Ouve lá ó Mister – Benfica

Estimado Professor,

Não há ambiente de clássico. É com tristeza que escrevo estas palavras mas ainda hoje em conversa com amigos percebi que ninguém quer saber de um FC Porto vs Benfica na altura em que nos encontramos na temporada, com o campeonato quase perdido, a aposta de um treinador atirada fora depois de muitos e maus jogos e nem a ligeira recuperação moral que as últimas semanas trouxeram consegue motivar a malta para vibrar com este jogo. Falei com várias pessoas, portistas de alma e coração (ou pelo menos assim se dizem, o que duvido), que me disseram que não iam ao jogo porque não queriam ver o FC Porto a apanhar no focinho. E fiquei a ouvi-los, sem perceber muito bem onde estava o portismo por detrás da boca que mexia sem que produzisse um único som que quisesse ouvir.

Mas não sou desses, Luís. Posso tratá-lo por Luís, não posso? E por tu? Isso é que era. Sim? Impecável. Então hoje lá estaremos e mesmo que a competição não seja emocionante, não nos eleve ao zénite do futebol mundial (nem do português, quanto mais do outro) nem sirva para muito mais que enchimento para prateleiras vazias nos museus, a verdade é que é uma prova que podemos vencer. E este ano, no que diz respeito a isso, só vejo uma que nos vai fugir e é a única que não é a eliminar. Estamos a pagar as contas perdidas de há muitos jogos atrás e não merecemos mais que isso. Mas aqui a história é diferente. São dois jogos contra este juggernaut de futebol que aparecerá hoje à noite perante um Dragão a meio-gás e que temos de vencer com alguma margem para sofrermos bem na segunda mão e passar à final contra sei-lá-quem-é-a-outra-equipa. Jogue quem jogar, este é um jogo de brio mas também de conquista, é um confronto de astúcia mas também de esforço. É um clássico, para mim e tantos outros é “o” clássico. E é para ganhar, como todos.

Precisas de lhes dar força no balneário, força no banco e força em campo. A força das bancadas fica por minha conta.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – FC Porto 2 vs 1 Estoril

Continua a ser difícil ver o FC Porto a jogar sem ficar extremamente nervoso e a entrar num remoinho de insatisfação e desespero geral pelo estado do nosso futebol. Hoje foi mais um exemplo de uma equipa desconexa, com pouca inspiração individual e uma confrangedora falta de motivação, agressividade e vontade de praticar um futebol consistente, inteligente, prático, digno do clube que todos aqueles jogadores representam. Salvaram-se alguns do fogo que parece lavrar continuamente por debaixo dos rabinhos colectivos e a passagem às meias-finais aparece caída de um lance quase perdido em que Ghilas aparece finalmente numa zona de finalização, ele que passou o pouco jogo que teve encostado a uma das alas. Não vejo quase nada que me motive no FC Porto actual. A notas, que se faz tarde:

(+) Quaresma. Todos sabemos que gosta de jogar sozinho, que opta pelo lance individual em virtude do enorme talento que tem e que assume os lances na pele porque acredita que consegue ser a mais-valia que todos queremos que seja. Mas hoje trabalhou para o grupo, para o colectivo, mantendo a veia individualista que o caracteriza mas tentando entender-se com Danilo (desentendendo-se várias vezes) mas sempre a procurar a baliza e a produtividade acima da baixíssima média da equipa. Esforçou-se e merece aplausos por isso.

(+) Herrera (na segunda parte). Há qualquer coisa de estranho e fascinante no jovem Hector, que de um momento para o outro um jogador lento que se arrasta em campo e falha simples passes de dez metros se transforma num rápido box-to-box que recolhe a bola em zonas recuadas e percebe as deambulações dos colegas para lhes endossar a bola de uma forma correcta, com passes pesados e dirigidos na perfeição e que ajuda a movimentar o jogo ofensivo de uma forma simples e prática. Se durasse um jogo inteiro a esse nível seria titularíssimo.

(+) Danilo. Esforçou-se e há que lhe dar mérito por isso. Surgiu várias vezes em zonas adiantadas pronto para rematar e tentou corrigir alguma falta de entendimento com um dos jogadores mais complicados de agregar em tarefas colectivas que temos e tivemos nos últimos dez anos. Falha muitos passes e perde bolas em demasia no approach ao ataque, mas se melhorar nesse aspecto podemos finalmente ter um defesa lateral direito que suba no terreno em condições.

