Pressão? Extra? Venha ela!

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A recente onda de lesões do Bayern é má para eles mas também é má para nós. Explico.

Jogar nos quartos-de-final da Champions não é para todos. Há um nível de exigência alto, uma consciência que a equipa a que pertencemos está a aproximar-se do zénite do futebol europeu e que está a cinco miseráveis jogos de espetar com a bandeira lá no topo. Ninguém fica indiferente a isso, cá fora e muito menos lá dentro. E por muito que pensem que os nossos rapazes são fortes e rijos e resistem a tudo, se os virem como seres humanos acaba por ser como uma entrevista de emprego em que todos os outros candidatos são mais altos, mais fortes e com melhor retórica que Churchill depois de dois copos de brandy. E se o CV interessar para alguma coisa, a conversa lá dentro conta muito mais. Falo por experiência, fiquem na escola, miúdos, acabem o curso e aprendam a ser inteligentes, o resto vem por arrasto. De volta ao jogo.

Esta quantidade inusitada de alemães no estaleiro (curiosamente só um alemão “high-profile” é que está fora, o resto é um francês, um espanhol, um holandês, um austríaco e um marroquino…) faz com que a pressão seja ainda maior do nosso lado. Se uma vitória frente a um Bayern na máxima força seria um feito estupendo, a falta de algumas peças-chave como Robben e cª fazem com que um resultado positivo na primeira mão se torne vital por forma a podermos ter alguma esperança quando formos a Munique. Uma situação “win”/”win” (vencer seria genial e perder seria natural) acabou de perder um dos wins e tem o potencial de ser um enorme “lose”. Pensem na pressão que Brahimi, Indi ou Aboubakar estarão neste momento a sofrer nos ombros, sabendo que têm de substituir (em nome e em actos) a presença de três titulares na equipa que estavam em boa forma e marcar a diferença pela positiva contra um Bayern do mais fragilizado que se viu em dois anos do ponto de vista das opções do treinador. As nossas ausências serão tão grandes como as ausências deles? Jackson, talvez, Marcano até um certo ponto, Tello menos. O Bayern é forte sem os seis rapazes que cá vão faltar, mas não é tão forte como poderia ser. E apesar de parecer jogar a nosso favor, estou convencido que será ao contrário.

Estarei só a ser o pessimista do costume? Gostava de saber o que pensam. Quem é que acha que amanhã ganhamos aqueles gajos?

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A pergunta da praxe

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Quem vem lá?

  • O Real, para vingarmos o duplo 1-2 de 1987?
  • O Bayern, para vingarmos o gamanço em 1999?
  • O PSG, para o Helton limpar a cara da frangalhada de 2012?
  • O Mónaco, para revivermos 2004?
  • O Atlético, para recuperar o prestígio depois da dupla derrota no ano passado?
  • O Barcelona, para oferecer a Aloísio depois da grande lateralesquerdização robsoniana de 1994?
  • A Juventus, para finalmente vingarmos 1984?

PS: o FC Porto, para clube regional, demónios me sodomizem se não joga neste nível há tempo suficiente para ser temido.

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Baías e Baronis – FC Porto 4 vs 0 Basileia

20150310 - FC PORTO - FC BASEL 1893

Estou rouco. Rasguei a garganta toda em cada um dos golos do FC Porto, desde as curvas de Brahimi e Herrera às pazadas de Casemiro e Aboubakar, foram pérolas que me ergueram pelo ar num Dragão cheio de euforias mil e com uma harmonia que só uma grande noite europeia pode trazer. É complicado atirar com os clichés sem que nos venham bater no focinho mais tarde, mas este foi um jogo quase perfeito, apesar da lesão de Danilo. Teve de tudo: excelentes trocas de bola, olés, brutalidade defensiva, mudanças de flanco perfeitas, um guarda-redes voador, laterais em lados trocados e golos estupendos. Excelente, meus caros, ex-ce-len-te! Vamos às notas:

