Ouve lá ó Mister – Celta Vigo


Mister Paulo,

Em primeiro lugar, o meu pedido de desculpas antecipado. Pela primeira vez em vários anos, não vou estar presente na apresentação da equipa aos sócios apesar de estar em casa e aqui bem perto do estádio que se vai encher de milhares de adeptos prontos a saudar a equipa no seu regresso a casa. Menos eu. Eu não vou aí estar, pelo motivo que já mencionei aqui há uns dias. Vai haver muitos jogos (conto mais de vinte, teoricamente) durante a época e nem penses que me vais ver longe da minha cadeira, mas deste em particular optei por abdicar. São escolhas, é certo, e esta foi a minha.

Ainda assim, sabendo que se olhares para a minha zona não me irás poder ver, quero-te desejar as boas vindas oficiais ao estádio que vai ser a tua casa durante algum tempo. Não sei se meses, anos ou décadas, porque hoje em dia a vida útil de um treinador num clube como o FC Porto está ao nível do tempo que dura um pacote de Pringles cá em casa…muito curta. E é esta pressão que vais ter, jogo após jogo, semana após semana, sabendo que vais ter de vencer para convencer e mesmo assim pode não chegar.

Hoje é só um aperitivo. A malta que vai não é a mesma com que vais conviver durante o ano, há muitos emigrantes e amigos de amigos e famílias e muita alegria. Absorve bem as boas-vindas que o Dragão te vai dar. Se no futuro terás a mesma recepção…só depende de ti. E eu confio no teu trabalho, só espero que me proves que és digno dessa confiança. Está, como diria o Miguel Ângelo dos Delfins, nas tuas mãos. E prometo que é a última vez que cito esse fulano, podes estar descansado.

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá ó Mister – Deportivo Anzoátegui


Mister Paulo,

Pá, é muito simples: a malta está com fome. E os dois jogos que até agora conseguimos ver só a saciaram um bocadinho e o povo quer mais. Acima de tudo porque todos vemos que há jogadores a mais no plantel e que é preciso cortar alguns nomes para que o grupo fique mais pequeno e assim mais gerível. Mas ninguém quer que cortes a direito e muito menos que risques nomes que possam ser queridos dos teóricos, por isso é que queremos todos ver os miúdos a jogar para ver o que valem. Sim, sim, já sei que ninguém manda em nada e a tua decisão vai ser difícil muito por culpa nossa, porque há algo que já sabes…mas se ainda não percebeste, permita que ponha a minha capa de invencibilidade bloguística para to explicar com o mínimo de paternalismo possível, prometo! Já sabes que se escolhes os nomes errados…vais ter uns milhares na bancada a questionar as tuas decisões desde o digníssimo corte da tua barba ao jogador que colocaste a defesa esquerdo. Habitua-te a isso e bem vindo ao FC Porto, onde o rapaz que ontem marcou dois golos é assobiado imediatamente depois de falhar dois passes. É fodido, não é? É. Mais uma vez, bem vindo.

Não faço a menor ideia do que valem estes moços. Vi agora que no ano passado venceram o Torneo Apertura da Liga da Venezuela e que foram à final contra o Zamora, onde empataram fora e levaram nas trombas em casa num jogo com quatro expulsões. É malta rija, portanto. Não quero que faças os teus rapazes atravessar carvões em brasa para mostrar o que valem, mas peço-te que dês uma hipótese a todos nos dois jogos que vais disputar. Sim, é um troféu, mas para lá do prestígio que já conquistámos nesse continente e do “public relations move” que esta excursão engloba, não deixes de fazer o teu trabalho. Mostra-nos o que é que já conseguiste fazer em três semaninhas. E, se puderes, ganha o jogo.

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá ó Mister – MVV Maastricht


Mister Paulo,

Ainda não nos conhecemos e falta-me ainda uma apresentação formal para que possamos começar o contacto que será quase semanal e com elevada intimidade, dentro do género. Mas hoje, neste prélio em que arrancamos para o primeiro encontro da temporada com camisolas que não as de treino, venho-te dar uma espécie de boas-vindas informais. Hoje é jogo para experiências, para que possas pôr em campo vinte e tal jogadores naquele típico passeio de pré-época que habitualmente fazemos no centro da Europa, já há vários anos. Não faço sequer a menor ideia de quem vai avançar para o teu primeiro onze, nem estou minimamente preocupado acerca de deambulações tácticas, esquemas alinhados em 4-3-3 ou 2-5-3 ou um ousadíssimo 1-8-1. O que quero ver é os teus novos meninos em campo que já me começam a dar umas saudades que nem te falo.

Assim sendo, que sejas bem vindo, Paulo. Um destes dias falamos mais a sério. Hoje, é para suar, para treinar, para te habituares ao posto e para que os rapazes façam o mesmo. Escolhe bem, analisa bem, percebe bem quem são os que vão dar mais garantias. Cansa-os, sem exageros mas com exigência. E a malta agradecer-te-á o trabalho daqui a uns meses.

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá ó Mister – Paços de Ferreira


Amigo Vítor,

Hoje é o dia. Para todos nós que andamos aqui há trinta jornadas, a torcer pelo clube que é tanto teu como nosso, para todos nós que sofremos na Luz, que nos enervámos em Alvalade, que vibramos em Braga, que desesperamos em Vila do Conde, que entristecemos nos Barreiros, que exultámos na Choupana, que cantámos glórias em Guimarães e que manifestámos todas as emoções de verdadeiros adeptos desde Agosto, Vitor…todos esperámos por este momento. Uns com mais fé, outros com a esperança no chão, pontapeada por inúmeros momentos de emoção sobressaltada por semanas em que alternámos o genial com o absurdo, o brilhante com o ridículo. Foram trinta semanas de futebol intenso, triste, verdadeiro, feliz, encorajador, preocupante…trinta semanas com o coração perto da explosão para que pudéssemos chegar a este momento e dizer que podemos ser campeões com o mérito que poucos nos reconhecem mas que temos de fazer o possível para que seja nosso, para que volte a ser nosso. E tudo depende de noventa miseráveis minutinhos.

Não tenhas a mínima dúvida que todos estaremos do teu lado, Vitor. Todos os portistas, desde o centro da Invicta aos mais distantes confins deste planeta, todos eles estão a torcer por ti e pelos teus. Todos estão, de uma forma ou de outra, em Paços de Ferreira. Todos estarão a ver o jogo de olhos colados na pantalha ou no relvado, que não haja dúvida nenhuma disso, e acredita que portista que se preze estará a assistir ao jogo salvo motivo de força maior. Porque a emoção deste último jogo exige que nos juntemos, em grupo, em coligação de esforços, numa espécie de aura gigantesca que te tenta passar a força dos grandes, dos enormes, dos gigantes. É isso que seremos hoje, Vitor, uma multidão de almas a sofrer por ti, a viver cada segundo como se fosse o último, inclinados para um passe do James ou uma corrida do Varela, a dobrar-se para acertar o passe do Defour ou o remate do Jackson. E todos, mas todos, dependemos de ti.

Faz com que a recta final não tenha curvas. Entra em campo com a mentalidade de um grande, com a vontade de acabar com este jogo antes sequer dele começar. Convence esses teus moços que estão prontos para vencer o jogo e assim trazer os três pontos que precisamos para que rebente de vez a festa, para que exultemos com a alegria que todos merecemos, nós e tu e os teus.

Estarei a ver o jogo em frente a uma televisão que nem quero saber se é grande ou não. Talvez na tua terra, Vitor, tudo depende de algumas combinações de última hora. Talvez, Vitor, talvez te traga sorte por ver o jogo em Espinho. Mas seja lá ou na Invicta ou em Florença ou em Perth, onde quer que veja o jogo…quero ver-te a ganhar e a chorar por mais uma vitória do Porto que é tanto teu como meu. Vamos a isso

Faltam noventa minutos para a glória final. Força.

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá ó Mister – Benfica


Amigo Vítor,

Vais estar dentro do balneário com dezoito rapazes com o equipamento vestido. Sentados nos bancos de correr, esperam que fales, esperam que lhes dês as últimas palavras antes de um jogo que pode marcar mais uma etapa em grande na carreira de todos. As faces, já suadas do treino, viram-se para ti com a ansiedade de quem sabe não poder falhar, de quem atravessou vinte e oito jornadas de euforias, dores, alegrias, gritos, súplicas, ilusões e desilusões. E tu, que te manténs estóico à frente desse galeão com velas esburacadas mas vontade férrea de insistir a caminho de terra firme, voltas-te para eles nos cinco, talvez seis minutos que te restam até se encaminharem todos para o corredor.

Fala-lhes de Belluschi e da forma como levantou a bola para torpedear Quim. De Quaresma, que na Luz e no Dragão lhes marcou vários e de diferentes estilos, com o nível que sempre teve cá e nunca mais recuperou depois de sair. De Lisandro, com a força e a determinação de um gigante que não era em estatura mas em alma. De Hulk, esse louco que rebentou as redes de Roberto e Artur, esse mesmo que está do outro lado. Fala-lhes de Wetl, o austríaco dos cinco na Luz. De Jardel que deixou Preud’homme a olhar para a bola que entrou a rasgar a baliza. Fala-lhes do Capucho, que enfiou ao pobre do Enke um balão tão lindo. Do Deco, com aquele livre directo por cima do Moreira. Do Timofte e o penalty no nevoeiro. Do Falcao e o calcanhar no ar no meio da pequena-área. Fala da força do Emerson, da vida do André, dos sprints do João Pinto e da garra do Jorge Costa. Fala de todos estes nossos grandes jogadores dos últimos anos e explica-lhes que daqui a mais alguns, outros virão a falar deles pelos mesmos motivos.

O campeonato começa hoje, Vitor.

Sou quem sabes,
Jorge

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