Baías e Baronis – Braga 1 vs 1 FC Porto

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Retiro o que disse quando afirmei que os jogos da Taça da Liga são um bocejo. Bocejo os tomates! E não fosse o simples facto de ter tido uma espécie de arbitragem trazida do quarto círculo do inferno e podia ter sido um jogo ainda mais emocionante, desde que houvesse mais que uma equipa em campo. Assim, limitámo-nos a ver os incessantes ataques do Braga, a baterem com a certeza de um relógio atómico num rapaz que fez de tudo para que nada penetrasse a linha de golo à frente da qual costuma trabalhar. E fica a luta, o espírito de sacrifício de uma equipa que foi dilacerada por um imbecil calvo que só ficou por ali porque talvez tenha ganho alguma vergonha no focinho. Vamos lá às notas:

(+) Helton. Isto de meter putos na Taça da Liga dá para descobrir algumas pérolas do nosso plantel. Hoje deu-se a conhecer um rapazola brasileiro, pouco mais velho que eu, com uma elasticidade fora do normal, reflexos dinâmicos e certeiros, elevação correcta, perfeição nas saídas e uma presença de espírito que humilha um qualquer Dino Zoff. Não sei se vai ter grandes oportunidades no futuro próximo, mas é bom saber que o nosso terceiro guarda-redes está pronto para entrar em campo a qualquer altura para ajudar a equipa, como disse na memorável flash-interview em frente a um jornalista da TVI que só por vergonha não lhe pediu um autógrafo. Afinal, não é todos os dias que um miúdo de 36 anos mostra que é melhor que todos os outros guarda-redes, em campo e fora dele.

(+) O resto da equipa do FC Porto. Foram micro-heróis, só porque o jogo não tem impacto. Ou melhor, especialmente porque o jogo não tem impacto. E foi um prazer estar confortavelmente sentado no sofá a ver Ruben Neves a correr com a mão na coxa, a dar tudo sem poder dar nada; ver Ángel a voar pela linha com a velocidade de quinze Tellos motivados, depois de interceptar sei-lá-quantos cruzamentos do Agra no seu flanco; ou Campaña, que pouco acrescenta à equipa ofensivamente, a desfazer a barba toda enquanto corta mais um remate de Alan ou trava um passe de Danilo no centro; e que dizer de Gonçalo Paciência, que jogou a interior-esquerdo uns largos minutos para ajudar a equipa a reequilibrar-se depois de estar com oito jogadores de campo; ou de Marcano, que correu uns bons 50 metros com a bola controlada pelo flanco direito só para que a equipa se pudesse soltar um pedaço e descansar meia dúzia de segundos antes de tentar rechaçar a próxima vaga de ataque; e Ricardo, a apanhar com o imbecil do Tiago Gomes e com o Rafa a tentar passar por ele ao mesmo tempo; e Herrera, que entrou e lutou com inteligência desde o primeiro segundo que pôs as botas no relvado. Todos estes foram grandes, os oito jogadores de campo mais os quatro guarda-redes que parecíamos ter na baliza, e vão ficar na memória dos portistas que viram este jogo, pelo espírito que mostraram em campo e pela dedicação a uma causa em que nem eles acreditam. Mas em Braga, hoje, jogou-se mais que um jogo da fase de grupos da Taça da Liga. Jogou-se o orgulho ferido de um grupo. E ganharam. Mantenham essa união, rapazes, é só o que vos peço.

(-) Tello. Inepto em frente à baliza, não foi o homem que precisávamos de ter na frente de ataque pelo simples facto de andar pelo campo com medo e incapaz de lutar pelas (poucas) bolas que lhe apareciam pelos pés ou pelos pés dos outros. Pedia-se um Lisandro, um Derlei, um cão raçudo que perseguisse carteiros de vermelho e branco com fios de baba a oscilar ao vento e dentes ameaçadoramente cerrados. Não foi. Foi um menino e fez com que Agra ou Pedro Santos, parvinhos com a filosofia “é para ali que eu sei, deixa-me correr que eu chego lá” fazer com que Tello parecesse tão distante de um homem que passou os primeiros anos da sua carreira no Barcelona. Estás a ser uma pequena desilusão, Cristian.

