Ouve lá ó Mister – Club Brugge

Companheiro Nuno,

Quando descobri que o Timmy Simons ainda jogava no Club Brugge, uma fantástica nostalgia caiu sobre mim e dei comigo a regressar ao início do século e a jogos vespertinos (que se esticavam pela madrugada fora) no antiguinho Championship Manager, quando este rapaz era um dos meus esteios do meio-campo, um trinco rijo como cornos mas que aparecia muitas vezes na vizinhança da baliza adversária, marcando e dando a marcar. Um herói nas minhas temporadas ao comando do Club Brugge (que terminou com vários campeonatos apesar da pouca glória europeia) que terminou com a saída amigável por forma a abraçar um novo desafio, ao lado, no PSV. Era um treinador inteligente mas firme com os jogadores, uma espécie de math savant com poucos dotes sociais que exigia o máximo da sua equipa e era capaz de sacrificar o jogo bonito pelo sentido prático. E era também um líder que ficava chateado com brincadeiras e que não gostava de baixar o ritmo mesmo quando estava a vencer por cinco ou seis.

Não mudei muito desde essa altura, pelo menos a nível futebolístico. Continuo a cerrar os dentes e a querer que a equipa jogue sempre no limite, até ao fim. Claro que já permito alguma gestão mas nunca em excesso, mas este jogo não exige menos do que absoluta entrega e concentração. Temos um ponto em dois jogos e se acham que é possível arranjar um milagre que nos faça ganhar os jogos todos da segunda fase quando não ganhámos nenhum na primeira, estão bem enganados. É para ganhar e para arranjar alguém que consiga, em campo, dizer ao Timmy Simons que ele pode ser um gajo porreiro mas o antigo treinador dele está do outro lado e não vai facilitar. Desculpa, Timmy, mas tem mesmo de ser.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Gafanha da Nazaré 0 vs 3 FC Porto

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Podia ter sido um jogo giro, daqueles de taça a sério, num campo pequeno cheio de lama e apanha-bolas caseiros, com o colosso a tremer sempre que o adversário, aguerrido e apoiado pelo seu público que vê um grande a jogar na sua terra-natal, arranca pelo terreno como gauleses perante romanos. O futebol moderno não quis que assim fosse e assim sendo foi apenas mais um jogo normal com um resultado normal. E nunca estas coisas ficam para a história, infelizmente. Notas já a seguir:

(+) Marcano. Uma assistência e um jogo rijo, sem invenções, sem preocupação com mais nada senão o sentido prático de retirar a bola da sua zona e de recuperar a bola de uma forma bem mais activa do que é habitual. Foi o melhor jogador em campo, o que pode parecer parvo num jogo contra o Gafanha da Nazaré, mas é o que temos.

(+) Otávio. Enquanto esteve em campo foi o jogador mais inteligente com a bola nos pés e o elemento mais perigoso sempre que recebia a bola do seu lado. Um golo que resolveu o jogo da melhor forma, com um serpentear impecável pelo espaço que lhe foi dado dentro da área, a mostrar que contra equipas teoricamente inferiores é sempre melhor fazer as coisas com cabeça e não com o coração.

(+) O entendimento Jota/André Silva. Continuo a gostar da forma como conseguem jogar juntos há relativamente pouco tempo mas parecem estar em sintonia na grande maioria das jogadas de conjunto. Se o FC Porto vai continuar com o 4-4-2, é com estes dois fulanos na linha da frente.

(-) Herrera. Muito lento, sem vivacidade e a falhar passes como um Stepanov de olhos tapados. E ainda conseguiu quase lixar a equipa ao conceder um livre directo mesmo na meia-lua da área por mais uma imbecilidade e lentidão na execução. Ao olhar para o banco e vendo lá Sérgio Oliveira, questiono-me do porquê de termos recusado uma oferta de x milhões pelo mexicano.

(-) Óliver. Complicou demais o jogo no meio-campo e nunca conseguiu furar a defesa do Gafanha com passes verticais. Quando pressionado fechava-se e fazia as rotações do costume mas raramente saía com a bola controlada. Melhorou depois do segundo golo.

(-) Brahimi. Podia ser um dos melhores do mundo porque tem talento para isso. Mas não lhe apetece e então nestes jogos ainda menos. Raramente conseguiu passar por jogadores do Gafanha da Nazaré. Está tudo dito.


Prova superada, sem grande necessidade de dispender esforço suplementar. Na terça-feira espero poder dizer o mesmo.

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Ouve lá ó Mister – Gafanha da Nazaré

Companheiro Nuno,

Já estou fartinho da selecção até à ponta dos cabelos que não tenho. Mas há uns pelos nas costas que apareceram há uns bons anos e que também estão tremendamente aborrecidos por terem de ver gajos de vermelho e verde em vez de assistirem aos jogos com o azul e branco que Deus manda! Não há direito!

Mas estamos de volta e logo num dos jogos mais absurdos do ano. Nada contra o Gafanha, com todo o respeito que me merecem tendo em conta que são um clube que nunca vi a jogar, do qual não conheço absolutamente nada e que nem sequer sei que cores usam nas camisolas. Nada contra a Taça de Portugal, seja qual for a encarnação de patrocinador que usam este ano (será sempre Taça de Portugal para mim até ao final da minha vidinha, mesmo que nunca mais a ganhe). Mas o que me lixa mesmo é este estupor deste jogo ser realizado em Aveiro. Às 21h30 da noite. Entre o FC Porto e uma equipa que joga no Campeonato de Portugal, Série Whateverthefuckaoquadrado. Newsflash, people: Aveiro não vai encher, o Gafanha tinha mais hipótese de nos envergonhar se jogasse no seu estádio e o dinheiro da televisão é a única possível justificação para esta mudança. Enfim, é o que temos, dinheiro antes do desporto, em tantas áreas desta vida à volta da tua vida, Nuno.

