Baías e Baronis – FC Porto 6 vs 0 Atlético

Não foi mau e francamente jogámos melhor do que esperava, apesar dos primeiros quinze minutos terem sido um bom teste para qualquer pessoa a ver o jogo em casa, sentadinho no sofá com o aquecimento ligado. Fizemos um jogo sério, sem grandes brincadeiras (excluindo o primeiro Baroni e o terceiro Baía, por motivos diferentes) e acabamos por sair com seis golinhos no reportório, o que nunca sabe mal. Um treino decente para o próximo Domingo e a noção perfeita para muita malta que há vários rapazes em baixo de forma e outros que estão a pedir para serem dispensados destes fretes. Enfim. Siga para notas:

(+) Varela. Mais um jogo para me fazer dobrar a espinha e dizer: parabéns, Silvestre, que bela partida tu fizeste! E não fosse o facto de estares a enfrentar o equivalente futebolístico de dez Bolattis e um Kralj, e estaria aqui a tentar arranjar o telefone de meia-dúzia de clubes árabes para lhes dizer que há aqui um internacional luso que destroca futebol como o LeBron dribla uma bola de basket! Muito bem nos dois golos e na inteligência com que controlou a grande maioria dos lances de que fez parte, mas acima de tudo pela forma como pegou na bola sem medo do lateral que apanhou pela frente e tentou várias vezes furar, penetrar, rupturar (sounds dirty, don’t it?) a defesa contrária. Gostei, quero ver o mesmo contra o Maxi e o André Almeida ou lá quem raio vai jogar nos flancos do Benfas no próximo Domingo.

(+) Defour. Excelente jogo do belga, na posição que gosta. E foi dos únicos que fazia aquelas estranhíssimas colocações de pés que a maioria dos colegas parece achar alienígena: recebe a bola, controla-a e envia para outro colega. Uau, que estupor de génio! É assim que Steven joga, simples, prático, sem inventar muito a não ser quando sobe no terreno com a bola (habitualmente bem) controlada, mas mesmo aí procura sempre encontrar o melhor espaço por onde passar o corpo e a melhor opção para onde passar a bola. Apesar de compreender os motivos, tenho pena que queira sair, até porque um médio com esta qualidade e experiência não se encontra facilmente. Mesmo depois daquela parvoíce em Málaga no ano passado.

(+) Kelvin, quando é prático. Há quem goste do estilo. Há quem o odeie. Mas ninguém fica indiferente ao rapaz desde 11 de Maio de 2013, por isso quando pega na bola no relvado do Dragão, centenas pensam que vamos ser campeões outra vez. Nem sempre, mas a verdade é que o rapaz tem talento e quando o aplica na dose certa, é um abre-latas porreiro. Não o vejo como titular no FC Porto, especialmente se Quaresma atinar no flanco e Varela mantiver o nível, mas é muito útil para ter no banco. Só tem de parar de se atirar para o chão.

(-) Danilo e Alex Sandro. Continuo a achar que há jogadores feitos para jogarem em qualquer altura e contra qualquer equipa, ao passo que outros servem para jogos menores e ainda outros que só servem para jogos que acham ser “de jeito”. Danilo e Alex Sandro estão neste último grupo, porque a forma indolente com que encaram jogos “menores” devia ser castigada por um qualquer treinador com uma ou duas corridas à volta da cidade do Porto. Sim, da cidade, não só do Estádio. E deviam fazê-lo com cães raivosos a tentarem morder-lhes os calcanhares. Não é de agora e o comportamento persiste há tantos anos que começo a desistir de perceber algumas destas mentalidades, porque me custa ver outros rapazes na B ou nos sub-19 que davam um anel do esfíncter para jogar noventa minutos pela equipa principal…e estes moços têm essa hipótese e não querem saber. Um treinador que não tivesse medo de apostar na miudagem…já lhes tinha dado férias e deixava de ver aqueles focinhos desesperadamente aborrecidos em jogos de caca.

(-) Josué. Há uma linha ténue que distingue a forma como trato um médio criativo quando falha passes. De uma certa forma não me incomoda que os tente porque sei que vai falhar alguns, por isso incentivo-o sempre a fazê-lo desde que o jogo começa. Mas quando o rácio de passes certos começa a ficar abaixo dos 20 ou 30%, enerva-me. Talvez não seja a maneira mais pedagógica de ver a performance de um jogador…mas eu não estou aqui para ensinar ninguém. Acerta a merda dos passes, Josué.


