Atenção: a probabilidade de partir a espinha é perigosamente alta

Começando pelo óbvio disclaimer: não estou a falar de qualquer tentativa de auto-felácio. Reparem como se faz uma inversão de valores, discurso e orientação mental num exercício de retórica digno de Aristóteles:

“Desde o Apito Dourado que não me lembro de um campeonato tão escandalosamente condicionado pelas arbitragens.”
(…)
“Mas, tal como Jardim, na sua ilha, acha que pode dizer o que quer porque pensa, como Goebbels, que “uma mentira muitas vezes repetida torna-se verdade”.”

in Record.pt, linkado a custo

Das duas uma: o homem está finalmente e orgulhosamente senil ou este é um artigo de ataque a Luís Filipe Vieira que ninguém estava à espera. Nem o próprio autor.

Link:

O Benfica foi coerente. A arbitragem é que não.

Não é meu costume, mas não podia deixar passar esta em claro.

Estou a ver o Chelski a ganhar ao Benfica. Preferia que assim não fosse, mas é o que calha. Na primeira parte os ingleses marcaram com um penalty depois de um abalroamento de Javi a Ashley Cole. Um entre muitos, entre tantos que cá fez e faz e beneficiam de uma divina complacência que apenas em Braga, depois de uma cotovelada em Alan, mereceu a expulsão. Ao que se seguiram capas de jornais, pedidos à Virgem, clamor pela canonização do espanhol e preces para um qualquer Deus menor para que o jogo fosse repetido, inundando as ingénuas mentes com as hipocrisias do costume. Javi foi coerente, fez o que costuma fazer.

Passados alguns minutos, Maxi Pereira entra de pitão à frente, vê segundo amarelo e é expulso. Nada de mais. Falta óbvia, amarelo evidente, expulsão justa.

Esperem lá. O Maxi foi expulso? Pela alma de quinhentos demónios saltitantes, no puede ser!

Este é o histórico do moço em Portugal, retirado do zerozero. É verdade. Maxi nunca foi expulso nos cinco anos que já passou em Portugal, por entre largas dezenas de entradas iguais à que teve em Londres, muitas delas bem piores. Maxi foi coerente, fez o que costuma fazer.

De todos os benfiquistas em Stamford Bridge, só um não é coerente. Vejo Jesus a reclamar na linha. O árbitro chega perto do homem e manda-o sentar. Jesus senta-se, com um aceno de cabeça como quem se desculpa. A humildade não lhe fica bem, é-lhe estranha, alienígena, assenta-lhe tão bem como um vestido de cerimónia numa preguiça obesa.

Ouço os comentadores antes e depois da facada final de Meireles (nem o esquilo morto que o luso enverga na cabeça lhe retira a poesia) e penso que nem agora que o Gobern-gate passou e seguiu estão mais calmos. A arbitragem foi polémica, a vitória moral é firme, o espírito está em alta, o prestígio manteve-se, o nome está no topo. Nem o Benfica merece os palhaços que o defendem. Fez um bom jogo e merecia passar contra um Chelsea que estava perfeitamente ao alcance.

Link:

Baías e Baronis – Benfica 3 vs 2 FC Porto

foto retirada de maisfutebol.pt

Ponto prévio: o Benfica ganhou bem. Fez por merecê-lo num bom jogo, sem chatices, sem grandes casos (se bem que aqueles puxões do Luisão na nossa área me incomodam sempre) e criou melhores senão mais oportunidades de golo. O jogo podia ter sido resolvido a nosso favor com um bocadinho mais de inteligência na posse de bola e no desdobramento do contra-ataque, mas concordo que foi justo. É evidente que o joguinho mediático do “isto não nos interessa, o que conta é o campeonato” funciona perfeitamente porque perdemos. Se tivéssemos ganho o discurso seria o mesmo mas o papo era sem dúvida diferente, como se compreende. Ainda assim não fiquei triste, não estou furioso por perder o jogo, não me lamento, não me dói muito. Custa perder contra o Benfica, claro, mas admito, como sempre o fiz, que a Taça da Liga é para ganhar se conseguirmos chegar à final sem sacrificar o resto das competições. Não conseguimos. Meh. Notas abaixo:

 

(+) João Moutinho Mais uma vez a mostrar porque é que é indispensável no FC Porto. Já o era no ano passado mas este ano ainda mais, porque faz o que Defour não consegue na sua posição e ajuda Lucho quando o argentino já se agarra às gâmbeas como hoje a meio da segunda parte. Moutinho correu novamente o jogo todo, sempre a pegar no jogo e disposto a tentar sempre ser o principal impulsionador das jogadas ofensivas e coordenador das defensivas. Se Lucho é uma mais-valia pela experiência e inteligência, Moutinho fá-lo em contínuo movimento com olhos levantados, noção perfeita de espaço e capacidade criativa. É único no plantel. Ah, e aquelas duas jogadas consecutivas “triângulo+R2” à Zidane foram um deleite…

