Na estante da Porta19 – Nº19

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Não conheço ninguém que não tenha uma simpatia por um clube para lá do que vive no seu coração. Já falei sobre isso aqui há uns tempos e mantenho toda aquela hierarquia de que falava, apesar de ter cada vez menos tempo para dedicar aos outros dois sub-topos da pirâmide, logo abaixo do FC Porto: o Newcastle United e o FC Barcelona. Ainda assim, acompanho as aventuras (na maior parte do tempo desventuras, admita-se) dos magpies com a intensidade de um verdadeiro geordie, como se tivesse nascido e sido criado em Tyneside, com sotaque fechado e tudo. E foi assim que comprei este “Shirt of Legends: The Story of Newcastle United’s No.9 Heroes“, para conhecer mais sobre a história dos jogadores que usaram a mítica camisola nove do futebol mundial, aplicada ao contexto tão peculiar que é o clube que deu ao desporto nomes como Hughie Gallagher, Albert Stubbins, Jackie Milburn, Malcolm McDonald ou Alan Shearer. É uma excelente viagem ao passado por Paul Joannou, reconhecido como historiador não-oficial do clube. Uma espécie do equivalente britânico do Paulo Bizarro, pronto.

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Seis anos disto

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Há seis anos atrás, estava eu num daqueles empregos onde um gajo chega às oito e meia da manhã e começa a olhar para o relógio às nove. Decidi na altura arrancar um blog sobre o FC Porto e não tinha ideia que seis anos depois se iria tornar parte da minha vida, um dos hobbies que mais me agrada e que continuo com prazer. Uns dias mais que outros, mas foi-se apoderando de mim um sentido de dever, de catarse que me faz relaxar mais depressa depois de uma derrota e estender um pouquinho mais a alegria de uma vitória.

Foram seis anos de piadas foleiras, trocadilhos escatológicos, críticas a muitos, elogios a muitos mais, insultos que se transformaram em comendas e outras tantas que fizeram a viagem de regresso. Muita hipérbole, demasiada sanguinidade e a tentativa de ser imparcial quando nem sempre é possível. No âmago do motivo para a existência do blog, houve títulos, muitos e variados. Houve larguíssimas dezenas de jogos no Dragão, alguns fora de portas e uma viagem a uma final europeia. Houve golos, faltas, expulsões e penalties. Houve túneis, cincazeros, cincauns e romenos a dançar em cima de placards publicitários. Houve colombianos geniais, brasileiros doidos e portugueses brilhantes. Houve loucuras, nomes inventados, poesia e bandas desenhadas. Vários treinadores, montanhas de jogadores e centenas de comentadores. Evoluí a forma de ver futebol, conheci uma enormidade de pessoas neste estupendo mundo da internet que transpuseram a barreira da virtualidade para se tornarem genuínos companheiros fora do monitor. Transformei-me numa espécie de nano-celebridade conhecida pelo primeiro nome, logo eu que raramente tenho o prazer de receber esse tratamento devido à sonoridade e unicidade do meu apelido nos ambientes que frequento. Ajudei a organizar eventos para unir bloggers portistas por aí fora e discutir o clube e a sua vida. Contribuí para um livro e fui entrevistado na televisão (olá, Mãe!). Tornei-me mais activo no Twitter e divirto-me tentando divertir os outros.

Olhando para trás, depois de seis anos, cinco treinadores, quatro campeonatos, três empregos, mais de dois mil posts e uma filha, ainda cá estou. E estarei, enquanto me der gozo. Obrigado por ainda aí estarem a ler as deambulações parvas de um puto que nunca deixará de o ser. E continuo a não gostar do Briguel.