Seizazero em casa. Nunca é um resultado mau vencer um jogo por uma margem destas, mas se formos a ver a qualidade da equipa do Atlético, só ficamos a perder uma goleada que podia ser histórica. Mantenho a ideia que devemos jogar a sério mesmo contra equipas pequenas, até porque é uma forma de lhes valorizar o trabalho, que por muito ineficaz que seja, ao menos é feito de suor. Hoje, apesar de termos jogado com seriedade e sem facilitar em demasia…nem precisamos de mandar lavar as camisolas.

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Ouve lá ó Mister – Atlético

Mister Paulo,

Começamos um novo ano no melhor local do mundo para arranques em grande, pelo menos desde que o Tarik se passou da cornadeira mourisca e lá foi em direcção à baliza do Mandanda sem dar hipótese nem ao moço nem a ninguém. E agora, que voltamos a jogar para mais um jogo dessa competição fantástica que me interessa ligeiramente mais que a Taça da Liga e que a Supertaça (sim, é a “minha” terceira competição), estou à espera de uma exibição estupenda!

Estou a mentir, como já deves ter percebido. Não estou à espera de nada de fabulástico, de grandes jogadas nem insinuações de uma equipa mandona e de um futebol extraordinário. Sou racional o suficiente para antecipar que vai ser um FC Porto aborrecido, semi-tristonho e que não vamos ter um FC Porto dos primeiros vinte minutos contra o Atlético ou da primeira parte do jogo da Supertaça. E é isso que me anda a lixar a cabeça, sabes, Paulo? É o não conseguir sequer pensar num jogo inteiro em que tenhamos estado bem. Assim cem por cento bem. Um jogo em que tenhamos arrancado com garra, imposto a nossa autoridade, comandado a partida, o resultado e a atitude de uma forma de tal maneira inequívoca que nada sobrava ao adversário que não uma fugaz tentativa a trinta metros da baliza e pouco mais. E nem sei se este jogo da Taça é o melhor que nos podia aparecer neste momento, especialmente sabendo que para a semana vamos à Luz. Agora, interessa-me sinceramente perceber se estamos ou não em condições psicológicas para ganhar facilmente ao Atlético…e não o garanto.

Enfim, talvez esteja com os pistões pessimistas em overtime. Entra lá em campo, muda um ou dois gajos e mostra-nos que o meu FC Porto ainda é o que eu quero que seja.

Sou quem sabes,
Jorge

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Balancemos – Q3 2013

Seguimos em frente com o terceiro trimestre do balanço do ano que ontem nos deixou:

Julho

foram quase 1700 posts totalizando cerca de 615 mil palavras escritas que receberam mais de 9700 comentários, muito vernáculo, alguma arrogância, temperadas com um misto de parvoíce e racionalidade que é, admito, uma espécie de imagem de marca.

Recuso-me a aceitar que a opinião fundamentada, pessoal e completamente transmissível pelos bítes e baites dos tubos interligados, se deixe cair num fosso que canalize para duas fontes apenas o “textbyte” absurdo do comentário rápido ou a longa análise em jornais e revistas da especialidade.

a nossa história tem de ser lida, conhecida, estimada e guardada para transmitir às novas gerações. Para que saibam que o FC Porto não é feito só de pipocas no Dragão, cartazes ou cânticos para jogadores que chegaram ao clube há 20 minutos ou patrocinadores mais ou menos obscuros nas bordas das camisolas.

Notou-se a mudança de Carlos Eduardo para Lucho como se tivéssemos pegado numa jarra de cristal com tulipas e a colocássemos na mesa em vez de um tupperware de sopa de nabos.

Primeiro de tudo: puta que pariu a “raça latina”. Este tipo de equipas para jogos de pré-época devem ser um Deus me livre para os jogadores porque o adversário simplesmente não pára. Correm como chitas atrás de saborosas gazelas, acertam em tudo o que vêem com uma intensidade tal que mais parece que estão a disputar uma final da Libertadores.

se demorar mais tempo a escrever uma crónica ou uma análise ou se falhar alguns jogos do FC Porto ao vivo e tiver de os ver em directo ou diferido pela têvê, o motivo é o que está na foto.

Quanto ao nosso, a ser inaugurado daqui a cerca de dois meses, que tenha mais visitantes que o vosso (very unlikely, mas ninguém me impede de sonhar) , que seja mais bonito, com melhor circulação de ar, esteticamente mais agradável, arquitectonicamente inovador, que cheire melhor e que tenha taças mais bem polidas. E que ambos sirvam para enaltecer as glórias próprias e não as infelicidades alheias.

