exclusivo ao jogo de frente para a baliza, ao contrário do que se tinha visto no passado recente, com a perspectiva de criar os espaços na frente que possibilitem aos avançados receber a bola em condições. Houvesse mais como ele…

(+) Licá. Lutador e esforçado como poucos, foi dos poucos que conseguiu ter a clarividência de avançar com a equipa para a frente e recuar quando era necessário. Marcou o primeiro golo porque acreditou que a bola passava…e passou. Tem mostrado melhores pormenores técnicos de base (domínio, passe…) mas é no espírito de luta que ganha, por exemplo, a Varela, Marat ou Kelvin, e continuaria a apostar nele para titular.

(+) Fernando. Falhou muitos passes mas foi esforçado e ao contrário de alguns colegas mostrou que não está bem quando perde sequer uma bola, que fará várias. Não se sente bem no esquema táctico, é evidente pela postura em campo, mas tenta compensar no que pode. E é deste tipo de gajos que precisamos, dos que ficam fodidos quando as coisas não correm bem. Acredita, miúdo, adapta-te e vais ver que rendes muito mais.

(-) Otamendi. Há-de haver qualquer merda que estejam a meter-lhe no mate que lhe anda a comer a cabecinha. Nos últimos jogos tem sido uma sucessão de parvoíces e apesar de não ter tido culpa no pseudo-penalty, fez o suficiente nos outros lances para ser colocado a apanha-bolas no próximo treino. Sim, é argentino e empiricamente espera-se sempre alguma instabilidade emocional e competitiva nestes moços, mas tem sido uma peça a menos. Mangala também não esteve bem, mas ainda assim conseguiu ser melhor que o colega, que podia/devia ter sido expulso ainda na primeira parte e que falhou com a consistência de um bloco de betão armado na maioria dos lances onde esteve envolvido. Esperam-se melhores dias.

(-) Organização táctica e fibra moral Somos uma equipa pequena, neste momento. Somos reactivos em vez de activos e parecemos ter regredido a uma fase no primeiro ano de Vitor Pereira (para ser mauzinho, até podia dizer que tínhamos voltado ao tempo de Octávio em termos de construção de jogo) onde os centrais chegavam ao meio-campo e olhando para a frente procediam a enviar a bola para a frente sem grande critério, esperando que algum arcanjo descesse do céu e colocasse a bola na baliza. Há uma lei de menor esforço vigente no FC Porto em Setembro de 2013, onde o meio-campo recuado não se entende, os extremos não o são ou não agem como tal, os laterais parecem distraídos e sobem pouco (ao contrário do que fizeram na Supertaça, por exemplo), o avançado parece alheado do jogo e não recua para os locais de recepção…e nem começo a tentar perceber o que transformou dois belos centrais em defensores tão permeáveis nestes últimos jogos. Acima de tudo falta ânimo, garra, vontade. Foda-se, falta muito ânimo, muita garra, muita vontade. Eu e todos os portistas queremos ver os azuisibrancos (ou só brancos como hoje) a chegar primeiro às bolas, mesmo que a equipa adversária seja mais rija, mais viril, mais bruta. Quero-os ver a arrancar relva com os dentes de fúria, a pontapear postes depois de falharem um remate, a empurrar o apanha-bolas de um qualquer adversário para acelerar o jogo. Não tenho visto nada disso nos últimos três jogos. Três. O primeiro, perdoa-se. Ao segundo, questiona-se. Ao terceiro já parece de propósito.


Abanei, mais uma vez, mas não caio. Não caio, caralho, não me deixo cair perante adversidades. E a inconsistência táctica e exibicional tem de ser corrigida com trabalho, com cada vez mais trabalho e com a construção de uma equipa que sirva para enfrentar dezenas de equipas como o Estoril e vencer sem problemas. E nos jogos grandes é nosso dever fazer o mesmo, ou morrer a tentar. Não caio. Não vamos cair.

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Ouve lá ó Mister – Estoril

Mister Paulo,

O jogo na Áustria já passou, mas não passou de vez. Se leste o que escrevi aqui há uns dias, já começas a perceber como é que a malta funciona e o nível de expectativa que vais ter de cumprir para nos agradar. Lembras-te daquele rapaz que cumprimentaste em Paços antes do jogo acabar? O que foi bicampeão e que agora está no meio do deserto a pregar aos mouros? Pois, é nesse nível.

E já todos entendemos que a equipa está em construção (uns mais que outros) mas até uma casa que está ainda com as paredes a meio, já tem de ter pelo menos uma tenda ou qualquer oleado parecido para nos abrigarmos das intempéries que possam por aí vir. Estas coisas não são parvoíces da turba, Paulo, isto é o sentimento de toda a malta de dentro e de fora do clube, que não se importa que dês as tuas ideias aos rapazes mas entretanto tem de haver futebol. Nem nos podemos queixar, carago, sempre são cem por cento de vitórias em várias competições e por isso ninguém te pode chatear a cabeça por causa dos resultados. Mas os últimos dois jogos foram fraquinhos e tu sabes disso e até já o vieste dizer em público, o que me deixou bastante satisfeito pela tua honestidade. Mas olha que em Viena não disseste a mesma coisa…tem lá cuidado com as incongruências que os maldizentes vão-te massacrar a cornadura à primeira falha.