(+) FC Porto. Obrigado, meus caros. Obrigado por uma noite de futebol que me fez saltar, que me enervou e me obrigou a gritar para dentro do campo, a insultar adversários e a louvar os vossos esforços. Obrigado, Herrera, por teres subido a produção e por mostrares que me engano muitas vezes quando digo que não sabes rematar uma bola. Obrigado, Casemiro, por aguentares os meses de Setembro e Outubro onde te chamei gordo e lento e em geral uma fraca amostra de ser humano. Obrigado, Aboubakar, por não levares a mal ficares no banco porque o Jackson tem mais calo nisto. Obrigado, Neuer…perdão, Fabiano, por decidires hoje mostrar ao Helton que também sabes jogar adiantado. Obrigado, Alex Sandro, por não trocares os pés quando te trocaram de lado. Obrigado, Maicon e Marcano, por estarem tão atentos e jogarem tão simples, tão bonito, tão prático. Obrigado, Evandro, por saberes esperar fora do campo e por saberes esperar também dentro dele. Obrigado, Brahimi, por mostrares que os livres directos voltam a ser uma oportunidade para marcarmos golos. Obrigado a todos pelo que fizeram hoje, onde um badocha careca na bancada do Dragão voltou a ser um menino, a abraçar o pai e a saltar com os golos como se fossem os primeiros que via na sua vida. Obrigado pela excelente noite que me encheu de orgulho. Não percam este espírito, só têm a ganhar com isso.

(+) Golos em remates de fora da área. Os ingleses costumam dizer: “when it rains, it pours“, que traduzo livremente para: “quando começarem a rematar de fora da área, entram logo quatro de uma vez“. E hoje foi um maná de remates, cada um melhor que outro, com golos geniais dignos de figurar nas listas de melhores do ano. E ainda ficou na memória mais um tiraço de Casemiro e outro de Aboubakar. Chiça que vocês quando se lembram de me dar razão, rapazes, não brincam em serviço!

(+) Casemiro. A única exibição individual que merece destaque para lá do colectivo. Um jogão do brasileiro, o único no meio-campo que conseguia lutar com o corpo perante os badochas suíços e que conseguiu perante a maior capacidade técnica e jogo mais subido e pausado de Herrera e Evandro. Inteligente no posicionamento, lutador no choque e estupendo no corte, fez um jogo quase perfeito com a quantidade de bolas que recuperou, as vezes que surgiu a dobrar os colegas em zona defensiva e a força que transmitiu ao confronto físico com os brutinhos dos adversários que enfrentou. Ah, e marcou um dos melhores golos de bola parada que vi ao vivo. Só isso.

(-) A lesão de Danilo. Não reparei na queda do rapaz porque fiquei a olhar para Fabiano. Cedo deu para perceber que nada se passava com o guarda-redes (que é um fiteiro bem acima da média, admita-se) e quando virei os olhos para Danilo, vi-o inerte no relvado. Passam logo imagens de Foé e Fehér pela mente e arrepiei-me ao pensar que o rapaz podia ter sofrido algo bem pior que uma comoção cerebral. Ainda bem que não é grave. Podia perfeitamente ter sido.

(-) Os lenhadores suíços e a arbitragem novamente amiga. Nunca estive em Basileia, mas deve ser uma localidade com uma notável ausência de árvores, pelo menos nos sítios onde estes moços passarem. Samuel, o líder do bando de assassinos suíços e sem dúvida detentor de livros inteiros com os esqueletos de armário dos árbitros por esse continente fora (uma espécie de Maxi em versão Europeia), jogou aproximadamente 150 minutos a mais numa eliminatória com dois jogos e não consigo entender porquê. Mas não foi o único, porque os amigos do Walter decidiram mais uma vez aproveitar toda a facilidade que o árbitro (outro) lhes concedeu, arrastando pés pelo chão e elevando a entrada de carrinho a uma forma de arte marcial. E depois a puta da cereja mijona em cima do bolo. O lance que dá origem à falta de onde apareceu aquele monumento do Casemiro é notável. Um homem do Basileia no chão, com os colegas a ignorarem-no como se faz a um sem-abrigo numa paragem de autocarro. Seguem com a bola sem qualquer problema, até que a perdem…e Tello, sem saber muito bem se haveria de sprintar ou de enviar a bola para fora (na dúvida, corre, rapaz, corre como o Forrest!!!), apanha mais uma machadada suíça…e ainda é insultado pelo adversário por não ter fair-play. A lata que é preciso ter para aquela atitude é de gente com tomateira de aço e uma gigantesca falta de fibra, à qual se pode somar o árbitro, incapaz de mostrar autoridade perante tamanha falta de nível. Pensem duas vezes antes de elogiar a cultura cívica dos centro-europeus. Muitos são desta laia, gente que merece receber jactos de urina pela traqueia abaixo.


