Panem et circenses

Chegou Danilo, juntam-se agora Lucho e Janko, sairam já Walter e Fucile para o Brasil e zarpam Belluschi e Guarín para Itália. Soa a uma revolução na mentalidade de um conjunto de jogadores que provaram não conseguir criar uma estrutura coesa em campo para equivaler aos desafios que no pós-zénite de Dublin lhes foram colocados. A aposta nestas duas contratações de último dia trazem dois pontos que não poderão ser contestados: é uma assunção de falha pela parte da cúpula na planificação da época pelo risco da aposta exacerbada em Kleber/Walter para a solução ofensiva central; é também uma inversão pontual da estratégia de vários anos para provocar uma mudança de atitude para os próximos cinco meses.

É, mas não só.

Lucho é um negócio imperdível, tanto do ponto de vista de investimento para um presente que se quer melhor e mais consistente como para um futuro próximo com liderança e inteligência em campo que Belluschi nunca conseguiu e Guarín, a espaços e fundamentalmente na segunda parte da época passada, ainda chegou a fazer crer que iria providenciar. É circo, dirão, é uma manobra para amaciar adeptos e moralizar o público. Evidente. E dirão com toda a razão. Mas acaba por ser uma opção que se torna impossível de abdicar quando a vontade do jogador se junta à tremenda necessidade de alguém que consiga ligar as transições tácticas do meio-campo para o ataque, ainda que num estilo que se quer diferente do que executava na altura em que por cá andou. O plantel, a equipa que Lucho encontra é radicalmente diferente daquela que deixou no verão de 2009 quando rumou a Marselha. A muleta que tinha em Meireles tem agora menos uns centímetros e menos força, o avançado rápido e letal que encontrava nos espaços frontais continua na Ligue 1 e só quatro são caras conhecidas no onze para onde vai rapidamente entrar. Mas Lucho pode ser uma chave importante não para recriar o estilo de Jesualdo com os passes rápidos e as desmarcações cruzadas, mas aproveitando a experiência e o talento do argentino continuar a progredir numa estratégia de passe curto e um jogo de posse que deveria pautar cada vez mais o nosso jogo. Vários jogos já vimos em que a equipa não só entrou desagregada como acabou por se dissolver na relva como um grupo de putos com mente fraca em corpo são e a esperança que Lucho sirva para criar um espírito renovado e pautado pela sua própria força está na cabeça de todos os adeptos.

Janko é diferente. Para além das óbvias limitações financeiras que terão ou não impedido a contratação de outro nome, o austríaco chega sob pressão. O nome não entusiasma, a nacionalidade muito menos, a ausência da Liga Europa é infeliz, os valores são riscados como banais e os golos apontados não levantam o sobrolho. É uma aposta, mais uma entre muitas, num jogador que não creio reunirá grande consenso mas tem a vantagem de também não agregar o binómio nome/reputação de tal forma que leve os adeptos a pensar em golos de cinco em cinco minutos. E apelando ao meu próprio rácio de optimismo e pessimismo, não posso esquecer que houve um Kaviedes para cada Jardel, um Pizzi para um Falcao ou um Mielcarski para um McCarthy. É simples: não há pontas-de-lança que garantam golos per se. E do que conheço de Janko, do ponto de vista do tipo de jogo que gostava de ver no FC Porto, não encaixa. Mas eu não conheço Janko por aí fora e por muito que o rapaz tenha a infelicidade do apelido em lusa língua ter de evitar a rima caso não funcione, a verdade é que terá de jogar sem período de adaptação, a frio, no lube available. E pode doer se não puser a bola no fundo das redes vezes suficientes para reclamar o crédito.

São negócios de inverno, quase sempre feitos para corrigir problemas, adaptar estratégias e alterar posicionamentos. São feitos em cima da hora, fruto de ganância de empresários, pressões de jogadores e impulsividade de treinadores. A gestão destes negócios está a ser feita de dentro para fora, numa óbvia tentativa de controlo de estragos para evitar o total alheamento dos adeptos até ao fim da temporada e ganhar um balão de ar e adiar próximas manifestações públicas de desagrado.

Talvez, mas não só. Algo está diferente no FC Porto. E um optimista, como eu, quer sempre ver mais pão que circo.

Link:

Os putos

Estes foram os jogadores que figuraram em quatro jogos aleatórios entre FC Porto e Vitória de Guimarães. As épocas escolhidas: a primeira de Oliveira, a última de Mourinho, a última vitoriosa de Jesualdo e a primeira de Vítor Pereira.