Hoje é mais um para ganhar. Vamos a lógica, tão simples e prática para quem não percebe nada da bola: o Estoril perdeu com o Sevilha; nós ganhámos ao Áustria de Viena. Eles jogam na Europa League e nós na Champions. A Champions é melhor que a Europa League. Ergo, nós somos melhor que o Sevilha e portanto somos melhores que o Estoril. É isso.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – FC Porto 2 vs 0 Gil Vicente

Há anos que vou ao estádio e sigo com clássica devoção portista as aventuras e desventuras do meu clube. E desde os inícios dos anos noventa, quando comecei também a frequentar o estádio durante algumas noites a meio da semana, sempre houve uma inevitabilidade que caía sobre a moral e a filosofia da equipa nos encontros anteriores: podendo ganhar o jogo e descansar em campo, é esse o caminho a seguir. E mudam as equipas, os jogadores, os treinadores, o estádio, os sócios…mas não muda a maneira de pensar. Enfim, um jogo como tantos outros, com uma equipa a vencer o jogo depressa e a outra…nem sequer a tentar fazer alguma coisa para mudar. Vitória simples, sem contestação. Notas abaixo:

(+) Varela. Belo regresso do Silvestre, que pareceu dos poucos que esteve com vontade de acabar o jogo com mais suor do que quando entrou em campo. Activo pela ala esquerda, mexido nas subidas de Danilo pelo flanco e activo na entrada para a área e nas tentativas de combinação com Quintero que apesar de diversas em número e forma, poucas sucederam. Varela parece bem-disposto a jogar, com moral, força e vontade de ser titular em todos os jogos. Bem-hajas, Silvestre, continua assim.

(+) Danilo. Esteve sóbrio nas subidas pela ala e aproveitou bem a presença de um Varela muito activo e de um Quintero suficientemente interventivo (na primeira parte) para garantir que aparecia em zonas avançadas vezes suficientes para criar perigo. E esteve bem nas poucas ocasiões que foi obrigado a intervir na defesa, o que chega e sobra para que tenha feito um jogo acima da (baixa) média dos colegas.

(+) Lucho. Fez mais em cinco minutos que Quintero no resto do tempo todo…

(+) Finalmente, gajos na área para as segundas bolas. Ambos os golos surgiram a partir de lances em que o ataque do FC Porto insistiu através de cruzamentos para a área e aproveitou na perfeição as bolas rechaçadas pelo guarda-redes. À presença de Jackson soma-se o vaguear central de Licá e Varela para adicionar corpos na área e aumentar a possibilidade de aproveitar um ou outro ressalto. Finalmente.

(-) O sono e as falhas decorrentes do sono. É muito fácil converter facilidade em estupidez. As tradicionais idiossincrasias dos jogadores transformam-se rapidamente em idiotissincrasias, o povo chateia-se, boceja, aborrece-se e espera pelo próximo jogo. E a lista dos criminosos ensonados é vasta e não tem nomes estranhos: Fernando, Alex Sandro, Otamendi, Mangala…todos eles tiveram momentos de falhas tão estúpidas como evitáveis, numa sequência de imbecilidades que só não enervaram os adeptos porque, francamente, o pessoal já começa a perceber estas coisas dos calendários e entende que há viagens e jogos a meio da semana e selecções e cansaços exagerados.


O que interessa é mesmo a vitória mas um jogo destes, com tão pouco sal, tão aborrecido…compreendo que muita gente tenha vontade de não lá aparecer em dias “destes”, onde se sabe que é pouco provável que haja grandes complicações e que os noventa minutos vão ser um enorme botão de snooze prontinho para ser carregado para evitar o próximo adormecimento.

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Ouve lá ó Mister – Gil Vicente

Mister Paulo,

Escuta bem. Põe o ouvido esquerdo junto ao solo e olha para o horizonte. Há um som que se propaga, que foge pelas entranhas dos automóveis que passam nas estradas à volta do Porto, que envolvem o corpo e amaciam a alma. Reconheces? Consegues perceber o que milhões de sinapses disparam na tentativa de buscar o sentido da sua própria existência? Então? Nada?

É isso, Paulo, estás a ouvir ao longe o eterno suspiro dos portistas de todo o Mundo, porque os rapazes voltaram das selecções (só para voltar à carga nacional lá para Outubro…os fulanos que fazem o calendário bem que podiam ir todos levar no reguinho) e já cá estão todos ao teu dispôr. Quase todos, porque um ou outro há-de ter chegado meio a mancar das pernas ou da cabeça. E acabou o mercado há que tempos, temos a Champions à porta e só o caralho do Verão é que parece que não passa para estarmos chegadinhos ao Outono. E a única coisa que ainda me safa é que posso ir ver o jogo só de camisola. É parvo, não é, um gajo a pensar só nestas merdices de saúdes e afins, mas é o que temos. Mas falemos do jogo.

Não espero grande espectáculo, porque os rapazes devem vir cansados, temos jogo em Viena (de Áustria, como dizem) a meio da próxima semana e é preciso não estourar o povo. Se fosse a ti não mudava muito, mas tentava acabar com o jogo bem depressinha. Limpar os gajos a meio da primeira parte dá descanso e põe a malta bem disposta. Mas também te digo que gostava de ver o Ghilas e o Carlos Eduardo darem uma perninha, só para os ver ao vivo pela primeira vez. Pois foi, pá, não te lembras que falhei a apresentação? E depois disso…só na TV. Mas acima de tudo, ganha o jogo. Vou estar na bancada, com uma bifana e uns finos no bucho. E o bucho vê-se bem, como já desconfias.

Sou quem sabes,
Jorge

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