Pipos e Yeros

foto retirada de fcporto.pt

Poucas coisas são tão questionadas na estratégia de mercado do FC Porto como o aproveitamento (ou falta dele) dos putos que saem dos nossos escalões de formação. Já houve tantos jogadores que passaram por todas as camadas jovens com sucesso e chegaram ao último patamar de acesso à primeira equipa para serem emprestados ou vendidos e nunca mais regressarem ao plantel principal. É óbvio que se torna fácil questionar a validade da estratégia, seja por motivos patrióticos – porque o Porto é uma nação – ou financeiros, e de facto acaba por ser simples olhar para os números e tentar perceber o porquê da menor aposta na malta jovem quando se torna adulta.

No ano passado, Caetano saiu para o Paços de Ferreira e começou a época em grande até se lesionar e ficar encostado o resto da temporada. Alex e Monteiro, também eles saídos dos sub-19, foram para o Santa Clara e a meio da temporada foi Tengarrinha que rescindiu amigavelmente e agora vai continuar a carreira no Setúbal. Emprestados foram muitos, para Portugal e para o estrangeiro, tanto os que saíram dos sub-19 como outros putos que já em idade sénior continuaram a ligação ao FC Porto mas foram jogando noutros lados. Esta temporada, já vamos em várias saídas e nota-se alguma inversão do que tem sido hábito em anos anteriores: em vez de empréstimos imediatos, uma boa maioria dos jogadores não receberam ofertas para assinarem contratos profissionais e ficaram assim livres para negociar o seu futuro. Directamente dos sub-19, “Pipo” e  Tiago Maia saem para o Santa Clara, Bacar Baldé para o Paços, Engin Bekdemir para o Kayserispor, Hugo Sousa para o Brasov e Ricardo Ferreira para o Milan. A somar a esta malta houve igualmente contratos que foram terminados, como os dos “holandeses” Josué e Chula que depois de rescindirem foram para Paços e Leiria respectivamente, Rabiola que arrancou para Santa Maria da Feira e Yero que vai alinhar agora no Gil Vicente.

Uff. Muitos nomes, muita tinta, muito talento.

Mas em todos estes nomes, que podemos adicionar a uma lista enorme de muitos outros do passado portista, quantos deles é que de facto veriam a alinhar regularmente ou sequer a lutar com outros elementos do nosso plantel pela titularidade? É verdade que são jovens e que o talento nem sempre acaba por ser bem aquilatado numa idade em que a inexperiência se sobrepõe à inteligência competitiva, mas parece-me evidente que rapazes que não conseguem fazer a diferença na Orangina ou em equipas mais fracas noutros campeonatos, que garantias darão para serem opções válidas numa equipa com as responsabilidades da nossa?

Já no passado tinha falado neste problema que continuamos a ter com os rapazes que saem da formação. É lógico que há uns mais talentosos que outros e acabam por render no nosso ou noutros campeonatos (como são o caso de Paulo Machado ou Vieirinha) e há sempre a hipótese da decisão de libertar o jogador se vir a provar como errada alguns anos mais à frente. Mas o número de jogadores que o FC Porto mantém sob contrato desde há muitos anos é exagerado e tem de ser reduzido. Não podemos esquecer que esse número cresce sempre com mais 14 ou 15 todos os inícios de época, quando os jovens da formação aniversariam e o clube tem de decidir se oferece ou não um contrato profissional.

Apostar apenas naqueles que nos puderem dar garantias práticas de bom serviço imediato e gradualmente “despachar” os menos aptos parece ser a próxima estratégia. Pode ou não ser a melhor forma de organização interna, mas é uma das possíveis e como a anterior não parece ter rendido muitos frutos, estou disposto a dar uma oportunidade a este novo approach. Se os rapazes fizerem um bom início de carreira profissional e acabarem por mostrar bom serviço numa equipa qualquer, o FC Porto tem capacidade financeira para ir lá buscar o puto de novo. Caso contrário “apenas” proporcionamos a formação de um jovem para o futuro e por muito que o lamente dizer, não se perdeu nada de verdadeiramente extraordinário.

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Bosingwa v2.0?

Está fechado. Não sei o que o rapaz vale, vi-o a jogar uma ou duas vezes pelo Santos e não me pareceu mau de todo…mas é uma verdade que 13 milhões de euros é muito dinheiro para uma aposta de futuro quando se trata de um clube como o FC Porto. É normal que surjam cada vez mais especulações para a saída de Fucile ou Sapunaru e estou a ver que estamos a pegar naquele que parece uma inversão do que se passou com o “Zé” desde 2003 até 2008. Ora leiam:

“Não me vejo como um lateral direito hoje, é uma coisa muito clara. Hoje me considero um homem de meio. Estou adaptado, tenho coisas para evoluir, mas vejo um caminho muito bom nesta nova posição”

Danilo, Abril de 2011

O seleccionador brasileiro dos sub-20, Ney Franco, diz isto do rapaz:

“Danilo é muito forte, tem uma grande potência muscular, para além de ser alto. Começou a carreira como lateral, numa linha de quatro jogadores, mas actualmente, no Santos, tem jogado no meio-campo. No entanto, aqui na selecção será defesa. É alto, bom no jogo aéreo, marca bem e tem força para fazer todo o corredor. Para além dessa disponibilidade física, cruza bem, marca golos e ainda bate cantos. É um jogador muito completo e só lhe falta amadurecer para chegar ao topo. Danilo foi muito importante na nossa vitória no Sul-Americano e tem qualidade para substituir, no futuro, Dani Alves e Maicon na selecção principal. Pelo menos é essa a convicção dos responsáveis da CBF.”

Ao contrário de Bosingwa, Danilo parece ter começado como lateral-direito e ter-se transformado mais num ala-direito ou num médio volante. Como parece jogar em várias posições no clube e na selecção, só posso esperar para ver o que é que o rapaz vale em cada posição.

Como já devem ter percebido sou um perene desconfiado de contratações milionárias. Acho sempre que a grande maioria dos rapazes se sentem pressionados pelo volume do negócio que os trouxe para cá e acabam por raramente confirmar o valor que têm logo na primeira temporada. Para além disso, a pachorra dos adeptos é inversamente proporcional ao montante que se paga por eles, o que leva a que a pressão aumente e leve a que o rendimento seja muitas vezes mais baixo do que poderia ser se a mediatização do processo fosse menor. Aconteceu com Valeri, Seitaridis, Fabiano, Diego, Maric, Walter Paz ou Lipcsei, e até com outros jogadores que posteriormente foram celebrados como vedetas portistas (de direito próprio, entenda-se) como foi o caso de Alenichev, Deco ou Pepe, que também chegaram com uma aura intensa e que só chegaram a um nível alto depois de um período de adaptação prolongado.

Mas por cada Fabiano pode haver um Falcao, para um Valeri aparece um Lucho, o que significa que todo o parágrafo anterior pode ser apenas (mais) uma diatribe parva de um adepto cauteloso. O que interessa é que o rapaz está cá e estou pronto para o ver a jogar. Que sejas bem vindo, Danilo!

PS: afinal vem agora ou só em Janeiro?

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They're like peas in a pod!

André Villas-Boas, 1 de Agosto de 2010, após a derrota com o Bordeaux no Torneio de Paris:

“Normalmente criamos muitas oportunidades de bola parada, hoje não fomos nós, foram eles. Mas o árbitro também ajudou, pois marcou muitas faltas. Nas bolas paradas é uma questão de detalhe e temos de analisar os golos sofridos.”

Vítor Pereira, 16 de Julho de 2011, após o empate no amigável com o Borússia Mönchengladbach:

Jogo interessante até à expulsão de Hulk, estávamos a evoluir e a procurar espaços e situações de golo. A partir desse momento, tivemos de nos reorganizar e não me lembro de nenhuma ocasião flagrante de golo deles. Podíamos ter marcado mesmo com dez. Lamento uma arbitragem desastrada. Mesmo perto do final da partida, há um penalty que o árbitro não viu ou não quis ver. Temos de analisar a expulsão do Hulk, mas houve inconsciência do árbitro.

 

Até agora, os estilos são idênticos. Quem aprecia o discurso está a gostar. O resto da malta espera pelos resultados nos jogos a sério.

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Baías e Baronis – FC Porto 0 vs 0 Borussia Mönchengladbach

foto retirada de fcporto.pt

 

Chegam atrasados estes B&Bs, mas devo começar por dizer que vi o jogo num estado lastimável, acabado de chegar a casa mas ainda com uma espécie de camada de pó e sujidade que assentava no corpo como queijo numa francesinha e que por imperativos estomacais teria de ficar mais umas duas horitas a germinar tudo que era bactéria até que pudesse ser raspada. Não se preocupem, já está. Voltando ao jogo. A análise devia limitar-se apenas aos primeiros 25 minutos, onde o FC Porto parecia a mesma versão de 2010/2011 na altura pós 5-0, com alguma lentidão mas com os processos bem inteligíveis, trocas de bola fáceis e fluidas e poucas situações de perigo a não ser as arrancadas de Hulk. O jogo estava interessante apesar da chuva e do terreno molhado, mas o brasileiro teve um “momento 2009” e não resistiu a chatear o árbitro mais enojante desde que Bruno Paixão apareceu no panorama nacional. Ganhou-se pouco do jogo e o que podia ter sido um bom treino ofensivo acabou por se transformar numa oportunidade para experimentar soluções quando estivermos a jogar com menos um jogador. Meh. Pouco mais. Vamos a notas:

 

(+) João Moutinho Está cada vez mais “patrão” no meio-campo e não há nenhum jogador que se assemelhe a ele no plantel. Talvez Ruben Micael ou Castro (com dois ou três Valiums no papo) poderão ser substitutos do nosso 8, mas é complicado atingir o nível que Moutinho hoje em dia exibe. A inteligência e o equilíbrio que continua a mostrar em campo, fugindo dos médios adversários enquanto procura um espaço para fazer o passe simples que cria perigo (não o passe complicado que pode ou não dar resultado) é notável e parece que está já quase em condições para começar a temporada.

(+) Hulk (o futebol) O que impressiona mais no que já vi de Hulk na pré-temporada é mesmo a capacidade física. O estilo está igual ao de ano passado, porque Hulk está muito mais “enabler” do que se tinha visto nas primeiras duas temporadas, por isso quando vejo Hulk a romper pelos defesas e a assistir colegas para golos, é normal. O que não é definitivamente normal é vê-lo a fazer exactamente o mesmo…a meio de Julho!!! Só podemos salivar a pensar na vantagem que podemos tirar de o ver nesta forma física no início da temporada, porque pode significar que mesmo sem um ou duas peças-chave, Hulk pode servir para resolver alguns problemas em jogos mais complicados.

(+) Sapunaru Esforçadíssimo, num terreno complicado e com adversários fortes, foi o melhor elemento da defesa portista que incluía um jovem ainda muito inexperiente, um careca que parece estar constantemente a fazer os mesmos erros e um capitão de equipa que não se sabe se fica ou não. Sempre rijo, sempre trabalhador, está a dizer a Fucile (ou a Danilo) que o lugar é dele, foi conquistado a pulso no Verão de 2010 e não vai ser fácil tirar a camisola ao romeno.

 

(-) Hulk (a conversa) Começo por defender Givanildo: o árbitro era uma real besta. Não teve a psicologia necessária para perceber que num jogo de pré-época a expulsão de um jogador é uma chatice porque os rapazes já estão cansados que chegue das tareias que levam nos treinos e acaba por estragar qualquer tipo de ensaio para uma equipa quando lida com situações como esta da forma que o fez. Foi arrogante e quis ser mais importante que os jogadores quando um árbitro só se deve mostrar quando fôr estritamente necessário e este não era um caso desses. Passando ao brasileiro: ÉS CAPAZ DE ESTAR FECHAR A MATRACA QUANDO UM ÁRBITRO TE CHAMAR À ATENÇÃO?! PARECES UM ADOLESCENTE BORBULHENTO, CARAGO!

(-) Varela Está na forma exactamente oposta ao que mostrou na pré-temporada passada. Lento, trapalhão, ainda não está com capacidade física suficiente para ser titular e tendo em conta que James estará ausente no arranque da temporada, talvez uma aposta em Djalma (ou mesmo Atsu) na extrema-esquerda não seria totalmente descabida. Ainda é cedo e terá muito tempo para melhorar a resposta que está a dar às cargas físicas, mas por agora quando a bola chega perto dele parece que sinto o jogo do FC Porto a travar e uma carga de tijolos a serem depositados nos pés do nosso Silvestre.

(-) Castro Tem de ter mais calma a jogar. Todas as vezes que vejo este rapaz com a nossa camisola parece que está a jogar como se estivesse sempre com um enxame de abelhas a picar-lhe as pernas e a fazer com que se enerve e deixe de saber jogar à bola. Homem, abstrai-te das cores que tens ao peito, mostra o que sabes e não te deixes incomodar com o ambiente, a equipa e os adeptos. O resto, acredita, vem por arrasto.

 

Depois de terminar o jogo deu para ver que o resto da malta teve hipótese de compôr os minutos com mais uma jogatina contra amadores. Desta vez com golos, como se quer. O que interessa é que o estágio no estrangeiro terminou e agora só me foco no jogo contra o Rio Ave e depois…siga para o Dragão, porque há festa no Domingo!

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