Para lá das vitórias nos quatro jogos que são sempre um consolo para a alma, saltam à vista as médias de idade dos onze titulares e dos suplentes. É notório o acréscimo da juventude do plantel e mesmo que não tenha feito parte desta equipa um dos essenciais – Hulk – a sua adição ao onze no lugar de Kleber faria com que a subida na média fosse negligenciável (0.2 anos) mantendo-se abaixo dos 23. Se olharmos para os números excluindo os guarda-redes, vemos que a média é habitualmente ainda mais baixa.

A experiência é importante a este nível e alguma da ineficácia e inconstância exibicional até pode ser atribuída a uma menor tranquilidade em pontos-chave de uma partida ou nervosismo pela presença de tanta juventude em campo. É verdade também que uma boa parte desta miudagem não será propriamente novata neste tipo de andanças, porque se até James e Iturbe estiveram já em competições internacionais em clubes e selecções, muitos dos outros nomes são recorrentemente convocados para as suas selecções e já representaram diversas equipas na Champions e na Liga Europa. A junção de todos os nomes numa só folha de jogo é que pode de facto provocar alguma instabilidade no tradicional fluxo mental e moral de um jogo de futebol.

O presente pode precisar de algum trabalho, mas não pode haver dúvidas que o futuro já está a ser preparado há muito tempo.

Link:

Desta vez, o ponta-de-lança que é ponta-de-lança não parece ponta-de-lança

“A evolução na continuidade do colectivo montado por Vítor Pereira é um caso. A pouco mais de uma semana de terminar o “mercado” de Janeiro, ainda há gente que não só não percebeu que não vem um ponta-de-lança para o FC Porto porque não é urgentemente preciso e não há dinheiro para comprá-lo nem oportunidade para acertar na escolha, rejeitando-se e bem a situação de comprar por comprar. Resta ao treinador, cuja competência nesta situação não só complicada como limitada pelas opções tem sido evidente, trabalhar e exaltar o colectivo para obter resultados, enquanto muitos esperam brilhantismo como a única forma de chegar aos títulos que sobram.
Tenho marcado a este nível mais do que nunca a minha opinião, ao arrepio da quase totalidade da bluegosfera. Não por não achar que não é preciso um pdl, porque já desde a saída de Falcao que o vinquei e a inferioridade europeia do FC Porto ficou patente no comparativo negativo face às opções das outras equipas no grupo da Champions, inclusive o excelente Ailton do APOEL. Mas por perceber as condicionantes em que se movem os responsáveis portistas. Gostando ou não apoiando esta ou aquela opção, é dever de ofício, no caso para quem escreve, perceber porque se faz ou não uma operação. E não só resta pouco tempo, como o tempo que resta não chegará para ambientar um potencial novo reforço para uma área efectivamente carenciada.”

Zé Luís in Portistas de Bancada

“Kléber nunca deslumbrou, é verdade, mas já provou que é bem melhor do que tem mostrado nos últimos jogos. O jovem brasileiro tem capacidade, margem de progressão, mas nos últimos tempos parece que bloqueou. Quando se esperava evolução, tem havido regressão, parece que desaprendeu, que nem nas bolas mais fáceis acerta. Porquê? Porque e isso para mim é claro, a juntar à instabilidade da equipa – não ajuda ninguém, muito menos os mais inexperientes e que só agora chegaram -, a pressão e a carga que lhe colocaram sobre os ombros, tem sido demasiada. Kléber precisa de calma, tranquilidade, ter uma evolução natural e não a responsabilidade de ser o avançado que substitui Falcao, com tudo que isso implica, sabendo-se das virtudes e dos golos que o colombiano facturou com a camisola do F.C.Porto. O erro não está na contratação de Kléber, não, o erro está na não contratação de um substituto de Falcao, disse-o no primeiro dia após o fecho do mercado, Fechou o mercado. É hora de dizer alguma coisa. Mas como também disse nesse post, a partir do momento que não veio ninguém, não faz o meu género, sempre que um ou outro resultado não eram positivos, vir a terreiro dizer, “já sabia, já tinha avisado, foi um erro, se tivessemos um avançado, etc,” até porque era chover no molhado, não resolvia nada. Não tinhamos cão, tinhamos de caçar com gato.
Agora é diferente, o mercado está aberto e por isso é a hora de reclamar um avançado – já cá devia estar desde o início dos trabalhos, pós férias natalícias. E a vinda ou não de um avançado pode fazer toda a diferença no que seremos capazes de fazer até ao final da época, por todas as razões e também por Kléber.
Os tempos não estão fáceis, o pilim está caríssimo, mas seria para mim incompreensível, não seríamos Porto, se perante as notórias carências que temos na frente e depois do empréstimo de Walter, não contratássemos ninguém.”