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Há onze anos


2004 (May 4) Deportivo La Coruna (Spain) 0… por sp1873

Tinha acabado de sair do cortejo da Queima das Fitas, o último em que participei com a actividade que me era permitida no estado em que me fui progressivamente encontrando, reminiscente de tantos outros cortejos com os mesmos ou outros colegas. O álcool flui livremente nestas ocasiões e é impossível de manter o controlo a partir de uma certa altura, porque a vontade de celebrar sobrepõe-se à inteligência e a emoção supera a razão a todos os minutos. Cerveja, litros dela, morna ou fresca, não interessa, porque o corpo vai acomodando os decilitros sorvidos pelo orifício de uma lata mal lavada e enfiada numa bacia de gelo que ninguém ousa questionar quanto à origem. Quanto é, menina? Um euro? Força, dê-me sete! Sei lá, fique com o troco! E distribui-se aquele pedaço de alegria líquida pelos amigos, brinda-se com choque mas sem ruído dos receptáculos, apenas das vozes que se erguem até ao céu e proclamam um qualquer desaforo que une e continua a unir almas e espíritos num uníssono só conseguido após vários anos de partilha das mesmas experiências.

E naquela terça-feira em Maio de 2004, outras vozes se juntavam ao coro. A vontade era grande e os jogadores imensos, aquele grupo de pariás de outras terras que se juntou debaixo do manto unificador de Mourinho na Invicta, que jogou do melhor futebol que vi e que dava segurança, estabilidade e confiança aos adeptos. E este foi um jogo tenso, cheio de pequenas guerrinhas, com o controlo da partida e um fio de não sorrir aos dragões e a bola a teimar a não entrar na baliza de Molina. Era bravo, este Depor, com jogadores acima de muitas médias, infelizmente colocado num nível que não merece por tanta comentariagem da nossa praça, incapazes de aceitar que as meias-finais da Champions se tinham disputado a Norte e agora ainda mais a Norte, dentro da mesma península.

Vi o jogo num ambiente que, agora que penso, não deveria ser memorável. Em pleno NorteShopping, já a caminho daquele spot onde milhares se iam (e vão) para se desfazerem em ainda-mais-álcool, com centenas de portistas colados à televisão e eu, ainda sem conseguir deglutir um grama que fosse de qualquer das dezenas de sanduíches e bifes enlatados que estão ao dispor de todos naquela praça. Bebia, só bebia, mais uma cerveja aqui, mais outra ali, e o jogo que não se desatava. Até que Deco fura pela área e é mandado abaixo. Collina não têm dúvidas, Derlei sobe, pousa a bola na marca, atira para muito longe de Molina que faz um voo rasante quase suficiente para desviar para canto. A bola entra. Eu salto, festejo, vibro. A final era logo ali. E foi. E foi nossa.

E vocês, onde estavam quando o “Ninja” enfiou a bola nas redes do Riazor?

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Baías e Baronis – Setúbal 0 vs 2 FC Porto

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Um lance bonito a começar e outro a acabar. E no meio? Uma enormidade de posse de bola que resultou em quase zero lances de perigo para a baliza do Setúbal, como se a maioria dos rapazes estivesse numa espécie de treino a meio-campo e que chegando perto dos “mecos” do outro lado, que como os “alemães de Bielsa” que Lopetegui já tinha usado no início da época, se limitavam a tentar tapar as nossas investidas sem grande sucesso até à entrada da área. Depois, era escolher o rapaz mais desinspirado e garanto que não seria uma selecção fácil. Enfim, vencemos. Notas já aqui em baixo:

(+) As trocas de bola no centro. Especialmente na primeira parte, a forma como o FC Porto trocou a bola na zona central do relvado foi nada menos que estupenda. Com aparente facilidade na movimentação das peças, a bola seguia em posse até ser entregue a um colega, triangulações quase perfeitas, endossos fáceis e lineares para os flancos e um bem-estar geral que parecia confundir alguém que tivesse visto o jogo da semana passada na Luz. É assim o estilo que Lopetegui quer que o futebol da equipa seja, com passe curto, contenção no envio de canhoadas directas para o ponta-de-lança e facilidade na desmarcação. De salientar Brahimi que apareceu muitas vezes em zona de “10”, o que não me agrada muito mas que hoje acabou por funcionar até ao ponto em que era de facto preciso fazer qualquer coisa. Resultou no golo, nada mau.