Quartos de final da Champions. Ahhhhh, sabe bem conseguir ser grande nos grandes momentos.

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Ouve lá ó Mister – Basileia

Señor Lopetegui,

Em primeiro lugar, os meus parabéns por teres atravessado esta fase complicada da época com várias vitórias e sem sofreres golos. Era muito importante manter a moral dos adeptos em alta (a dos jogadores também, neste eterno circuito realimentado que é o adeptismo de futebol) e tu e os teus rapazes conseguiram com boa nota. Um B+, vá, pelo futebol jogado e pela solidez defensiva, mas tens de corrigir a ineficácia e as entradas em jogo nos próximos tempos para que possas subir para o A. É daquelas parvoíces das notas “motivadoras” que tantos professores meus usavam no secundário e que só motivavam a que um gajo lhes quisesse rebentar com um pneu do carro quando estivessem a sair ao final do dia.

Mas hoje, basta jogar o que tens vindo a fazer. Digo “basta” porque o Basileia é uma equipa lutadora mas não podemos pensar que nos chega aos joelhos. Chega aos calcanhares, caso contrário não estaria aqui prontinha a ser considerada uma das oito melhores da Europa em 2014/2015. No entanto, com a devida vénia ao trabalho do Paulo Sousa, nós temos mais futebol, mais arte e bem mais saber. E que saudades temos nós de chegar a esta fase, depois daquele tiraço do Ronaldo me ter tirado todo o ar que tinha nos inchadíssimos pulmões, ainda cheios a seguir ao brilharete em Old Trafford, onde o Mariano e o Cebola foram tão grandes e depois…aquele genial estupor lá nos roubou a hipótese de voltar aos quartos de final. Agora, o Mariano joga na segunda divisão argentina (vê aqui se não acreditas) e o Cebola anda a raspar o guito aos gajos do Parma para ver se saca algum antes de se pisgar para o Brasil. Dessa equipa só sobra o rapaz de luvas ao teu lado, já viste como os tempos mudam tão depressa? E tu podes ajudar a que os nomes fiquem marcados na nossa memória ao mesmo tempo que crias novos nomes para uma história sempre renovada.

Hoje à noite, Julen, tens hipótese de te colocares na história do clube. Nada mau para quem cá chegou há uns meses, heim?

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Basileia 1 vs 1 FC Porto

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Emotivo, enervante, entusiasmante. Foi assim o nosso jogo da primeira mão dos oitavos da Champions deste ano, onde um bando de jagunços de branco tentaram por todos os meios aceites em qualquer centro de treino de artes marciais, em especial as que usem pés e braços. Ou seja, todas. De Xhaka a Streller, todos os suíços tentaram abater a nossa malta e correram como loucos à procura de mascarar com o físico o que nunca conseguiriam com o técnico. E conseguiram-no, ainda que de uma forma parcial, porque já sabem que o FC Porto não se dá bem com jogos exuberantemente físicos e ainda menos com árbitros que permitem que esse jogo prossiga. Mas houve luta, atitude, garra e um espírito de combate que estes jogos exigiam. E também houve erros. Bastantes erros. Vamos às notas:

(+) Danilo. De volta às grandes exibições depois de um ou dois jogos menos fulgurantes, o lateral que parece estar nas shortlists de meio mundo apareceu novamente em alto nível, a subir pelo seu flanco com critério apurado, mantendo-se firme na defesa e em apoio a qualquer dos homens que jogaram pelo seu lado. Rijo, difícil de bater e a usar bem o corpo, foi dele o lance que originou o penalty que bateu com eficácia. Até parece estranho usar estes termos sobre um jogador que aqui há dois anos parecia um fantasma da fama que tinha…

(+) Jackson. Quase perfeito nas acções de recuo a ajudar o meio-campo com a intensa pressão que recebiam continuamente dos adversários, foi ele que fez com que o meio-campo conseguisse alguma tracção num relvado que parecia ter mais suíços que nas plateias que viam o Guilherme Tell a brincar às setinhas. Levou pancada de criar bicho, entre patadas, puxões e cotoveladas no ar, para lá de ter sofrido mais um penalty não assinalado. Agora é moda não marcar as faltas sobre ele dentro da área?!