Vila Pouca in Dragão até à Morte

A somar a estas duas opiniões temos a do José Correia no Reflexão Portista, que por ter escolhido usar uma resposta de Vitor Pereira não me deu material para citar mas deixou bem evidente a mensagem que percebeu ter sido enviada pelo treinador tanto aos seus patrões como aos sócios do FC Porto.

Acho sempre curiosa a forma quase antagónica de ver uma situação como a da contratação ou não de um ponta-de-lança para o nosso plantel, numa altura em que tal questão gera conversa atrás de conversa mais ou menos inflamada entre os adeptos portistas. E vejo-me, como tem sido hábito, a concordar um pouco com ambos.

É uma verdade que Kleber não é Falcao. Não o é agora e talvez nunca o venha a ser e também é verdade que o facto da aposta ter sido feita na colocação do brasileiro no lugar do colombiano não foi uma vitória no papel nem na relva. E estas duas opiniões de que me socorri em cima comprovam que olhando por que lado olhemos, poucos acreditam que a estratégia possa passar unica e exclusivamente por Kleber na frente de ataque. Seja com Hulk deambulando do centro para as alas, adaptando o tradicional esquema de 4-3-3 num harmónico com maior mobilidade entre os três avançados ou recuando um ala para o meio-campo e usando James como 10 “plus”, a convicção mantém-se: Kleber não chega.

No jogo do passado Domingo contra o Vitória foi evidente que o grupo está a procurar fazer com que o rapaz se enquadre, ele que pode perfeitamente ser o único titular que não fazia parte da equipa do passado a par de Defour. Logo após o golo de Moutinho todos os jogadores, incluindo o próprio João, juntaram-se à volta do autor da assistência (para quem não viu, foi mesmo Kleber com um excelente toque por cima da defesa contrária), Helton correu da baliza para abraçar o colega, numa demonstração que tem tanto de fraterna como de autêntica. Mas Kleber, mais uma vez, não é Falcao. E o modelo de jogo do ano passado dependia em grande parte de dois factores que se associavam na perfeição ao jogo de posse: eficácia na zona central da área e rupturas rápidas pelo flanco. À medida que Falcao ia facturando e Hulk ia rasgando, a equipa construiu-se em torno desses mesmos paradigmas e o jogo fluia naturalmente. A construção de jogo no meio-campo era essencial para trocar a bola até ao ponto em que pudesse ser enviada para Radamel ou Hulk e com Moutinho ao lado de Guarín ou Belluschi, a simplicidade de processos faziam com que a produtividade fosse elevada. Este ano, com menor eficácia no centro, Vitor Pereira optou por Hulk ao centro. Funciona, como já se viu, mas o modelo muda e as mesmas constantes não se podem aplicar.

Se somarmos a saída de Walter à equação, o panorama torna-se mais complexo. “Bigorna”, esse sim uma aposta redondamente falhada como alternativa tanto a Falcao como a Kleber, por tantos e tão variados motivos (válidos ou não) deixa uma vaga no plantel que será ou não tapada por um novo jogador. Mas seremos capazes de adquirir um jogador a um custo aceitável para a frente de ataque que nos garanta uma presença eficaz na área, entrosamento com o resto dos colegas…e acima de tudo golos? Mais que isso: valerá a pena? Uma coisa é certa: se vamos comprar só para equilibrar os números do plantel, não vale a pena. Mais vale promover o Vion.

Link:

Perdi o meu Fuciletador


Não tenho filhos. O mais próximo que tive em termos de relações parentais teóricas foi com este fulano, pela forma como o tratei desde que apareceu no FC Porto num frio Janeiro no longínquo ano de 2007. Como um pai ausente que aparece em casa de semana a semana só para ver se os putos já têm dentes ou se a mais velha se está a dar bem no colégio, tratei-o como um filho. Gritei com ele quando fazia a sua habitual dose de parvoíces, elogiei-o quando era preciso e só me faltou coragem para o encontrar no fim de um treino, sentá-lo no meu colo de barriga para baixo e dar-lhe uns açoites bem dados no rabo. Sem qualquer tipo de perversão incestuosa homo-erótica, deixem-se lá disso. Por muito que já tenha ouvido aqui em casa a expressão: “Nem penses, eu não sou a mãe do Fucile!!!”, a verdade é que me sentia como tal. E tinha orgulho no meu rebento, porque afinal nestes últimos 5 anos, Jorge Fucile venceu 12 títulos com a nossa camisola, leva quatro Campeonatos no bucho, outras tantas Supertaças, mais três Taças e uma Liga Europa. É obra conquistada pelo meu homónimo. E eu babado.