(+) Alex Sandro. À imagem do que tinha feito na semana passada na Luz, apareceu em grande em Setúbal, a romper pelo flanco em subidas rápidas, aparecendo sempre no espaço e pecando apenas na entrega da bola para o avançado (não foi o único, ler abaixo…), mas foi um constante fluxo de jogadas potencialmente perigosas. Até apareceu ao segundo poste para tentar cabecear. Seu louco!

(+) Casemiro. Excelente na retenção da bola no meio-campo e o primeiro a fazer com que ela rodasse em boas condições para os colegas, foi também o elemento de força de que precisávamos numa zona em que está cada vez mais adaptado a saber quando ser rijo e quando ser prático. E a maior parte das vezes tem conseguido ser as duas coisas ao mesmo tempo, o que faz dele um elemento fundamental na estratégia da equipa. É por tua causa que o Ruben não joga tanto, Casemiro!!!

(-) A quantidade absurda de passes falhados. À semelhança do jogo da Luz, lances de perigo perto da baliza foram quase nulos e Raeder foi vendo o tempo passar sem precisar de se colocar em campo durante grande parte da partida a não ser meia-dúzia de cruzamentos altos e um ou dois remates ao lado. E todo o jogo que foi criado entre linhas não passou das duas primeiras: a defensiva e a do meio-campo, porque o ataque foi inconsequente com Quaresma, improdutivo com Brahimi e pouco mais que ridículo com Hernâni. Preocupa-me muito ver tanta posse de bola desperdiçada e sermos obrigados a andar até ao final do jogo a pensar se uma parvoíce nos vai roubar os três pontos. Não seria a primeira vez.

(-) Lances de bola parada. Mais um jogo em que diversas oportunidades se perdem entre jogadas pseudo-combinadas, maus cruzamentos e uma infeliz incapacidade de criar perigo em lances que são feitos exactamente para isso. É triste perceber que um canto para o adversário me deixa a tremer como um menino ao passo que o mesmo lance a nosso favor não levanta um mínimo de emoção na minha psique.

(-) A lesão de Marcano. Um lance de trampa pode ter levado a que Marcano falhe o resto da época. Não é justo e devíamos reclamar. A Deus, ao demónio dos ombros deslocados, seja a quem for. E já deu para perceber que a atmosfera não está fácil para espanhóis, porque depois de Óliver e Tello, agora este hermano também se estoura para umas semanas. Raios.


Fizemos o que nos era exigido e continuaremos a fazê-lo, espero. Continuo a acreditar que é possível e lá estarei no fim-de-semana para ver o Gil. A ver se também damos cinco.

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Ouve lá ó Mister – Setúbal

Señor Lopetegui,

Faltam quatro jogos para acabar esta coisa (ou dois, já que o benfas tem um jogo à frente e seis/sete pontos à frente) mas eu continuo a acreditar que é possível. Está lá no fundo, nas raspas do fundo do barril onde só cheira a borra, que estranhamente parece mesmo aquilo a que cheirou aquele jogo na semana passada. Fiquei desiludido contigo, Lope, por várias coisas: pela falta de convicção que os teus rapazes mostraram, pela incapacidade de os motivares para a ganharem e pela parvoíce de te mandares para cima do JJ como um puto amuado. Não é assim que vais ganhar aqueles gajos, Julen, acredita, especialmente a fulanos com a pedalada que ele tem para armar confusão. Já vais em dois rounds perdidos contra ele(s) e este já te deixou perto de um knockout simples. Não deixes que o próximo seja o definitivo.

Para o jogo de hoje, só me surpreende deixares de fora o Fabiano. O puto ainda não recuperou da coça que levou em Munique? Não estou aí dentro do balneário (mas gostava, carago, nos bons e maus momentos, o que eu gostava…) mas se o rapaz está sem condições mentais para continuar a defender a baliza, é preciso pensar bem no que se vai fazer com ele. Se for só uma indisposição temporária, tudo tranquilo, siga pra bingo.

Hoje é só ganhar. Não há outro resultado possível.

Sou quem sabes,
Jorge

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