Ouve lá ó Mister – Rio Ave

Señor Lopetegui,

Ah, sabe bem estar de volta, não sabe, caríssimo? Espero que a Navidade tenha sido proveitosa e que te tenha possibilitado um descanso ao nível que mereces, com toda a preocupação botada às urtigas e o enfoque virado com definitiva e empenhada acuidade perante a garrafinha de vinho e qualquer repasto que a tua famelga tenha como tradição cozinhar para o dia de Natal. Sim, porque tu agora tens de te deixar dessas coisas de festejar o Natal no dia de Reis, essa parvoíce que tem tanto de espanhol como de parvo. Reis. Vai-te lá esquecendo disso porque gostava que ficasses cá uns bons aninhos, se subires um pedacinho do nível de futebol que temos indo a apresentar.

Como ainda és novato no clube (meia-dúzia de meses teus não compensam quase trinta anos meus), vou-te explicar um detalhe que afecta o jogo de hoje como um prego num pneu de bicicleta. As coisas, por aqui, funcionam assim: se perdes o jogo de hoje, és uma besta que nunca devia ter pensado em vestir um fato de treino durante o dia para seguir carreira depois de acabares de jogar; se vences, ninguém quer saber disto para absolutamente nada e a vergonha é mesmo não teres apostado em mais rapazes novos para AGORA SIM fazeres uma rotação em condições. No win situation if there ever was one.

A minha postura perante a Taça da Liga é sempre a mesma desde o início: se der para ganhar, força. Mas não vale a pena perder o sono à custa disto. Usa a oportunidade para dar minutos aos rapazes novos, experimenta o que quiseres e brinca com as tácticas à Football Manager da forma que te apetecer. Se der para ganhar, porreiro.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – FC Porto 0 vs 0 Benfica (2-3 em penalties)

Jogo futsal aos sábados de manhã há mais de treze anos com o mesmo grupo de amigos. As equipas são feitas na hora porque nem sempre os jogadores são os mesmos. Às vezes, quando só estamos nove porque um caramelo lhe apeteceu ficar a dormir e se esqueceu de avisar ou porque alguém se lesionou a meio do jogo, uma das equipas fica em inferioridade e luta mais que a outra, a entre-ajuda cresce, o espírito de sacrifício é mais alto e a vida dos que estão com mais um elemento fica mais complicada. Mesmo assim, é raríssimo haver um jogo em que os 4 vençam os 5 e costumamos dizer que não há desculpa para que tal aconteça. Hoje, no nosso estádio, os cinco perderam contra os quatro. E é fácil perceber porquê: os cinco não têm pernas nem cabeça para vencer quatro que estão bem mais organizados, lutam mais e querem vencer. Os cinco perderam antes de começar. E perderam também o respeito de muita gente, porque pior que perder contra quatro é deixar que os quatro queiram ganhar mais que os cinco. Enfim, dói, mais uma vez. A notas:

(-) O FC Porto na máxima força perdeu contra as reservas do Benfica a jogar com 10. Cheguei a casa destruído e nem consigo ficar chateado com isto. Há apenas uma indolente sensação de cansaço mental, de incapacidade de compreender como é que chegamos a este ponto. O Benfica, sem qualquer exagero, foi melhor que nós em tudo e tem sido essa a imagem da temporada. Foi melhor a defender, melhor no meio-campo e melhor a atacar (mesmo com 10). Foi mais lutador, mais inteligente e mais astuto. Foi melhor tecnicamente, tacticamente e moralmente. E o Benfica jogou sem seis ou sete titulares, só para termos uma ideia do nível a que o FC Porto chegou em 2013/2014. É um bola de neve que se foi formando desde o início da época, com má gestão física (Herrera, Defour, Fernando, Varela, Jackson, Danilo e Alex Sandro acabaram o jogo de rastos), pobre gestão de pessoal (o meio-campo em constante mudança, avançados como alas, duplas de centrais em permanente mutação, diferença enorme entre sectores, pouca alternância de jogadores-chave), fraco talento em campo (inúmeros passes falhados, golos desperdiçados, cruzamentos mal efectuados, bolas paradas ineficazes) e uma inexistente estratégia de jogo que me faz pensar que se passou o ano todo em treinos que consistiram num total vazio. Ainda por cima, hoje o Benfica não foi nada de especial, como já não tinha sido em Lisboa no jogo da Taça. Foi simples, directo e prático, com as segundas linhas a lutarem mais que as nossas primeiras, sem que as nossas primeiras tivessem um pouco de brio para perceber o que raio haveriam de fazer para contrariar o que estava ali tão perto e ao mesmo tempo tão longínquo. Sucedem-se os passes ridículos, curtos e longos, os cruzamentos sem nexo, os golos falhados à boca da baliza, as perdas de bola em progressão e a tradicional borrada nos penalties que todo o estádio adivinhou mas ficou a ver se o destino nos mudava as sortes. Passamos noventa minutos a atirar o equivalente a bolas de algodão a uma carapaça de ferro, cheia de brechas mas que fomos incapazes de descobrir no tempo certo e com a intensidade certa. Fracos de espírito, sem ideias concretas, sem concepção de um fio de jogo que passe por mais que endossar a bola a Quaresma ou a Varela e esperar que dali saia algo de produtivo. Um meio-campo sem elasticidade, sem força, sem tino. Todos incapazes de se agarrarem a uma fugaz bóia de salvação de uma época miserável, esta merda desta Taça da Liga que todos os anos desdenhamos e que este ano podia ser algo que nos desse algum (pouco) alento. Não há cabeça, nem para isso. E continua a ser isso, acima de tudo, que vejo ausente da equipa há tantas semanas e que me leva a desistir de acreditar em quase todos os jogadores do FC Porto que vejo com a bola nos pés: cabeça. Continuo a insistir que é a cabeça que mais falha e as pernas vão atrás, mas atrevo-me a fazer uma matriz rapidinha: com cabeça e com pernas, como na época de Mourinho, tudo parece fácil; sem pernas mas com cabeça, como no ano de Adriaanse, o esforço é máximo e nenhuma bola é dada por perdida e o talento eventualmente dá frutos; com pernas e sem cabeça, como no ano passado, lá se vai dando uma para a caixa de vez em quando com mais força, mais um bocadinho de garra e com um bocadinho de sorte chegamos lá; sem pernas e sem cabeça…eis o FC Porto 2013/2014, a pior equipa do meu clube que me lembro de ver jogar desde que comecei a gostar de futebol.


