Animalices

A agressão a Rui Gomes da Silva, confiando cautelosamente na história avançada pel’A Bola na sua capa, é mais um exemplo da falta de inteligência de muitos adeptos da bola. Este recurso permanente à violência física que parte sempre do mesmo tipo de gente é um acto que me envergonha como amante do futebol, porque mostra a pouca fibra moral e ética de muita malta que não resiste a partir para a estupidez e para o confronto em vez de se limitar ao seu quintal e permitir que cada um tenha a sua opinião, por mais bovina que seja. Este é o mesmo tipo de gado que existe em todas as cores e sabores e que parte para a pancada só porque discordam da opinião de outros ou porque estão cegos pela filiação clubística, à imagem do que aconteceu no passado com Rui Santos, Dias Ferreira e outros (a SIC Notícias é líder também nos cronistas agredidos que emprega, parabéns).

Quem acompanha o Porta19 sabe que não sou o maior fã dele. Diria que é mais provável concordar com o Emplastro em matéria das condições de segurança na Faixa de Gaza do que com o vice benfiquista. Já falei mal dele por várias vezes (aqui, aqui ou aqui, para exemplificar) e sempre que o vejo dá-me um certo refluxo gástrico e tenho de mudar de canal para não sujar a carpete. E se o encontrasse num restaurante na Foz ou em qualquer outro lado, provavelmente não lhe dirigiria a palavra, mas se o fizesse seria exactamente com esse método: verbal, usando retórica, aquele pequeno extra que nos ajuda a distinguir dos símios.

E surpreende-me, caso as agressões sejam verdadeiras, ler tantos portistas a defender as agressões e a atirar as culpas para o jornal que reportou a notícia ou para a cúpula vermelha. Este tipo de evento só pode ser condenado sem qualquer hipocrisia e fica o lembrete: para a próxima podem ser vocês a levar no focinho. E acreditem que um punho fechado não tem côr.

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Eu concordo com o Rui Santos

É com o devido sentimento de nojo e auto-flagelação que coloquei o título neste post. Enquanto o escrevia, por entre os vómitos secos e o som das vergastadas do ramo de oliveira com que punia a minha carne pelo impropério de colocar as palavras “concordo” e “Rui Santos” na mesma frase, dei comigo a pensar: “Será que fui duro demais para com o Rui quando escrevi sobre ele no passado, aqui ou ali? Conseguirão duas pessoas tão diferentes como nós estar em consonância de opinião uma vez por muito solitária que seja?”

A primeira página de ‘A Bola’ da passada segunda-feira é um atentado ao bom-senso.

O que é interessante neste artigo de opinião publicado n’o Relvado, com a qual concordo depois de discordar muitas vezes, é a forma como Rui critica a parcialidade evidente d’A Bola perante as “notícias” e a “verdade” como eles a vêem. O que é ainda mais interessante é perceber que o mesmo Rui exibe o mesmo tipo de atitude economicista, em que o que vende é que é importante, como podemos ver todos os Domingos à noite na SIC Notícias, onde entre algumas verdades e muitas conspirações acaba sempre por dar ênfase ao que interessa mais ao povo…dele. Talvez o único ponto de concordância que sempre tive com ele incide sobre os media, dos quais Rui faz parte apesar da pose “holier-than-thou” que tantas vezes exibe, que se focam sempre no que mais interessa em desprimor do que mais importa. É giro dizer mal dos outros, não é? É tão fôfo criticar a manha (wink wink, nudge nudge) da imprensa não-cronista para depois colocar ainda mais sal na ferida dos lesados, escudando-se por detrás de um capote de imparcialidade que faz um trabalho tão bom para esconder as idiossincrasias futebolísticas como uma tanga a tapar a pança do Gobern.

É, Rui. Tu que trabalhas para melhorar o futebol, como apregoas, tu que vives dele e para ele e que tanto lhe deste e tanto continuas a tirar, não podes desfazer uma piñata imaginária quando ela própria têm as tuas feições. Mas dou-te este crédito: o jornal que hoje criticas é de facto um jornal diferente. Mudou para pior e aguenta-se à custa de ódios, de fachadas e de jantares. Jornalismo? Isso era dantes.