(-) Mais uma vez, onze gajos, zero equipa Começo a compreender um bocadinho sobre futebol ao passar dos treze anos, quando Carlos Alberto Silva comandava então os nossos destinos em campo. Segui com a segunda vinda de Ivic, admirei a chegada de Robson, tentava perceber as opções de Oliveira, as hesitações de Fernando Santos, a ultra-defensividade de Octávio e a rigidez táctica de Mourinho. Estranhei a chegada de Del Neri, agoirei a saída de Fernandez, cuspi veneno com Couceiro e enervei-me com Adriaanse. Aborreci-me com Jesualdo, exultei Villas-Boas e quase adormecia com Vitor Pereira. Mas este FC Porto, esta pseudo-equipa que vejo semana após semana com as nossas camisolas, consegue colocar-me num estado de ansiedade do qual dificilmente sairei até que consiga ver algum lampejo de estrutura, de futebol organizado e em que os jogadores estão de facto a interpretar um guião teórico através do talento que todos têm e que parece andar fugido como um católico na Inglaterra da virgem Isabel. Somos um pedaço de gelatina num ventoso e lacrimejante dia de Outono, em que o sabor dos componentes se perde ao primeiro sinal de contrariedade, onde um jogador vale por si e poucos fazem com que o grupo valha como tal. Fracos. Somos fracos de corpo e mente e não tardará muito até os azares começarem e os resultados falarão por si, como até agora têm vindo a fazer.

(-) A contínua escolha de Licá como “extremo” O rapaz não é extremo, Fonseca. Não é. Por muito que o queiras usar como tal, não é. Não consegue receber a bola na linha e controlá-la para prosseguir a jogada. Não é bom no 1×1, não cruza bem e claramente não faz diagonais com a bola dominada. Estar sempre a colocá-lo nesses impróprios lugares é desfazer a imagem do jogador que luta sem produzir e apanha assobiadelas sem merecer.


Benfica na Taça. Benfica na outra Taça, se nos deixarem jogar. Benfica no campeonato. Raios, até podemos apanhar o Benfica na Liga Europa. É Benfica a mais, sinceramente.

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Ouve lá ó Mister – Estoril

Mister Paulo,

O jogo da Madeira foi um belo naco de trampa. Uma equipa sem ideias, sem construção de jogo, com uma dinâmica digna de nove tetraplégicos, o Helton e o desgraçado do Quaresma que queria fazer tudo sozinho. Foi penoso de ver para qualquer pessoa e então para um gajo que vive o clube como eu e tantos outros vivemos…rapaz, estás no mau caminho. E não me parece que seja só do mercado e da forma como a SAD está a tratar dos casos pendentes, para lá dos negócios de milhões que afinal não aconteceram ou das vontade de A ou B em ficar ou sair. És tu, Paulo, que não estás a conseguir pôr os gajos a jogar um futebol em mínimas condições. És tu, Paulo, que falas com os gajos e eles ou não te ligam ou não percebem o que estás a dizer. E nós, a malta que fica de fora, não está a gostar nada.

Este jogo é mais uma prova que tens de atravessar para recuperares a imagem de um treinador que impõe uma ideia, um estilo de jogo, uma concepção de uma estratégia que seja visível, implementável e executável. Até agora não vi nada disso. Vi que convocaste o Mikel e tenho gostado muito de o ver na B, mas não acredito que o ponhas a jogar em vez do Fernando. O que acredito, e custa-me muito dizê-lo, é que vai ser mais um jogo “à Porto do Fonseca”. Lento, desinspirado, triste, com jogadores e sem equipa. Convence-me que estou enganado e mostra que ainda consegues acender fogo no rabo dos teus pupilos. Nós, cá fora, continuamos a ser portistas e a acreditar que é possível virmos a ver bom futebol este ano. Mas começamos a perder as esperanças…

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – FC Porto 6 vs 0 Atlético

Não foi mau e francamente jogámos melhor do que esperava, apesar dos primeiros quinze minutos terem sido um bom teste para qualquer pessoa a ver o jogo em casa, sentadinho no sofá com o aquecimento ligado. Fizemos um jogo sério, sem grandes brincadeiras (excluindo o primeiro Baroni e o terceiro Baía, por motivos diferentes) e acabamos por sair com seis golinhos no reportório, o que nunca sabe mal. Um treino decente para o próximo Domingo e a noção perfeita para muita malta que há vários rapazes em baixo de forma e outros que estão a pedir para serem dispensados destes fretes. Enfim. Siga para notas:

(+) Varela. Mais um jogo para me fazer dobrar a espinha e dizer: parabéns, Silvestre, que bela partida tu fizeste! E não fosse o facto de estares a enfrentar o equivalente futebolístico de dez Bolattis e um Kralj, e estaria aqui a tentar arranjar o telefone de meia-dúzia de clubes árabes para lhes dizer que há aqui um internacional luso que destroca futebol como o LeBron dribla uma bola de basket! Muito bem nos dois golos e na inteligência com que controlou a grande maioria dos lances de que fez parte, mas acima de tudo pela forma como pegou na bola sem medo do lateral que apanhou pela frente e tentou várias vezes furar, penetrar, rupturar (sounds dirty, don’t it?) a defesa contrária. Gostei, quero ver o mesmo contra o Maxi e o André Almeida ou lá quem raio vai jogar nos flancos do Benfas no próximo Domingo.