Não queiram fazer omeletas sem que a galinha acabe de parir o ovo. Tenham calma, não se exaltem, critiquem o que devem criticar, mas façam-no jogo-a-jogo, não exacerbando a parvoíce como já vi em muito blog durante todo o dia de ontem, porque estamos tramados e porque não houve evolução desde o ano passado e a merda é a mesma e as comissões e os empresários e falta um jogador para a frente que faça a diferença e yadda yadda yadda.

Agosto

muito se vai dizer deste primeiro jogo, onde as dores de crescimento ainda vão ser evidentes e que podem causar muito desconforto se as coisas correm mal. E se correrem bem, vais ver que os maldizentes, internos e externos, vão arranjar sempre maneira de descobrir podres. É isso. Bem-vindo ao FC Porto.

É em campo que os campeões se fazem, é neste nível de domínio territorial com bola que devemos sempre entrar em campo, aniquilando os jogos logo de início para gerir a posse de bola até ao fim com os ritmo que nós quisermos impôr.

É um regresso aos tempos em que debaixo de um calor abrasador, talvez no Algarve ou em Espinho ou em vários outros sítios onde tive a sorte de poder ir passear nos estios que já vivi, enquanto a família dormia uma merecida sesta sob uma qualquer sombra ou no fresco de uma divisão arejada e bem resguardada do sol, lá me deslocava a caminho da papelaria mais próxima, usando o dinheiro que tinha na altura e poupava para poder gastar neste tipo de extravagâncias, e comprava o guia para a próxima temporada.

Tenho pena, acreditem que sim. Mas também quero ver o FC Porto a vencer e quero ter os melhores jogadores nas melhores posições. E Castro, muito à imagem de Paulo Machado, Vieirinha ou Atsu ou vários outros que surgiram em tantos momentos diferentes do nosso passado e que subiram da formação para não conseguirem vincar um lugar no plantel principal, não seria a melhor solução para o lugar.

Serão quarenta e quatro jogadores, com outras quarenta e quatro notáveis omissões que me sentiria mal se não mencionasse. Porque esta escolha de apenas onze não bate com a minha maneira de pensar e não me consigo limitar a apenas uma equipa, tantas foram as que me deram alegrias durante a minha vida.

Vamos apanhar muitos destes, na sua parte boa e má. A boa é que são gajos lutadores, rijos, que se antecipam muitas vezes aos nossos avançados, médios, defesas, guarda-redes e apanha-bolas, o que nos deve deixar sempre atentos. A parte má, é que são mais caceteiros que uma padaria num Domingo de manhã.

Foi um daqueles jogadores iluminados pelos deuses que transforma alguém que deteste futebol num ávido amante da bola. Por toda a magia que me deste, número dez, por fintares tantos adversários com os dois pés, pelas centenas de vezes que gritei que eras melhor que o Pélé, obrigado.

Setembro

Vinte e seis remates. Há jogos assim, acontecem na 3ª Divisão búlgara, na Liga de Amigos das Estátuas da Ilha da Páscoa e nós não somos imunes a isso. Mas há jogos que me levam a ficar nervoso, palavra, porque começava a parecer injusto demais não termos já enfiado três batatas na baliza do Degra e a equipa continuava a não conseguir meter a bola lá dentro e CHUTA, RICARDO, OH FODA-SE que lá vai outra pro keeper e ANDA JACKSON, É FÁCIL! pronto e lá foi mais uma. São oportunidades a mais sem serem concretizadas e não podem deixar que seja um hábito. Dão-me cabo do batente.

É muito fácil converter facilidade em estupidez. As tradicionais idiossincrasias dos jogadores transformam-se rapidamente em idiotissincrasias, o povo chateia-se, boceja, aborrece-se e espera pelo próximo jogo.

Não estamos habituados a ver o Porto fraquejar nestas alturas e há um medinho particular que me atravessa os poros e me faz pensar que se calhar ainda nos vamos ver lixados para mandar abaixo estes moços. Mas quero que saibas que estamos todos à espera de uma vitória, com mais ou menos dificuldades.

chegamos ao local do costume, onde o habitual hiperbólico adepto portista tem um pequeno ataque de nervos quando a equipa joga mal e em vez de olhar para o jogo e analisar o que lá se passou, logo vai apontar armas a tudo que mexe de azulebranco. Eu, como tantos outros, não gostei do jogo de ontem, mas para tanta gente há uma distância de um palito partido entre um mau passe do Josué e o bota-abaixismo da SAD, de todos os treinadores, do plantel, da relva e do calendário.

