Estou rouco. Rasguei a garganta toda em cada um dos golos do FC Porto, desde as curvas de Brahimi e Herrera às pazadas de Casemiro e Aboubakar, foram pérolas que me ergueram pelo ar num Dragão cheio de euforias mil e com uma harmonia que só uma grande noite europeia pode trazer. É complicado atirar com os clichés sem que nos venham bater no focinho mais tarde, mas este foi um jogo quase perfeito, apesar da lesão de Danilo. Teve de tudo: excelentes trocas de bola, olés, brutalidade defensiva, mudanças de flanco perfeitas, um guarda-redes voador, laterais em lados trocados e golos estupendos. Excelente, meus caros, ex-ce-len-te! Vamos às notas:
(+) FC Porto. Obrigado, meus caros. Obrigado por uma noite de futebol que me fez saltar, que me enervou e me obrigou a gritar para dentro do campo, a insultar adversários e a louvar os vossos esforços. Obrigado, Herrera, por teres subido a produção e por mostrares que me engano muitas vezes quando digo que não sabes rematar uma bola. Obrigado, Casemiro, por aguentares os meses de Setembro e Outubro onde te chamei gordo e lento e em geral uma fraca amostra de ser humano. Obrigado, Aboubakar, por não levares a mal ficares no banco porque o Jackson tem mais calo nisto. Obrigado, Neuer…perdão, Fabiano, por decidires hoje mostrar ao Helton que também sabes jogar adiantado. Obrigado, Alex Sandro, por não trocares os pés quando te trocaram de lado. Obrigado, Maicon e Marcano, por estarem tão atentos e jogarem tão simples, tão bonito, tão prático. Obrigado, Evandro, por saberes esperar fora do campo e por saberes esperar também dentro dele. Obrigado, Brahimi, por mostrares que os livres directos voltam a ser uma oportunidade para marcarmos golos. Obrigado a todos pelo que fizeram hoje, onde um badocha careca na bancada do Dragão voltou a ser um menino, a abraçar o pai e a saltar com os golos como se fossem os primeiros que via na sua vida. Obrigado pela excelente noite que me encheu de orgulho. Não percam este espírito, só têm a ganhar com isso.
(+) Golos em remates de fora da área. Os ingleses costumam dizer: “when it rains, it pours“, que traduzo livremente para: “quando começarem a rematar de fora da área, entram logo quatro de uma vez“. E hoje foi um maná de remates, cada um melhor que outro, com golos geniais dignos de figurar nas listas de melhores do ano. E ainda ficou na memória mais um tiraço de Casemiro e outro de Aboubakar. Chiça que vocês quando se lembram de me dar razão, rapazes, não brincam em serviço!
(+) Casemiro. A única exibição individual que merece destaque para lá do colectivo. Um jogão do brasileiro, o único no meio-campo que conseguia lutar com o corpo perante os badochas suíços e que conseguiu perante a maior capacidade técnica e jogo mais subido e pausado de Herrera e Evandro. Inteligente no posicionamento, lutador no choque e estupendo no corte, fez um jogo quase perfeito com a quantidade de bolas que recuperou, as vezes que surgiu a dobrar os colegas em zona defensiva e a força que transmitiu ao confronto físico com os brutinhos dos adversários que enfrentou. Ah, e marcou um dos melhores golos de bola parada que vi ao vivo. Só isso.
(-) A lesão de Danilo. Não reparei na queda do rapaz porque fiquei a olhar para Fabiano. Cedo deu para perceber que nada se passava com o guarda-redes (que é um fiteiro bem acima da média, admita-se) e quando virei os olhos para Danilo, vi-o inerte no relvado. Passam logo imagens de Foé e Fehér pela mente e arrepiei-me ao pensar que o rapaz podia ter sofrido algo bem pior que uma comoção cerebral. Ainda bem que não é grave. Podia perfeitamente ter sido.
(-) Os lenhadores suíços e a arbitragem novamente amiga. Nunca estive em Basileia, mas deve ser uma localidade com uma notável ausência de árvores, pelo menos nos sítios onde estes moços passarem. Samuel, o líder do bando de assassinos suíços e sem dúvida detentor de livros inteiros com os esqueletos de armário dos árbitros por esse continente fora (uma espécie de Maxi em versão Europeia), jogou aproximadamente 150 minutos a mais numa eliminatória com dois jogos e não consigo entender porquê. Mas não foi o único, porque os amigos do Walter decidiram mais uma vez aproveitar toda a facilidade que o árbitro (outro) lhes concedeu, arrastando pés pelo chão e elevando a entrada de carrinho a uma forma de arte marcial. E depois a puta da cereja mijona em cima do bolo. O lance que dá origem à falta de onde apareceu aquele monumento do Casemiro é notável. Um homem do Basileia no chão, com os colegas a ignorarem-no como se faz a um sem-abrigo numa paragem de autocarro. Seguem com a bola sem qualquer problema, até que a perdem…e Tello, sem saber muito bem se haveria de sprintar ou de enviar a bola para fora (na dúvida, corre, rapaz, corre como o Forrest!!!), apanha mais uma machadada suíça…e ainda é insultado pelo adversário por não ter fair-play. A lata que é preciso ter para aquela atitude é de gente com tomateira de aço e uma gigantesca falta de fibra, à qual se pode somar o árbitro, incapaz de mostrar autoridade perante tamanha falta de nível. Pensem duas vezes antes de elogiar a cultura cívica dos centro-europeus. Muitos são desta laia, gente que merece receber jactos de urina pela traqueia abaixo.
Quartos de final da Champions. Ahhhhh, sabe bem conseguir ser grande nos grandes momentos.
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