(+) Defour. Excelente jogo do belga, na posição que gosta. E foi dos únicos que fazia aquelas estranhíssimas colocações de pés que a maioria dos colegas parece achar alienígena: recebe a bola, controla-a e envia para outro colega. Uau, que estupor de génio! É assim que Steven joga, simples, prático, sem inventar muito a não ser quando sobe no terreno com a bola (habitualmente bem) controlada, mas mesmo aí procura sempre encontrar o melhor espaço por onde passar o corpo e a melhor opção para onde passar a bola. Apesar de compreender os motivos, tenho pena que queira sair, até porque um médio com esta qualidade e experiência não se encontra facilmente. Mesmo depois daquela parvoíce em Málaga no ano passado.

(+) Kelvin, quando é prático. Há quem goste do estilo. Há quem o odeie. Mas ninguém fica indiferente ao rapaz desde 11 de Maio de 2013, por isso quando pega na bola no relvado do Dragão, centenas pensam que vamos ser campeões outra vez. Nem sempre, mas a verdade é que o rapaz tem talento e quando o aplica na dose certa, é um abre-latas porreiro. Não o vejo como titular no FC Porto, especialmente se Quaresma atinar no flanco e Varela mantiver o nível, mas é muito útil para ter no banco. Só tem de parar de se atirar para o chão.

(-) Danilo e Alex Sandro. Continuo a achar que há jogadores feitos para jogarem em qualquer altura e contra qualquer equipa, ao passo que outros servem para jogos menores e ainda outros que só servem para jogos que acham ser “de jeito”. Danilo e Alex Sandro estão neste último grupo, porque a forma indolente com que encaram jogos “menores” devia ser castigada por um qualquer treinador com uma ou duas corridas à volta da cidade do Porto. Sim, da cidade, não só do Estádio. E deviam fazê-lo com cães raivosos a tentarem morder-lhes os calcanhares. Não é de agora e o comportamento persiste há tantos anos que começo a desistir de perceber algumas destas mentalidades, porque me custa ver outros rapazes na B ou nos sub-19 que davam um anel do esfíncter para jogar noventa minutos pela equipa principal…e estes moços têm essa hipótese e não querem saber. Um treinador que não tivesse medo de apostar na miudagem…já lhes tinha dado férias e deixava de ver aqueles focinhos desesperadamente aborrecidos em jogos de caca.

(-) Josué. Há uma linha ténue que distingue a forma como trato um médio criativo quando falha passes. De uma certa forma não me incomoda que os tente porque sei que vai falhar alguns, por isso incentivo-o sempre a fazê-lo desde que o jogo começa. Mas quando o rácio de passes certos começa a ficar abaixo dos 20 ou 30%, enerva-me. Talvez não seja a maneira mais pedagógica de ver a performance de um jogador…mas eu não estou aqui para ensinar ninguém. Acerta a merda dos passes, Josué.


Seizazero em casa. Nunca é um resultado mau vencer um jogo por uma margem destas, mas se formos a ver a qualidade da equipa do Atlético, só ficamos a perder uma goleada que podia ser histórica. Mantenho a ideia que devemos jogar a sério mesmo contra equipas pequenas, até porque é uma forma de lhes valorizar o trabalho, que por muito ineficaz que seja, ao menos é feito de suor. Hoje, apesar de termos jogado com seriedade e sem facilitar em demasia…nem precisamos de mandar lavar as camisolas.

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Ouve lá ó Mister – Atlético

Mister Paulo,

Começamos um novo ano no melhor local do mundo para arranques em grande, pelo menos desde que o Tarik se passou da cornadeira mourisca e lá foi em direcção à baliza do Mandanda sem dar hipótese nem ao moço nem a ninguém. E agora, que voltamos a jogar para mais um jogo dessa competição fantástica que me interessa ligeiramente mais que a Taça da Liga e que a Supertaça (sim, é a “minha” terceira competição), estou à espera de uma exibição estupenda!

Estou a mentir, como já deves ter percebido. Não estou à espera de nada de fabulástico, de grandes jogadas nem insinuações de uma equipa mandona e de um futebol extraordinário. Sou racional o suficiente para antecipar que vai ser um FC Porto aborrecido, semi-tristonho e que não vamos ter um FC Porto dos primeiros vinte minutos contra o Atlético ou da primeira parte do jogo da Supertaça. E é isso que me anda a lixar a cabeça, sabes, Paulo? É o não conseguir sequer pensar num jogo inteiro em que tenhamos estado bem. Assim cem por cento bem. Um jogo em que tenhamos arrancado com garra, imposto a nossa autoridade, comandado a partida, o resultado e a atitude de uma forma de tal maneira inequívoca que nada sobrava ao adversário que não uma fugaz tentativa a trinta metros da baliza e pouco mais. E nem sei se este jogo da Taça é o melhor que nos podia aparecer neste momento, especialmente sabendo que para a semana vamos à Luz. Agora, interessa-me sinceramente perceber se estamos ou não em condições psicológicas para ganhar facilmente ao Atlético…e não o garanto.

Enfim, talvez esteja com os pistões pessimistas em overtime. Entra lá em campo, muda um ou dois gajos e mostra-nos que o meu FC Porto ainda é o que eu quero que seja.

Sou quem sabes,
Jorge

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