Fomos roubados hoje na Amoreira. Os adeptos portistas que lá se deslocaram, juntos com os que viram pela televisão, os que não puderam ver o jogo em directo e os que nem sequer viram o jogo de propósito (sim, meus caros, há muitos portistas assim), todos eles foram despudoradamente assaltados hoje à noite. Roubaram-nos a alma. Tiraram-nos a estrutura que tínhamos, a inteligência competitiva, a capacidade de resistir a uma pressão que empurra com a força de um infeliz sem-abrigo que dorme ao relento em noites de inverno. Pilharam a calma de uma defesa férrea que oxidou e não parece resistir a semi-equipas e avançados lutadores mas pouco mais. Pior, roubaram-nos um meio-campo que betumava buracos e abafava contrariedades com espírito de luta.

Há confusão, desorganização, desatenção, há tanta coisa mal que vou desesperando sempre que saímos em posse para o ataque. Há pouco tempo para construir uma equipa do início, mas temos de tentar corrigir alguns dos problemas para evitar males maiores.

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Balancemos – Q2 2013

Seguindo na saga do balanço, continuemos com o segundo trimestre:

Abril

um adversário que, francamente, tem tanto direito moral a estar na primeira liga que um cacto no Amazonas.

SIM, ESTOU A BERRAR PORQUE ESTE FILHO DA PUTA DE HORÁRIO NÃO LEMBRA ÀS HEMORRÓIDAS DE SATANÁS!

Se fosse a ele [Kelvin] guardava a camisola, as botas, a bola, dois nacos de relva e a embalagem de gel que pôs no cabelo, porque um jogo destes não se vai repetir durante muitos anos.

[a minha mãe] apreciava o meu propalado compadrio com as equipas de lusa terra mesmo quando não percebia porque raio chamavam “fora-de-jogo” quando o jogador estava claramente dentro das linhas

Maio

Basta um destes jogos e temos o povo eufórico, centenas de polícia na rua, claques insultadas, jogadores nervosos, treinadores exaltados e colunistas à beira de doze ataques apopléticos. (…) Se tudo correr bem nem preciso de dizer nada, porque a euforia vai ser tal que haverá completos estranhos a abraçarem-se nas bancadas, homens a beijar mulheres, mulheres a beijar outras mulheres, raios, até homens a beijar outros homens que isto da bola já não é o que era e ainda bem.

Vou só ali ver se o meu coração arranca de novo. Estou certo que compreendem. Volto já.

O portismo, por muito que nos queiram convencer do seu provincianismo, está em todo o lado. E hoje reuniu-se de alma e coração na Invicta, na sede física mas também moral, onde podemos ter pintado um dos mais belos quadros de sempre. Foi lindo, foi catártico, foi futebol. E foi nosso. (…) Lágrimas escorriam pelas faces do rapaz que se senta à minha frente. O estádio estava vivo, mais uma vez, depois de quarenta e cinco minutos dos mais frustrantes que vi em mais de vinte anos de futebol ao vivo. Kelvin conseguiu transformar as vozes de portistas pelo mundo fora num grito em uníssono de vitória, de reconquista, de enorme alegria e um alívio que ninguém conseguiu controlar. Nas bancadas há abraços, beijos, danças, saltos, cinquenta mil que suspendem a gravidade e o bater do coração durante minutos consecutivos, enquanto dois mil e dezoito estóicos adversários estáo petrificados como estátuas gregas, sem resposta, sem reacção. Grito e parece que o som fica preso na minha garganta. Agarro amigos, abraço desconhecidos, salto e beijo o emblema do FC Porto com força e sem qualquer pudor em perceber que se morresse naquele momento, pelo menos morria feliz. Não me dava jeito nenhum porque tenho coisas combinadas para os próximos tempos, mas estaria feliz. Naquele momento não existia mais nada no mundo para as almas que lá estavam. Era só aquilo, só aquele remate que vi a entrar na baliza de Artur e me fez parar de respirar durante meio segundo. Futebol é isto e o Dragão hoje foi futebol.

como Basileia teve lugar numa altura em que não distinguia os cueiros de uma toalha de linho, felizmente não sei o que é perder um jogo desses. Muito menos desta maneira. Fica um abraço de solidariedade para com os adeptos que conheço e que nesta altura estão num poço bem, bem, bem lá no fundo.