(+) Hulk na primeira parte O FC Porto com Hulk é totalmente diferente do FC Porto sem Hulk. Goste-se ou não do estilo (sou um desculpador do rapaz na maioria dos casos, admito-o), admire-se a técnica ou o egoísmo, a verdade é que é imensamente útil para romper pelo espaço de defesas mais lentos, como hoje no caso de Capdevila ou mesmo com bisontes como Luisão ou anormais como Maxi Pereira (que está para o futebol como o Álvaro está para a economia portuguesa. É bom mas abusa da sorte…) pela capacidade física e velocidade de arranque. Faltou marcar um golo mas deu um a marcar a Lucho e sofreu a falta que deu origem ao segundo. Na segunda parte desapareceu do jogo, cansado e com poucas oportunidades de jogar como gosta porque a opção pelo jogo directo para Janko afastou-o mais do jogo. Merecia mais.

(+) A força e agressividade de Mangala Um central que consiga subir acima de Cardozo e roubar-lhe bolas de cabeça é sempre um jogador útil. E Mangala fá-lo com naturalidade, para além do facto de conseguir subir com a bola controlada como um Pepe mais escuro mas (ainda) sem a loucura do Kepler. Vinte anos tem este rapaz e ainda pode vir a melhorar bastante, porque talento tem ele que chegue e a forma como se antecipa aos avançados e usa o corpo como protecção já é a prova de um rapaz que sabe o que fazer em campo. Só precisa de aprender a passar a bola em boas condições. Ah, e o golo é muito bom, rapaz, continua a saltar assim que ainda te prendem por voares sem comunicar o trajecto às torres de controlo.

(+) Sapunaru ou a vantagem de ter um lateral que sabe subir Entre Sapunaru e Maicon na lateral direita, dêem-me um bêbado romeno em vez de uma bola de bilhar brasileira todos os dias. Gosto de Maicon no meio e gosto de Sapunaru na direita, como gosto de whiskey num copo e caril num prato e não ao contrário. Ia marcando por duas vezes. Anda doente para ver se marca um golo ao Benfica antes de se reformar, o rapaz, mas joga com garra, com fibra, às vezes com pouca cabeça mas sempre com vontade. Vamos ver se assenta no lugar até ao final da época…

 

(-) Kleber Começa a meter pena ver o nosso substituto de Falcao a jogar no FC Porto e admito que foi das apostas mais falhadas dos últimos anos, bem acima de Fabianos e Bolattis. A forma como se atira para os lances sem hipótese de conseguir chegar à bola, atabalhoado, fraco, incapaz de fazer algo de produtivo ou de remotamente ameaçador para a baliza contrária é o suficiente para não poder ser opção principal na equipa. Enerva-me com os lances em que permanentemente reclama falta do adversário só porque usa o corpo para proteger a bola e insiste em arremessar-se para o terreno com os braços esticados e a cara de anjo a olhar para o árbitro como um bébé a pedir leite. Não tem, neste momento, argumentos para ser titular no FC Porto.

(-) A ingenuidade de Mangala O primeiro golo é culpa dele. Ponto. Quando um defesa tem uma bola na sua posse e está numa situação de 2×4 contra si, não pode…repito, NÃO PODE passar a bola para o colega que está rodeado de adversários. O que acontece? Quando a equipa está a começar a subir para receber o passe ou pressionar a zona mais recuada do adversário e tentar ganhar a segunda bola…qualquer perda de bola resulta num desiquilíbrio enorme e em falhas de marcação. Os absurdos comentadores da SIC culparam Álvaro. Não, Álvaro não teve culpa. A culpa é de Mangala. E sê-lo-á mais vezes, como por vezes acontece a Maicon e no passado a Bruno Alves ou Ricardo Carvalho ou Aloísio. As pessoas falham. Têm é de aprender com os erros e Mangala, que cometeu vários desta índole durante todo o jogo, ainda vai bem a tempo para os corrigir.

(-) A soberba de Jesus É raro, como sabem, comentar declarações de técnicos adversários. Mas quando colocaram o meu homónimo em frente ao rapaz da SIC (o “go home, now”, sim, esse mesmo), fiquei a ouvir, ainda a picar uma fatia de presunto com o meu pai. E ouço o treinador do Benfica a dizer que este jogo é que comprova quem é a melhor equipa. Cada cabeça, sua sentença, mas aquela farta cabeleira estará talvez lentamente a pingar tinta para o cérebro. Então o homem que perde quatro dos cinco últimos clássicos antes deste jogo (se somarmos 0-5 no Dragão e 1-2 na Luz para a Liga, 1-3 na Luz na Taça, 2-3 na Luz há umas semanas…comparando com o 2-0 no Dragão para a Taça no ano passado e o 2-2 também no Dragão este ano para a Liga) acha que este é que decide tudo? É como dizer: “Eu faço dieta rigorosa há dois anos!!! Sem contar com as feijoadas que como todas as quartas e umas noitadas de rodízio às terças e sábados, claro!”. A arrogância de Jesus, principalmente nas conferências de imprensa, é insuportável. Se o jornalista que lá estava em frente não fosse aquela bestinha (que depois de Jesus lhe dizer que o Benfica está em três frentes e que a prioridade é a Liga em primeiro e a Champions em segundo…vai-lhe perguntar qual é a terceira…) mas um homem de tomates, tinha-lhe citado estes exemplos. Levava um arroto nos dentes, mas ficava feliz.

 

E agora, pergunto eu? Os rapazes ficaram em condições para jogar no Domingo na Mata Real? Lucho, Moutinho, Álvaro, esses rapazes todos estão aptos fisica e moralmente para serem o que precisamos que sejam? Não faço ideia. Mas sei que não atirámos o metafórico toalhete à relva antes do jogo e fico satisfeito por ver que mais um vez conseguimos dar a volta a um resultado negativo naquele estádio. É de louvar a capacidade de esforço dos jogadores e dou-lhes os meus parabéns por isso. Não gostam de vitórias morais? Esperem até ao final do campeonato e vamos ver se valeu a pena ou não.

Link:

Ouve lá ó Mister – Benfica


Amigo Vítor,

Ah, carago, lá voltamos nós às trincheiras em frente ao Colombo! E parece que o jogo que lá fizemos para o campeonato já foi há tanto tempo, rapaz, sinceramente, com tudo que já se passou desde então, do empate em casa com a Académica à vitória na Madeira, a água que correu debaixo dessa ponte já dava para encher duas albufeiras do Alqueva e ainda sobrava para remendar a seca. Enfim, vamos lá outra vez e isso é que importa.

Já deves ter lido que estou ambíguo quanto a esta partida em particular. Eu sei que é contra o Benfica, sei-o perfeitamente. Tenho noção plena que o jogo é daqueles que dá para andar semanas a falar do mesmo, ganhemos ou percamos, e não vale a pena iludir as massas ao dizer que “a competição é diferente e não nos interessa tanto como o campeonato”. É treta, porque se o jogo fosse contra o Rio Ave e tivéssemos quinze pontos de avanço na Liga, estávamos agora cheios de moral e prontinhos para degolar os infames borregos que se pusessem à nossa frente. Mas não temos e por isso estamos com medo.

Eu estou, pelo menos. Estou com medo de entrar com seis pernas no meio-campo e sair de lá com 4 ou 5, no máximo. Estou com algum cagaço de apresentar o melhor onze possível e vê-los a cambalear atrás da bola. Eu sou um medricas, pá, sou sempre um medricas. E da maneira que vi a equipa na Choupana durante aquela segunda parte…homem, não os vejo com força física para aguentar um jogo destes. E a força anímica…eu não vejo.

Mas por isso é que não sou eu o treinador do FC Porto, és tu. E tu é que tens de meter na cabeça daqueles murcões que a bola é redonda e que enquanto há vida há esperança e qualquer outro cliché popular que te lembrares. Tenta arranjar um para os brasileiros e outro para os hispânicos, só para passares bem a mensagem. Ao Janko diz só: “Arbeit macht frei, der beste Torschütze sein”. É agressivo mas ele entende, vais ver. Se é para entrar para ganhar, então vamos entrar para ganhar. A sério, sem brincadeiras. Se querias brincar tinhas levado os juniores, por isso se levas os bons é porque estás convencido que tens massa crítica para ganhar o jogo. A decisão foi tua e respeito-a. Agora mostra-me que tiveste razão. Mostra a todos que tens razão.

Sou quem sabes,
Jorge

 

APOSTAS PARA HOJE NA DHOZE:

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Até Pedro que O negou três vezes foi mais discreto

Going once…going twice…not going.

Nada de novo, portanto. Ser treinador do Benfica dá carta branca para dizer o que se quiser sobre quem se quiser. E nem precisa de ser verdade.

PS: As questiúnculas sobre a arbitragem de Proença não me interessam particularmente, apesar de louvar o trabalho de pesquisa feita por alguns bloggers portistas. Bem hajam. Mas este é o único post sobre o fallout do clássico que faço. Amanhã voltarei a focar as atenções no meu clube e não no dos outros. Business as usual.

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