Faltam dois jogos para terminar este pesadelo. Dois jogos em que vamos entrar em campo cada vez mais vergados ao peso de uma mentalidade fraca, sem espírito vencedor, que esmaga a alma e derrota o espírito. O FC Porto é um estado de alma, dizia Bitaites. Oh, Professor, e agora como é que nos vemos livre desta?

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Ouve lá ó Mister – Benfica

Estimado Professor,

Estive num festival de estúpida nostalgia enquanto me deliciava a ver os últimos dez minutos do jogo K de ano passado. Às vezes dá-me para estas coisas e como tantas outras pessoas que se apanham no youtube ao fim de uma hora, depois de apenas lá terem aparecido para procurar um video, perco a noção do tempo e começo a perceber que me estou a arrepiar todo mesmo que esteja relativamente morno aqui dentro de casa.

Fui à procura dessa recordação de uma das noites mais fantásticas que passei num estádio de futebol por razões que não lhe devem escapar. A necessidade de uma vitória, de me lembrar de uma estupenda vitória como aquela, é tão grande que me invade a alma e me impede de pensar em qualquer outra coisa que não a vontade de a trazer de volta. E mesmo o jogo da Taça contra o Benfica, que vencemos neste mesmo estádio onde estarei hoje à noite, trouxe-me alguma alegria…mas fui esmagado por aquela ignóbil demonstração de incapacidade competitiva há duas quartas-feiras atrás. Enfim, tem sido uma miséria e por muito que a Taça da Liga nos tenha escapado no passado e apesar de a termos desprezado a tal ponto que até Jesualdo levou uma equipa de juniores a Alvalade e no ano passado até jogamos com o Abdoulaye para dar uma chance ao Braga (e demos), este ano temos mesmo de pensar que pode ser o segundo troféu que conquistaremos. E é a única coisa para que os jogadores ainda podem jogar com alguma alma de vitória.

Por isso joguem a sério, sem fraquejar, sem ceder às pressões e sem permitirem que a cabeça fale mais alto que o coração. Sim, os rapazes são campeões. Mas já cá perderam e vão perder hoje também. Força, rapazes! Força!

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – FC Porto 3 vs 2 Marítimo

Não sou o maior fã da Taça da Liga, como aposto que nenhum portista será. Mas hoje houve realmente emoção e um espectáculo bastante interessante para quem não for um adepto do FC Porto, que trouxe alegria e entusiasmo a uma prova que tem tanta razão para existir como um nazi que viola focas-bébés. Ah, mas dizem-me que foi um jogo de futebol. Não me pareceu. Foi uma competição desportiva de um qualquer desporto em que uma equipa que consta ser superior à outra, pelo menos em nome, não pareceu querer mostrá-lo em campo. Continuamos a ser uma equipa débil a agir como onze jogadores independentes, raramente funcionando como um grupo. Enfim, venha a mourada. Andemos até às notas, adiante:

(+) Josué. Marcou um dos penalties mais difíceis da carreira dele, porque desenganem-se aqueles que acham que um jogador tem é de jogar e marcar e acabou. Fui um dos que estive num épico Portugal vs Holanda nas Antas, quando recuperámos de uma desvantagem de dois golos para empatar com um penalty marcado pelo Figo já em tempo de descontos, com quarenta mil a gritar na bancada. O outro marcou. Este também. Acabo aqui as comparações porque o Figo não é portista e perde logo aí toda a vantagem que poderia ter. Para além desse lance, Josué mostrou mais em campo que Defour durante todo o jogo e quis dizer a Fonseca que ele é o sucessor de Lucho em campo, pelo menos nos próximos tempos. Sobre El Comandante falo daqui a uns dias…

(+) Os adeptos. Não haja dúvida: ainda há esperança no Dragão. As claques estiveram noventa e pico minutos a incentivar os jogadores, a puxar pelos adeptos, transmitindo toda a força dos milhares que lá estiveram e de todos os outros que estavam por fora a torcer pela equipa. Vi o jogo em diferido e tive pena de não ter lá estado, porque seria mais um dos que gritariam para os jogadores subirem, para lutarem, para terem calma e sentirem o nosso apoio. A única grande exibição da partida esteve nas bancadas.

(-) É só isto que temos para mostrar ao mundo? É fácil perceber o que achei de um jogo quando há apenas um Baroni e nem é atribuído a um jogador. A qualidade de jogo do FC Porto é baixa demais para justificar uma posição cimeira no nosso futebol e/ou a conquista de qualquer troféu. Em Portugal há um estilo predominante de futebol em passe, com uma velocidade relativamente baixa mas onde há em grande parte das equipas suficiente capacidade técnica para que se possa manter a bola na posse dos jogadores durante algum tempo até que os mecanismos que se treinam durante a semana possam entrar em acção. E aí, seja por um fácil overlap do lateral, uma combinação a meio-campo ou um entendimento com o(s) avançado(s), o jogo teoricamente flui e criam-se lances de perigo. No FC Porto 2013/2014 (e ainda mais em 2014), tem havido uma pressa excessiva em enviar a bola para o ponta-de-lança, solitário no meio de vários oponentes, mas que é alvo das boladas dos colegas desde os defesas até aos médios. Os extremos, que lhe poderiam colocar a bola em condições com maior facilidade, raramente o fazem. E falhada qualquer estratégia (existe?) pensada para o sucesso, avança-se para o lance individual, com um rácio de sucesso a tender para zero. Hoje foi mais um bom exemplo disto, tantas foram as bolas inconsequentes enviadas para a frente (e algumas lateralizações absurdas, como de costume) e os falhanços nas jogadas de 1×1. É muito pouco para o que um clube como o FC Porto deveria mostrar e arriscamo-nos a que, como já tem vindo a ser hábito, qualquer equipa que tenha mais de meio palmo de testa consiga chegar ao Dragão e pensar que pode ganhar o jogo, como o Marítimo ia fazendo hoje.


Se este foi um Marítimo “suplente” e vamos apanhar com o Marítimo “titular” no próximo fim-de-semana…da maneira que estamos a jogar com os nossos “titulares”, talvez valha a pena meter os “suplentes”…

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Ouve lá ó Mister – Marítimo

Mister Paulo,

Estamos todos até à tampa com esta tralha. Taças e mais taças atrás de nós e um gajo que só quer saber do campeonato e de jogos com a estranja já começa a ficar enfastiado com estas competições de brincadeira que só servem para os clubes mais pequenos darem histórias aos felizardos que lá conseguiram marcar um golinho por intervenção divina ou porque o nosso guarda-redes bebeu um fino a mais ao lanche. É cereal, também conta! Posso estar a ser um nadinha arrogante, mas cada um tem as suas prioridades e as minhas já sabes quais são: campeonato > europa > taças > amigáveis > treinos > concursos de karaoke no balneário. Mas compreendo que queiras continuar a ganhar coisinhas, como a Supertaça, por isso força nisso.

Já vi que encostaste o Licá para este jogo, o que francamente não me aquece os ânimos. Tendo em conta que convocaste no fundo aquelas que consideras as opções mais válidas ao teu dispôr, só posso concluir daí que estás a levar isto mais a sério que eu. E se queres ficar acima de Jesualdo, Villas-Boas ou Vitor Pereira (pelo menos nesta competição), tens de ganhar o jogo e com alguns golos para adicionar à conta. O Sporting vem a Penafiel com vontade de nos passar a perna e tu não podes deixar, por isso fiquei admirado quando não convocaste pelo menos mais um rapaz de ataque, mas como sempre tu é que escolhes, por isso deixo nas tuas mãos a nossa putativa passagem à próxima fase. Olha a responsabilidade, carago!

Sou quem sabes,
Jorge

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