(+) Tello. Gostei da motinha hoje, apesar de parecer estar quase de tenda montada (calma, sem piadas) para lá da linha defensiva do Basileia. É verdade que foi apanhado várias vezes em fora-de-jogo, mas apareceu sempre em zona perigosa com a velocidade que tantas vezes lhe é pedido que aplique e que raramente o consegue fazer. Pareceu mais solto, mais interessado em agir de uma forma prática e não teve um único daqueles AVCs que tantas vezes lhe deram em solos lusos. Espero que continue assim. Espero mesmo.

(-) O erro de tentar jogar ao “nível” deles. Acontece muitas vezes e houve determinadas alturas em que a equipa se deixou enfeitiçar pelo jogo rápido e vistoso (para um inglês blue-collar dos anos 80, claro) do Basileia, passando a tentar correr tanto como eles e a perseguir a bola num ridículo jogo de gato e rato onde o FC Porto é derrotado com alguma consistência desde que me lembro de ver futebol. É impossível tentar fazer um nivelamento físico com uma equipa como a que hoje defrontamos e a futilidade disso acontecer é de tal magnitude que se assemelha a comparar uma novela da TVI com o Breaking Bad. E foi um pouco isso que aconteceu no golo e em mais alguns lances em que não tivemos a bola nos pés (os 30% e tal do tempo em que tal ocorreu…) e que andámos a correr atrás deles raramente conseguindo tocar na bola. Somemos a esta diferença de movimentação a facilidade de controlo de bola e o domínio do gesto técnico simples (passa, recebe, devolve), em que ainda temos tanto a caminhar que só de imaginar o percurso faz uma ultra-maratona parecer um passeio à beira-mar. Para finalizar, a puta da agressividade que não lembra a um Guimarães. Quase todas as jogadas ofensivas do FC Porto acabavam em pontapés nas canelas, nos calcanhares, tropeções ostensivos, abalroamentos quase-ferroviários e mais jogo de braços a fazer lembrar Vishnu a ter um ataque de epilepsia. Uma equipa de Joões Pereiras, é o que eles são.

(-) O meio-campo excepto Oliver. Lentos, desinspirados e incapazes de trocar a bola a um ritmo que lhes permitisse fazer com que o adversário corresse atrás da bola. O que aconteceu foi quase sempre o contrário, com o brasileiro a tentar vários passes longos direitinhos para fora ou para o guarda-redes contrário (há lá dois passes que tivesse ele Sir Bobby como treinador e ia a correr até Zurique para aprender) e a perder muitas bolas por idiotices de excesso de confiança, somado ao mexicano que continua a apagar-se em jogos grandes e a não conseguir engrenar na roda dentada da equipa, baixando-lhe o nível e o controlo em posse quando não pode baixar e prendendo-se em demasia com a bola nos pés, sem conseguir encontrar a medida certa para quando passar e quando temporizar o ritmo de jogo. Não fosse o dinamismo de Óliver, que não estando brilhante como noutros jogos foi o único a mostrar como tirar a bola aos suíços e fazê-la rodar entre os colegas, pondo-os a correr. Mais. Ainda mais. Porra que os gajos eram rápidos!


O ponto é justo mas se fossem três ninguém estranharia. A verdade é que o Basileia é jeitoso para aquele tipo de futebol mas nós temos mais capacidade, mais armas e infinitamente mais talento para arrumar com os suíços de vez no Dragão. E se possível dar três ou quatro estocadas nas fontes do Samuel e companheiros. Só para verem o que custa.

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