No entanto, sai do FC Porto de uma forma inesperada para a sua valia e importância no plantel desde há tanto tempo, mas que todos pareciam ver como inevitável tendo em conta as últimas não-exibições que tinha vindo a demonstrar. Sempre foi um dos meus jogadores preferidos, nunca o escondi. E o rapaz tem vários parafusos fora do sítio (dentro de campo, pelo menos), nunca foi consistente nas exibições, os cruzamentos raramente saíam decentes e as correrias loucas pelo flanco, tanto o esquerdo como o direito, nem sempre eram produtivas. Metia-se em problemas com os adversários por ser raçudo, caía vezes demais em deserções tácticas e tinha aquele ar de puto reguila com um olhar de cima para baixo como quem diz: “Eu? Sim, sou melhor que tu, e então? Anda lá, corre, passa por mim, vê se eu deixo. Não vales nada, seu conas!”. E enfiava um pontapé para a atmosfera.

Jogou com vários colegas à sua frente no flanco. Fosse Quaresma, Lucho, Lisandro, Tarik, Mariano, Hulk, Cebola, Varela…se qualquer um desses olhasse para trás o normal era estar ali atrás o uruguaio tolinho que se ria para os adversários e enervava os adeptos. Não me esqueço de tantos jogos em que saltei da cadeira a aplaudi-lo, como também me ficam na cabeça outros tantos em que me pôs a roer os dedos e a clamar para que estivesse atento.

Perco um dos meus jogadores fetiche, não um daqueles que adoramos odiar ou detestamos adorar. Um que sinceramente me sentia bem em apoiar. Um moço que me dava alegria de ver a jogar e que, não sendo o melhor jogador do Mundo, era um dos “meus” meninos. Desejo-lhe sorte, sabendo no meu coração que não o vou ver de novo na Invicta. Raios te partam, Jorge.

Aqui fica um resumo das principais referências a Fucile no Porta19:

PS: Caso se confirme a saída de Fucile do plantel do FC Porto, é sinal que o fim de um ciclo está em marcha e o processo de renovação do plantel já vai a meio apesar de toda a gente (incluindo moi même) não se ter apercebido. Guarín e talvez Sapunaru podem estar de saída. Rodríguez idem. Do tempo vitorioso de Jesualdo ficam apenas Helton, Hulk, Rolando e Fernando. Curioso, mas nada inesperado. Afinal, três anos na vida do FC Porto parecem uma eternidade.

Link:

Nestes dias, o ponta-de-lança que não é ponta-de-lança não é ala quando é ala

Ontem, lá para o meio do último terço do jogo, Vitor Pereira decidiu mais uma vez pela entrada de Kleber para a zona central, retirando Rodriguez e fazendo Hulk descair para a linha. Aliás, aposto que ontem as três substituições foram adivinhadas pela grande maioria dos portistas, não por terem sido fracas e previsíveis mas porque pareceram adaptadas, pelo menos no papel, ao jogo em questão. O ponto que gostava de focar é a necessidade da introdução de um elemento ofensivo central numa altura em que o jogador que estava a ocupar aquela posição está numa condição física que já não lhe permite efectuar a transição para a lateral de uma forma eficiente. Tornando o discurso mais coloquial e menos formal, meter o Kleber ao meio e encostar o Hulk na ala quando o moço está cansado não rende.

A ideia é interessante, especialmente quando a equipa está a precisar de transformar o jogo numa sequência de passes mais directos e incisivos, abdicando da troca de bola a meio-campo. Com a colocação de um corpo extra na área, capaz de receber cruzamentos e servir como parede para tabelas entre ele e os extremos que fazem diagonais ou médios mais subidos para remates frontais, a capacidade ofensiva e a pressão são aumentadas para carregar nos últimos cinco minutos como um elefante do exército de Aníbal. O de Cartago, não o de Boliqueime, entenda-se.

Mas o que vi em Alvalade foi a entrada de Kleber que pouco cheirou a bola, alimentado por um James desacompanhado, um Álvaro esforçado e um Hulk francamente cansado. Foram apenas 15 minutos mas tanta falta fazem esses novecentos segundos de intensa pressão, quando o adversário está a começar a duvidar das próprias capacidades físicas e técnicas, naquele período em que ataque após ataque começa a gerar no pontual inimigo uma descida de auto-confiança como a de um adolescente borbulhento quando se olha ao espelho. E Hulk, quando é encostado à linha para finalmente poder pautar o jogo com os arranques, as fintas em progressão e os remates de longe, já está cansado de umas largas dezenas de minutos a pressionar centrais e a perseguir as bolas perdidas sozinho com os colegas a 20 ou 30 metros atrás no terreno.

É algo que deve ser revisto por Vitor Pereira por forma a rentabilizar melhor o nosso Givanildo. Ou então é colocar o rapaz na ala onde é mais produtivo…e esperar até chegar o tal messiânico ponta-de-lança que possa entrar direitinho para titular e Falconizar o nosso ataque. Ou não.

Link: