Ouve lá ó Mister – Guimarães


Amigo Vítor,

Deixa-me ser o primeiro a dizer-te, com todo o respeito: “Ai o caralho!”. Aquele jogo em Barcelos não foi grande coisa, pois não, campeão? Não foi mesmo. Mesmo. E já te tinha dito aqui há uns tempos, com este tipo de jogos mandas abaixo qualquer tentativa que a malta possa fazer para estar com a moral em alta e responder à letra aqueles furúnculos de Lisboa. Mas continuamos por cá, Vitor, e continuo a confiar em ti.

Hoje o teste pode ser tramado. Ou não. Estou a ser sincero quando te digo não conheço metade da equipa do Guimarães e apesar de ser, como tu sabes, um gajo que gosta de alojar na cabeça uma quantidade absurda de factóides inúteis sobre futebol, a verdade é que ainda não me dei ao trabalho de saber o que eles valem. Só há uma coisa que sei com toda a certeza e que todos os que logo estiverem no Dragão também sabem: nós somos melhores. E não pode haver dúvidas nesse campo para que essas dúvidas não passem para o outro, o de relva.

Uma sugestão, só mais uma: Hulk, Atsu e Jackson. É esse o onze. Deixa o James aprender que tem de fazer mais para ganhar o lugar…olha que ele está a voltar aos maus hábitos de ano passado, quando só jogava bem se entrasse a meio do jogo porque se fosse titular era trampinha atrás de trampinha. Não quero trampinha. Quero ganhar a merda do jogo. Quero comer uma bifana e ganhar a merda do jogo. Quero comer uma bifana, beber um fino e ganhar a merda do jogo. Sim, é isso. Força.

Sou quem sabes,
Jorge

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I hate to see you go…mas tinha que ser.

Gostei dele quando chegou. Tínhamos acabado de vender Cissokho ao Lyon, naquele que foi um dos melhores negócios da História desde que os Holandeses compraram a ilha de Manhattan aos índios por meia-dúzia de dólares e dois espelhos em latão. Apareceu saído da Roménia e de uma boa carreira na Champions, num verão em que todos os jogadores que apareciam associados a outros clubes na nossa absurda imprensa desportiva pareciam vir parar ao Dragão (Falcao, Maicon, Ruben Micael ou Varela são alguns exemplos). Quando o francês saiu, pouco depois de ter entrado e após uma sequência absurda de laterais-esquerdos fracos ou adaptados (Ricardo Costa, César Peixoto, Cech, Lino, Fucile, Benitez ou Mareque) que se seguiram a Nuno Valente, também nenhuma vedeta mas certinho o suficiente para que pudéssemos ter segurança naquele sector. Álvaro era rápido, audaz, viril, forte. Era e continua a ser um excelente jogador, como disse em várias oportunidades, sendo que talvez o melhor resumo tenha sido na vitória na Luz para a Taça há dois anos: “Sem ele o flanco esquerdo do ataque do FC Porto fica manco, a funcionar ao ritmo de serviços mínimos numa repartição de Finanças em dia de ponte. Álvaro dá energia à ala, subindo desenfreado ao nível de um Roberto Carlos de boca aberta, a tabelar com o médio centro e a ajudar os colegas em todas as jogadas que entra, somando a isso alguns cruzamentos de grande nível.

Esta transferência será sempre considerada como uma cedência da parte dos mais fracos. Neste caso, o FC Porto, que se viu colocado perante a situação de ter de vender para rentabilizar o investimento e não ficar com o jogador parado/chateado e hipotecar a possibilidade de um encaixe financeiro. Dez milhões é pouco, dirão. É o que é. É o que conseguimos por ele e é sinal que o mercado está em baixa e que um dos melhores laterais-esquerdos do Mundo (e não há assim tantos que sejam de facto bons) é adquirido por um preço abaixo do valor que tinha no ano passado. E infelizmente este tipo de negócios só dá razão aos jogadores quando se revoltam em tempos de mercado aberto, quando fazem as birras que lhes apetece porque não lhes apetece ficar no mesmo sítio nem mais um minuto. Neste caso, Álvaro sai do clube que lhe deu tudo, que o expôs a outros mercados e lhe ofereceu todas as condições para prosseguir a sua carreira de uma forma que no Cluj nunca teria conseguido. Venceu dois campeonatos e uma Liga Europa, para lá de mais três Supertaças e duas Taças de Portugal. Não lhe chegou e compreendo que queira sair, experimentar outras andanças e outros mundos, mas custa-me que saia pela porta pequena. Não precisava. Mas desejo-lhe sorte de qualquer forma. Que seja tão feliz como outrora foi aqui. Não creio que seja possível.

E agora? Alex Sandro, o lugar é teu. Faz dele o que quiseres, mas fá-lo bem. O Mangala está aí à espreita e já sabes que o Vitor gosta de adaptar centrais às faixas. Just sayin’.

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DJ Alma

foto ASF, gamada de A Bola

Não é possível ter uma equipa inteira de Messis. Não é financeiramente suportável, perdem-se a maioria dos lances de cabeça e o guarda-redes via-se lixado para defender as bolas mais chegadas ao poste. Por isso se forem a ver em quase qualquer plantel do mundo do futebol civilizado, há muitos Djalmas com número atribuído e inscrição na Liga. O Real tem um Arbeloa, o United tem um Fletcher, na Juve joga um Asamoah e até há um Kroos no Bayern. Tudo jogadores que apesar de não serem vedetas mediáticas e levarem apenas trinta ou quarenta pessoas a sessões de autógrafos, são opções dos treinadores em várias alturas durante uma época que é longa e coloca a equipa perante diferentes circunstâncias que necessitam de diferentes jogadores com diferentes características.

Djalma era um desses moços. DJ Alma (como lhe chama na brincadeira um colega meu da bola), que não mostra classe mas empenho, que não é genial mas trabalhador, que nunca marca golos brilhantes mas ajuda a criar jogadas produtivas. É um team-player, mais um que está lá para mostrar o serviço que sabe mas acima de tudo o que pode. No ano passado, Djalma ajudou a equipa sempre que foi chamado ao relvado, fosse a extremo direito ou defesa direito, desempenhou um papel extraordinário no jogo da Luz para o campeonato, surgindo de trás para a frente e ajudando os colegas com o estilo…pouco estético que sempre mostrou. O Mariano Africano, chamei-lhe na altura do jogo em Paços para a Taça da Liga, que nunca virava a cara à luta apesar da luta lhe dar quase sempre duas lapadas nos dentes sempre que tentava fazer algo para lá do que sabia.

Djalmas e Jameses. É a dicotomia do presente. Queremos mais génios que não cumprem ou formiguinhas que cumprem pouco? Precisamos mais de um Paulinho Santos ou de um Kulkov? De um João Pinto ou de um Ibarra?

The jury’s not out on that one. E ao ver a equipa a arrastar-se em campo como vi no domingo em Barcelos, inclino-me mais para os primeiros. Boa sorte, DJ Alma. Não deixes que os turcos façam pouco de ti, rapaz.

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O meu primeiro derby no Bessa

Regresso mais uma vez a 1994. Quase 1995. Mais concretamente ao dia trinta e um de Dezembro de mil nove e noventa e quatro. O meu primeiro jogo oficial do FC Porto fora das Antas. Que melhor local para o desfloramento nas deslocações ao exterior que na própria cidade, num derby? O cenário: Bessa. O Bessa antigo, com o Boavista antigo, aquele que dava luta a todas as equipas mas principalmente à nossa, em que cada jogo era tratado como se fosse uma questão de vida ou morte. Os adeptos incendiados de um ódio perene e intransmissível, encaravam sempre os clássicos da própria urbe como uma batalha pessoal, dura, violenta, um duelo com sabres até que o torpe oponente caísse numa poça da própria imundície. Eram jogos rijos, tanto nas Antas como na Boavista, mas quando os axadrezados estavam perante o próprio público…amigos, os guerreiros ainda era mais cruéis, mais agressivos, mais brutos, com faces ruborizadas e relâmpagos nos olhos, o anormal do laço agarrado às redes e um estádio a gritar vis insultos aos irmãos do burgo.

Foi neste cenário bucólico que um rapazola, enérgico com a força própria que todos têm na idade da estupidez adolescente, decide ir ver o jogo. Último dia do ano, reveillon pronto para arrancar, famílias reunidas em casa, muita água a cair dos céus lá fora e a bancada norte do Bessa cheia de Portistas, sem protecção contra a natureza que não nos queria lá a nenhum custo. O frio apertava e a chuva, inclemente, caía sobre as nossas faces impelidas por um S.Pedro boavisteiro. Mas os corpos, tão frios por fora, ardiam por dentro.