Seja como for, escolhe os gajos que te dêem garantias, dá hipótese às segundas linhas e reza para que tudo corra bem. Nao mudes onze mas muda alguns. Afinal, se não conseguem ganhar ao Gafanha…

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Nacional da Madeira 0 vs 4 FC Porto

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Bela noite na Madeira
depois de má ronda uefeira,
com Jota a triplar
e André a fechar,
saímos com festa à maneira!

Bora lá às notas:

(+) Jota. Mas que estreia a titular que tu tiveste, rapaz! Muito mexido na frente de ataque, com entendimento acima da média com André Silva (e muito acima do que seria expectável com os médios que surgiam na sua rectaguarda) e acima de tudo com agressividade na busca do espaço e da bola. Fez lembrar Lisandro na forma como correu e como lutou para provar a oportunidade que lhe foi dada. É muito novo, só vai estar cá um ano (previsivelmente) e ninguém conta que faça um hat-trick por jogo (neste caso é mesmo hat-trick, foram seguidos), mas esta vivacidade na frente de ataque era tão pedida e tão necessária que é natural que a malta se empolgue. Pode ter sido um jogo anormal mas a verdade é que marcou mais golos em quarenta e cinco minutos do que Adrián em dois anos. E diria que tambem correu mais.

(+) O eixo central da defesa. A equipa esteve sempre em campo com ritmo elevado, mas o Nacional também. E um dos motivos do pouco perigo que o adversário nos colocou esteve na excelente partida que fizeram os três homens mais defensivos na zona central, porque tanto Felipe e Marcano como Danilo um pouco à frente estiveram impecáveis na marcação, na força no contacto, no jogo aéreo e na recuperação da bola, com Danilo a exceder-se em bolas que roubou ao ataque do Nacional. Não foi aí que começámos a ganhar o jogo mas foi aí que o seguramos sem problemas.

(+) Troca de bola no meio-campo. Com Danilo em funções defensivas, Óliver a jogar de trás para a frente e constantemente a mandar no jogo, Herrera um pouco menos activo e Otávio longe da bola na primeira parte, é surpreendente que o meio-campo tenha funcionado tão bem, mas a verdade é que funcionou. Os golos ajudaram (e de que maneira) a que os homens se soltassem e que as marcações do Nacional fossem mais largas e propensas a falhas, mas a forma como a malta trocou a bola deu-me uma ideia de que estavam a gostar do que faziam. E essa alegria, essa vontade de jogar e de rendilhar o suficiente para chegar com a bola mais próxima da baliza contrária puseram-me um enorme sorriso nos lábios.

(+) Agressividade na recuperação da bola. Jota e André na frente, Danilo e Óliver no centro e Layún e Telles na área estiveram quase sempre em constante modo “BUSCA, BOBI!” em relação à bola. Pressão a meio-campo, nada de permissividades nem permeabilidades nem tirar o pé. Foi um jogo em que todos se podem orgulhar de terem feito o que era preciso da forma que era exigido. Fosse sempre assim.

(-) Os cruzamentos de Telles. O rapaz esforça-se muito e aparece montanhas de vezes na linha, prontinho para colocar a bola na área sem grande oposição para que o cruzamento saia perfeitinho. E contam-se pelos dedos das mãos de um serralheiro alcoolizado as vezes que saem direito. É espetar com um pino em zonas diferentes da área enquanto que o põem a centrar. Cada pino que falha dá uma volta ao relvado. Por fora.

(-) André Silva no 1×1, de novo. Oh Nuno, mas não há hipótese de conversares meia dúzia de minutos com o moço e lhe explicares que ele parece um defesa central foleiro quando se põe a enfrentar outros gajos com a bola nos pés? Ele é tão jeitoso na movimentação na área que até lhe fica mal, palavra…


O campeonato vai parar mais uma vez e vamos ficar muitos dias à espera para confirmarmos se a equipa está de facto a crescer ou se este foi um resultado anormal. Sofre, dragão!

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Ouve lá ó Mister – Nacional da Madeira

Companheiro Nuno,

Ao contrário do jogo de Inglaterra, onde todos os deuses normandos, saxões e beckhamianos estão contra nós, este jogo tem o histórico firmemente a nosso favor. O facto de ser o segundo jogo consecutivo disputado numa ilha é apenas uma coincidência e não deve ser levado em conta. E não estou com isto a pretender usar qualquer tipo de metáfora sobre “estarmos à deriva” ou que estás a ficar “isolado”. É apenas uma coincidência. Espero.

E esta seria uma excelente oportunidade para recuperares a nossa forma para que pelo menos do ponto de vista doméstico não percamos mais pontos para os outros concorrentes ao título. Cada ponto que se desperdiça é mais uma pedra que temos de empurrar a subir o monte e acho que já tens calhaus que chegue no bandulho até chegares ao cume. E nem vou fazer piadas com o cume, vê lá tu quão sério estou eu a falar disto. Por outro lado, também é uma oportunidade para fazeres lembrar ao Marcano que não pode repetir o jogo de ano passado, que no meio da imbecilidade de ter acabado no dia seguinte por causa do nevoeiro, ainda houve aquela extra imbecilidade do penalty que ele fez. Ele lembra-se, está descansado.

Acima de tudo, é jogo para ganhar e para os moços irem descansados para as selecções. E tu vai lá aperfeiçoando o modelo e o sistema, que isto de equipas em formação é giro e tal mas os resultados têm de ir aparecendo!

Sou quem sabes,
Jorge

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