(-) Reyes. Asneirada atrás de asneirada até à asneirada que Cosme achou por bem gravosa ao ponto de o expulsar. No entanto, não contesto a falta que veio na sequência de uma camelice a que só faltaram duas bossas para que Diego, o pior mexicano do FC Porto 2014/2015, mostrasse o porquê de ter tão poucas oportunidades como titular no clube onde actualmente está. Passes falhados, intercepções mal medidas, inúmeros lances perdidos, faltas desnecessárias e um nervosismo que faz pensar como raio chegou a ser capitão do Club America quando por lá andava. Muito mau, rapaz.

(-) Este tipo de arbitragens trigger-happy. É fácil ser árbitro em Portugal, porque dá mais trabalho escrever no filho da puta do livrinho do que de facto ter a pedagogia para pôr ordem em vinte e tal nouveau-riches em campo. Há uma falta? Saca-se amarelo. Há uma falta mais perto da área? Saca-se amarelo. Há paleio dos jogadores a seis centímetros do bigode? Saca-se amarelo. E se o jogador se arma em parvo, saca-se vermelho. Porque sim. Não há inteligência para a acção correcta, não há uma tentativa de se impôr pelo respeito e pela simplicidade de processos e de decisões. Há puxar de galão, especialmente quando não é necessário, como um pai que não quer saber dos filhos para nada desde que não questionem a sua autoridade e aí está o caldo entornado com o cinto a sair das calças e os rabos quentes em seguida. E Cosme Machado é mais um entre muitos que preferem estragar um jogo que estava a ser vivo mas não violento, agressivo sem estupidez, rijo sem malícia. E é sempre a mesma merda do problema do critério, sempre o amarelo dado ao gajo que merece mas nunca repetido ao rapaz que merece na mesma na jogada seguinte. Há discrepância de neurónios, há um ziguezaguear de ideias e uma inconsistência de atitude que só pode ser premiada de uma forma: com uma excelente nota dada pelo observador. Enfim, põem-se a jeito.


O empate foi o menos mau dos possíveis resultados em Braga mas a forma como foi conseguido, com suor, garra, espírito de sacrifício e tenacidade encheram-me de orgulho. A palavra já está batida depois das declarações de Lopetegui e do NGP, mas mantenho o que disse. Orgulho. E bem merecido.

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Ouve lá ó Mister – Braga

Señor Lopetegui,

Bem vindo a mais uma ronda do “Who gives a fuck about this?”, com os actores principais “Julen Lopetegui” como “The Rotation Man” e outros actores secundários! E este, ainda mais que o jogo da semana passada, é uma armadilha à espera de acontecer, por isso tem muito cuidado com a forma como o jogo se vai desenrolar. Explico.

Como o Braga perdeu o jogo contra o União da Madeira (“o” União ou “a” União? francamente não faço ideia, esta coisa de ter géneros associados à bola é tão pós-modernista que enjoa), vão encarar os dois últimos jogos com um vigor fora do normal para poderem pensar em qualificar-se em condições. Ora se tu apanhas com uma equipa do Sérgio Conceição a meio-gás, já é motivo para te encalhares todo com a quantidade de paulada que vais levar (uma espécie de formação à José Mota com mais talento), imagina se os gajos têm de facto um objectivo para atingir! Upa, menino, tens de explicar aos rapazes que vão ter de navegar por entre um mar como na Normandia em 1944!

Já vi a lista de convocados e acho muito bem que tragas os miúdos para estas andanças. Pois é certo que o Ivo pareceu meio acanhado e não teve uma estreia de sonho, mas o Gonçalo já merecia uns minutos e até o Victor ou o Joris também podem calçar, por muito que estes já se tenham estreado no ano passado. Acima de tudo, tenta procurar aí por dentro as possibilidade que consigas encontrar para reforçar os As com os Bs, de topar quais é que te podem ajudar e quais é que, francamente, não contam. E se conseguires ganhar o jogo entretanto…nada mau!

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – FC Porto 3 vs 1 União da Madeira

20150113 - FC PORTO - CF UNIÃO DA MADEIRA

Mais um jogo da Taça da Liga e mais um enorme bocejo. A equipa que entrou em campo tentou ser fiel aos princípios de jogo de Lopetegui, com extremo enfoque na posse de bola e na sua manutenção em zonas de conforto para cada um dos jogadores, mas a forma como raramente conseguiu desequilibrar um adversário entediante na postura defensiva foi novamente aborrecida demais de se ver com um mínimo de entusiasmo. Se todos os jogos da Taça da Liga forem tão bons como este, a competição ainda será menos empolgante do que parece. E não será fácil de o conseguir, acreditem. A notas:

(+) Evandro. Ao contrário do que tinha feito na jornada anterior em Vila do Conde, o brasileiro esteve bem melhor e foi o único jogador do meio-campo a mostrar-se activo e acima de tudo pressionante e sem problemas no contacto físico. Ruben (ainda a medo) e Campaña (nada acrescentou ao jogo) eclipasaram-se perante o dinamismo do “quinze”, que tentou subir sempre que possível e em constante movimento no centro do terreno e em apoio aos colegas da frente. Mereceu marcar o penalty e ainda por cima fê-lo bem. Quem diria?

(+) Óliver. É uma diferença abismal ver Óliver e qualquer outro jogador do nosso meio.campo a nível de simplicidade de processos em zona adiantada e na forma como joga de cabeça levantada. Aquele centro de gravidade baixo ajuda imenso mas é no discernimento da posição dos colegas e na condução de bola vertical que mais tem a oferecer. E oferece, felizmente.

(+) Quaresma. Este é habitualmente o tipo de jogos em que Quaresma se senta no seu sofá e anda a passear em campo, mas hoje esteve activo, sempre à procura da bola e mesmo não tendo tomado sempre as melhores opções foi um elemento vital na forma como rematou para o segundo golo, como sacou bem o penalty e como se mostrou sempre pronto a ajudar a equipa.

(+) O regresso (?) de Helton. Não sei se o capitão está em condições para regressar em pleno mas a forma voraz como se tentou mostrar aos adeptos foi como se tivesse voltado a ser um puto de 18 anos a estrear-se na sua equipa de (quase) sempre. É um guarda-redes que nos podia dar mais garantias que Fabiano pela capacidade de jogar com os pés em zonas avançadas e pela tranquilidade que transmite à equipa. Mesmo com 36 anos.

(-) Adrián López. Um jogo fraco, mais um. A mudança para o centro do terreno só pode mostrar a Lopetegui que pode ter de se desenrascar com outro moço (Gonçalo? Ivo? Outro qualquer?) naquela posição no caso de Jackson se lesionar, porque o espanhol parece não ter mantido a subida de forma e fez um jogo apagadíssimo, sem se mostrar livre para receber passes, a trabalhar pouco quando recuava a passo no terreno e falhando um ou dois golos em frente ao guarda-redes. É preciso ter calma para que o rapaz consiga melhorar, mas o tempo escasseia…

(-) A decisão do passe longo que continuo a não entender. Aconteceu a Marcano, a Reyes, a Ricardo e a Quintero. Vêem-se paralisados perante o posicionamento mais subido do adversário, reparam que a equipa não está com o equilíbrio certo e optam pelo passe longo. A minha dúvida perante esta opção é sempre a mesma: porque é que a bola raramente chega ao seu destino? Os passes saem pouco tensos, mal medidos, com força a menos ou a mais, mal orientados…e o que me deixa lixado é que da próxima vez que tentam, acontece o mesmo ou quase. Dudes. Falham um passe, esperem vinte minutos até tentar outro. Até lá, joguem simples. Obrigados.


Dois jogos, duas vitórias. Perfeito, ou quase. Só faltava haver futebol em condições, mas isso…deixo para o campeonato e (esperemos) para a Champions.

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Ouve lá ó Mister – União da Madeira

Señor Lopetegui,

Não estás cá há muito tempo e muito provavelmente nunca antes do sorteio da Taça da Liga tinhas ouvido falar do União da Madeira, um clube pequeno naquela ilha de boa gente, excelente comida, maravilhosa bebida e tri-vencedores de Bolas de Ouro. Mas aqui há uns anos, quando andavam a esgadanhar-se todos para ficar na Primeira Divisão, havia um fulano que por lá jogava que fazia as delícias dos meus horrores. Era um canastrão jugoslavo (para os mais jovens, era um país que ficava onde hoje ficam a Croácia, Sérvia, Eslovénia e mais quarenta mini-países, sem desprimor para a terra do Alexandre) que jogava com a força de doze Vidigais (o Luís, não o Lito) e que tinha um pontapé com a força de sete Isaías (o barbichas, não o profeta). Chamava-se Predrag Jokanovic e antes de ir para o Marítimo e depois para o Nacional jogar e em seguida treinar, ganhou a vida a lixar o FC Porto.

Era feroz, o cabrão, usava os braços como poucos e punha aquele corpanzil à frente dos defesas e dos médios que tentavam contornar o rotundo tronco de carne e ódio e fel e fealdade, enervando toda a gente que o confrontava e mais uns milhares nas bancadas em redor. E é uma das únicas imagens que retenho de ver o União a jogar, a somar ao Marco Aurélio que acabou por se juntar ao Sporting e que era um dos melhores centrais que por cá passou nos anos 90.

Não havendo grande forma de motivares os rapazes para o jogo de hoje, ao menos ganha para que eu, na minha humilde e feliz consciência histórica, me possa virar para um hipotético Jokanovic que vive nas minhas memórias e tenha a lata de dizer: “Fode-te, gordo.”. Se não for por mais nada, ao menos ganha por isso.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Rio Ave 0 vs 1 FC Porto

20141230 - RIO AVE FC - FC PORTO

Quase a ritmo de amigável, não fosse a agressividade do meio-campo do Rio Ave e o permanente cascanço nas pernas dos nossos rapazes, mas um jogo que teve pouco de agradável e onde o resultado é o suficiente para sairmos dos Arcos com três pontinhos num dos jogos mais complicados da fase de grupos da Taça da Liga. Alguns bons apontamentos, um meio-campo sôfrego e preso em zona de construção, salvou-se Adrián López que fez o melhor jogo até agora pelo FC Porto, Aboubakar pela luta, Ángel pela simplicidade e Marcano pela inteligência na compensação das muitas falhas defensivas da equipa como um todo. A notas, que se faz tarde:

(+) Adrián López. Esteve bem, finalmente. Um pouco mais lutador do que tinha vindo a mostrar, tratou de levantar a cabeça e tentar combinar com Quaresma e Aboubakar numa linha ofensiva que trabalhou e que nem sempre foi feliz mas que conseguiu mostrar alguns bons pormenores. Uma diagonal muito bem feita acabou com um remate ao poste, depois de dois golos falhados perto da baliza. Neste momento, para recuperação da moral do jogador, até nem foi mau de todo.

(+) Marcano. Reyes, que acabou o jogo como capitão, teve várias falhas na marcação e acima de tudo na intervenção perante os fortes (fisicamente, apenas) avançados do Rio Ave, quase todas elas cobertas por Marcano, que se mostrou sempre firme e seguro na zona recuada, tanto a “cobrir” o mexicano como a dobrar José Angél na linha esquerda. Menos bem no passe longo, foi prático e simples quando era necessário não inventar. E não inventou.

(+) José Ángel. Uma espécie de Emídio Rafael com sotaque castelhano. Joga simples, sobe muito pela ala mas treme no momento de fazer alguma coisa de concreto com a bola. Ainda assim mostrou que está pronto para ser chamado à titularidade, o que com Alex Sandro em modo “montanha-russa” a nível exibicional, pode (e talvez deva) acontecer mais vezes. Rijo a defender, tem de melhorar na decisão dos lances em que é pressionado na defesa recuada. Uma exibição em geral positiva.

(+) Os adeptos do FC Porto em Vila do Conde. Já trabalhei ali perto e sei o frio que pode estar numa noite de Inverno como esta, onde felizmente o vento não apareceu em grande. E centenas de adeptos estavam ali, estóicos, a queimar as rabanadas e a aletria toda a cantar e a incentivar a equipa. Grandes, é o que vocês são!

(-) Evandro. Perdeu pontos, na minha opinião, porque continua a mostrar-se muito nervoso com a bola na sua posse, transmitindo aos colegas que não sabe muito bem o que fazer com ela. Herrera, com todos os seus defeitos, é titular de caras perante o brasileiro.

(-) Casemiro. Sim, rapaz, tu interceptas muitas bolas, mas fazes muitas faltas desnecessárias. E não, meu querido, tu não sabes passar a bola ao longe como achas que sabes, acredita em mim que já cá ando há mais tempo do que tu: se pensas que é uma boa ideia passar a bola pelo ar por cima do defesa, certifica-te que a bola passa PELO AR POR CIMA DO DEFESA. Food for thought.


Pouco mais há a dizer sobre o jogo. Teoricamente seria o segundo jogo mais complicado logo após a partida na Pedreira, por isso esta vitória acaba por “encostar” uma das formações que podiam lutar por um eventual segundo lugar caso houvesse algum acidente de percurso. Enfim, nunca se sabe…

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