As equipas eram grandes. A nossa e a deles. Avançávamos com grandes lusos. Baía, Pinto, Santos…Folha. Dois grandes russos. Kulkov, o calmo, tranquilo, pacífico Vassili. E o irreverente, Serguei “olha para mim a conduzir como um louco na Avenida da Boavista” Yuran. E o resto? Brasileiros. Aloísio = Classe. Zé Carlos = Inteligência. Emerson = Força. Uma tríade de perfeição futebolística no Bessa. Do lado do inimigo, um misto de experiência, loucura, velocidade, perfeição e talento. Querem nomes? Nogueira, Bóbó, Artur, Timofte e Sanchez. Chega? Chega. Era um excelente Boavista. Acabaram em 10º a cinco pontos da Europa. Mereciam mais.

O jogo começa. Duro, como se espera. A bancada abana, sofre, inunda a zona oeste da Invicta com cânticos, todos saltam, todos gritam, todos vibram. Os dois miúdos, o jovem e o amigo, também vibram, também gritam, também saltam. Embriagados com a emoção da partida, reunidos no meio dos correlegionários, apoiam e incentivam a equipa. E é no meio desta espiral de loucura futebolística que o Boavista marca. Sanchez, lá ao fundo, na baliza por baixo da bancada sul. A moral que roçava os cabelos nas nuvens do Valhalla caiu-me aos pés. “Foda-se”, gritei, “Havias de morrer, boliviano de merda!”. Corrigiram-me, diziam que era colombiano. “Boliviano, chavalo!”, respondi, “é um filho da puta dum merdas, mas é boliviano!”. Queria lá eu saber de que raio de antiga província hispânica da sudamerica ele vinha. Tinha-nos marcado um golo. Odiava-o naquele momento.

Não me lembro dos nossos golos. Chovia muito e estava longe, naquela gélida e elevada bancada no topo Norte do estádio. Vi-os ao longe, aos gritos. Vi Emerson a marcar e a empatar a partida, vi Kulkov a colocar-nos de novo na posição onde merecíamos. Enquanto Robson saltava no banco, um autoclismo voou para junto de Alfredo, rodeado de inúmeros isqueiros e moedas no relvado, porque telemóveis naquela altura estavam tão longe dos nossos bolsos como a prancha de skate do Marty McFly. Vencemos o jogo. Depois de terminado e de esperar na bancada que nos mandem para a saída, vou conversando com amigos, cantando aos nossos heróis, celebrando mais uma vitória no campo do inimigo. Era Cipião em Cartago, McCarthy nas Filipinas, Monty em El-Alamein. Triunfante, fora do estádio, ainda quente por dentro mas tremendo de frio por fora, voltei a sair, para festejar o novo ano que estava ali mesmo à beirinha.

Um derby, à antiga. Daqueles que, ao ritmo que as coisas vão andando, nunca mais vou voltar a ver.

PS: Sei bem que a foto não é desse jogo. Mas estamos a festejar o título no Bessa, em 1992. Pareceu-me adequado.

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Baías e Baronis – Gil Vicente 0 vs 0 FC Porto

foto retirada do MaisFutebol

Está a ser particularmente complicado arrancar, hoje à noite. Sinto-me como o Mariano quando tinha de controlar uma bola à primeira, nunca sabendo o que devia fazer, com tantos pensamentos (demónios, todos eles) a atravessarem-me a mona. O que eu vi foi o FC Porto, é certo, e foi o FC Porto 2012/2013, porque aquelas camisolas são iguais ao que já tinha visto na Supertaça. Estava lá o Hulk, o Lucho e um colombiano na frente…e pouco mais. O resto não me pareceu bem. Moutinho falhou dezenas de passes, Maicon travou a mente várias vezes, Otamendi parecia um júnior na Arménia a mandar bolas para a bancada e James fez mais um jogo de escondidas do jogo e do “vamos ver quantas voltas sobre mim mesmo consigo dar sem cair”. Foi mais um jogo frouxo, em que pouco pode servir como desculpa à lentidão, à exasperante falta de opções de passe e à aparente falta de vontade de jogar como antigamente se fazia, onde alguns loucos idealistas pensavam que era de facto melhor marcar um ou dois golos e gerir a vantagem, em vez de esperar pelo fim e tentar cruzar bolas à doido para ver se marcamos numa jogada de sorte. Eram loucos, eram. Notas abaixo:

 

(+) Lucho Um bom jogo de Lucho, muito interventivo e com um rendimento muito superior a Moutinho, o que não tem sido normal até agora nos jogos que realizámos. Constantemente a pedir a bola, foi quase um contrasenso ver Lucho, à medida que a equipa jogava no ritmo pastoso que via, era um dos poucos elementos que tentava de facto imprimir alguma velocidade no passe e na rotação de bola mais em cima do meio-campo adversário. Tentou vários remates, nenhum saiu particularmente perigoso, mas foi o jogador mais em destaque na criação de lances ofensivos pensados, exceptuando as arrancadas de Hulk, claro.

(+) Jackson Não marcou mas fez muito por isso. Tem um jogo mais posicional que Falcao e aparece menos de frente para a baliza que o compatriota (as comparações são inevitáveis, peço desculpa), mas tem um excelente controlo de bola e postura ofensiva suficiente para que os colegas lhe coloquem a bola em situações melhores que as que hoje teve. Bons trabalhos na área mas o fiteiro do guarda-redes do Gil estava em dia sim. Estupor.

(+) Hulk É fácil criticarmos as falhas, as perdas de bola e a excessiva conversa com o árbitro. Mas se formos a ver bem o contributo que Hulk hoje deu à equipa, é também fácil perceber que foi dos poucos que tentou, ao seu estilo, romper a defesa adversária e tentar o remate que tantas vezes nos deu as alegrias que queríamos hoje ter visto em Barcelos. Não o conseguiu e pareceu, como referiu um amigo num sms enviado pós-jogo, regredir uns anos quando mantinha a cornadura na relva e avançava como tanques alemães pelas Ardenas, mas à medida que o jogo ia avançando ia-se tornando evidente que os colegas simplesmente não estavam preocupados. E ele estava.

 

(-) James Mais um jogo “off” do novo 10. Fraco no 1×1 (é assim tão improvável conseguir driblar aquele idiota do defesa direito do Gil Vicente sem cair?!), terrivelmente ineficaz no passe e na transição ofensiva, foi quase invisível a presença de James em campo enquanto lá esteve. Preocupa-me a inconstância exibicional do colombiano, tendo em conta que é uma das poucas nuances tácticas que a equipa exibe em relação ao ano passado. Não o vejo a evoluir, não o vejo a explodir para um jogador que queremos que seja uma das putativas jóias da coroa por forma a conseguirmos vendê-lo, valorizado, daqui a uns anos. Tem de melhorar muito.

(-) Moutinho Completamente fora de jogo hoje, o nosso João. Sem ideias, sem passes de ruptura, sem concentração e sem cabeça. Esteve apagadíssimo no centro do terreno e acabou por desaparecer da partida depois da saída de Fernando, altura em que foi obrigado a ocupar uma posição (ainda) mais recuada em campo e mais central em relação ao jogo da equipa. Cansado pelo jogo da Selecção, talvez, mas não posso arranjar desculpas: Moutinho fez um jogo muito fraco.

(-) A coerência exibicional com a época passada Isto é que me deixa mais chateado e não consigo evitar ficar neste estado porque eu e todos os portistas aturámos uma temporada em que apesar do campeonato ter ficado do nosso lado, as exibições foram consistentemente fracas, desconexas, com recurso a lances individuais para decidir resultados e com muito poucos motivos para satisfação plena depois de noventa e pico minutos de futebol. O ritmo continua lento, as ideias continuam sem aparecer, os jogadores mantém-se numa movimentação arrastada e sem acelerações para uma competição que apesar de não ser do topo do futebol europeu, está perfeitamente ao nosso alcance. E perder pontos contra os Gis Vicentes deste campeonato é sinal de uma equipa que não quer subir, que não quer crescer, que parece estar enervantemente à espera que algo aconteça para mostrar alguma vontade. Fraco, mais uma vez. Quantas vezes é que já tive este discurso…


E lá vão dois pontos perdidos contra uma equipa que não poderia aspirar a mais que perder por poucos contra o FC Porto. Não consigo ter pena do Gil Vicente por só ter seis jogadores no banco, porque não conseguiram contratar mais nenhuma opção válida, yadda yadda. Tretas. O que me interessa é o FC Porto e APENAS o FC Porto. E hoje, mais uma vez, Vitor Pereira mas principalmente os jogadores decepcionaram-me bastante, o que já acontece desde Setembro de 2011. E custa-me ver que não vejo melhorias ao fim de tanto tempo, continuo a lamentar as jogadas falhadas, os passes a quarenta metros, as descombinações combinadas, os cantos que não causam perigo e os livres para a bancada. Estou decepcionado.

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