Porque a emoção deste último jogo exige que nos juntemos, em grupo, em coligação de esforços, numa espécie de aura gigantesca que te tenta passar a força dos grandes, dos enormes, dos gigantes. É isso que seremos hoje, Vitor, uma multidão de almas a sofrer por ti, a viver cada segundo como se fosse o último

Hoje, todos estamos de parabéns, todos os que acreditaram que era possível dar a volta a um campeonato que nos vergava a fé e a mente, que parecia perdido até duas semanas antes do seu final. Hoje somos felizes porque trabalhamos para isso.

Atrás de um Mangala que voa por cima dos adversários, há um Nico que comanda os colegas, que manda no eixo e que raspa a relva com um sorriso nos lábios.

o simples facto de ter marcado aquele golo ao Benfica e de me ter proporcionado um orgasmo futebolístico ao nível do que muitos devem ter sentido em Sevilha quando Derlei enfiou o terceiro aos escoceses…só por isso merece um Baía de ouro.

Bottom line: Vitor Pereira é honesto, não duvido. Portista de alma, coração e outros órgãos aleatórios, acredito sem questionar. Tem estatísticas ao nível de poucos, com uma derrota em sessenta jogos e nenhuma nos últimos quarenta e três. Valorizou jogadores e já deu muito dinheiro a ganhar ao clube. Apanhou de tudo e de todos sem se vergar e conseguiu vencer com mérito.

Junho

Não conheço Paulo Fonseca. Nunca falei com o homem, raramente vi o Paços a jogar este ano que agora acabou e nem sequer me lembro do que fez o Pinhalnovense na tal quase-gloriosa jornada no Dragão. (…) Tem pouco tempo de bola, dizem uns. É treinador de equipa pequena, dirão outros. As equipas dele jogam feio e são resultadistas, opinarão terceiros. Não olho a nomes, CVs, companhias ou palavreado fácil. Reservo o direito de acreditar na equipa que o escolheu e acreditar ainda mais que vai fazer um trabalho sério e ao nível do nosso clube.

Quando Vitor chegou ao pouso, naquela tarde de Junho de 2011, foram muitos os portistas que torceram o nariz. Temiam o estigma do princípio de Peter, desconfiavam da capacidade de um adjunto desconhecido com pouca experiência como treinador, sem sequer ter passado pela primeira divisão antes de chegar ao Dragão. Era um gajo com ar de recém novo-rico, com discurso enrolado, nervosismo em frente às câmaras e uma aparente inadaptação a um mediatismo que lhe parecia tão alienígena como inevitável.

Os painéis foram interessantes, com excelentes apresentações feitas por portistas com gosto de dizer que o são. As opiniões eram diversas, defendidas com garra e com argumentação bem vincada e bem alinhada por nove bons exemplos que a bluegosfera está viva e dinâmica. (…) Sem glórias pessoais, demandas pelo networking social ou buscas incessantes pela demonização de ideias diferentes e pelo debate puro e bem disposto.

Nunca escondi que gosto do moço. Sempre gostei, mesmo naquelas alturas em que me apetecia sair da minha cadeira, descer ao relvado e espetar-lhe quatro lapadas nas trombas para ver se lhe punha algum sinapse a disparar desenfreada pelo cérebro que na altura estava mais parado que o Jesus quando caiu de joelhos depois do golo do Kelvin. (…) Cara de reguila, de quem acabou sempre de fazer qualquer borrada em casa e está a ver se a mãe não descobre. Dos que diz: “Sim, senhora professora, garanto-lhe que foi o cão que me comeu os deveres!” com uma expressão de gozo na fronha, que dá vontade de esbofetear ao mesmo tempo que se tem de admirar a frontalidade e o descaramento.

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Balancemos – Q1 2013

Numa altura em que se fazem mais balanços que um puto num baloiço depois de beber uma lata de Red Bull, junto-me à carneirada. Numa série de quatro posts, aqui vai o que por aqui foi escrito de mais importante, parvo e razoavelmente sonante no passado ano. Comecemos pelo primeiro trimestre:

Janeiro

“Proponho mudarmos o nome do rapaz de uma vez por todas para Mangalho. Mangalhão, para os mais excitáveis.”

“Não sei como é que não chamaste o Paulinho e lhe disseste: ‘ó caxineiro, queres dar uma perninha? dá uma fueirada ali no catorze. vai, querido, dá-lhe amor.'”

“Sou portista, e razoavelmente fanático para continuar a ver um jogo que tinha quase tanta excitação como um quadro de ardósia numa escola primária às escuras.”

“É um campeonato fraco, tão fraquinho, cheio de equipas a sobreviver ano após ano, rodeados do fausto de três ou quatro equipas que conseguem brilhar um bocadinho acima da medíocre média que pauta a nossa liga. Uma miséria, que nos rouba a motivação, a alma e de vez em quando o campeonato.”

“Mangala viu um cartão amarelo tão escusado como um retrato a óleo do Manuel Vilarinho de corpete a dançar o can-can”

Fevereiro

[sobre Moutinho] Já começa a ser complicado falar de ti sem que me comece a babar e a agradecer a Deus e ao Sporting por te ter “despachado” para o nosso seio.

Ninguém é acarinhado mais tempo do que faz por merecer, e se por algum motivo calha de ter um mau jogo, logo as biqueiras de aço estão apontadas directamente ao escroto do infeliz.

Uma parte de mim, uma enorme e maioritária parte de mim, fica feliz quando João Pereira falha. Torço como um louco para que faça um penalty desnecessário, que tropece sozinho sem a bola perto, que dê uma Zidanada num adversário ou que, como ontem, tente atrasar a bola para o guarda-redes (na direcção da baliza, mind you) e falhe com um estrondo de doze Torres dos Clérigos a tombar em cima de uma montanha de porcelana. (…) “Vocês viram o que aquele imbecil fez? Mil rinocerontes paneleiros me fodam se não vou gravar aquilo e pôr à entrada de casa por cima do móvel para que as pessoas se sintam bem ao entrar e ver aquela parvoíce!”.

A Taça da Liga que ninguém liga, como todas as Taças deste ano, interessam pouco. Passam em parangonas excitadas para jurista ler e adepto conversar no café durante os cinco minutos da praxe para matar o tempo enquanto o café não chega para cedo passar às perfeitas incongruências de um mundo que nem é nosso. É um paradoxo, é o que é, saber que estamos envolvidos sem o estarmos.

E é olhando para ele que percebo a pouca importância que Addy alguma vez teve no FC Porto, como tantos outros antes dele. São rodapés na história de um clube, nomes perdidos na mente de tantos adeptos que nunca ouviram falar do Kaviedes mas sabem em que dia o James tem agenda na pedicure.

Bravos adeptos que acompanharam a equipa a um terreno que é ligeiramente menos hostil para as nossas cores que Berlim para um negro homossexual nos anos 40″ (…) “Nunca gostei do Vitória, admito, há qualquer coisa de visceral na relação entre mim e aquele clube que os coloca ao nível do desprezo que tenho pela couve-flor, a palavra “corrimento” e o vocalista dos Keane.

Março

São estas as vozes escolhidas a dedo por um canal de televisão para defenderem as cores dos seus clubes em frente a um público televisivo de tal maneira vidrado no enaltecimento da carneirada nacional que ainda se dá ao trabalho de ouvir o chorrilho de idiotices que se lembram de proclamar naquele ou em qualquer outro dia.

Parece fácil pensar que os rapazes vão entrar em campo com a confiança de Thor com o martelo nas mãos, mas a verdade é que se nota que há uma tristeza latente na forma de jogar, no passe, até no festejo dos golos e dos lances mais bem conseguidos.

Não parece haver vontade e inteligência suficiente para conseguir mandar o infortúnio para o caralho, não vejo discernimento em quantidade que nos permita alegrar pelo menos com o entusiasmo, senão com o resultado. Não vi nada. Só vi resignação com a perda da autonomia e da auto-dependência para ser campeão. (…) Curto, grosso e directo: em Março de 2013, Varela tem tanta utilidade na equipa do FC Porto como uma saca plástica cheia com água salgada no meio do Oceano Atlântico. Pensei em metaforizar com um cacto no meio do deserto, mas mesmo parado e inconsequente ainda pode ajudar a tapar vento ou a dar sombra para proteger do Sol.

Varela e Atsu parecem estar num eterno jogo de Arkanoid (…) Sucedem-se passes após passes com a pontaria de um rinoceronte bêbado com o corno torto a apontar para o anel de Sauron. (…) parecemos uma equipa de Marianos González com delirium tremens

A táctica é ambiciosa mas tem falhas. Tem falhas por um motivo muito simples: é bonito querer jogar à Barcelona. É audacioso pensar que o podemos fazer. E é utópico pensar que o conseguimos facilmente ao fim de meia-dúzia de meses.

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