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Baías e Baronis – CSKA Moscovo vs FC Porto

 

foto retirada de MaisFutebol

Sem ilusões: o resultado é bem melhor que a exibição. Vencer na Rússia não é fácil para nenhuma equipa e enfrentar um CSKA em início de época, com o físico em alta e a moral no mesmo sítio…ainda é mais complicado. Jogadores como Vagner Love ou Honda são perigosíssimos e conseguir contrariar aquele jogo que parece lento, adormecido, retraído, pausado quando não tem a bola…e que se transforma num vendaval de futebol ofensivo veloz como o vento dos Urais, com passes a rasgar, desmarcações quasi-instantâneas e avançados serpenteadores (e a ganhar ressaltos como se Estaline estivesse a assinar a ordem de gulaguização à vista deles), é uma tarefa só ao nível dos melhores. Vencemos porque estabilizamos o nosso jogo, porque aproveitamos o nosso melhor momento para marcar e para acalmar o adversário que quebrou fisicamente nos últimos quinze minutos, onde podíamos e devíamos ter assassinado a eliminatória. Assim…no Dragão voltamos a falar. Notas abaixo:

 

(+) Guarín Ao contrário do que estava a discutir com o autor do Dragão Crónico, que me disse que eu teria de fazer a penitência de dar um Baía ao colombiano, é com todo o gosto que o incluo no topo da lista. Resolveu o jogo como tinha feito em Sevilha mas ao invés de entrar para ganhar um ressalto e atirar para uma baliza semi-deserta, desta vez Guarín dominou a bola à entrada da área, fez uma finta de corpo para tirar o defesa da frente e rematou com força e colocação para fora do alcance de Akinfeev. Sim, foi Guarín que fez tudo isto, ele que depois de uma primeira parte muito esforçada mas pouco produtiva apareceu mais solto, (ainda) mais guerreiro e muito mas muito mais eficaz na segunda. É uma figura peculiar, este tipo. Parece tosco mas consegue jogadas como a do golo; assemelha-se a uma preguiça no ramo de uma árvore quando pensa no que quer fazer mas avança como um leopardo esfomeado quando vê que tem espaço para furar, como fez na primeira parte em que depois de ganhar um ressalto, fintou um russo e espetou um passe de 50 metros para o flanco esquerdo. Está a ser muito útil esta época, principalmente em jogos como este em que o físico se tem de impôr à técnica. Guarín? Presente!

(+) Segunda-parte Mas que diferença fez o intervalo, minha gente! A segurança que faltou dos 0-45 apareceu dos 45-90, com uma mentalidade mais ganhadora, mais assertiva, mais calma e acima de tudo com uma noção táctica mais controlada. A equipa distribuiu-se pelo campo com um posicionamento que frustrou os russos vez após vez e que permitiu uma fracção das jogadas de transição que tinham ocorrido na primeira parte. Se haverá mérito no reposicionamento e na putativa lição táctica de Villas-Boas ao intervalo, o facto dos jogadores se adaptarem melhor ao relvado e às condições do jogo também deverá ter ajudado, mas seja como fôr os rapazes de amarelo subiram exponencialmente de produção e impuseram um futebol mais bonito e eficaz que levou a um resultado bastante positivo.

(+) Helton Se durante o jogo não tivesse andado a fintar adversários e a fazer-me esbranquiçar o pouco cabelo que ainda tenho, tinha ficado mais satisfeito. Mas perdoo o nosso capitão porque foi ele a última e intransponível barreira defensiva do FC Porto hoje no Luzhniki. Amorteceu o desnorte dos colegas que jogam à sua frente e defendeu tudo o que conseguiu, salvando a equipa várias vezes na primeira meia-hora de jogo. Mas pára lá de fazer as fintinhas, pá, palavra de honra que um dia destes vai-te correr mal a brincadeira e depois levas um Baroni que te lixas. Ah pois é.

(+) Fernando Foi, a par de Helton, o único jogador a fazer uma primeira-parte positiva. Nunca complicou e tentou sempre arrastar o jogo para a frente com muitos passes diagonais para a frente e a tapar no que podia em frente aos centrais. Com o meio-campo mais poroso que uma meia de rede e Moutinho+Guarín a não conseguirem suster os atacantes russos, foi Fernando que muitas vezes limpou a bola da nossa zona defensiva, sempre com sentido prático acima da média da equipa. Muito bem.

 

(-) Primeira-parte Foram 45 minutos de pressão intensa nas cabeças de todos os portistas que estiveram a ver o jogo. Os russos, agressivos e com transições rapidíssimas, lixaram de tal maneira a mona aos nossos defesas que nem Sapunaru nem Rolando conseguiram perceber o que deveriam fazer até chegarem ao balneário. Foram tantas as vezes que Honda, Love, Doumbia e companhinski passaram por eles que comecei a pensar que tinham o cérebro enregelado. Para além disso, a saída da defesa era quase impossível a não ser em bolas longas para Hulk, inepto desde a entorse logo no início do jogo, ou Falcao que tentava dominar a bola rodeado por gajos com camisolas do Chaves, ou James que andava empenhado mas meio perdido no meio-campo contrário. A somar a este desterro, Moutinho não conseguia acertar dois passes seguidos, Guarín tentava mas não saía nada e o único que se safava era Fernando que jogava mais prático e por isso com menos riscos. Foi uma tremideira que felizmente acalmou na segunda-parte, mas tivemos muita sorte em não ter sofrido pelo menos um golo.

(-) Adaptação ao relvado Acredito que os relvados na Rússia dêem mais jeito serem sintéticos até porque se torna complicado manter a relvinha bem viçosa quando caem toneladas de neve anualmente. É lá e na zona norte de Lisboa, onde o Sporting quer fazer o mesmo. Pensem novamente. Guarín e Hulk são vítimas de um tapete de cimento em côr castanho/esverdeada em que o resto da nossa malta bem pode agradecer aos anjinhos azuis que lá de cima lhes puseram a mão por baixo e impediram que se partissem todos.

Terminado o jogo, bebido o resto do segundo fino (um por parte para não encher mais a pança), descansei. Foi um jogo de nervos, uma batalha em Moscovo contra uma equipa muito forte que joga num estilo que me enerva pela incapacidade dos nossos rapazes se adaptarem à velocidade dos cruzamentos e das transições. O resultado é melhor que o conjunto das duas partes que foram tão antagónicas que parece estranho terem feito parte do mesmo jogo. Trememos na primeira, controlamos na segunda e conseguimos um golo que nos pode qualificar para os quartos-de-final de uma competição que parece cada vez mais ao nosso alcance. Não vai ser fácil o jogo daqui a uma semana no Dragão e não podemos descansar com uma vantagem tão curta, mas é possível marcar pelo menos mais um golo a estes russos enervantes. E cortem aquelas tranças de alien avatárico do Vagner Love, por favor. Nem que seja à lapada.

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Ouve lá ó Mister – CSKA Moscovo

André, oitavo-finalista!

E voltamos nós ao Leste. Já não bastava termos tido de jogar na Turquia, Bulgária e Áustria e só nos deram um bocadinho de descanso aqui ao lado em Sevilha (e que rico descanso, não foi? acalma-te, coração!) mas já nos recambiaram para a Rússia! É mesmo para testar a nossa equipa todo-o-terreno, que até agora já jogou em piscinas, campos de neve e no meio de pequenas tempestades de vento e chuva…e desta vez bora lá para um campo sintético com temperaturas de fazer gelar a bela tintinada.

Não incomoda, pois não, André? Nada disso, um gajo até parece que ganha um temperamento diferente a jogar com um briol descomunal, não é verdade? Então  não é, o Falcao até agradece, o rapaz em Viena andava todo contente a atirar bolas de neve aos amigalhaços, hoje até vai sentir falta de ter um boneco com uma cenoura na penca! É pena o Mariano não ter ido senão até podia servir de animação à malta!

Mas falando mais a sério, pá, que isto agora não é para brincadeiras. Oitavos-de-final não é mau, longe disso, mas acho que sabes que a malta está à espera que um gajo chegue aos quartos. É que temos hipótese de passar e por muito que o CêÉsseCápaÁ seja forte (e é), nós também somos. Relvado sintético? O Falcao até domina uma bola na área no meio de um campo de minas kosovar! Frio de bater a dentola? O Hulk arranca por lá fora e põe os russos todos com estalactites no nariz com o vento que lhes arrasta a humidade toda! Equipa forte, coesa e disciplinada? O Guarín derruba-os como se fossem pinos de bowling cirílico!

Estou confiante, nota-se? Não me proves que estou errado!

Sou quem sabes,
Jorge

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